Missão cumprida, mas sem glória
A breve história dos Estados Unidos está recheada de feitos merecedores do maior respeito, tanto a nível político, como científico e cultural. É um povo que soube criar-se da amálgama de muitos outros, mantendo o cunho de cada grupo que contém, e uma identidade comum com mais força e orgulho do que qualquer outra. Através da sua máquina de propaganda espalharam-se por todo o globo, mas com a democratização dos meios também as vozes discordantes se elevaram. E as mais acutilantes partem do seio dos EUA. Este filme não é apenas o reflexo de uma operação militar bem sucedida. Não é uma missão crítica da CIA que correu espantosamente bem. Nem é sobre uma mulher que se indignou e nunca baixou os braços, mesmo quando todo o país tinha esquecido o motivo original para a guerra no Afeganistão. Isto é um filme sobre um país que teve como momento alto dos últimos dez anos (para não dizer trinta) o homicídio de um homem.
No início foi um atentado. Um massacre inimaginável de pessoas inocentes que viviam a sua vida. Não é exagerado dizer que o dia 11 de Setembro mudou o mundo para sempre. O inimigo invisível, ou Quinta Coluna, tinha chegado, visto , vencido e voltado a esconder-se para novos ataques. Competia aos Estados Unidos atravessarem meio mundo em busca de um homem que tinham treinado e armado e estava escondido numa região que não gosta de estranhos. Se os americanos de há vinte anos estavam afectados pelas guerras perdidas no século passado, agora pareciam motivados com as vitórias recentes no Golfo e no Iraque. E era no deserto que iam continuar a exibir os galões de braço armado da democracia. É sabido que essa guerra foi novo erro, com mais perdas do que ganhos. E enquanto isso, um inimigo que superava os limites de um pais ou uma religião ia continuando os ataques contra americanos e aliados em todo o mundo.
A CIA colocou os seus melhores em campo e a muito custo foi conseguindo arrancar informações ao inimigo. Dez anos depois conseguiram bater à porta do homem que procuravam.
"Zero Dark Thirty" tem uma única perspectiva em conta. A de Maya, uma operacional da CIA que tinha como única missão destruir a Al-Qaeda. É pelos seus olhos que vamos entrar num mundo secreto de prisões inexistentes onde se realizam torturas proibidas sobre pessoas que podem ou não saber algo.É uma visão pró-guerra pelo que isso é relatado com uma postura quase documental, sem juízos de valor. É um mal necessário para evitar um mal maior. Maya que da primeira vez estava transtornada com o que via, depressa se acostumou à desumanidade e, apesar de não lhe agradar, aceitava que tinha de ser. Os seus olhos já não viam a dor de um homem acorrentado, os seus ouvidos não escutavam esses gritos. Em mente tinha apenas os milhares de inocentes que morreram nas torres e os que morriam dia após dia numa guerra que não lhes dizia respeito
Foi uma questão de sorte. Uma fotografia que lhe chegou às mãos, fez com que persistisse em busca de um homem que achavam morto O profissionalismo e competência que demonstrava fez com que lhe dessem ouvidos e dinheiro para prosseguir essa demanda. E quando o sangue era demasiado para aqueles que a rodeavam, passou para o campo burocrático onde mais uma vez foi suficientemente convincente. Se a sorte é construída, então Maya mereceu a sua.
O filme cobre todos os eventos que foram tornados públicos.Não os conseguiremos - nem devemos - esquecer tão cedo. Mas os atentados que soubemos pelas notícias, passaram-se diante dos olhos de Maya. Morreram os seus amigos. Tornou-o tão pessoal que cada dia passado, cada morte!, era culpa sua. E no fim, com a sensação de dever cumprido, chega o vazio de quem abdicou de ter uma vida por uma causa e sem essa causa fica sem nada. E também de quem falhou na sua missão pois a guerra não era contra um homem, mas contra uma ideia. A ideia que os EUA são o inimigo só cresceu com essa invasão e com as mortes de inocentes.
"Zero Dark Thirty" é enorme. Em duas horas e meia combina guerra, espionagem, drama humano. Falha com thriller, como filme de guerra e não é a melhor referência histórica. Mas vale pelas explosões de Chastain que se afirma cada vez mais como uma actriz a ter em conta para qualquer tipo de papel, e especialmente pela cena final, onde o vazio e a expressão facial deixam uma marca mais dolorosa e perene que todo o filme anterior.
A breve história dos Estados Unidos está recheada de feitos merecedores do maior respeito, tanto a nível político, como científico e cultural. É um povo que soube criar-se da amálgama de muitos outros, mantendo o cunho de cada grupo que contém, e uma identidade comum com mais força e orgulho do que qualquer outra. Através da sua máquina de propaganda espalharam-se por todo o globo, mas com a democratização dos meios também as vozes discordantes se elevaram. E as mais acutilantes partem do seio dos EUA. Este filme não é apenas o reflexo de uma operação militar bem sucedida. Não é uma missão crítica da CIA que correu espantosamente bem. Nem é sobre uma mulher que se indignou e nunca baixou os braços, mesmo quando todo o país tinha esquecido o motivo original para a guerra no Afeganistão. Isto é um filme sobre um país que teve como momento alto dos últimos dez anos (para não dizer trinta) o homicídio de um homem.
No início foi um atentado. Um massacre inimaginável de pessoas inocentes que viviam a sua vida. Não é exagerado dizer que o dia 11 de Setembro mudou o mundo para sempre. O inimigo invisível, ou Quinta Coluna, tinha chegado, visto , vencido e voltado a esconder-se para novos ataques. Competia aos Estados Unidos atravessarem meio mundo em busca de um homem que tinham treinado e armado e estava escondido numa região que não gosta de estranhos. Se os americanos de há vinte anos estavam afectados pelas guerras perdidas no século passado, agora pareciam motivados com as vitórias recentes no Golfo e no Iraque. E era no deserto que iam continuar a exibir os galões de braço armado da democracia. É sabido que essa guerra foi novo erro, com mais perdas do que ganhos. E enquanto isso, um inimigo que superava os limites de um pais ou uma religião ia continuando os ataques contra americanos e aliados em todo o mundo.
A CIA colocou os seus melhores em campo e a muito custo foi conseguindo arrancar informações ao inimigo. Dez anos depois conseguiram bater à porta do homem que procuravam.
"Zero Dark Thirty" tem uma única perspectiva em conta. A de Maya, uma operacional da CIA que tinha como única missão destruir a Al-Qaeda. É pelos seus olhos que vamos entrar num mundo secreto de prisões inexistentes onde se realizam torturas proibidas sobre pessoas que podem ou não saber algo.É uma visão pró-guerra pelo que isso é relatado com uma postura quase documental, sem juízos de valor. É um mal necessário para evitar um mal maior. Maya que da primeira vez estava transtornada com o que via, depressa se acostumou à desumanidade e, apesar de não lhe agradar, aceitava que tinha de ser. Os seus olhos já não viam a dor de um homem acorrentado, os seus ouvidos não escutavam esses gritos. Em mente tinha apenas os milhares de inocentes que morreram nas torres e os que morriam dia após dia numa guerra que não lhes dizia respeito
Foi uma questão de sorte. Uma fotografia que lhe chegou às mãos, fez com que persistisse em busca de um homem que achavam morto O profissionalismo e competência que demonstrava fez com que lhe dessem ouvidos e dinheiro para prosseguir essa demanda. E quando o sangue era demasiado para aqueles que a rodeavam, passou para o campo burocrático onde mais uma vez foi suficientemente convincente. Se a sorte é construída, então Maya mereceu a sua.
O filme cobre todos os eventos que foram tornados públicos.Não os conseguiremos - nem devemos - esquecer tão cedo. Mas os atentados que soubemos pelas notícias, passaram-se diante dos olhos de Maya. Morreram os seus amigos. Tornou-o tão pessoal que cada dia passado, cada morte!, era culpa sua. E no fim, com a sensação de dever cumprido, chega o vazio de quem abdicou de ter uma vida por uma causa e sem essa causa fica sem nada. E também de quem falhou na sua missão pois a guerra não era contra um homem, mas contra uma ideia. A ideia que os EUA são o inimigo só cresceu com essa invasão e com as mortes de inocentes.
"Zero Dark Thirty" é enorme. Em duas horas e meia combina guerra, espionagem, drama humano. Falha com thriller, como filme de guerra e não é a melhor referência histórica. Mas vale pelas explosões de Chastain que se afirma cada vez mais como uma actriz a ter em conta para qualquer tipo de papel, e especialmente pela cena final, onde o vazio e a expressão facial deixam uma marca mais dolorosa e perene que todo o filme anterior.
Título Original: "Zero Dark Thirty" (EUA, 2012) Realização: Kathryn Bigelow Argumento: Mark Boal Intérpretes: Jessica Chastain, Jason Clarke, Kyle Chandler, Jennifer Ehle, Joel Edgerton Música: Alexandre Desplat Fotografia: Greig Fraser Género: Drama, Guerra, Thriller Duração: 157 min. Sítio Oficial: http://zerodarkthirty-movie.com/ |
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