"Dear Dictator" por Nuno Reis
Por vezes dá vontade de ver um filminho ligeiro, só para fugir aos blockbusters de Verão que inundam as salas com explosões e são complementados com ruidosos devoradores de pipocas. O trailer de “Coup d‘Etat”/"Dear Dictator" prometia algo ligeiro, para adolescentes, mas ao mesmo tempo tinha Michael Caine - que não caminha para novo e não fará muitos mais filmes – e fazia recordar um pouco os tempos áureos de “Bananas”. Os créditos iniciais ainda subiram mais a expectativa com o regresso de duas figuras proeminentes da minha adolescência, Seth Green e Jason Biggs, que têm feito maioritariamente televisão. Como estava enganado…
A sinopse e o trailer são honestos numa coisa. É sobre uma adolescente revoltada que escreve uma carta a um ditador comunista de um país algures nas Caraíbas por "admirar o seu trabalho". Quando esse ditador tem de fugir após um golpe de estado, refugia-se junto da única pessoa que o admira. O último sítio onde o iriam procurar era no país do capitalismo.
A trama que antecede essa reunião é muito ligeira. O primeiro ato apresenta as personagens e as figuras ridículas de Katie Holmes e Seth Green, em contraste com a seriedade de Jason Biggs, são o que dá algum esperança no que se seguirá. A troca de correspondência entre os inesperados penpals é tão estranha e insípida como se podia imaginar. Alguns eventos adensam a narrativa e começam os conflitos de mentalidade e cultura. A crítica nada subliminar aos regimes comunistas da região torna-se demasiado óbvia (até o lema de Cuba roubaram) e as falhas no argumento sucedem-se. Ver Caine a fazer daquelas cenas de prova de roupa é tão degradante que pensamos como se pode ter sujeitado a tal. E a partir daí só piora. Que tal problemas na edição de som? Sim, o filme tem disso. Gastam dinheiro com um elenco de mais qualidade do que o argumento merecia, contudo, algures na gravação ou pós-produção, esqueceram-se de captar/usar o som. Foi nesse momento que o interesse se foi. Ainda há um par de surpresas menos más na narrativa, mas era demasiado tarde. Nada podia salvar o filme. Até que, vindo de paraquedas, nos chega um final demasiado bom para o que aconteceu nos sessenta minutos anteriores. A segunda situação cómica irresistível nesta tortuosa hora e meia bem esticada.
A dupla de realizadores/argumentistas não é muito conhecida, mas tem uns anos nisto. Já tiveram um argumento a chegar relativamente longe ("Parental Guidance"). Deviam consegui ter mão na equipa. Um filme sem uma grande história, que nem sequer cumpre os mínimos técnicos, está condenado ao esquecimento ainda antes de chegar a vídeo. Por muitas estrelas que reúna, há problemas sem solução. As três únicas partes que funcionaram no filme foi a relação entre mãe e filha (que já vinha de outro filme, apenas mudou de registo para amor-ódio e respostas sempre na ponta da língua), a personagem mínima de Biggs e a tal intervenção final. Alguns pontos-extra podem ser dados pela referência a "Mean Girls", filme que tenta imitar sem sucesso. Mas esses pontos são logo descontados porque uma adolescente falar de um filme com 14 anos como se o conhecesse e a dinâmica escolar ainda fosse a mesma, é muito estranho. "21 Jump Street” soube que a escola mudou na última década. Estes argumentistas puxaram o apogeu da carreira de Mark Waters, sem parar para pensar que não é um filme sobre a sua própria adolescência, mas sobre uma rapariga que ainda não escrevia quando o filme saiu. "Mean Girls" pode ser o mais próximo que tivemos de um filme sobre adolescentes de John Hughes neste século, mas ainda não é um clássico. Pode ser homenageado com cópias, não pode ser referido pelo nome.
Já "Dear Dictator" nem é um bom filme adolescente, nem boa referência a outros filmes de adolescentes, nem propaganda. Quanto a Caine, vamos fingir que o seu último papel foi "Going in Style" e esperar que se redima nos próximos.
A trama que antecede essa reunião é muito ligeira. O primeiro ato apresenta as personagens e as figuras ridículas de Katie Holmes e Seth Green, em contraste com a seriedade de Jason Biggs, são o que dá algum esperança no que se seguirá. A troca de correspondência entre os inesperados penpals é tão estranha e insípida como se podia imaginar. Alguns eventos adensam a narrativa e começam os conflitos de mentalidade e cultura. A crítica nada subliminar aos regimes comunistas da região torna-se demasiado óbvia (até o lema de Cuba roubaram) e as falhas no argumento sucedem-se. Ver Caine a fazer daquelas cenas de prova de roupa é tão degradante que pensamos como se pode ter sujeitado a tal. E a partir daí só piora. Que tal problemas na edição de som? Sim, o filme tem disso. Gastam dinheiro com um elenco de mais qualidade do que o argumento merecia, contudo, algures na gravação ou pós-produção, esqueceram-se de captar/usar o som. Foi nesse momento que o interesse se foi. Ainda há um par de surpresas menos más na narrativa, mas era demasiado tarde. Nada podia salvar o filme. Até que, vindo de paraquedas, nos chega um final demasiado bom para o que aconteceu nos sessenta minutos anteriores. A segunda situação cómica irresistível nesta tortuosa hora e meia bem esticada.
Já "Dear Dictator" nem é um bom filme adolescente, nem boa referência a outros filmes de adolescentes, nem propaganda. Quanto a Caine, vamos fingir que o seu último papel foi "Going in Style" e esperar que se redima nos próximos.
Título Original: "Dear Dictator" (EUA, 2017) Realização: Lisa Addario, Joe Syracuse Argumento: Lisa Addario, Joe Syracuse Intérpretes: Odeya Rush, Michael Caine, Katie Holmes, Seth Green, Jason Biggs Música: Sebastián Kauderer Fotografia: Wyatt Troll Género: Comédia Duração: 90 min. Sítio Oficial: N/A |