3 de abril de 2010

"Bright Star" por Nuno Reis


Toots: My sister has met the author and she wants to read it for herself to see if he's an idiot or not.

Jane Campion conseguiu afirmar-se no cinema há mais de 15 anos com um surpreendente "The Piano". Desde então tem estado quase parada, com apenas três longas-metragens e, integrada em projectos conjuntos de grandes realizadores, duas curtas. Em 2009 voltou, e directamente para Cannes, com "Bright Star", o histórico romance do poeta John Keats com Fanny Brawne.

Fanny é uma jovem opinativa ao estilo das personagens de Jane Austen. O seu mais recente hobby é criticar Charles Armitrage Brown, um poeta outrora rico que criticou o seu trabalho como estilista. Nas relações mais próximas de Brown está o jovem poeta John Keats, a braços com um irmão às portas da morte, uma crise financeira, e o desdém da crítica. Ao longo do filme vamos assistindo ao desenvolver da relação entre os dois jovens. Ela começa a ler a poesia dele. Começa a querer saber mais sobre poesia e como a ler e para isso tem aulas com Keats... Vão chegar ao ponto em que não conseguem estar afastados, e apenas a terrível dificuldade dele em ganhar dinheiro fazendo o que gosta os impede de casar naquele momento.

É incrível o poder da poesia sobre as pessoas. Os históricos versos de Keats inspirados pela décima musa (é o Amor, para quem não viu o filme) são lidos por dois magníficos actores que conseguem dar vida a uma narrativa muito estática. Em "Bright Star" não se passa nada, é um filme incrivelmente parado onde tudo é desinteressante e previsível. É por isso um filme honesto ao que pretende retratar: a recatada vida de um poema sem vintém, o seu desgosto amoroso, a razão que ele tinha para viver. Não através da sua vida como seria de esperar, mas da mulher que o acompanhou.
Ben Whishaw é uma das promessas do cinema inglês e o papel conseguido prova isso. Representar um eterno apaixonado, um poeta atormentado pelo desgosto, enfraquecido pela doença e alimentado pelo Amor, obriga a um grande esforço. Mas enquanto nele alguns detalhes encantam, Abbie Cornish deslumbra. A actriz tem uma interpretação deliciosa e consegue animar um filme que é deprimente de tão realista. A cena final é arrebatadora e faz esquecer que o filme tem mais alguém. O que seria do poeta sem esta musa? Sendo parecida com a versão cinematográfica percebe-se a fonte da inspiração.

"Bright Star" é um recital de poesia. Quem teve aulas de literatura inglesa seguramente aprendeu muitos daqueles poemas e alguns até os saberão recitar. Aqui é-nos dado o cenário onde foram supostamente escritos, onde a sua leitura faz sentido. É o filme certo para casais apaixonados, para ingleses, para amantes da poesia. Para os demais será uma tortura.

Título Original: "Bright Star" (Austrália, França, Reino Unido, 2009)
Realização: Jane Campion
Argumento: Jane Campion
Intérpretes: Abbie Cornish, Ben Whishaw, Paul Schneider
Fotografia: Greig Fraser
Música: Mark Bradshaw
Género: Drama, Romance
Duração: 119 min.
Sítio Oficial: http://www.brightstar-movie.com/

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Queria muito ler esta crítica por uma razão muito simples. Bright Star desiludiu-me... à primeira vista tem uma estética perfeita, belíssima, poética, com Abbie Cornish numa interpretação fulgurante, contudo a dada altura o filme torna-se estranhamente inconstante e mesmo os actores entram no overacting... E sinceramente, eu queria gostar muito deste filme e ainda não consigo. Ainda o hei-de ver novamente, mas em casa.

Nuno disse...

Visualmente não me convenceu. Gostei de algumas cenas iniciais ao ar livre, e as borboletas foram um detalhe arriscado, mas nada mais do que esses dois momentos.

Agora vou ter de ler Keats porque senti que me faltava conhecer o artista antes de conhecer o homem. Só depois disso é que revejo o filme.