20 de abril de 2010

"Das Weisse Band" por Nuno Reis

Após o triunfo no mais competitivo festival de Cannes dos últimos anos, o filme de Haneke era aguardado com ansiedade. Correspondeu às expectativas com uma história negra, manipulada para um convincente e adequado preto e branco. Tal como nos trabalhos anteriores em que aprendemos a admirar o realizador, a violência marca presença. Só que neste não temos a crua violência visual do costume, temos uma muito mais requintada violência psicológica que raramente surge no ecrã. Uma aldeia inteira é atormentada por alguém que se diverte magoando os outros. Sejam armadilhas, ou raptos e espancamentos, há pessoas a sofrer.
A narração é feita pelo professor, um homem de trinta anos, educado, recatado e já acostumado às pessoas com quem lida. A povoação tem como figuras proeminentes o barão, o padre e o médico, patriarcas de lares austeros. Todas essas famílias vão sentir a morte bem perto, mas pior que a morte é a vida que levam. A repressão, o formalismo, a falsa moralidade, tudo peças que ajudaram a construir a odiada Alemanha dos anos 30 e 40.

Este é daqueles filmes que ou se gosta ou não se gosta. Por ser a preto e branco já afasta algum público mais ansioso por filmes-pipoca, mas todo o pouco marketing foi selectivo. É preciso ir ver o filme pelo filme e ter capacidade de abstracção. A narrativa é muitas vezes interrompida por planos silenciosos e desertos de gente precisamente para forçar a uma reflexão breve e permanente sobre o que acabou de acontecer. Ou o que está a acontecer e não mostram. Só com esses momentos de processamento se consegue acompanhar uma história onde o fundamental é invisível. Isso faz com que o filme tenho uma longa duração, maior do que a necessária para contar a história. Mas sem essas pausas mesmo mantendo os olhos perderia a atenção da mente do espectador.
Os incautos que por acidente entraram na sala, confrontados com as pausas terão saído bem cedo receando um novo Manoel de Oliveira. Os apreciadores de cinema, estando focados no filme e abstraídos do resto do mundo (por isso neste caso ver em cinema é bem melhor do que em casa) não dão pelo tempo a passar.

De destacar a fabulosa fotografia, gabada pelo narrador quando possível (cena da neve). Como se pudesse passar despercebida... A posterior passagem a dicromático em nada prejudicou o filme, que ganhou um renovado ar de autenticidade. Os actores fazem um trabalho curioso, em especial o jovem Leonard Proxauf que dá o rosto ao filme na maioria do material promocional.
É um filme de autor que exige muito do espectador, sem dar algo em troca. O que lhe falta é precisamente essa liberdade de cada um tirar a sua conclusão. Apesar do final supostamente em aberto não permite um leque variado de interpretações, a resposta tinha sido dada muito antes.

Título Original: "Das Weisse Band" (Alemanha, Áustria, França, Itália, 2009)
Realização: Michael Haneke
Argumento: Michael Haneke
Intérpretes: Christian Friedel, Leonie Benesch, Ulrich Tukur, Ursina Lardi, Fion Mutert, Burghart Klaußner
Fotografia: Christian Berger
Género: Crime, Drama, Mistério
Duração: 144 min.
Sítio Oficial: http://www.thewhiteribbonmovie.com/

3 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

É um excelente filme, sem dúvida. Mais que isso: de necessária visualização/reflexão para os dias de hoje. Gostei do texto, mas preferia que te tivesses focado numa interpretação do filme.

Um abraço

Nuno disse...

Eu digo que a interpretação possível do filme é única.

Bruno Cunha disse...

Falam muito bem dele mas ando à espera de tempo e disposição para encarar este filme!

Abraço
Cinema as my World