19 de novembro de 2005

DVD's de terror italiano por António Pascoalinho


Considerado desde sempre como género menor dentro da arte cinematográfica e reservado exclusivamente a pervertidos amantes do sangue e das mortes violentas, o gore (ou giallo para os Italianos) é um tipo de Cinema pouco editado em video no nosso país. Falo daqueles filmes virados para a morte como espectáculo, em que a faca penetra nos músculos do pescoço, a bala destrói "en passant" as cartilagens do tórax e o sangue jorra abundantemente dos nossos televisores para o sofá.
Da obra do realizador Mario Bava sobressaem os primeiros grandes sucessos do Horror Italiano: A Máscara do Demónio (1960), uma história de feitiçaria e reencarnação que confirmou os dotes da então rainha do terror Europeu: Barbara Steele. Ficou célebre a sequência inicial com a máscara pregada literalmente no rosto da feiticeira indefesa: Cinque Bambole per la Luna d'Agosto (1970), um semi whodunit em que um grupo de convidados para uma festa numa ilha acaba por ficar sozinho e indefeso, enquanto os seus membros são chacinados um a um; esse fabuloso Baía Sangrenta (1971), verdadeiro percursor da série Sexta-Feira 13, onde um assassino psicopata (e mesmo mais que um), vai eliminando por ganância os membros duma família com as armas que consegue arranjar, da forma mais violenta possível; ou Lisa and the Devil (1972), uma incursão pelos meandros do filme de demónios, com a turista Elke Sommer atormentada pelos fantasmas da sua própria morte às mãos do perverso carrasco Telly Savalas.
De Dario Argento, o grande mestre do giallo, quase tudo é bom. Mas alguns títulos merecem especial atenção: O Mistério da Casa Assombrada (1975), um dos primeiros filmes a explorar as potencialidades do gore até às últimas consequências: facadas que penetram a pele, estilhaços de vidro como arma perfurante e a fabulosa morte final no elevador são disso um óptimo exemplo; Suspiria (1977) e Inferno (1980), são dois items da prometida trilogia sobre "as Três Mães", da qual o opus 3 continua à espera de ser realizado: Mater Suspiriorum, a Mãe dos Suspiros, é uma bruxa com enormes poderes que habita as catacumbas duma Academia de Dança na Suiça. E o horror vai despontar, quando uma aluna recém-chegada começa a investigar mais do que devia (Suspiria). Mater Tenebrarum, a Mãe das Trevas, vive num bloco de apartamentos em Nova Iorque. E não descansa enquanto não eliminar cada um dos restantes inquilinos (Inferno). São duas obras fortíssimas na filmografia de Argento, de um horror explícito animado por sons de rock e repletos das cores dominantes na paleta do seu realizador: vermelho vivo e dourado. Terror na Ópera (1987) é talvez a obra mais perfeita do seu autor: demência, vingança, muito sangue e uma violência visual de encenação barroca: a cantora amarrada com alfinetes nos olhos, de modo a que não os possa fechar enquanto assiste ao assassínio do namorado; ou a sequência da bala que atravessa um crâneo e termina no telefone que a heroína usava para pedir auxílio, são imagens dignas de uma antologia do horror. E onde Dario Argento já tem, forçosamente, lugar de merecido destaque.
Do grande Lucio Fulci, muito haveria a dizer. Filmou quase todos os géneros de terror, ficção científica e até mesmo comédias. Mas as suas obras mais emblemáticas são, sem dúvida, o enigmático Zombi 2 (1979), o filme de mortos-vivos que mais se aproxima do livro de Peter Tremayne, com a célebre sequência da invasão de nova Iorque por um enorme bando de zombies que atravessa a ponte de Manhattan, e a não menos célebre imagem da jovem assassinada no duche por uma farpa de madeira que lhe atravessa literalmente uma das vistas. O Estripador de Nova Iorque (1982), uma versão de Jack the Ripper à base de esquartejamentos com lâminas de barbear. E a célebre trilogia dos infernos, composta por Os Mistérios da Cidade Maldita (1980), As 7 Portas do Inferno (1981) e A Casa do Cemitério (1981): três obras de cariz mais ou menos exploratório, em que cientistas ou pseudo-detectives tentam encontrar explicação para alguns fenómenos do oculto e acabam sempre enredados em teias do maior horror: demónios, zombies, adoradores de Satã e outros quejandos, num manancial de sangue a rodos e goelas cortadas que parece não ter fim. Lucio Fulci lançou um modelo de filmes de terror. E vasto é já o número dos seus seguidores.

A obra de Mario Bava está editada em DVD nos Estados Unidos (Zona 1) em The Mario Bava Collection, fácil de pedir através de www.dvdexpress.com. E na Inglaterra (Zona 2), em www.salvation-films.com. Mas recomendam-se as edições Americanas, devido a problemas de censura com as Inglesas.
Os filmes de Dario Argento costumam ter várias versões (mesmo em DVD). Sugiro as edições da Nouveaux Pictures para Suspiria (versão integral) e Tenebrae. Da Platinum Media para O Mistério da Casa Assombrada. E a edição Italiana de Terror na Ópera, responsabilidade da Cecchi Gori Home Video. Quanto a Inferno, o melhor será talvez procurar a edição Zona 1 da Anchor Bay, por ser a única que encontrei com a versão integral do filme.
Quanto a Lucio Fulci, recomendam-se as edições Americanas da Anchor Bay (que tem mesmo uma Lucio Fulci Collection), por garantirem a tal integralidade da obra. Para Zona 2, só mesmo em Itália, já que as versões disponíveis em Inglaterra estão todas mutiladas.
E assim sendo, espero que disfrutem de muitas horas de entretenimento. Ou terror, o que mais vos divertir!

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