22 de novembro de 2005

Estando esta semana cinematograficamente marcada pela estreia do quarto filme de Harry Potter, o Antestreia convidou um dos nossos colaboradores habituais a escrever sobre esta mega-produção.

”Harry Potter and the Goblet of Fire” por António Reis



Confesso que o universo temático e iconográfico de Harry Potter não me fascina particularmente. Reconheço a sua eficácia junto de multidões para quem o fantástico se insere mais no lendário tradicional do que na ficção científica e/ou terror de efeitos pirotécnicos.
Alheio portanto à onda de histeria que acompanhou a evolução da personagem nos livros é com relativo custo que vejo Harry Potter envelhecer de uma forma tão rápida. Esta entrada de Harry no universo da adolescência (como se já não bastasse ele ser sobrinho de muggles, também é adolescente e inicia-se na paixão) a par com a mudança de realizaçãoorientam o filme para uma dimensão de terror exagerada tendo em atenção o potencial público-alvo. Mike Newell acaba por introduzir no filme uma estética mais british e com manifesto bom gosto descartando-se da imagem mais infanto-juvenil do cinema de Columbus.
Se não há no filme reviravoltas na história e se o elemento surpresa está assim ausente por parte do espectador que seja simultaneamente leitor atento, o certo é que o não leitor ou leitor desatento acabará perplexo por pistas inconclusivas, contracções excessivas da narrativa e sequências a que falta o sentido lógico meramente filmico. Mesmo os leitores melhor informados ficarão surpreendidos pela fraca qualidade da tradução de feitiços e objectos mágicos, feita por alguém que não deve ter lido nenhum dos livros.
A par destes elementos menos perceptíveis da transcrição, a que sobra sempre a desculpa que o filme necessitaria de mais tempo, sobra um Harry Potter com borbulhas num espectáculo onde algumas cenas enchem o ecrã pela força sugestiva do seu imaginário e essa capacidade de transformar um texto literário numa imagem plástica áudio-visual leva-nos a reconhecer uma qualidade de produção super com um trabalho de set designer, de adereços e de efeitos gráficos de competência acima de qualquer reparo. Para os fãs incontestáveis será o deslumbramento, para os meros espectadores de cinema de aventuras o filme cumpre a sua missão de entretenimento. Louve-se a iniciativa de Tiago Alves em tornar o Porto de novo um lugar de premiéres para críticas, hábito que já se vinha perdendo.









Título original:Harry Potter and the Goblet of Fire” (Reino Unido, 2005)
Realizador: Mike Newell
Intérpretes: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Brendan Gleeson, Robbie Coltrane, Miranda Richardson, Maggie Smith e Gary Oldman
Argumento: Steven Kloves baseado no livro de J.K. Rowling
Fotografia: Roger Pratt
Música: Patrick Doyle e John Williams
Género: Aventura, Fantasia, Thriller
Duração: 157 min.
Sítio oficial: http://www.gobletoffire.co.uk/

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