Texto originalmente publicado a 16 de Fevereiro de 2008
Aposta quase certa do cinema independente norte-americano actual é a da análise às «famílias disfuncionais», tão em voga nos dias de hoje como em "Juno" ou "Little Miss Sunshine", entre inúmeros outros exemplos que podia citar.
E é desse mesmo nicho de produção que assistimos a "Lars and the Real Girl", uma deliciosa reflexão sobre a solidão e o amor, o amar e não ser correspondido, ou a paixão levada a um extremo de necessidade.
Lars Lindstrom (Ryan Gosling, "Half Nelson", 2006) é um homem desiludido com a vida e com o amor. Vetado a um trabalho repetitivo e ignorando Margo (Kelli Garner), colega de escritório que nutre uma particular simpatia por si, Lars, que mora numa garagem adjacente à casa do seu irmão Gus (Paul Schneider, "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford", 2006) e da mulher deste Karin (Emily Mortimer, "Match Point", 2006), decide comunicar o início de uma relação com uma mulher, Bianca. O espanto não podia ser outro quando Gus e Karin descobrem que Bianca é uma... boneca insuflável.
Consultada Dagmar (Patricia Clarckson), psiquiatra, esta aconselha que todos, comunidade envolvida, finjam que Bianca é uma pessoa real, para que esta paranóia de Lars passe sem lhe causar nenhum tipo de dano.
Um filme de uma doçura e leveza a todos os títulos notável. "Lars and the Real Girl" é uma das abordagens recentes à temática do amor e da solidão mais tocante que têm surgido, num registo impecavelmente estruturado e apoiado numa narrativa de uma criatividade de alto grau qualitativo, com sólidas bases interpretativas.
E se abordar um caso de amor entre um homem e uma boneca insuflável podia dar para o torto, o certo é que Craig Gillespie consegue levar sempre o filme em linha recta, que combina momentos de comédia com passagens de comovente ternura. Para tal, é indispensável a deliciosa interpretação de Ryan Gosling, feita de dentro para fora, trabalhando ao ínfimo pormenor olhares que revelam da mais profunda solidão, à descoberta de um amor correspondido.
E é nesse contexto que começamos também a não acompanhar as preocupações de Gus com a possível insanidade de Lars, e passamos a apoiar Karin e a restante comunidade na luta pela reabilitação de Lars, pela integração da Bianca e, em última análise, na derradeira batalha entre a vida e a morte.
Com uma banda sonora minimalista, e preenchendo os parâmetros gerais da produção indie actual, "Lars..." é uma aposta muito concreta: combina um argumento (Nancy Oliver, "Six Feet Under", 2003 - 2005) muito alternativo com uma realização e direcção de actores altamente competente, conseguindo tornar-se numa peça de equilíbrios inatacáveis.
Título Original: "Lars and the Real Girl" (EUA, 2007) Realização: Craig Gillespie Argumento: Nancy Oliver Intérpretes: Ryan Gosling, Emily Mortimer, Paul Schneider e Patricia Clarkson Fotografia: Adam Kimmel Música: David Torn Género: Drama / Comédia Duração: 106 min. Sítio Oficial: http://www.larsandtherealgirl-themovie.com |
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