Uma obra maior que o tempo
Metáfora orwelliana anterior ao próprio Orwell, Metropolis é uma sociedade onde um povo oprimido trabalha para sustendar o modo de vida da elite à superfície. A divisão entre as duas comunidades é apenas por conveniência, logo ao início ouvimos “vejam os vossos irmãos e irmãs”. Fredersen dirige a cidade, Grot controla a máquina subterrânea, Maria lidera as massas. Sentimentos de revolta são partilhados pelos trabalhadores, mas Maria mantém-os calmos prometendo-lhes um mediador para o conflito. Freder, filho de Fredersen, apaixona-se por Maria e segue-a para os subterrâneos onde vai testemunhar o sofrimento. Acaba por se juntar aos revoltosos, mas o pai e o antigo rival Rotwang têm um plano maquiavélico para destruir toda a oposição. Conseguirá Maria salvar a cidade ou será a causadora da destruição de Metropolis?
Fritz Lang é o cinema alemão dos anos 20 e 30. A letra M sozinha, como inicial de Metropolis ou de Mabuse quase que sintetiza a sua carreira onde não pode deixar de ser referida a saga dos Nibelungos. Foi mais um dos génios que o país perdeu para os EUA pelas suas raízes judaicas. Goebbels chegou a oferecer ao austríaco o lugar de presidente do Instituto de Cinema Alemão. O realizador fugiu para Paris e o lugar ficou para Riefenstahl. Durante 20 anos trabalhou nos EUA, tendo voltado para a Alemanha apenas quando já ninguém queria trabalhar com ele.
Mas o M de Lang neste caso é mais do que Metropolis ou M-Máquina ou a Máquina-homem. Aqui é M de Maria. Brigitte Helm teve em Maria a sua estreia em cinema. Encarnar a agora mítica mulher foi uma missão tão heróica como a da personagem. Refugiou-se do cinema em 1935, desiludida com o cinema sonoro e angustiada pelo controlo nazi sobre a indústria na Alemanha. Até essa data recusou alguns papeis que se viriam a tornar históricos, mas o seu lugar no Olimpo do Cinema estava reservado há muito tempo.
A cidade do futuro imaginada por Lang é isolada, uma cidade-estado sem contacto com o exterior. Será o último reduto da Humanidade? Os prédios à superfície são enormes. As estradas com três a cinco faixas em cada sentido estão super-lotadas. Aviões circulam a baixa altitude. A civilização não chegou aos subterrâneos. Para a cidade a máquina é um coração silencioso, para o submundo é o coração, o centro, a razão de existência. O largo dos elevadores, os túneis por onde a água flui, as casas rectas, as escadarias das catacumbas, tudo tem uma arquitectura diferente. Em Metropolis combinam-se dois futuros.
Como retrato social lança um perigoso alerta. As massas são incontroláveis e quando uma maioria está oprimida as posições invertem-se facilmente. As segregações, propositadas ou como consequência económica, resultam sempre em guerra. Sendo um tema que agora nos cansámos de ouvir, nos anos 20 poucas vozes alertavam para isso. H. G. Wells foi dos melhor sucedidos com "The Sleeper Awakes" (anterior) e "The Shape of Things to Come" (posterior).
Como romance é absolutamente magnífico. A velha história do príncipe e do pobre que trocam de lugar ou do príncipe que se apaixona por uma mulher do povo são aqui contadas de forma linda. Também o triângulo amoroso da geração anterior, apesar de secundário, consegue ter uma enorme influência na história. Mais do que crítica social ou profetização de catástrofe é um hino ao amor. "Entre a cabeça que planeia e as mãos que executam, tem de existir um mediador. Tem de ser o coração."
Metropolis é daqueles filmes que nos deixa estupefactos. Vendo com ou sem som, a preto e branco ou colorido, é uma obra onde mesmo isso é secundário. É a todos os níveis arte no seu máximo esplendor.
Metáfora orwelliana anterior ao próprio Orwell, Metropolis é uma sociedade onde um povo oprimido trabalha para sustendar o modo de vida da elite à superfície. A divisão entre as duas comunidades é apenas por conveniência, logo ao início ouvimos “vejam os vossos irmãos e irmãs”. Fredersen dirige a cidade, Grot controla a máquina subterrânea, Maria lidera as massas. Sentimentos de revolta são partilhados pelos trabalhadores, mas Maria mantém-os calmos prometendo-lhes um mediador para o conflito. Freder, filho de Fredersen, apaixona-se por Maria e segue-a para os subterrâneos onde vai testemunhar o sofrimento. Acaba por se juntar aos revoltosos, mas o pai e o antigo rival Rotwang têm um plano maquiavélico para destruir toda a oposição. Conseguirá Maria salvar a cidade ou será a causadora da destruição de Metropolis?
Fritz Lang é o cinema alemão dos anos 20 e 30. A letra M sozinha, como inicial de Metropolis ou de Mabuse quase que sintetiza a sua carreira onde não pode deixar de ser referida a saga dos Nibelungos. Foi mais um dos génios que o país perdeu para os EUA pelas suas raízes judaicas. Goebbels chegou a oferecer ao austríaco o lugar de presidente do Instituto de Cinema Alemão. O realizador fugiu para Paris e o lugar ficou para Riefenstahl. Durante 20 anos trabalhou nos EUA, tendo voltado para a Alemanha apenas quando já ninguém queria trabalhar com ele.
Mas o M de Lang neste caso é mais do que Metropolis ou M-Máquina ou a Máquina-homem. Aqui é M de Maria. Brigitte Helm teve em Maria a sua estreia em cinema. Encarnar a agora mítica mulher foi uma missão tão heróica como a da personagem. Refugiou-se do cinema em 1935, desiludida com o cinema sonoro e angustiada pelo controlo nazi sobre a indústria na Alemanha. Até essa data recusou alguns papeis que se viriam a tornar históricos, mas o seu lugar no Olimpo do Cinema estava reservado há muito tempo.
A cidade do futuro imaginada por Lang é isolada, uma cidade-estado sem contacto com o exterior. Será o último reduto da Humanidade? Os prédios à superfície são enormes. As estradas com três a cinco faixas em cada sentido estão super-lotadas. Aviões circulam a baixa altitude. A civilização não chegou aos subterrâneos. Para a cidade a máquina é um coração silencioso, para o submundo é o coração, o centro, a razão de existência. O largo dos elevadores, os túneis por onde a água flui, as casas rectas, as escadarias das catacumbas, tudo tem uma arquitectura diferente. Em Metropolis combinam-se dois futuros.
Como retrato social lança um perigoso alerta. As massas são incontroláveis e quando uma maioria está oprimida as posições invertem-se facilmente. As segregações, propositadas ou como consequência económica, resultam sempre em guerra. Sendo um tema que agora nos cansámos de ouvir, nos anos 20 poucas vozes alertavam para isso. H. G. Wells foi dos melhor sucedidos com "The Sleeper Awakes" (anterior) e "The Shape of Things to Come" (posterior).
Como romance é absolutamente magnífico. A velha história do príncipe e do pobre que trocam de lugar ou do príncipe que se apaixona por uma mulher do povo são aqui contadas de forma linda. Também o triângulo amoroso da geração anterior, apesar de secundário, consegue ter uma enorme influência na história. Mais do que crítica social ou profetização de catástrofe é um hino ao amor. "Entre a cabeça que planeia e as mãos que executam, tem de existir um mediador. Tem de ser o coração."
Metropolis é daqueles filmes que nos deixa estupefactos. Vendo com ou sem som, a preto e branco ou colorido, é uma obra onde mesmo isso é secundário. É a todos os níveis arte no seu máximo esplendor.
Título Original: "Metropolis" (Alemanha, 1927) Realização: Fritz Lang Argumento: Thea von Harbou Intérpretes: Alfred Abel, Brigitte Helm, Gustav Fröhlich, Rudolf Klein-Rogge, Heinrich George Fotografia: Karl Freund, Günther Rittau, Walter Ruttmann Música: Vários Género: Drama, Ficção-Científica, Romance, Thriller Duração: 153 min. Sítio Oficial: http://www.kino.com/metropolis |
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