8 de fevereiro de 2009

"Valkyrie" por Nuno Reis

Num curto período de tempo chegam às salas portuguesas diversos filmes que recuperam a temática da Segunda Guerra Mundial. Na semana passada estreou um filme sobre as vítimas dos campos de concentração ("Boy in the Striped Pyjamas") e na próxima será sobre o julgamento de crimes de guerra ("The Reader"). Pelo meio o lógico seria um filme sobre o palco de batalha ou os seus bastidores. "Valkyrie" faz mais do que isso, revela a estrutura da máquina política e militar de Hitler e honra o grão de areia que a encravou. É a história do Coronel Stauffenberg, um homem que tentou salvar a Alemanha e o mundo de uma guerra inútil.

As razões que colocaram o mundo em guerra e o seu desenrolar são já sobejamente conhecidas. Pouca importância é dada ao que precede a história aqui contada e apenas os eventos relacionados com o Coronel são mostrados. Quando Stauffenberg começou a criticar Hitler foi enviado para combater no deserto onde perdeu uma mão, um olho e dois dedos. Nada disso o afastou do exército e continuou a luta atrás de uma secretária. À medida que subia na hierarquia ficava mais perto de concretizar o seu plano de depor Hitler e devolver a Alemanha aos alemães e a paz à Europa. Com um grupo de importantes figuras do exército que recusavam ingressar na estrutura política organizou e executou o maior golpe de sempre ao Reich.

Quem diria que o realizador de "Valkyrie" era Bryan Singer? Depois dos filmes de super-heróis - e do super-vilão Keyser Soze - finalmente fala de pessoas reais. É um registo muito diferente e que seguramente surpreenderá. Por momentos corre tudo tão bem que pensamos ter-nos enganado e ser um filme de ficção. Já que todos estes alemães falam em inglês podiamos perfeitamente estar a assistir a uma realidade alternativa onde o golpe correu bem. Hitler cai, a Alemanha recupera a sanidade mental, os presos são libertados e a guerra acaba sem mais vítimas. E então vem a dura realidade. Um homem quase bastaria para mudar o rumo da história, mas alguns não tiveram coragem para levar em frente a sua parte e aos poucos a mais brilhante tomada de poder acaba em nada.

É de louvar a homenagem a tantos heróis desconhecidos. Homens que tiveram a coragem de trair um juramento para não traírem a sua consciência. Pelo outro lado também são apresentados indivíduos que pela sua conivência com o regime devem ser tão odiados como Hitler, Goering e Goebbels. As aulas de história não cobrem detalhadamente todos os temas e um filme com Tom Cruise, mesmo que amputado, ajuda a cativar atenções para este capítulo ignorado. Por ser accionista da produtora Cruise tem um protagonismo excessivo. Contam-se pelos dedos das mãos de Stauffenberg as cenas sem ele. O panorama geral é uma vítima colateral, mas o espectador escapará quase ileso.
Não sendo uma prioridade no panorama cinematográfico actual é uma obra que merece ser vista algum dia.


Numa pequena nota queria ainda deixar os meus parabéns à United Artists pelo seu nonagésimo aniversário celebrado no dia de estreia do filme. Longe vão os tempos de Chaplin e Fairbanks, mas continua a ser uma referência no cinema.


Título Original: "Valkyrie" (Alemanha, EUA, 2008)
Realização: Bryan Singer
Argumento: Christopher McQuarrie, Nathan Alexander
Intérpretes: Tom Cruise, Bill Nighy, Jamie Parker, Kenneth Branagh, Tom Wilkinson, Terence Stamp, Carice van Houten, Eddie Izzard
Fotografia: Newton Thomas Sigel
Música: John Ottman
Género: Drama, Guerra, Histórico, Thriller
Duração: 120 min.
Sítio Oficial: http://valkyrie.unitedartists.com/

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