23 de março de 2012

"The Hunger Games" por Nuno Reis

Infelizmente li o livro. Não consegui resistir e devorei a trilogia numa noite. Era o meu estilo de livro e por isso aguardava com expectativa a versão cinematográfica, sabendo todos os riscos que a transposição de formato acarreta. Por norma prefiro a versão literária de tudo e aqui tenho de dizer que, lamentavelmente, foi a melhor desilusão que tive em muito tempo.
Sou apologista que o formato ideal para a trilogia não era quatro filmes. Sou totalmente contra a divisão do terceiro livro, não só não tem história para isso como é o mais fraco. Se tivessem adaptado para série, com 6 a 8 horas por livro talvez conseguissem fazer algo excelente. Há-de chegar uma época em que os autores defenderão a integridade da obra e procurarão o formato mais indicado. Até lá o poder do dinheiro ganhará sempre. Apesar disso, eis “The Hunger Games” em filme e não saiu mal.

No país pós-apocalíptico de Panem surgiu um torneio de participação obrigatória.Uma vez por ano cada um dos doze distritos deve enviar um rapaz e uma rapariga com idade entre os 12 e os 18 para um combate mortal de onde apenas um dos 24 sairá vivo. Enquanto nos distritos ricos há quem se treine e voluntarie para esse privilégio, nos distritos pobres os contemplados têm de ser decididos por sorteio. Esta é a história de algumas pessoas que acham o sacrifício inútil e que por se considerarem mortos por antecipação, farão o que lhes for possível para vencer as probabilidades e o sistema.

A realização de Gary Ross deixou-me apreensivo. O realizador de “Pleasantville” e “Seabiscuit” começa o filme com um estilo demasiado tremido para a situação. Enquanto estamos no primitivo distrito 12 não se justifica a câmara instável nem tantos movimentos rápidos. Quando partimos para o sumptuoso Capitólio esse efeito fica mais despercebido e finalmente, na arena, era a técnica que melhor se aplicava. O outro erro do arranque foi a forma como reduziram uma história que lendo é tão apelativa a algo frio e distante. Finalmente o quarto ponto negativo (passei um há frente a que voltarei mais tarde), quando Stanley Tucci aparece como Caesar é uma pequena desilusão. Felizmente é fácil mudar de opinião. Quando chega o sorteio a cena de acompanhamento da escolhida é filmada de forma a mostrar a solidão brusca em que a eleita cai. Aí as esperanças no realizador voltam a surgir, com alguma prudência.
Era suposto a frase seguinte capturar o espectador (no livro captura o leitor), mas ainda não. Ainda temos de esperar mais uns minutos até a "rapariga em chamas" mostrar que ir ver este filme não foi um erro. É nesse ponto que se começam a compbinar as interpretações, os efeitos e a história. Entretanto já Tucci é o Caesar perfeito que se imaginava e Toby Jones mesmo calado faz-lhe boa companhia no papel de Claudius.

Com o avançar da narrativa a realização começa a ajustar-se ao filme e já se consegue observar a história de forma emocional. Quem trouxer uma imagem preconcebida com o livro vai sentir algum choque pela forma fugaz como tudo é tratado. Enquanto no livro se partilha a mente de uma personagem, no filme somos bombardeados com os acontecimentos em quatro perspectivas: concorrentes, familiares/conhecidos, produção e presidente. A mensagem transmitida não é exactamente a mesma, mas há uma grande diferença. É que este argumento não se centra num momento, não é resultado da adaptação de um livro. Nota-se pelo cuidado nos detalhes que Ross tem uma ideia bem construída de Panem e as alterações que faz enquadram-se no que lemos na trilogia. A única alteração imperdoável (eis a terceira falha) é a proveniência do mimo-gaio a que pessoalmente dava muito mais simbolismo e servia de fio-condutor. Mas, atendendo à forma inteligente como transformou tudo em algo com cabimento, dou o benefício da dúvida e esperarei pelos próximos capítulos para ver como decalça esta bota.

O filme é muito rápido. Tem de o ser para condensar tamanho livro em 140 minutos. Quem tiver a mente no livro e perder tempo a tentar comparar pode não conseguir acompanhar. Quem estiver a ver partindo de uma tábua rasa não se aperceberá, mas assistirá a uma adaptação incrivelmente fiel ao material original onde uma excelente escolha de actores, grande banda sonora e uma produção financeiramente desafogada conseguiram criar aquela que até à data será a melhor adaptação de literatura juvenil para cinema. Se não fosse por aquele princípio desajustado seria já um dos filmes do ano.

The Hunger GamesTítulo Original: "The Hunger Games" (EUA, 2012)
Realização: Gary Ross
Argumento: Billy Ray, Gary Ross, Susanne Collins (e livro)
Intérpretes: Jennifer Lawrence, Josh Hutchrson, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley Tucci, Amandla Stenberg, Wes Bentley, Donald Sutherland, Liam Hensworth, Willow Shields, Isabell Fuhrmann, Lenny Kravitz, Toby Jones
Música: James Newton Howard, T-Bone Burnett
Fotografia: Tom Stern
Género: Acção, Drama, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 142 min.
Sítio Oficial: http://www.thehungergamesmovie.com/

2 comentários:

joana vasconcelos disse...

ola! acompanho sempre os comentários aos filmes mas desta vez tinha de comentar. Concordo contigo em quase tudo..o inicio tambem me desiludiu um bocado. Em relação à maneira como eles abordaram o resto do livro muito bem porque se fores ver são quase só monologos e aJennifer Lawrence tem uma interpretação fantastica =) e também devorei os livros em dias (so nao gostei do final)

Antestreia disse...

Olá Joana.
Sim, era muito difícil adaptar estes livros, mas foi um excelente trabalho.

Se gostas de livros recomendo a secção de lviros do blog que por enquanto tem apenas estes 3.
antestreia.blogspot.com/search/label/Livros

Obrigado pelo comentário.