Há algo de especial nos filmes sobre cavalos. Por muito indiferente que sejamos à história, têm sempre algo que mexe connosco e nos carrega para aquela época em que esses animais significavam algo. No fundo a estranho relação que algumas pessoas estabelecem com os carros deriva daquela que, durante séculos, foi criada com estes nobres animais.
As expectativas que tinha para este filme eram bastante baixas. Um rapaz que vai para a guerra em busca do seu cavalo não é algo que cative durante mais de duas horas. Na verdade a sinopse não é bem assim. Esta é a história de um rapaz e de um cavalo, contudo não é bem assim. Este é o ponto de vista do cavalo.
Inglaterra, um século atrás. Albert (o rapaz) admirou Joey (o cavalo) desde o nascimento. Quando o pai o comprou ficou felicíssimo e prometeu treiná-lo para todos os trabalhos da quinta. Até que a Grande Guerra chega e Joey é recrutado, ao passo que Albert não tem idade suficiente para ir com ele. Vamos partir para França com Joey e o seu novo dono que prometeu cuidar dele até ao regresso em segurança, e vamos ver todos os horrores da guerra na companhia do nobre corcel que prova ser mais resistente que qualquer homem e qualquer outro cavalo. Perdendo amigos ao longo dos anos, Joey vai fazer o impossível e sobreviver a todas as baionetas, espadas e artilharias pois acredita que um dia Albert assobiará para que ele volte.
Num ano em que os actores masculinos nomeados a Oscar foram particularmente fracos, não me surpreenderia que “War Horse” visse o seu protagonista nomeado. Nao me refiro ao humano, mas ao equestre pois Finders Key, o actor de “Seabiscuit”, carrega o filme do início ao fim. Seja no campo ou nas trincheiras consegue transmitir emoções impensáveis. Sentimos mais a morte de um cavalo que a de centenas de humanos jovens, demasiado jovens. Deixamos de nos importar com o desfecho da guerra desde que Joey fique bem.
Quanto ao filme podemos dizer que apesar de ser digital é um Spielberg habitual. Tem colaboração dos mestres John Williams na banda sonora e Janusz Kaminski na fotografia. Do ponto de vista técnico é irrepreensível. Os actores apesar de maioritariamente desconhecidos são os que o filme pedia. Como referi até o cavalo era o melhor que havia, custa acreditar que não seja um mero produto CGI.
É verdade que Spielberg domina como poucos a arte de fazer filmes para a família e filmes de guerra, mas combiná-los num só era algo impensável. “War Horse” peca por ser um bocado longo - dos raros filmes em que um intervalo sabe bem - mas é uma já merecida homenagem ao cavalo desconhecido, tão merecedor como o soldado desconhecido, mas sempre ignorado.
Título Original: "War Horse" (EUA, 2011) Realização: Steven Spielberg Argumento: Lee Hall, Richard Curtis (baseados no livro de Michael Morpurgo) Intérpretes: Finders Key, Jeremy Irvine, Peter Mullan, Emily Watson, Niels Arestrup, Tom Hiddleston, Benedict Cumberbatch Música: John Williams Fotografia: Janusz Kaminski Género: Drama, Guerra Duração: 146 min. Sítio Oficial: http://www.warhorsemovie.com/ |
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