Só contra todos
Norma Jeane tinha tudo para ser adorada. A sua beleza e sensualidade, a sua aparente inocência, as dificuldades que atravessou para chegar à fama, a resposta pronta nas conferências... Tinha o mundo aos seus pés. Se, ironicamente, foi a morte na flor da idade que a imortalizou, então até essa morte tem de ser interpretada como parte do plano de alguém que não queria ser apenas uma mulher, queria ser uma lenda.
Ao longo dos anos foram saindo diversas versões da história verdadeira (e algumas fantasiadas) da actriz. Nunca como este ano se esteve perto de descobrir a essência, de descobrir não quem é Marilyn Monroe, mas o que é ser Marilyn Monroe.
Esta é a história de um jovem sonhador. Colin Clark adora cinema e faz tudo para trabalhar nos Estúdios Pinewood com Laurence Olivier. Ao consegui-lo então faz ainda mais para provar o seu valor, e ele tem valor. O primeiro filme onde vai trabalhar é um que trará Marilyn Monroe a solo europeu. Olivier, Monroe, Vivien Leigh, muitos jovens se poderiam deixar deslumbrar e até desgraçar na companhia de tais vedetas, mas não Colin. Ele será extremamente profissional pois mais do que viver o sonho na rodagem de um filme ele tenciona viver no sonho do Cinema.
Sex Symbol
“Ai, a Marilyn...” é uma expressão que muitos terão já ouvido do pai ou avô, mas que nunca compreenderam na totalidade. “Como podem chamar maior sex symbol a uma pessoa tão velha?” devem ter pensado. Talvez tenha sido essa a causa do chamado conflito generacional: um mero desacordo sobre a maior sex symbol. A verdade é que hoje em dia esse título é muito levianamente atribuído e ninguém mantém o cognome por muito tempo. Seriam as mulheres de então assim tão desinteressantes para que apenas uma recebesse o epíteto? Não pode ser, foi a década de Kim Novak, Sophia Loren, Eva Marie Saint, Elizabeth Taylor, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Brigitte Bardot, Grace Kelly, Doris Day, Lauren Bacall, Jayne Mansfield e Sandra Dee. E mesmo depois vieram outras igualmente inesquecíveis. Então porquê a fama? Vejam a abertura do filme e perceberão. A performance de Williams é tão deslumbrante que se percebe logo como seria a original. Se isto é uma cópia - feita por uma actriz que nunca foi descaradamente sensual - então a provocante Marilyn seria divinal. Aliás, todos os actores estão fenomenais. Branagh como um grande realizador/actor inglês, Julia Ormond como uma ofuscada estrela de outrora, Judy Dench como uma actriz inigualável, paciente, sábia e sempre magnânima, Eddie Redmayne como um jovem bondoso e ambicioso que está perante a oportunidade de uma vida, e até Emma Watson como uma mera assistente de guarda-roupa no universo das estrelas. Ao longo de hora e meia são eles que nos guiam por esta longa semana que resume o fenómeno Marilyn.
A estrela
Tal como Williams replica na perfeição, Marilyn era amada por todos. Cada gesto seu era sedução, cada deslocação um festejo. Os Estados Unidos estavam-lhe rendidos e Inglaterra não era diferente. Casada de fresco com o escritor Arthur Miller, chega à Europa com o estatuto de maior estrela viva, mas esconde uma personalidade frágil e delicada que não está preparada para a pressão que Olivier colocava em cada um dos que trabalharam com ele. Se perante as câmaras tinha momentos de fraqueza, longe delas era ainda mais vulnerável. Tendo do seu lado apenas a treinadora e o guarda-costas, quebrou as barreiras sociais e recrutou um jovem admirador para o seu pequeno exército de resistência. É pelos olhos dele, um jovem inteligente, mas simultaneamente inocente e manipulável, que vamos tentar perceber esta fraqueza em quem tinha tudo para ser feliz.
O jovem
Colin queria ser alguém no cinema. Tinha cérebro e coragem, para conseguir o sucesso, mas infelizmente também tinha coração. O que se pode fazer quando a pessoa mais querida do mundo nos pede ajuda? Quando a mulher mais amada do mundo nos ama? Quando o sucesso do nosso primeiro filme e de todos os trabalhos futuros dependem do humor instável de uma pessoa que precisa desesperadamente de nós?
Colin lutou para conseguir o seu lugar de terceiro assistente de realização, mas também teve sorte. É que quando se trabalha em cinema precisamos sempre de alguém que nos faça ver em simultâneo o lado bom e o lado mau desta arte que como espectadores amamos incondicionalmente. Ter como guia uma actriz que com o poder de um sorriso consegue salvar o filme ou num dia mau atrasar a produção uma semana, é conhecer os extremos. É ver o cinema em todo o seu esplendor e decadência. É o que nos prova se realmente amamos o Cinema.
Ele é apenas um jovem inexperiente a tentar impedir o mundo de cair em cima de um mulher que sabe em que meios se movimenta. É enternecedor vê-lo assim manipulado por quem aparenta não controlar nada nem ninguém. Pelos ouvidos dele ouvimos frases sábias que recordaremos inconscientemente para sempre. Frases que talvez já tenhamos ouvido ditas por pessoas reais, com palavras normais, sobre outras figuras maiores que a vida, mas que no filme são ditas de forma sublime e finalmente soam à verdade absoluta que são.
Ver este filme é cair nas teias de sedução de uma mulher irresistível. É não saber se o sofrimento dela é real ou apenas mais uma personagem interpretada a tempo inteiro. É ficar solitária e irremediavelmente marcado por uma mulher que, auxiliada pela comunicação às massas conhecida como cinema, tinha o perfil para conquistar o mundo.
“My Week With Marilyn” não desvenda o mistério, mas também não o adensa. O que faz é meramente relançar o mito de uma mulher que o mundo não consegue esquecer. Ela apareceu no momento certo e não poderá jamais ser esquecida.
Tal como só se pode ter uma primeira semana com Marilyn, o filme deve ser visto apenas uma vez. Dêem-se por felizes com esse fugaz e perfeito momento e despeçam-se, pois ela terá de voltar ao seu mundo mágico e o comum mortal ao nosso mundo dos desencantos. Não se iludam pois nenhum homem conseguiu ficar com ela para sempre. Vê-lo segunda vez será puro sofrimento.
Desculpem-me se chegaram ao final deste longo texto sem ler nada de útil sobre o filme, mas que mais havia para dizer? O tema é Marilyn e é isso que ele nos dá. Ela tornou um profissional dedicado num jovem apaixonado e é pelos olhos dele que vemos. Claro que é parcial e abona a favor dela! Ela é o mundo dele como podia (devia) ser o nosso. Tudo o resto no filme é apenas acessório porque para ela todo o mundo foi apenas acessório.
Norma Jeane tinha tudo para ser adorada. A sua beleza e sensualidade, a sua aparente inocência, as dificuldades que atravessou para chegar à fama, a resposta pronta nas conferências... Tinha o mundo aos seus pés. Se, ironicamente, foi a morte na flor da idade que a imortalizou, então até essa morte tem de ser interpretada como parte do plano de alguém que não queria ser apenas uma mulher, queria ser uma lenda.
Ao longo dos anos foram saindo diversas versões da história verdadeira (e algumas fantasiadas) da actriz. Nunca como este ano se esteve perto de descobrir a essência, de descobrir não quem é Marilyn Monroe, mas o que é ser Marilyn Monroe.
Esta é a história de um jovem sonhador. Colin Clark adora cinema e faz tudo para trabalhar nos Estúdios Pinewood com Laurence Olivier. Ao consegui-lo então faz ainda mais para provar o seu valor, e ele tem valor. O primeiro filme onde vai trabalhar é um que trará Marilyn Monroe a solo europeu. Olivier, Monroe, Vivien Leigh, muitos jovens se poderiam deixar deslumbrar e até desgraçar na companhia de tais vedetas, mas não Colin. Ele será extremamente profissional pois mais do que viver o sonho na rodagem de um filme ele tenciona viver no sonho do Cinema.
Sex Symbol
“Ai, a Marilyn...” é uma expressão que muitos terão já ouvido do pai ou avô, mas que nunca compreenderam na totalidade. “Como podem chamar maior sex symbol a uma pessoa tão velha?” devem ter pensado. Talvez tenha sido essa a causa do chamado conflito generacional: um mero desacordo sobre a maior sex symbol. A verdade é que hoje em dia esse título é muito levianamente atribuído e ninguém mantém o cognome por muito tempo. Seriam as mulheres de então assim tão desinteressantes para que apenas uma recebesse o epíteto? Não pode ser, foi a década de Kim Novak, Sophia Loren, Eva Marie Saint, Elizabeth Taylor, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Brigitte Bardot, Grace Kelly, Doris Day, Lauren Bacall, Jayne Mansfield e Sandra Dee. E mesmo depois vieram outras igualmente inesquecíveis. Então porquê a fama? Vejam a abertura do filme e perceberão. A performance de Williams é tão deslumbrante que se percebe logo como seria a original. Se isto é uma cópia - feita por uma actriz que nunca foi descaradamente sensual - então a provocante Marilyn seria divinal. Aliás, todos os actores estão fenomenais. Branagh como um grande realizador/actor inglês, Julia Ormond como uma ofuscada estrela de outrora, Judy Dench como uma actriz inigualável, paciente, sábia e sempre magnânima, Eddie Redmayne como um jovem bondoso e ambicioso que está perante a oportunidade de uma vida, e até Emma Watson como uma mera assistente de guarda-roupa no universo das estrelas. Ao longo de hora e meia são eles que nos guiam por esta longa semana que resume o fenómeno Marilyn.
A estrela
Tal como Williams replica na perfeição, Marilyn era amada por todos. Cada gesto seu era sedução, cada deslocação um festejo. Os Estados Unidos estavam-lhe rendidos e Inglaterra não era diferente. Casada de fresco com o escritor Arthur Miller, chega à Europa com o estatuto de maior estrela viva, mas esconde uma personalidade frágil e delicada que não está preparada para a pressão que Olivier colocava em cada um dos que trabalharam com ele. Se perante as câmaras tinha momentos de fraqueza, longe delas era ainda mais vulnerável. Tendo do seu lado apenas a treinadora e o guarda-costas, quebrou as barreiras sociais e recrutou um jovem admirador para o seu pequeno exército de resistência. É pelos olhos dele, um jovem inteligente, mas simultaneamente inocente e manipulável, que vamos tentar perceber esta fraqueza em quem tinha tudo para ser feliz.
O jovem
Colin queria ser alguém no cinema. Tinha cérebro e coragem, para conseguir o sucesso, mas infelizmente também tinha coração. O que se pode fazer quando a pessoa mais querida do mundo nos pede ajuda? Quando a mulher mais amada do mundo nos ama? Quando o sucesso do nosso primeiro filme e de todos os trabalhos futuros dependem do humor instável de uma pessoa que precisa desesperadamente de nós?
Colin lutou para conseguir o seu lugar de terceiro assistente de realização, mas também teve sorte. É que quando se trabalha em cinema precisamos sempre de alguém que nos faça ver em simultâneo o lado bom e o lado mau desta arte que como espectadores amamos incondicionalmente. Ter como guia uma actriz que com o poder de um sorriso consegue salvar o filme ou num dia mau atrasar a produção uma semana, é conhecer os extremos. É ver o cinema em todo o seu esplendor e decadência. É o que nos prova se realmente amamos o Cinema.
Ele é apenas um jovem inexperiente a tentar impedir o mundo de cair em cima de um mulher que sabe em que meios se movimenta. É enternecedor vê-lo assim manipulado por quem aparenta não controlar nada nem ninguém. Pelos ouvidos dele ouvimos frases sábias que recordaremos inconscientemente para sempre. Frases que talvez já tenhamos ouvido ditas por pessoas reais, com palavras normais, sobre outras figuras maiores que a vida, mas que no filme são ditas de forma sublime e finalmente soam à verdade absoluta que são.
Ver este filme é cair nas teias de sedução de uma mulher irresistível. É não saber se o sofrimento dela é real ou apenas mais uma personagem interpretada a tempo inteiro. É ficar solitária e irremediavelmente marcado por uma mulher que, auxiliada pela comunicação às massas conhecida como cinema, tinha o perfil para conquistar o mundo.
“My Week With Marilyn” não desvenda o mistério, mas também não o adensa. O que faz é meramente relançar o mito de uma mulher que o mundo não consegue esquecer. Ela apareceu no momento certo e não poderá jamais ser esquecida.
Tal como só se pode ter uma primeira semana com Marilyn, o filme deve ser visto apenas uma vez. Dêem-se por felizes com esse fugaz e perfeito momento e despeçam-se, pois ela terá de voltar ao seu mundo mágico e o comum mortal ao nosso mundo dos desencantos. Não se iludam pois nenhum homem conseguiu ficar com ela para sempre. Vê-lo segunda vez será puro sofrimento.
Desculpem-me se chegaram ao final deste longo texto sem ler nada de útil sobre o filme, mas que mais havia para dizer? O tema é Marilyn e é isso que ele nos dá. Ela tornou um profissional dedicado num jovem apaixonado e é pelos olhos dele que vemos. Claro que é parcial e abona a favor dela! Ela é o mundo dele como podia (devia) ser o nosso. Tudo o resto no filme é apenas acessório porque para ela todo o mundo foi apenas acessório.
Título Original: "MyWeek With Marilyn" (EUA, Reino Unido, 2011) Realização: Simon Curtis Argumento: Adrian Hodges (baseado no livro de Colin Clark) Intérpretes: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Dominic Cooper, Judi Dench, Zoë Wanamaker Música: Conrad Pope Fotografia: Ben Smithard Género: Biografia, Drama Duração: 99 min. Sítio Oficial: http://myweekwithmarilynmovie.com/ |
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