24 de fevereiro de 2008

"Michael Clayton" por Nuno Reis

George Clooney sempre teve uma carreira aplaudida pela regularidade. Facilmente troca entre o género cómico e o dramático e tanto faz um filme pela satisfação pessoal como para alertar a sociedade, mas sempre com prudência. O prémio é o reconhecimento do público, da crítica e da Academia. Depois de ter sido nomeado para Oscar em 2006 pelo argumento e realização de "Good Night,Good Luck" e ter sido galardoado pelo desempenho em "Syriana" no ano de 2007, não é nenhuma surpresa que em 2008 esteja num filme nomeado para sete estatuetas.

Michael Clayton não é um advogado convencional. A sua missão é remediar situações de forma rápida, eficaz e discreta. E ele simplesmente trata de tudo. O caso a que se associa é gigantesco. Seis anos de trabalho, quinhentas pessoas, centenas de milhões em jogo e o advogado responsável de repente enlouquece. Clayton que tinha por missão apenas recolher a informação, subitamente vê-se envolvido no processo. O seu amigo morre de forma demasiado suspeita deixando um alerta no ar. Será uma teoria da conspiração imaginada por um louco ou haverá algo de real na ameaça?

Tony Gilroy tem experiência em escrever este género de filmes (conspiração na trilogia Bourne, o mundo da advocacia em "The Devil’s Advocate"), contudo é o primeiro que realiza. Apoiado por um elenco de luxo fez um filme que é digno concorrente nas categorias de melhor filme, argumento, realização, interpretação - três nomeações - e música. Tilda Swinton tem em Karen Crowder uma das suas melhores personagens. A mulher que se mostra ao mundo é fria e calculista como tantas das anteriores personagens de Swinton, mas aqui vemos a sua faceta pessoal. Os treinos cuidadosos com que se prepara para enfrentar o público revelam o medo e a ansiedade com que vive. Sente-se que a sua feminilidade a deixa preocupada, Karen tem medo de falhar.
A carreira de Tom Wilkinson tem sido semelhante à de Swinton. É um daqueles actores que todos reconhecem, mas a quem não entregam facilmente o protagonismo. Como para os grandes actores essa contrariedade é encarada como um estimulo, Wilkinson dá o seu melhor ao interpretar Arthur Edens. Este advogado era o melhor da sua empresa e ao longo de seis anos dedicou a sua vida ao caso da United North. Subitamente é acometido pela loucura e começa a preparar um ataque ao seu cliente. Por se despir numa sala é imediatamente afastado do caso e caberá a Michael Clayton continuar onde ele parou. Clayton é uma personagem já de si muito complexa que a montagem do filme ajuda a complicar. Nas cenas iniciais estranha-se a agressividade. A enorme analepse que nos narra os dias precedentes ajuda a perceber que aquele não é o Clayton normal. É um homem sob tensão que tem de tomar uma decisão urgentemente e optar entre o dever moral e o dever profissional. Alguns advogados podem não conseguir compreender o problema visto que não conhecem o conceito de moral e, portanto, para eles não há dilema.

Depois de "Erin Brokovich" e outros exemplos piores de duelos enpresas versus paladinos da verdade e justiça, a ideia por trás de "Michael Clayton" não é muito criativa. A diferença é que mesmo sendo uma história já conhecida consegue surpreender. A última meia hora faz com que se queira rever o filme imediatamente e isso é algo que não acontece todos os anos.




Título Original: "Michael Clayton" (EUA, 2007)
Realização: Tony Gilroy
Argumento: Tony Gilroy
Intérpretes: George Clooney, Tilda Swinton, Tom Wilkinson
Fotografia: Robert Elswit
Música: James Newton Howard
Género: Drama, Thriller
Duração: 119 min.
Sítio Oficial: http://michaelclayton.warnerbros.com

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