"To boldly go where no one has gone before". Essa frase aplica-se perfeitamente a Gene Roddenberry. Depois de dez anos como argumentista finalmente encontrou um filão inexplorado: o espaço. Levando a última fronteira para milhões de lares - anos antes de "2001: A Space Odyssey", da chegada à lua e de série emblemáticas como "Space 1999" e "Battlestar Galactica" - conquistou um público e alterou mentalidades. Subitamente todos queriam ser astronautas, a até então desprezada astronomia tornou-se uma ciência da moda e ouvia-se "Beam me up Scotty" nos mais variados contextos. Os trekkies eram os fãs mais numerosos e mais fanáticos da história, organizando inúmeros encontros em todos os países.
Para quem trabalhava no espaço, ou no caminho até lá, subitamente tudo ficou mais fácil. As pessoas não só percebiam o que eles faziam como incentivavam. Se o objectivo final era encontrar novas formas de vida e novas civilizações urgia partir quanto antes. Também para quem trabalhava na nave fictícia a fama era garantida. Actor que fosse visto a bordo da U.S.S. Enterprise ficava para sempre associado à personagem.
Seria de pensar que ao fim de quarenta anos e mais de seiscentos episódios o amor do público esmorecesse. Mas já nesta década outras duas séries de Roddenberry sobre o espaço chegaram à quinta temporada. Porque não fazer um filme e ver até onde vai? A escolha óbvia recaiu sobre Abrams que era quase um novo Roddenberry. Afinal, foi o criador de variadas séries bem sucedidas como "Felicity", "Alias", o mega-êxito "Lost" e a novidade da temporada "Fringe". Ele mais do que ninguém redescobriu na televisão um media em subaproveitamento e relançou a luta nesse segmento.
Como no espaço não era possível ir mais além seguiu o caminho que tantos outros trilharam antes dele e voltou ao início. Uma prequela sobre o mítico Capitão Kirk e o jovem rebelde que foi antes de se tornar um herói. Na série as personagens foram aparecendo e conqusitando o seu lugar a bordo da nave, aqui para não perder tempo colocou quase a tripulação completa a estudar na Academia e lançou-os para o espaço em conjunto. A ameaça que enfrentam é uma nave colossal que 25 anos antes destruiu a nave do pai de Kirk e agora quer Spock. Estes jovens terão de utilizar toda os conhecimentos teóricos da Academia, os seus instintos e a sorte para salvar a Federação.
Como regresso nostálgico é muito agradável. Recupera personagens de um imaginário muito querido, dá-lhes um desafio à altura do seu passado e dá-lhes juventude, aquilo que os espectadores dos anos 60 e 70 procuram.
A introdução dada é suficiente para quem é jovem e não faz ideia de quem são estes seres estranhos e os mundos de que falam. A abundância de explosões e combates, as modernas naves e as criaturas - desde a bela rapariga de Orion aos monstros de Delta Vega - fazem as delícias de todos os que procuram um filme de acção.
Quem exige mais do que isso de um filme ficará desiludido. Uma prequela deste episódio seria bem recebida pois a introdução é a parte melhor conseguida do filme. Nas duas horas que se seguem á primeira batalha o filme fica abaixo do prenunciado. As constantes mudanças de cenário planeta/nave causam algum enjoo, o humor precisaria de ser mais doseado e as grandes frases são as que já existiam na série. Pelo menos a música está ao nível da que esta saga sempre nos trouxe.
O grupo de estrelas reunido é incomparável, digno desta epopeia espacial, e os mais caros foram colocados em personagens descartáveis, como convém ao orçamento de futuras sequelas. Nem todos eram fãs da série, mas entraram bem na personagem que lhes foi confiada.
Este filme demorou muito a ser feito por razões válidas. Tiveram o cuidado de falar com o casting original e de estudar tudo o que já foi feito para conhecerem a fundo o que tinham pela frente. Assim não só não se contradizem demasiado em relação a quarenta anos de informação como ainda colocaram algumas referências que nem os maiores trekkies descobrirão à primeira. É uma peça fundamental da saga, mas como cinema não vai além do entretenimento típico de blockbuster de Verão.
Título Original: "Star Trek" (EUA, 2009) Realização: J.J. Abrams Argumento: Roberto Orci e Alex Kurtzman inspirados na série de Gene Rodenberry Intérpretes: Chris Pine, Zachary Quinto, Karl Urban, Zoe Saldana, Bruce Greenwood, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Winona Rider, Rachel Nichols, Leonard Nimoy Fotografia: Daniel Mindel Música: Michael Giacchino Género: Acção, Aventura, Ficção-Científica Duração: 127 min. Sítio Oficial: http://www.startrekmovie.com/ |
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