14 de abril de 2010

"Shutter Island" por Nuno Reis

Em 2008 o Fantasporto teve a abertura oficial numa segunda-feira, apesar de as competições terem tido depois a abertura à Sexta como é habitual. O motivo era a homenagem a Max Von Sydow e a sua eminente partida para os EUA onde filmaria com Martin Scorsese. Passaram quase dois anos e entretanto muitos se esqueceram, mas finalmente podemos ver o filme que causou essa alteração.

Teddy Daniels e Chuck Aule são dois marshalls que desembarcam na ilha Shutter. Ali funciona um hospital psiquiátrico, centro de pesquisas e prisão de alta segurança que alberga os piores psicopatas A. sua missão é descobrir como conseguiu uma paciente escapar da sua cela e desaparecer sem deixar rasto. Chegados lá os guardas prisionais separam-nos das suas armas e a tempestade separa-os do continente. Os médicos pouco ajudam, o pessoal médico ainda pior e o que os outros pacientes dizem obviamente não é de fiar. Prisioneiros da meteorologia e sem pistas conclusivas, terão de resolver o caso ou fugir antes de enlouquecerem.

Quando Scorsese faz um filme, fá-lo em grande. Basta pensar que actores do calibre de Emily Mortimer, Elias Koteas, Jackie Earle Haley e Patricia Clarkson têm uma ou duas cenas. Não se pode dizer que seja um desperdício de talento, são personagens-chave (excepto a de Koteas) e ficaram muito bem entregues. Quando há essa atenção aos detalhes não é difícil fazer um grande filme. Com actores assim a segunda unidade anda sozinha e o mestre fica livre para fazer o resto.
Michelle Williams e Ben Kingsley fazem parte do desafio permanente que DiCaprio e Ruffalo enfrentam. A alucinação, o médico e os marshalls. Foi com estes quatro que o esqueleto do filme foi formado. Numa ilha em que a loucura e o crime estão sempre presentes e a própria natureza parece ter perdido o juízo, nem o espectador sai ileso. As pistas são suficientes para prever o que se passa, mas isso ainda torna o filme melhor. Ver isto com preconceitos é disparate porque se ir sem uma ideia formada obriga a ver segunda vez, ir à espera de algo obriga a ver três vezes. Neste filme o espectador fica rendido ao talento do realizador, ao desempenho dos actores e à fotografia. O argumento pode não se distinguir de muitos outros, mas está trabalhado de uma forma que poucos conseguiriam. É um constante desafio visual e mental que em nenhum momento ousa repetir cenas insultando a inteligência de quem vê. A única forma de realmente se compreender seria revendo do início e se é para ver 5 horas de cinema é justo comprar novo bilhete.

É um filme que vai ser muito falado quando começar a época dos prémios e de referência futura em ciclos de homenagem aos seus nomes principais. Daqueles raros trabalhos em que todos os envolvidos têm orgulho e recordarão por muitos anos como um ponto alto da carreira. Demasiado inteligente para o grande público, mas depois de tantos filmes sem substância por causa desse mesmo "grande público" sabe bem uma vingança ocasional.

Título Original: "Shutter Island" (EUA, 2010)
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Laeta Kalogridis (baseado no livro de Dennis Lehane)
Intérpretes: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Michelle Williams, John Carroll Lynch, Jackie Earle Haley, Elias Koteas
Fotografia: Robert Richardson
Género: Drama, Mistério, Thriller
Duração: 138 min.
Sítio Oficial: http://www.shutterisland.com/

1 comentários:

joana vasconcelos disse...

quando saí do cinema super contente por finamente o bilhete do cinema ter valido a pena, reparei que metade das pessoas continuavam sentadas a tentar perceber os últimos minutos do filme. porque, depois de verem o trailer deviam esperar um filme de suspense/acção e pronto.. EU AMEI!!!!