25 de setembro de 2011

"Play" por Nuno Reis


O bullying é um problema de sempre que tem vindo a ganhar destaque, mas com os assaltos há bastantes mais desafios para a infância do que abusos de recreio. Em “Play” estamos perante um exemplo de um novo problema. As crianças sempre foram exemplo de inocência e confiança cega, mas isso com a idade muda. As migrações e os choques culturais reúnem jovens que por causa dos preconceitos estão formatados para não se darem bem.
Este filme baseado em factos reais conta a história de uns miúdos. Três suecos com cerca de doze anos tinham ido às compras. No shopping deparam-se com um grupo de cinco rapazes negros, um pouco mais velhos. Um deles afirma que o telemóvel que um dos pequenos exibe foi roubado ao seu irmão. O filme de quase duas horas é sobre esse conflito. De que lado está o espectador?

A sociedade ocidental está mentalizada para desconfiar dos que são diferentes. Especialmente quando andam em grupos. Entre três miúdos suecos e cinco adolescentes de cor há uma tendência para suspeitar dos últimos. E os imigrantes ao serem ostracizados pela sociedade, não estão a ser forçados a fecharem-se em grupos com os seus semelhantes? E no caso de serem mesmo vítimas alguém acreditaria neles? Pois aqui a primeira impressão que é dada é propositadamente ambígua. Depois uma analepse revela que há realmente uma intriga e o resto da história, contada a dois tempos, vai explicar muito sobre as personagens. A técnica adoptada de planos-sequência faz com que as cenas sejam mais intensas, mais angustiantes. Subitamente até os espectadores estão presos naquele longo jogo de manipulação. Os actores não podiam ser mais autênticos, sete dos oito utilizaram os nomes verdadeiros.

Como é previsível uma história assim não poderá ter um final feliz para ninguém. São crianças a atravessar problemas e conflitos que nem os grandes apreciam. O desconforto é o grande trunfo do filme e usa-o até à exaustão. os nórdicos perceberão melhor a mensagem por trás, mas não deixa de ser um filme muito peculiar e bem conseguido, especialmente pelos detalhes que em nada se relacionam com o grupo de jovens. Porque enquanto o diferendo decorre, as crianças estão a ser crianças, usam os seus conhecimentos, mas falta-lhes experiência, enquanto isso os adultos envolventes têm um papel não muito agradável na perpetração do crime: o de não se preocuparem.

Um filme que as crianças de hoje deviam ver quando forem maiores. Só aí o perceberão.

PlayTítulo Original: "Play" (Dinamarca, Finlândia, Suécia, 2011)
Realização: Ruben Östlund
Argumento: Ruben Östlund, Erik Hemmendorff
Intérpretes: Kevin Vaz, Yannick Diakité, John Ortiz, Abdiaziz Hilowle, Sebastian Hegmar, Anas Abdirahman, Nana Manu, Sebastian Blyckert
Fotografia: Marius Dybwad Brandrud
Género: Crime, Drama
Duração: 118 min.

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