16 de dezembro de 2009

"Duplicity" por Nuno Reis

Em tempos houve confrontos entre tribos, depois entre nações. Sempre houve entre indivíduos, mas nunca como hoje se viu lutas entre corporações. Estamos rodeados de empresas que se atacam e, se conseguirem, até devoram, numa luta pelos consumidores. O mercado cada vez é maior, mas os concorrentes também aumentam de número. A guerra entre países pelo território é agora uma luta por dinheiro entre multinacionais. Também aqui há novas armas, novas estratégias, e também aqui há espionagem e contra-espionagem. A diferença é que o privado paga melhor.

Quando Ray e Claire eram agentes do MI6 e da CIA ela roubou-lhe um documento. Actualmente são da Equikrom e da Burkett&Randall. O trabalho dele é descobrir um segredo, o dela é mantê-lo guardado. Seria a oportunidade ideal para ele se vingar, mas neste filme nada é o que parece e cada um trabalha para si, para o outro e para ninguém. Cada um tem ainda uma outra missão. Será para a empresa, para o país ou para lucro próprio? Serão agentes duplos ou triplos? Depende do minuto que se está a ver.

O filme é bastante longo e por isso tem tempo para desenvolver diversas teorias da conspiração. Está constantemente a mudar de rumo, mas fazendo curvas suaves para que ninguém enjoe. Entre a história principal e os flashbacks dizem que a relação entre Claire e Ray é bem mais complexa do que parece. Por muito bem que se conheçam não confiam um no outro e isso dá grande fôlego ao filme. As constantes discussões, o ódio recalcado desde o primeiro encontro, as facadas nas costas, tudo isso torna "Duplicity" numa distracção, o problema é nunca passar disso. Tem muitos twists, mas não cativa, não obriga a pensar, não tira o espectador da letargia em que facilmente entra.

Os actores estão muito bem, tanto os espiões como os patrões. Há diálogos fenomenais, algumas situações caricatas... e tirando isso o argumento parece um puzzle infantil incompleto: vê-se que falta algo, mas já se viu a imagem global e não é um desafio suficientemente aliciante para se procurar a peça final.

A última cena faz pensar que sendo visto desde o início como comédia seria uma melhor experiência. Mas não vale o segundo bilhete, por isso o primeiro visionamento será provavelmente também o último. Pelo menos entretém por duas horas.

Título Original: "Duplicity" (Alemanha, EUA, 2009)
Realização: Tony Gilroy
Argumento: Tony Gilroy
Intérpretes: Clive Owen, Julia Roberts, Tom Wilkinson, Paul Giamatti
Fotografia: Robert Elswit
Música: James Newton Howard
Género: Crime,Romance,Thriller
Duração: 125 min.
Sítio Oficial: http://www.duplicitymovie.net/

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