25 de outubro de 2013

Nomeados TCN 2013

No ano em que mais candidatos concorreram aos TCN, os nomeados foram os seguintes:




O Antestreia está em Artigo de Cinema com "Big Brother - o livro e o filme".
De destacar as nomeações SciFiworld com Entrevista, 2 x Blogger e várias nomeações dos seus autores noutras categorias.

Para verem todos os nomeados visitem o Cinema Notebook.

20 de outubro de 2013

"Enemy" por António Reis

Saramago adaptado em Enemy

A genialidade de José Saramago não se mede apenas na literatura, mas também na capacidade de atrair realizadores de múltiplas origens que não resistem ao apelo de adaptar os seus textos.
Com projectos mais falhados como “A Jangada de Pedra” de George Sluizer ou super-produções como “Blindness” de Fernando Meirelles, passando por incursões de “A Flor Mais Grande do Mundo” ou da longa-metragem de António Ferreira "Embargo”, a ficção de Saramago tem ainda muito para ser explorada. Em Sitges, “Enemy” de Denis Villeneuve – conhecido em Portugal por “Incendies” que foi nomeado a Oscar – conquistou o Méliès d‘Argent para melhor filme fantástico europeu do festival.

Baseado em “O Homem Duplicado” e contando com uma dupla soberba interpretação de Jake Gyllenhaal, “Enemy” constrói-se nesse conflito de um homem que descobre incrédulo um outro Eu, um clone com uma outra existência, um outro emprego, uma outra vida familiar.
Num crescendo de intensidade dramática onde Gyllenhaal cria dois personagens de temperamentos diferentes, cedo se perde qual é o genuíno eu e o seu alter-ego. Da dificuldade em admitir uma existência duplicada, até ao desejo voyeurista de saber como será esse outro eu, vai um pequeno passo. E daqui até ao desejo de mudar a vida e de ocupar o lugar do outro/ele próprio, apenas uma pequena fronteira o separa da loucura.

O fantástico é ainda mais assustador quando se cria a partir de uma situação plausível. De uma perda progressiva das rotinas a que nos habituamos. Afinal nada está seguro, tudo é incerto.

Num festival onde o terror costuma ser a nota dominante, aparecer um filme que obriga o espectador a reflectir sobre o sentido da vida é uma autêntica pedrada no charco da programação. Mas o prémio e os aplausos do público provam que há espectadores inteligentes para filmes inteligentes.

EnemyTítulo Original: "Enemy" (Canadá, Espanha, 2013)
Realização: Denis Villeneuve
Argumento: Javier Gullón (baseado no livro de José Saramago)
Intérpretes: Jake Gyllenhaal, Sarah Gadon, Mélanie Laurent, Isabella Rossellini
Música: Danny Bensi, Saunder Jurriaans
Fotografia: Nicolas Bolduc
Género: Thriller
Duração: 90 min.
Sítio Oficial:

Entrevista ao produtor Samuel Hadida


No passado mês de Junho, o Antestreia teve a oportunidade de entrevistar o produtor Samuel Hadida no NOCTURNA.


Antestreia: Tendo nascido em Casablanca, o que pensa do filme? É um título incontornável do cinema e decerto ouve falar dele constantemente. Mas definiu de alguma forma a sua paixão pelo cinema?
Samuel Hadida: É um filme que estimo muito. Um filme que adoro muito. É um filme que, ao longo da minha juventude em Casablanca, o meu pai costumava mostrar-nos. Também me fez amar o cinema.

A: Olhando para a sua carreira como produtor, vemos grandes filmes desde o início. Foi sorte, foi ter os contactos certos...
SH: Qual deles?
A: Podemos começar por “True Romance”, Killing Zoe”, “Crying Freeman”... começou da melhor forma possível.
SH: Nessa época íamos a Los Angeles em busca de pessoas, de novos talentos. Como me queria tornar produtor, estava à procura de uma nova colheita, um novo tipo de pessoas que tivesse uma voz. [...] O realizador Sheldon Lettich, que estava a dirigir o filme que eu distribuiria, “Lionheart”, com Jean-Claude Van Damme, disse-me “sei que procuras alguém como eu, para escrever argumentos, mas sou demasiado caro para ti. Tens de arranjar gente nova.” Eu concordei que era melhor ideia e então ele apresentou-me, comecei a conhecer pessoas, descobri o Quentin Tarantino e falamos de um filme queria eu fazer. Achei que ele estava a pensar numa boa história e perguntei-lhe como seriam os diálogos, ao que ele diz “eu tenho um argumento, “True Romance”, que ninguém quer fazer. Mas é bom material”. Eu disse que não queria fazer um romance ao que me diz “lê isto”. Li-o e, uau, era fantástico. Portanto avisei-o logo “olha, volto cá daqui a um par de meses. Sei que o filme ainda está com direito de opção, mas se quando voltar ainda não tiverem usado os direitos, eu faço este filme”. Voltei em Fevereiro ou assim, tinham passado uns meses e ninguém tinha pegado no filme, ninguém tinha gostado da estrutura, ou de alguma cosia. E foi assim que começou. Foi um tipo a quem dei uma oportunidade, e com o dinheiro que lhe dei, ele escreveu “Reservoir Dogs”.
Muita gente não tem uma oportunidade de se expressar e em Los Angeles, qualquer lugar a que se vá o empregado é músico, o barman é escritor, e o outro é outra coisa qualquer. Têm de trabalhar, mas estão todos numa comunidade de trabalho e temos de encontrar o tipo certo. Eu tive a sorte de encontrar aquele que tinha uma voz e tinha algo. E Lawrence Bender [co-produtor com Hadida] também estava nesse “Lionheart”, era um figurante. E juntos fizeram “Reservoirs Dogs” que ele [Tarantino] escreveu e enviaram ao Harvey Keitel. Foi tudo acontecendo.
Christophe Gans, quando o conheci, foi muito especial. Foi como o Nocturna, era o meu primeiro festival e fui ver uma sessão dupla ou tripla, do meu filme. E com o meu filme passou essa curta, “Silver Slime”. O meu filme, que apresentava como distribuidor, era o “Evil Dead”, o Sam Raimi veio, fui ter com ele e perguntei quem tinha feito a curta. Fui ter com ele [Gans] e perguntei se ainda estava a estudar. Como estava, disse “quando acabares a escola, gostei do teu filme, vem ter comigo e talvez façamos um filme”. Ele agradeceu, mas queria ser jornalista. Porque em França, François Truffaut e muitos outros, fazem o curso, depois tornam-se jornalistas, depois críticos, e por vezes fazem filmes depois disso. Ele trabalhou na Starfix, uma revista muito importante nos anos 80. Disse-lhe que quando quisesse, para vir ter comigo. Quando ele veio, desenvolvemos uma história, acabamos por fazer “Necronomic” e “Crying Freeman”.
É no momento certo encontrar pessoas que tenham a voz, ou o aspecto, algo. É o talento de um produtor, encontrar as pessoas certas.

A: Tarantino foi rejeitado devido à estrutura singular, e agora serve de referência.
SH: Absolutamente. Mas durante anos, não conseguiu fazer o seu filme e eu não consegui fazer o filme. “True Romance” só se tornou algo concreto, quando o passamos para um estilo linear. Há uma estrutura “True Romance” que é à la Pulp Fiction”, as pessoas morrem, regressam, etc, mas quando Tony Scott o viu - ele aceitou fazer o filme, porque em Sundance Terry Gilliam, Monte Hellman e Tony Scott tinha feito um Sundance Lab onde deram conselhos a Tarantino e quando o viu, quis saber quem tinha os direitos - não percebia o estilo, o estilo pulp Fiction, a marca registrada de Quentin. Por isso passamos o argumento para um formato linear, Quentin também adorou e só precisou deste retoque para ser um filme de Hollywood.

A: Os seus filmes têm uma mistura do cinema europeu com o americano. Tanto faz ser Christophe Gans ou Roger Avary, há sempre algo universal. Isso foi da época ou é algo que procura nos argumentos?
SH: Isso deriva totalmente do meu amor pelo cinema americano. Como disse nasci em Casablanca onde via exclusivamente filmes americanos por isso cresci a ver filmes americanos.Também vi filmes de Bollywood (risos), muitos filmes de Bollywood. Mas o que conhecia melhor eram os filmes americanos, os padrões americanos. Depois quando estava em França, e mesmo querendo fazer cinema francês, achei melhor ganhar experiência nos Estados Unidos e só depois fazer filmes franceses. Mas assim que tocamos aquilo que adoramos, ficamos completamente envolvidos. Eu estava a reunir-me com pessoas que também tinham uma forte ligação. Quando conheci Tarantino, ele conhecia Jean-Luc Godard, a companhia A Band Apart foi chamada assim por causa de um filme francês... e o Roger [Avary] também, eles têm uma ligação à Europa. Quando falam de amor, de cultura, de tudo, falam sobre a Europa. Eu tinha chegado da Europa a procura de uma visão americana e encontrei pessoas que tinham um sentimento e ligação europeus. A ligação foi imediata. Tal como o Christophe Ganz, percebiamos o cinema da mesma forma, tinhamos a mesma natureza, viviamos no mesmo mundo, queriamos trazer o mesmo tipo de história para o ecrã. E também uma cultura europeia quer queriamos usar no cinema americano. Foi um choque de duas culturas que criou uma voz distinta.
Se virmos hoje em dia, este tipo de pessoas são ainda grandes talentos na América. Imensos ingleses, Guillermo Del Toro, vozes de Espanha, vozes da Escandinávia... Temos de gerar o tipo de sentimento que influencie o cinema americano, porque o cinema americano sem foi influenciado por europeus, sempre houve uma mistura. Dizemos que a América é uma mistura de culturas e este é um desses casos. Os europeus chegam trazendo novas ideias, conhecem outras pessoas - americanos que adoram cinema europeu e dizem que o cinema americano é demasiado pipoca - encontramos outra dimensão para o que sentimos e para o que fazemos, para os filmes.

A: Costuma começar o filme pelo argumento.
SH: Sim.
A: Compra um argumento e procura a pessoa certa para realizar. Alguma vez sentiu que havia algo que o dinheiro não pudesse comprar?
SH: Que o dinheiro não possa comprar?
A: Não ter conseguido o realizador certo, ou não ter o actor ideal para o papel...
SH: Não nos podemos colocar numa posição de fazer o filme mais incrível possível. Encontramos uma história que queiramos contar, e depois procuramos os ingredientes. É como cozinhar. Se não tivermos fome, não vamos fazer um porco de 150 quilos. É demasiado. Basta fazer uma tortilla. Depende. Sinto que cada vez mais o extravagante é fazível. Porque antes tinhamos ideias e não as conseguíamos concretizar. Era preciso muito dinheiro. Não se tem todo o dinheiro do mundo, mas é preciso algum dinheiro. Por exemplo, o projecto “Zero X”. Trabalhei no orçamento dele por muito tempo, era uma obra importante. Queriamos fazê-lo como algo extravagante, sci-fi, ciberpunk. Hoje pode ser fácil, mas há quinze anos quando quis adaptar este universo com um toque tão especial entre os comics, é preciso saber como lidar com isso. Organizei uma história que poderia ser feita, pensei no Marco Brambilla porque tinha feito o “Demolition Man” que era fixe, talvez tivesse uma voz. Mas era impossível. Demasiado sexo, demasiada violência, demasiados efeitos especiais, um ciborg que para estar bem tinha de ser como os de hoje, em computador, com efeitos CGI.. Hoje em dia é perfeito para ser feito. Na altura, nem que tivesse todo o dinheiro do mundo poderia fazê-lo. Depende de muitas coisas.
A: É preciso esperar pela altura certa.
SH: Pela altura certa e pelo momento certo para fazer o filme.

A: Uma vez produziu “Rhinoceros Hunting in Budapest” e depois adaptou “Salmon Fishing in Yemen”. O primeiro filme não foi bem recebido, o segundo saiu-se melhor, até teve alguns prémios, mas foi algum processo de redenção ou não há relação?
SH: (apontando para a câmara) O que vou dizer pode ser ouvido pelo Michael Haussman. Como produtor estava à procura de um realizador. E quem eu queria, Michael Haussman, conheci por acaso. Estava à procura de um realizador para fazer o remake de um filme que ia ter lugar em Espanha. por acaso agora estamos em Espanha, mas eu estava à procura de alguém que tivesse a sensibilidade espanhola. Podia ter ido pelo realizador que fez “Jamón, Jamón” [Bigas Luna] que era muito quente, muito sexy para a altura, mas vi um videoclip de Madonna. Michael Haussman tinha acabado de fazer um videoclip para a Madonna com um toureiro numa grande arena. O estilo, a ligação com a música, a edição, os sentimentos, fizeram-me querer trabalhar com aquele realizador.

Conheci o realizador, falamos e ele estava totalmente interessado. Mas achou que seria complicado e quis ver o original. É de Sternberg, “The Devil is a Woman”. Mostrei-lhe o filme, ele gostou e quis escrever o guião. Fomos escrevendo, gostamos e queríamos fazê-lo, mas ele virou-se para mim “Sabes Samuel, tenho um projecto em mim, chama-se ‘Rhinoceros Hunting in Budapest’, tenho de retirar este filme do meu corpo antes de fazer o teu. Podes fazer-me isso?”. Não era o meu filme, era o filme dele, mas concordei. Fiz o filme dele, porque por vezes temos de dar, para receber. Fiz o filme dele, ajudei-o a produzir e financiar esse filme, e fomos fazer “Rhinoceros Hunting in Budapest”. Não foi com a minha influência de produtor, foi com a minha influência de receptor. Para fazer um filme é preciso dar e receber, é preciso falar com pessoas, por vezes não basta esperar por algo. Temos de saber o que pensam disso, temos de estar abertos a sugestões, e ele estava com a ideia de fazer “Rhinoceros Hunting in Budapest”. Eu concordei e talvez tenha sido uma benção porque acabei por não fazer o filme que queria com ele. Ele perdeu o filme que eu ia fazer com ele, mas eu ganhei o filme dele. Por vezes as pessoas têm outros planos. Como produtor temos de encontrar o nosso sítio, para onde vamos, onde ficamos.
A: E “Salmon Fishing” foi uma coincidência?
SH: Foi uma história de que gostamos muito. O livro era romântico, tinha uma história implícita de paz, um mundo em comunidade, tal como eu que vim de Marrocos e conheci pessoas com a benção de se encontrarem e descobrirem uma nova forma de vida... Foi algo que me interessou como produtor. Gostei do filme. Não foi muito bem sucedido com o público americano, mas funcionou na Europa. Ganhou prémios e foi nomeado para Melhor Filme Europeu [para Prémio do Público]. Isso chega-me. Não temos de fazer sempre gore e sangue, e zombies e monstros. Não tem piada fazer sempre isso.

A: Para terminar, sou obrigado a perguntar isto. Sean Bean é chamado de spoiler humano porque tudo onde entra, acaba morto. Mas no entanto no seu filme ele vive.
SH: Isso é porque gosto dele e quero continuar com ele (risos).
A: Mas está a estragar a tradição. Sean Bean tem de morrer. Não o pode manter vivo.
SH: Nunca se sabe se ele morreu ou se continua, para mim ele continua no outro mundo. Não está morto, vagueia pelo submundo. Podemos matá-lo com uma criatura num pesadelo, mas para mim, é um indivíduo que estimamos muito, com uma reacção diferente. Gosto que ele saiba que continua por aqui, algures no submundo, no nevoeiro, mas que pode ser chamado para continuar a trabalhar connosco.
A: Quando lhe dão um argumento deve perguntar “quantas páginas tenho? 10? 20?
SH: Ele preocupa-se com o contar da história. Com a personagem. Se o realizador disser que tem de ser ele [Bean], se der um argumento onde ele morre, talvez ele não aceite. Não sei, talvez até ache divertido. No “Senhor dos Anéis” era real, tinha de morrer, é assim a história. No meu filme, podia matá-lo de forma óbvia. Ou podia dar a ideia de que continua à procura da mulher. Mesmo que “Silent Hill 3” não seja a história dele. Pode ser que seja ele à procura da Radha Mitchell [faz de esposa], mas podemos ir noutra direcção. Dizer que não morreu, que estava a morrer. Ele é o milagre do cinema. Sean Bean tem de morrer, mas não para todos.

Podem ler uma entrevista minha a Hadida sobre a saga Resident Evil na Take.

15 de outubro de 2013

António Reis, o director do Fantasporto que nunca existiu



Foi ontem enviado pelo António Reis um email a alguns elementos da imprensa que têm acompanhado a sucessão de preocupantes notícias sobre o Fantasporto. O Antestreia transcreve o texto na íntegra, com alguns links para textos relacionados.


Li no Público que afinal nunca tive existência real. Fui mais uma personagem saída da mente delirante de uma escritora/artesã urbana, por entre gatos, anjos com problemas de sexualidade e estátuas fálicas. Estou perplexo porque durante quase quarenta anos acreditei nesta personagem de ficção, usei cartões de visita, subi ao palco e participei em conferências de imprensa e em festivais, sem ter consciência da minha condição de criatura engendrada por uma imaginação prodigiosa.


Sinto-me como um Zelig, homem-camaleão, desse Woody Allen que candidatos perdedores queriam que filmasse no Porto. Já vi este filme. Chama-se “1984” onde um John Hurt agora travestido quer reescrever a história, os catálogos, os jornais, retocar as fotografias.

Por momentos pensei que pudesse ser um caso de insanidade mental a necessitar de tratamento psiquiátrico. Mas os personagens de ficção não são responsáveis pelas suas loucuras, da exclusiva responsabilidade dos seus criadores. Não esqueçamos que Frankenstein é o nome do criador e não da criatura.

Estou tentado a fazer como em “A Rosa Púrpura do Cairo” quando o personagem sai da tela e até adquire existência real.

Uma coisa agradeço a esta Big Brother no feminino. Está bem claro nas duas linhas em que se confirma que eu não existo, logo não sou responsável por nenhum dos actos à espera de melhor esclarecimento judicial. Bem vistas as coisas, de facto António Reis não está nas páginas das revistas e jornais (como “O Crime” de Setembro passado), como indiciado. Às vezes é bom ser-se uma personagem de ficção. Espero apenas que a esta verdadeira incursão no terror, suceda um período fantástico de que o Fantasporto é parte fundamental.

8 de outubro de 2013

"Rush" por Nuno Reis

A Fórmula Um será, de todos os desportos, aquele que considero menos apelativo. Não acho piada ao consumo desnecessário de combustível. Mas se me perguntassem há uns anos qual o desporto mais estupido já inventado, responderia basebol sem hesitar. É que desportos motorizados para mim nem são desporto. Alguém passar o tempo sentado e dizer que está a fazer exercicio é um conceito ridículo.
O que essa actividade tem de mais repulsivo é a indiferença ao equipmento que usam e a constante troca de equipa e de piloto. Cada piloto procura um carro mais rápido. Cada equipa procura um piloto mais rápido. Assim resulta que os carros mais rápidos terão os condutores mais rápidos e não haverá uma saudável competição. Portanto, qual o interesse em ver os ratinhos fazer círculos numa gaiola durante horas, para ter um desfecho que está decidido à partida? E já agora, para quê definir tanta regra quanto aos carros?
Estava a precisar de um filme para sequer considerar outro ponto de vista. "Rush" veio mesmo a calhar. Como pode alguém que não gosta de F1 e se aborrece de tédio a ver sequer duas voltas, gostar de um filme sobre o tema? Só se o filme lidar mais com o lado humano do que com as máquinas. Dar primazia aos pilotos sobre os carros. Ron Howard - que tal como eu não aprecia as corridas - aceitou o desafio e apresenta-nos “Rush”, o filme de Fórmula Um onde as carros são o que menos importa.

A Fórmula Um como qualquer desporto não demorou muito a criar as suas lendas. Nos anos 50 foi o tetra-campeão Fangio a vencer por 15 e 16 pontos. Nos 60 o pódio normalmente ficava para Jack Brabham, Graham Hill e Jim Clark em que mais tarde se intrometeu Jackie Stewart. Depois viriam os períodos dourados de brasileiros, finlandeses e alemães, mas a haver um duelo, dentro e fora das pistas, foi no ano de 1976.
O austríaco Nikki Lauda pagou para chegar à F1 na equipa March. Mais tarde foi para a Marlboro. Então o inglês James Hunt tinha o apoio de Lorde Alexander Hesketh e ambos eram concorrentes insignificantes para as grandes escuderias. Mas as capacidades de Lauda como mecânico além de piloto levaram-no para a Ferrari em 74 e foi campeão em 75. E Hunt na falência de Hesketh aproveitou uma vaga aberta por Fittipaldi para entrar na McLaren em 76. As duas equipas mais rápidas e os dois melhores pilotos do momento. De um lado o rigor lógico e frio de quem roça a perfeição na simbiose com o carro. Do outro, um bon vivant e playboy que dá sempre o máximo pois está disposto a morrer quando entra para o carro. Será um confronto de estilos, de egos, de dois pilotos como a Fórmula 1 não voltará a ter.

Quando há uma grande rivalidade em ecrã, é tradicional apresentarem um como bom e outro como mau. Para facilitar a tomada de uma posição. Aqui não é assim tão óbvio. Lauda pode não ter jeito para fazer amigos, mas Hunt também não é de trato fácil. São quase opostos e, contudo, igualmente cativantes. O campeonato de 76 ficará na memória de ambos e dos espectadores por todos os motivos. O filme só ajudará a recordar esse porquê.
O equilíbrio entre as vidas pessoais e profissionais é a mais-valia do filme. Ajuda a conhecer o tal lado humano da rivalidade. Como se gabavam de serem o melhor do mundo sabendo que havia um só piloto capaz de os derrotar. O duelo em múltiplas frentes, das boxes às conferências de imprensa, é tão civilizado que nem parece verdade. Dois homens que todo o mundo vê como inimigos mortais, parecem simplesmente andar “picados”. Eram as corridas num tempo de cavalheiros, algo que não vemos hoje em dia.
Também há o lado competitivo, aqueles poucos detalhes técnicos que distinguem quem está a ver o filme pelas máquinas e percebe todos os termos, de quem fica perdido ao ouvir falar de algo que ultrapasse os conceitos de volante e rodas. Quem não percebe de carros escusa de mudar de sala (ou de canal daqui a uns meses) que esse tema é tocado apenas de raspão. Até as regras da corrida são fáceis de perceber. E resta usufruir da experiência de assistir ao campeonato mais emocionante e disputado que alguma vez se viu. É verdade que anos depois um desses pilotos ganhará um campeonato por mero meio ponto, mas este foi o ano de todos os perigos. O ano que mudou o desporto para sempre.
Com o duelo inesquecível de dois heróis e o maldito Nürburgring, a F1 até parecia ter piada naquela altura.

RushTítulo Original: "Rush" (Alemanha, EUA, Reino Unido, 2013)
Realização: Ron Howard
Argumento: Peter Morgan
Intérpretes: Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Olivia Wilde, Alexandra Maria Lara, Natalie Dormer
Música: Hans Zimmer
Fotografia: Anthony Dod Mantle
Género: Biografia, Desporto, Drama
Duração: 123 min.
Sítio Oficial: http://rushmovie.com/

6 de outubro de 2013

Glee - Season 4

Os clips utilizados neste artigo são apenas para dar uma ideia do que se passa no episódio e da qualidade musical referida. Nâo são clips da série e não são alojados por este blog pelo que a qualqer momento podem ser retirados da rede. O idela é verem os episódios referidos quando passarem na televisão.

O fim de um ciclo

Quando a terceira temporada de Glee terminou, o tema parecia esgotado. Por isso há um ano publiquei o texto “Obrigado pela Musica”. A vitória nos Nacionais (que os argumentistas adiaram ao máximo) estava atingida. Metade do grupo ia partir para novos desafios mais ou menos relacionados com a música. A ideia que podemos ser nós próprios, ter amigos e estar integrados era do conhecimento de todos. E agora?
Com a quarta temporada seria preciso refundar o coro Novos Rumos e dar um novo rumo à série. O truque foi não inventar demasiado e fazer aquilo que fazem melhor. Exactamente a mesma história, praticamente as mesmas personagens.

Como manter as personagens

O que "Glee" tem de melhor não é a música, é aquele humor cáustico de Sue Sylvester. Especialmente quando o usa contra a própria série. Num episódio em que Kurt vai visitar a McKinley High, Sue diz-lhe que só os falhados voltam ao secundário. Repete-o mais tarde a Santana. Seria o que os detractores da série diriam ao ver quantas vezes Kurt, Santana, Rachel, Mercedes e Mike os visitam. Pior só mesmo Finn cuja vida não parece sair daquela escola. Mas isso será outro tópico.
A verdade é que “Glee” não seria a mesma coisa sem as vozes que nos acostumamos a ouvir. E enquanto se mantém no secundário a treinar uma nova geração, tinha uma oportunidade para seguir o caminho traçado muitos anos antes por “Fame”. As personagens iriam avançar para a vida adulta. O sair de casa, o perseguir um sonho e uma carreira, o fracasso das expectativas e o fim dos amores que julgaram e juraram eterno. Em comum: serem tópicos que as séries para adolescentes preferiam evitar. Esta temporada terá muito disso. E bullying, e atentados, e amores virtuais, problemas de aprendizagem e de alimentação... Todos os temas que uma série convencional normalmente roça num episódio, aqui dão pano para mangas. E sempre com personagens que vão amadurendo em vez de serem iguais ao que eram no início. Mesmo os adultos estão ainda numa fase de crescimento e aprendizagem. O seu regresso não só inspira os novos elementos como ajuda do ponto de vista mental. Mais do que ídolos, são os seus semelhantes e estão lá fora, na selva, onde continuam a respeitar e a exibir com orgulho os valores que o Novos Rumos lhes deu.

As novas personagens

Quatro novas vozes apareceram na McKinley nesta época. Demoraram quase toda a temporada a entenderem-se, e serão a base que levará a série em frente quando todos os originais tiverem partido.

Wade/Unique
Não é uma nova personagem. Já a conhecemos na terceira temporada onde visitou a McKinley em busca de Mercedes e Kurt para pedir conselho. O conselho foi tão bom que derrotou Rachel e se sagrou a melhor cantora nos nacionais, mas mudou depressa de escola. É que Unique nasceu um rapaz, mas sempre se sentiu de sexo feminino. A sua afirmação foi encorajada pelos Novos Rumos e mudou-se em busca de um lugar onde se sentisse bem com quem é. Vai demorar um pouco a consegui-lo.
Depois de nos acostumar a deficientes que dançam, a casais homossexuais bem-vindos em actividades lúdico-desportivas, e uma cheerleader com síndroma de Down, a última barreira seria a transsexualidade. Pois está conseguida e foi desenvolvida de forma incrível.

Kitty
Esta cheerleader entrou no coro através dum musical e acabou por ficar por um amor que pouco durou. O seu jogo duplo entre Sue e Schuester torna-a um relativo mistério que traz intriga à narrativa. Claro que logo outros elementos começam a trabalham em ambas as equipas, como vimos noutras temporadas, mas esta é a original e é má, ou pelo menos parece ser, pois na verdade compensa-o sendo quem mais fará pelo outros em diversas ocasiões.

Jake Puckerman
Há um novo Puckerman na escola. Meio-irmão do conhecido penteado de moicano, tem um temperamento “complicado” e, no entanto, é ele quem primeiro conquista a miúda mais cobiçada do ano. No Novos Rumos vai passar por uma dolorosa aprendizagem que decerto será muito próxima da que o irmão teve. Para não dizerem que é uma cópia da personagem, este não tem a mesma graça e, aparte a explosão nas audições, é de trato mais fácil para todos.

Marley
Tinha a missão impossível de fazer esquecer a estrela da série. Foi atirada às feras cantando em simultâneo com a anterior estrela e não correu mal. Conseguiria estar à altura de Rachel Berry? Apesar de ao princípio não me ter convencido, a verdade é que depressa surpreendeu. É demasiado ingénua para se adorar, mas é verdadeira, boa pessoa e tem excelente voz. Como a série não está centrada nela - Lea Michele não sai de cena tão cedo - vão aguentando o centro das atenções e o foco das câmaras.

Ryder
Chegou à série como vencedor do “Glee Project” tendo por isso pressão para fazer algo de excepcional. O anterior vencedor ex-aequo, Samuel Jansen, não teve um papel muito promissor (Joe Hart), mas como se mantém na série é um emprego relativamente seguro. E Damian McGinty Jr. (sim, o irlandês) que empatou com ele e se ficou praticamente pelos sete episódios do prémio, causou muito boa impressão. O caso mais incrível foi Alex Newell que empatou no segundo lugar e além dos dois episódios que lhe deram, teve direito a destaque na nova temporada (é Unique). Na segunda edição do concurso Blake Jenner também recebeu sete episódios e a personagem além de chegar tarde e ameaçar deixar o clube, ficou no elenco regular. Com a típica carinha de quem vai roubar muitos corações na série e entre espectadoras, foi ganhando protagonismo até se tornar algo muito próximo de uma figura de proa nesta nova geração.

Katie
Só uma nota para a personagem virtual que vai deixar muita gente confusa. A liberdade do anonimato online permitiu aos escritores da série criarem alguém que se distingue de todos. Mesmo depois de ter um rosto, Katie continuará a ser uma peça-chave da narrativa, como se houvesse um lugar vago à espera de algo ou alguém mais.

A mesma história

Jake é irmão de Noah (para quem não se lembra, esse é o nome próprio de Puck) e muito parecido com ele. Kitty idolatra Quinn e tal como ela é chefe das cheerleaders e do grupo cristão. Há um breve caso entre ambos.
Finn recruta Ryder dizendo que tal como ele era um jogador de futebol, era um aluno de C- que sabia ser capaz de melhor e vamos descobrir que são ambos bateristas. Marley canta com Rachel no primeiro episódio e torna-se o grande destaque do Novos Rumos no concurso (no mau sentido, mas mesmo assim). Não será de estranhar se Marley e Ryder acabarem juntos.
Jake e Ryder tornam-se grandes amigos, Kitty sabota Marley sempre que possível, mesmo que acabe por se preocupar com ela. Tal como vimos na primeira temporada com os seus antecessores.
Até aqui tudo bem. Apesar da óbvia falta de criatividade, disfarçaram minimamente de forma a não parecer uma repetição. Além disso o que fazem dentro do programa depende exclusivamente dos argumentistas. Mas pode ter havido...

...demasiadas coincidências

Que me desculpem os jovens que andam a dizer que o amor é lindo e que Blake Jenner e Melissa Benoist terem-se encontrado na série foi obra do destino. Não há coincidências e a “nova Rachel” ter-se apaixonado na vida real pelo “novo Finn” pode ser manobra publicitária. Até porque as revistas da especialidade dizem que há casamento para breve e, se eles fossem mesmo seguidores da série, saberiam que são demasiado jovens para tal decisão. Isso foi-nos dito até ao último episódio desta temporada. Claro que podem preferir casar para os deixarem em paz e não serem os novos namoradinhos da televisão. Claro que isto pode ser mesmo o Amor e o casamento o próximo passo a dar, mas desconfio que houve empurrões da produção. Se foi para desviar as atenções de Cory Monteigh durante a desintoxicação, óptimo. Recordo que a série o apoiou nos momentos maus e o afastou para que se pudesse redescobrir. Mas temo muito que estejam a brincar com os sentimentos dos jovens.
Mas deixemos esse tipo de observações para as revistas da especialidade cor-de-rosa e foquemo-nos na série musical e como surgiu o drama inesperado.

Quando a realidade se intromete na ficção

Antigamente uma série teria de se adaptar à realidade quando uma actriz engravidava, ou quando alguém adoecia gravemente (tentemos não pensar na péssima ideia de substituir temporariamente como fizeram a Barbara Bel Geddes em “Dallas”). Raramente tiveram de resolver mortes e, quando aconteciam, eram pessoas idosas cujas personagens eram também enviadas para um mundo melhor.
Com a tragédia de Cory Monteigh a série tem um problema bicudo em mãos. Mantiveram Finn no secundário como professor do Glee, era o símbolo de uma geração que, depois de um período brilhante em que a vida sorria, vê-se sem rumo, sem conseguir avançar com igual sucesso. Que se agarra ao que conhece porque pode bem ser aquilo que fará toda a vida. Saiu do clube com enormes esperanças, voltou em grande e teria muito potencial para as próximas temporadas que possivelmente incluiriam o casamento com Rachel. Como resolver isso agora que o actor se foi? Os argumentistas decidiram usar o trágico fim de Cory em Finn, para que essa morte sirva de memória a todos os jovens e impedir que outros caiam no mesmo vício. Arriscado e quiçá impróprio, mas era a melhor solução possível. Não o podiam substituir, não iam fazer de conta que não existia, assim pelo menos respeitam a sua memória e a morte não será tão vã.
Numa nota extra, Vanessa Lengies (Sugar) decidiu abandonar a sua longa aventura no elenco secundário de Glee para ser uma de onze co-protagonistas em “Mixology”, a nova série de Scott Moore (“The Hangover”). Diz que se sentia excluída e tem toda a razão. Se revirem a temporada atentos a isso, há momentos em que simplesmente fazem de conta que ela não existe, e o último solo foi aquela desgraça na audição. Fez bem, já não tinha idade para continuar a brincar às escolas e convém apostar na carreira, mas abandonar os colegas num momento assim deve ter custado muito.

Seis episódios-chave

Quais os episódios que mais se destacaram ao longo da temporada. Os seis fundamentais para quem tem pressa e não se preocupa com a continuidade narrativa. Estão ordenados cronologicamente para que a confusão não seja maior.
4 - The Break-Up
Como quebrar os laços com o passado? Cortando todos de uma vez. Um golpe de coragem para deixar os espectadores emotivamente sensíveis e presos à história.
5 - The Role You Were Born to Play
Este regresso de caras há muito desaparecidas fez com que “Glee” por momentos voltasse a ser o que era. Fez com que não se parasse de acreditar.
6 - Glease
A grande performance do ano, fechou com chave-de-ouro aquilo que foi aberto no episódio 4.
14 - I Do
Nâo é um bom episódio de Glee, mas com a sua mistura de amor e dor, é um bom episódio para ver no São Valentim, acompanhado ou sozinho.
17 - Guilty Pleasures
A missão do episódio era revelar os gostos segretos de cada membro do coro. Acabou por ser uma divertida pausa no formato normal e uma oportunidade para ouvir música normalmente ignorada.
18 - Shooting Star
Podia ter sido muito melhor, mas mesmo assim foi dos mais importantes devido à temática complicada e às mazelas que causou que foram exploradas mais tarde.

Seis episódios com grandes momentos

Não sendo bons episódios, têm algo, normalmente uma música, que os torna obrigatórios.

8 - Home for the Holidays
O episódio 5 teve muitos regressos, mas foi em “trabalho”. Este dedicado à Acção de Graças tem mais tempo de convívio. O ponto alto é a abertura que nos recorda como tinhamos saudades de ouvir toda aquela gente, a fornada original.

9 - Chicago/Renascimento
Confronto do ano em Glee? Rachel contra Cassandra em “Chicago”. Para quem tem esta série como referência, foi do mais hipnotizante e explosivo que já tivemos. Para melhorar, só o renascimento do grupo no meio do nada. Com dois momentos assim, até se perdoa que durante meia hora não se passe mais nada de interessante.


12 - Dianna Agron e muito topless
Muita gente poderá gostar das imagens no calendário e da alegria contagiante na música final, mas num episódio em que há dueto Rachel-Rachel, é a voz de Quinn que será recordada. Que saudades... Esta mulher quando quer, consegue roubar o espectáculo.

13 - Santana
Um episódio completamente banal é salvo pela performance de Santana. Não só tem muitas interpretações musicais divinas, como a sua mudança para Nova Iorque dá um revitalizante twist à série.

15 - Músicas de filmes
Quase todas estas músicas têm o seu lugar sagrado na história do Cinema e, de uma forma ou outra, teriam de aparecer na série. O episódio é muito fraquinho, mas praticamente todas as músicas são irresistíveis, seja pela melodia em si ou pelas memórias que o filme desperta.

19 - Audição da Rachel
Tinha de ser um dos pontos altos da temporada e foi. A escolha da música mais emblemática da série não foi inocente. Conseguiram apelar à nostalgia e usar uma letra que todos conhecemos. Adicionar o apoio dos amigos foi um golpe de génio que nos atirou para quando eram apenas adolescentes em busca da sua voz e, juntos, conquistaram o seu lugar no mundo. No tempo em que “Glee” era a oportunidade ideal para karaoke. Terá sido um dos pontos mais altos da série. Melhor do que qualquer conquista de troféus.

Temas tratados

Num pequeno apanhado, eis uma revisão dos novos temas que foram tratados ao longo desta temporada. Pode conter spoilers pelo que devem saltar esta parte se não quiserem perdem alguma da magia.

Distúrbios alimentares - personagem principal, asneira da grossa. Marley sabe que contam com ela, que precisa de estar no seu melhor, mas deixa-se manipular por Kitty e destrói a própria saúde assim como a possibilidade de seguirem em frente na primeira ronda da competição. Era a melhor forma de dizer “não tentem fazer isto em casa”.
Drogas/doping - como não podiam afastar a equipa da competição, tinham de os recolocar com base numa regra qualquer. A mais simples foi acusar os vencedores de doping e tomar o lugar dos Warblers. Como moral podemos usar a popular “O crime não compensa”.
Dislexia - Mais um tema que costuma ser deixado para as personagens secundárias e aqui tem grande destaque em Ryder. Por vezes o problema não é falta de esforço, apenas precisamos de uma ajuda externa para perceber o que se passa connosco.
Cancro - o tema, tal como a doença, aparece de forma inesperada e apanha todos de surpresa. Obriga a encontrar muitas forças que se desconhecia, mas com exames precoces e muita esperança é possível superar.
Nudez - “To be or not to be...” naked. O dilema aparece perante muitas das personagens em simultâneo e há diversos rumos a tomar. Uns podem achar que é a época certa, uns podem achar melhor fazer mais tarde, ou podem nunca o fazer. Mas é uma decisão pessoal e das mais importantes a tomar.
Abuso infantil - ele existe e não pode ser escondido. Enquanto não se acabar com o flagelo, é importante falar do tema, tanto para prevenir potenciais vítimas como para tratamento e minimizar os danos psicológicos em quem não escapou.
Opções de vida - imensas pequenas coisas sobre mudança de carreira, de curso, de cidade, de editora discográfica... No fundo a mensagem principal será sempre “é melhor arrependeres-te do que fizeste do que arrependeres-te do que podias ter feito”.

Poupar músicas

É preciso não esquecer que as boas músicas são finitas. Com a enorme quantidade de faixas já usadas, começa a ficar difícil encontrar temas que se adequem ao argumento. Um truque foi começar a cantar originais. Outro foi não desperdiçar grandes músicas em momentos menores. As boas músicas ficam para as cenas que realmente importam. Isso fez com que o nível geral descesse (Barry Manilow tinha tantas músicas melhores para “Guilty Pleasures”!). A única vantagem é que assim, de vez em quando aparece uma grande música que se destaca da mediocridade.
Apetece-me dizer que a série não está a manter a qualidade de outrora porque as músicas não são tão apelativas. Poderá querer dizer que estou a sair do público-alvo? Que já não me interesso pelas músicas que estão na moda? Ou isso significa que preciso de ver o especial dos Beatles para voltar a acreditar como antigamente? Na verdade não consigo deixar de ver só porque as músicas pioraram. Até fizeram com que começasse a achar piada à Sarah Jessica Parker!
O problema desta série é que haverá sempre uma música que me obrigará a ver o episódio e para isso vou acabar por ver tudo o que ficou para trás. Maldito Glee, basta fazerem um bom último episódio e vou ver a série completa...