O fim de uma era
Lotso: You've got a playdate with destiny!
O cinema tem evoluído diariamente e raramente nos apercebemos das mudanças. Contudo é unânime que "Toy Story" marcou um virar de página na sétima arte. Não só porque provou que a animação por computador era fazível, como apresentou ao grande público uma empresa chamada Pixar que desde então não abrandou a capacidade criativa de uma máquina de sonhos imbatível. A única comparação possível é com a loucura daquele visionário que disse "o mundo está preparado para longas-metragens de animação".
"Toy Story" não é um filme que tenha envelhecido bem. Em 2009 vi a versão 3D em cinema e estava perante um filme que não ganhou nada com o 3D e cuja história parecia banal. Pensei que com a idade os brinquedos tivessem perdido o encanto, ou eu a capacidade de os apreciar. Até que vi "Toy Story 3". Nostalgicamente recordam as peripécias de Woody, Buzz, Jessie, o casal Potato Head, Rex, Hamm e tantos outros nos bons velhos tempos em que Andy usava a imaginação para construir aventuras fantásticas onde cada um deles tinha um papel fundamental. Neste derradeiro capítulo Andy está de saída para a universidade e a irmã quer-se mudar para o quarto dele. Andy tem de decidir o que leva, o que vai para o sotão e o que é lixo. Devido a um problema de rotulagem os brinquedos acabam misturados com os da irmã para doação ao infantário local. Mais uma vez os bonecos terão de se desenvencilhar sozinhos e, mais importante, decidir se querem esperar eternamente por Andy num caixote ou se está na hora de procurar novos donos.
O único requisito para ver este filme é ter crescido a ver os anteriores. Se ainda forem crianças vão-se divertir com a mera ideia de os bonecos terem vida, por se mexerem e falarem. Mas preparem-se para os momentos de desespero e terror. Se cresceram a ver estes filmes teoricamente têm idade para aguentar... isso se não tiverem coração. Porque nesse caso Andy pode ser qualquer um de nós, que mantêm aquele caixote ou armário de brinquedos fechado há anos porque não usa, mas não deita fora porque não se consegue separar dos amigos de sempre. Entre a nostalgia invocada desde a primeira cena, a identificação com o proprietário e a constante ameaça de separação do grupo, nenhum espectador escapa imune às emoções. Dá para rir e para chorar, preparem-se para o despertar de memórias e para sofrer bastante. Talvez mais ainda do que quando a Rainha Má se transforma em dragão, ou a baleia engole o Pinóquio, ou o Bambi fica sozinho no fogo. Porque aí era o climax de um filme e as personagens que adoravamos há uma hora, aqui são personagens que conhecemos desde sempre, com quem dividimos o quarto toda a infância, e que vemos em cinema e em casa há dez anos. Vê-las a caminho da destruição é das cenas mais tristes, mais belas e mais memoráveis que o cinema jamais nos proporcionou.
Tecnicamente não é revolucionário, mas consegue revirar sentimentos como nenhum outro este ano. Isso define um grande filme. Talvez seja por toda a carga dramática que está classificado como filme para crianças. Um adulto terá dificuldades em assistir sem se portar como uma.
A única forma de honrar os companheiros de infância é tirá-los para fora do armário e brincar uma última vez antes de os passar à geração seguinte. Para que os nossos sucessores relembrem sempre que a verdadeira magia de ser criança não reside nas consolas.
Lotso: You've got a playdate with destiny!
O cinema tem evoluído diariamente e raramente nos apercebemos das mudanças. Contudo é unânime que "Toy Story" marcou um virar de página na sétima arte. Não só porque provou que a animação por computador era fazível, como apresentou ao grande público uma empresa chamada Pixar que desde então não abrandou a capacidade criativa de uma máquina de sonhos imbatível. A única comparação possível é com a loucura daquele visionário que disse "o mundo está preparado para longas-metragens de animação".
"Toy Story" não é um filme que tenha envelhecido bem. Em 2009 vi a versão 3D em cinema e estava perante um filme que não ganhou nada com o 3D e cuja história parecia banal. Pensei que com a idade os brinquedos tivessem perdido o encanto, ou eu a capacidade de os apreciar. Até que vi "Toy Story 3". Nostalgicamente recordam as peripécias de Woody, Buzz, Jessie, o casal Potato Head, Rex, Hamm e tantos outros nos bons velhos tempos em que Andy usava a imaginação para construir aventuras fantásticas onde cada um deles tinha um papel fundamental. Neste derradeiro capítulo Andy está de saída para a universidade e a irmã quer-se mudar para o quarto dele. Andy tem de decidir o que leva, o que vai para o sotão e o que é lixo. Devido a um problema de rotulagem os brinquedos acabam misturados com os da irmã para doação ao infantário local. Mais uma vez os bonecos terão de se desenvencilhar sozinhos e, mais importante, decidir se querem esperar eternamente por Andy num caixote ou se está na hora de procurar novos donos.
O único requisito para ver este filme é ter crescido a ver os anteriores. Se ainda forem crianças vão-se divertir com a mera ideia de os bonecos terem vida, por se mexerem e falarem. Mas preparem-se para os momentos de desespero e terror. Se cresceram a ver estes filmes teoricamente têm idade para aguentar... isso se não tiverem coração. Porque nesse caso Andy pode ser qualquer um de nós, que mantêm aquele caixote ou armário de brinquedos fechado há anos porque não usa, mas não deita fora porque não se consegue separar dos amigos de sempre. Entre a nostalgia invocada desde a primeira cena, a identificação com o proprietário e a constante ameaça de separação do grupo, nenhum espectador escapa imune às emoções. Dá para rir e para chorar, preparem-se para o despertar de memórias e para sofrer bastante. Talvez mais ainda do que quando a Rainha Má se transforma em dragão, ou a baleia engole o Pinóquio, ou o Bambi fica sozinho no fogo. Porque aí era o climax de um filme e as personagens que adoravamos há uma hora, aqui são personagens que conhecemos desde sempre, com quem dividimos o quarto toda a infância, e que vemos em cinema e em casa há dez anos. Vê-las a caminho da destruição é das cenas mais tristes, mais belas e mais memoráveis que o cinema jamais nos proporcionou.
Tecnicamente não é revolucionário, mas consegue revirar sentimentos como nenhum outro este ano. Isso define um grande filme. Talvez seja por toda a carga dramática que está classificado como filme para crianças. Um adulto terá dificuldades em assistir sem se portar como uma.
A única forma de honrar os companheiros de infância é tirá-los para fora do armário e brincar uma última vez antes de os passar à geração seguinte. Para que os nossos sucessores relembrem sempre que a verdadeira magia de ser criança não reside nas consolas.
Título Original: "Toy Story 3" (EUA, 2010) Realização: Lee Unkrich Argumento: John Lasseter, Andrew Stanton, Lee Unkrich, Michael Arndt Intérpretes: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Michael Keaton Música: Randy Newman Género: Animação, Aventura, Comédia, Família, Fantasia Duração: 103 min. Sítio Oficial: http://www.disney.com/toystory |
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