O film noir é um estilo muito sui generis. O movimento teve uma época dourada e celebrizou actores como Peter Lorre, Humprey Bogart, Veronica Lake e Elisha Cook. Ainda hoje influencia milhares de cineastas. Alguns dos elementos chave do género na vertente clássica são: ser filmado a preto e branco para aumentar a taciturnidade; mostrar sempre o ponto de vista do criminoso, ignorando ou desprezando a polícia; mostrar a fraqueza dos criminosos através de violência excessiva e amigos infiéis; e finalmente uma mulher para adoçar a história e causar a desgraça do protagonista.
Na tertúlia de Fevereiro estamos a decompor alguns exemplares do género e começamos por uma autêntica pérola. Nicholas Ray, um dos maiores nomes do cinema, adapta o livro "Thieves Like Us" em "They Live By Night". Este filme é de 1949, precisamente a meio do período que ficou marcado pelo género.
Aqui o "herói" é Bowie (Farley Granger), um jovem que foge da prisão junto com outros dois condenados. Os três bandidos são movidos por diferentes motivos. T-Dub é meticuloso e astuto. Quer dinheiro para tirar o irmão da prisão. Chickamaw é o elemento violento do grupo. Tem bom fundo, mas perde o controlo demasiadas vezes. Bowie tinha 16 anos quando foi preso. Agora tem 23, e não sabe o que fazer. Deixa-se guiar pelos companheiros que estão obcecados com assaltos a bancos. Há duas outras personagens-chave, Mattie, cunhada de T-Dub, e Keechie (Cathy O'Donnell), sobrinha de Chickamaw.
O trio assalta um banco. O dinheiro conseguido é suficiente para Bowie contratar um advogado que o consiga salvar da perpétua e começar uma vida nova, mas um acidente de carro tira-lhe essa hipótese. Novamente albergado em casa do irmão de Chickamaw, vai deixar o passado de crime para trás e começar uma nova vida. Keechie, também farta da sua situação e levemente apaixonada, deixa-se levar nessa aventura. Tal como o título sugere terão de viver de noite, mover-se pela calada e tentar ser felizes no entretanto. Os momentos juntos podem ser toda a eternidade ou apenas o próximo minuto.
Filmado numa época em que o importante era saber contar histórias, "They Live By Night" é um filme muito actual. O seu resultado é conseguido pelo fenomenal desempenho dos protagonistas. Farley Granger tem uma performance arrebatadora, sendo ligeiramente ultrapassado por Cathy O'Donnell. As duas personagens de início parecem muito tímidas e jovens, quase que crianças inconscientes. Há entre eles alguns diálogos com tanto de surreal como de delicioso. A sua relação, a primeira conversa normal com alguém da sua própria idade, é quase como um pedido de aceitação ao mundo que desconhecem. Ele por ter estado preso, ela por estar numa prisão metafórica com o pai alcoólico. Depois de sairem da casca tornam-se rapidamente adultos sozinhos contra o mundo, e a relação do casal vai melhorando até criarem a cumplicidade esperada. São parceiros se não no crime, pelo menos na fuga. Esse desenvolvimento da personagem feito ao longo do filme é o que convence o espectador cada vez mais a ficar do lado deles. Pode ser film noir, pode ser sobre ladrões, mas é acima de tudo um grande romance entre pessoas adoráveis. O início alertava que teria um desfecho trágico, mas absolutamente ninguém quererá acreditar nisso. Um clássico a ver e rever por muitas vezes.
Não se esqueçam de visitar a Tertúlia do Cinema.
Na tertúlia de Fevereiro estamos a decompor alguns exemplares do género e começamos por uma autêntica pérola. Nicholas Ray, um dos maiores nomes do cinema, adapta o livro "Thieves Like Us" em "They Live By Night". Este filme é de 1949, precisamente a meio do período que ficou marcado pelo género.
Aqui o "herói" é Bowie (Farley Granger), um jovem que foge da prisão junto com outros dois condenados. Os três bandidos são movidos por diferentes motivos. T-Dub é meticuloso e astuto. Quer dinheiro para tirar o irmão da prisão. Chickamaw é o elemento violento do grupo. Tem bom fundo, mas perde o controlo demasiadas vezes. Bowie tinha 16 anos quando foi preso. Agora tem 23, e não sabe o que fazer. Deixa-se guiar pelos companheiros que estão obcecados com assaltos a bancos. Há duas outras personagens-chave, Mattie, cunhada de T-Dub, e Keechie (Cathy O'Donnell), sobrinha de Chickamaw.
O trio assalta um banco. O dinheiro conseguido é suficiente para Bowie contratar um advogado que o consiga salvar da perpétua e começar uma vida nova, mas um acidente de carro tira-lhe essa hipótese. Novamente albergado em casa do irmão de Chickamaw, vai deixar o passado de crime para trás e começar uma nova vida. Keechie, também farta da sua situação e levemente apaixonada, deixa-se levar nessa aventura. Tal como o título sugere terão de viver de noite, mover-se pela calada e tentar ser felizes no entretanto. Os momentos juntos podem ser toda a eternidade ou apenas o próximo minuto.
Filmado numa época em que o importante era saber contar histórias, "They Live By Night" é um filme muito actual. O seu resultado é conseguido pelo fenomenal desempenho dos protagonistas. Farley Granger tem uma performance arrebatadora, sendo ligeiramente ultrapassado por Cathy O'Donnell. As duas personagens de início parecem muito tímidas e jovens, quase que crianças inconscientes. Há entre eles alguns diálogos com tanto de surreal como de delicioso. A sua relação, a primeira conversa normal com alguém da sua própria idade, é quase como um pedido de aceitação ao mundo que desconhecem. Ele por ter estado preso, ela por estar numa prisão metafórica com o pai alcoólico. Depois de sairem da casca tornam-se rapidamente adultos sozinhos contra o mundo, e a relação do casal vai melhorando até criarem a cumplicidade esperada. São parceiros se não no crime, pelo menos na fuga. Esse desenvolvimento da personagem feito ao longo do filme é o que convence o espectador cada vez mais a ficar do lado deles. Pode ser film noir, pode ser sobre ladrões, mas é acima de tudo um grande romance entre pessoas adoráveis. O início alertava que teria um desfecho trágico, mas absolutamente ninguém quererá acreditar nisso. Um clássico a ver e rever por muitas vezes.
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