Começa hoje a 31ª Edição do CINANIMA - Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, certame totalmente dedicado ao cinema de animação, e que conta com as grandes propostas do género.
Destaque para os portugueses "Cães marinheiros", de Joana Toste, e "Cândido", de José Pedro Cavalheiro, em competição, um best of norueguês, com a exibição de "The danish poet", de Turill Kove, Óscar da Academia para Melhor Curta-Metragem de Animação 2007, bem como colóquios e workshops.
No passado mês o Antestreia foi contactado pela organização para responder a algumas perguntas, cujas respostas seriam integradas numa publicação do certame. Ficam aqui as minhas, na impossibilidade de muitos não poderem aceder à dita impressão, supondo eu que ela tenha sido realizada - não recebemos nenhuma resposta ao envio do texto:
Pergunta: Já tinha ouvido falar do CINANIMA?
Ricardo Clara: Já. O CINANIMA é um nome para mim desde os finais da década de 90, altura em que também o cinema de animação começou a entrar com maior vigor na minha vida. Na década seguinte, mais propriamente em 2001, tive o prazer de conhecer a Manuela Lima, à data uma das almas do festival, que me convidou para colaborar com o evento, tendo-o feito entre 2001 e 2003, como acessor de imprensa, ajudando igualmente num pouco de tudo que fosse necessário fazer, desde o jornal diário até à preparação que antecedia o certame.
P: Qual é a opinião que tem do festival?
RC: O CINANIMA é, pela sua história e peso, um dos grandes no panorama nacional, e o segundo maior festival de cinema de animação no mundo – atrás do incontornável Festival de Annecy. É um evento mais português e quiçá internacional do que espinhense, essencialmente porque os seus habitantes o votam à indiferença, desconhecendo inclusive que em Novembro, o Centro Multimeios transforma-se num palco onde passam os maiores nomes mundiais do cinema de animação.
É também uma escola, por excelência, dos grandes nomes do cinema de animação português actual, que lá fizeram uma parte da sua formação, quer em workshops e palestras, quer (e essencialmente) pelo visionamento de horas de fitas e de intermináveis tertúlias que por lá existiram.
Actualmente, parece-me um pouco estagnado, quer no tempo, quer na âmbição, talvez encerrado numa espiral repetitiva. Mas que tenho a certeza que irá recuperar o fulgor de outros tempos.
P: Na sua óptica, a existência de um festival dedicado exclusivamente ao cinema de animação justifica-se no nosso país?
RC: Sem dúvida. O CINANIMA, até pelo supra exposto, é um marco fundamental na formação e divulgação do cinema de animação, e se muitos projectos e dogmas perdem vivacidade e razão de ser três décadas após o seu nascimento, este festival é a prova de que as necessidades históricas aquando da sua criação se mantêm intactas. Falar de cinema de animação em Portugal é falar de António Gaio e de CINANIMA, e quer numa vertente de mostra, quer numa vertente competitiva, este certame justifica-se de sobremaneira.
P: Considera que o CINANIMA teve um impacto no fomento quer do cinema de animação português, quer no aumento do interesse dos portugueses no cinema de animação?
RC: Bom, no que concerne ao fomento do cinema de animação português, é indiscutível que sim. Correndo o risco de me repetir, mas essencial para uma resposta justificada, aquela espécie de formação em concentrado que lá existe, foi fundamental na criação e no surgimento de novos realizadores lusitanos. Aliás, se nos recordarmos que dos workshops e das sessões de projecção saíram nomes como José Miguel Ribeiro, Abi Feijó, Francisco Lança, Fernando Galrito ou Regina Pessoa (e a quem António Gaio se lhes refere carinhosamente no seu livro como “Geração CINANIMA”), que já há muitos anos deixaram de ser só de Portugal, atestamos da importância que o certame teve no desenvolvimento destes novos talentos.
Quanto ao aumento do interesse dos portugueses neste mesmo cinema de animação, aí duvido seriamente, mas as culpas irão pender em larga medida para uma iliteracia e um desconhecimento cultural geral da população portuguesa. O cinema de animação, para uma enorme maioria dos portugueses, continua a ser os “desenhos animados”. Ir ver cinema de animação é muitas vezes um acto de clandestinidade, para não ser conotado com o “tipo que foi ao cinema ver bonecada”, desconhecendo essa mesma turba que muitas das vezes um minuto no cinema de animação preenche na sua totalidade aquilo que muitos realizadores de imagem real gostariam de fazer numa sua filmografia. Actualmente, levar os portugueses a uma manifestação cultural é uma missão quase impossível e, infelizmente, o cinema de animação ainda vai estando no fundo das prioridades daqueles que aderem a eventos de natureza cultural.
P: Como classificaria o festival, numa frase?
RC: Considero assaz redutor encerrar um conceito vivo e em evolução à três décadas numa linha de texto. A ratio de um festival de cinema, bem como de uma qualquer manifestação cultural, não se compadece, por ora, com amarras e minudências de classificações.
Destaque para os portugueses "Cães marinheiros", de Joana Toste, e "Cândido", de José Pedro Cavalheiro, em competição, um best of norueguês, com a exibição de "The danish poet", de Turill Kove, Óscar da Academia para Melhor Curta-Metragem de Animação 2007, bem como colóquios e workshops.
No passado mês o Antestreia foi contactado pela organização para responder a algumas perguntas, cujas respostas seriam integradas numa publicação do certame. Ficam aqui as minhas, na impossibilidade de muitos não poderem aceder à dita impressão, supondo eu que ela tenha sido realizada - não recebemos nenhuma resposta ao envio do texto:
Pergunta: Já tinha ouvido falar do CINANIMA?
Ricardo Clara: Já. O CINANIMA é um nome para mim desde os finais da década de 90, altura em que também o cinema de animação começou a entrar com maior vigor na minha vida. Na década seguinte, mais propriamente em 2001, tive o prazer de conhecer a Manuela Lima, à data uma das almas do festival, que me convidou para colaborar com o evento, tendo-o feito entre 2001 e 2003, como acessor de imprensa, ajudando igualmente num pouco de tudo que fosse necessário fazer, desde o jornal diário até à preparação que antecedia o certame.
P: Qual é a opinião que tem do festival?
RC: O CINANIMA é, pela sua história e peso, um dos grandes no panorama nacional, e o segundo maior festival de cinema de animação no mundo – atrás do incontornável Festival de Annecy. É um evento mais português e quiçá internacional do que espinhense, essencialmente porque os seus habitantes o votam à indiferença, desconhecendo inclusive que em Novembro, o Centro Multimeios transforma-se num palco onde passam os maiores nomes mundiais do cinema de animação.
É também uma escola, por excelência, dos grandes nomes do cinema de animação português actual, que lá fizeram uma parte da sua formação, quer em workshops e palestras, quer (e essencialmente) pelo visionamento de horas de fitas e de intermináveis tertúlias que por lá existiram.
Actualmente, parece-me um pouco estagnado, quer no tempo, quer na âmbição, talvez encerrado numa espiral repetitiva. Mas que tenho a certeza que irá recuperar o fulgor de outros tempos.
P: Na sua óptica, a existência de um festival dedicado exclusivamente ao cinema de animação justifica-se no nosso país?
RC: Sem dúvida. O CINANIMA, até pelo supra exposto, é um marco fundamental na formação e divulgação do cinema de animação, e se muitos projectos e dogmas perdem vivacidade e razão de ser três décadas após o seu nascimento, este festival é a prova de que as necessidades históricas aquando da sua criação se mantêm intactas. Falar de cinema de animação em Portugal é falar de António Gaio e de CINANIMA, e quer numa vertente de mostra, quer numa vertente competitiva, este certame justifica-se de sobremaneira.
P: Considera que o CINANIMA teve um impacto no fomento quer do cinema de animação português, quer no aumento do interesse dos portugueses no cinema de animação?
RC: Bom, no que concerne ao fomento do cinema de animação português, é indiscutível que sim. Correndo o risco de me repetir, mas essencial para uma resposta justificada, aquela espécie de formação em concentrado que lá existe, foi fundamental na criação e no surgimento de novos realizadores lusitanos. Aliás, se nos recordarmos que dos workshops e das sessões de projecção saíram nomes como José Miguel Ribeiro, Abi Feijó, Francisco Lança, Fernando Galrito ou Regina Pessoa (e a quem António Gaio se lhes refere carinhosamente no seu livro como “Geração CINANIMA”), que já há muitos anos deixaram de ser só de Portugal, atestamos da importância que o certame teve no desenvolvimento destes novos talentos.
Quanto ao aumento do interesse dos portugueses neste mesmo cinema de animação, aí duvido seriamente, mas as culpas irão pender em larga medida para uma iliteracia e um desconhecimento cultural geral da população portuguesa. O cinema de animação, para uma enorme maioria dos portugueses, continua a ser os “desenhos animados”. Ir ver cinema de animação é muitas vezes um acto de clandestinidade, para não ser conotado com o “tipo que foi ao cinema ver bonecada”, desconhecendo essa mesma turba que muitas das vezes um minuto no cinema de animação preenche na sua totalidade aquilo que muitos realizadores de imagem real gostariam de fazer numa sua filmografia. Actualmente, levar os portugueses a uma manifestação cultural é uma missão quase impossível e, infelizmente, o cinema de animação ainda vai estando no fundo das prioridades daqueles que aderem a eventos de natureza cultural.
P: Como classificaria o festival, numa frase?
RC: Considero assaz redutor encerrar um conceito vivo e em evolução à três décadas numa linha de texto. A ratio de um festival de cinema, bem como de uma qualquer manifestação cultural, não se compadece, por ora, com amarras e minudências de classificações.
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