10 de novembro de 2007

"[REC]" - Entrevista em San Sebastián


O Antestreia teve 2 jornalistas acreditados na Semana de Cine Fantástico y de Terror de San Sebastián onde fez uma entrevista a Jaume Balagueró, Paco Plaza, Manuela Velasco e Ferran Terraza, respectivamente co-realizadores e actores de "[REC]", um dos mais aguardados filmes do Fantasporto 2008.





Porquê Manuela Velasco? Qual a sua relação com a TV?

Quando perguntamos a Manuela Velasco se tinha experiência prévia em reportagens televisivas a sua resposta foi afirmativa. Tinha algumas experiências anteriores como entrevistadora de televisão e como repórter. No entanto o seu papel em "[REC]" como repórter de programas de horário pobre representou de facto um desafio dado que nunca lhe tinha sido colocado anteriormente ser pivot numa reportagem ao vivo. Balagueró acrescentou que procuravam uma actriz com experiência de reportagem. Quando pensaram em Manuela para o papel escolheram-na não apenas pela sua experiência televisiva, mas também por ser uma excelente actriz.


Os portugueses causam tanta confusão...

Questionado sobre a importância do caso Medeiros e da rapariga portuguesa que está na base do detonador fantástico do argumento, Jaume e Paco Plaza esclareceram que não se basearam em nenhum caso real e que a princípio escolheram apenas o nome da personagem. Medeiros dito em castelhano tem um efeito fantástico, por entre risos Paco pronunciou de forma enfática a palavra Medeiros e relembrou que poderiam ter estado a pensar em Maria de Medeiros. Mas era apenas uma piada e a conexão portuguesa de "[REC]" não passa disso.


Uma só câmara, mas dois realizadores.

Ter dois realizadores não é aparentemente para Jaume Balagueró um problema, ele e Paco Plaza constituem uma equipa que já trabalhou em conjunto na versão espanhola da "Operação Triunfo". Não pensam pois em se separar, funcionam num permanente diálogo em que escrevem o argumento, idealizam a montagem e filmam a quatro mãos.
Filmado quase sem guião e ao sabor de algum improviso e das reacções dos actores, "[REC]" constituiu um enorme desafio. Fazer com que os actores interiorizassem personagens, mas depois não permitir que esses mesmos actores soubessem o que fazer no plateau, mantê-los em permanente tensão, explorar as suas emoções. Começando numa festa, o aniversario de um bombeiro num quartel, filmado em estilo documentário de reality-show para o programa "Enquanto Você Dorme", cedo o filme envereda para um cenário de terror realista onde o medo é a única realidade.
O desafio proposto aos actores era o de passar da normalidade a um estado de medo e de loucura e que no final estivessem mesmo enlouquecidos. E em simultâneo sugerir que um jornalista obcecado com o seu trabalho coloca por vezes o seu dever de informar acima do instinto de sobrevivência.


O que esperam do filme nas salas de cinema?

À pergunta do que espera da reacção do publico os realizadores referem com humor que os festivais não são apenas para críticos e que as reacções têm sido entusiásticas. Paco Plaza ironiza que os cosméticos são testados em chimpanzés, mas que os críticos não são exactamente os chimpanzés do cinema. Apesar de não parecerem eles também são humanos (risos).
"[REC]" multipremiado em Sitges é um exemplo de um filme que escolhe a linguagem do audiovisual televisivo e a transporta para o cinema. Esta transferência do digital para película é um dos aspectos mais interessantes e inovadores deste filme que já suscitou o interesse dos estúdios americanos, que, ao que consta, pagaram 1,5 milhões de dólares pela possibilidade de fazer uma remake americanizada do filme. No entanto Balagueró foge à pergunta e remete para os produtores o valor da transacção. De acordo com o site Aullidos a remake já tem título ("Quarantine") e elenco.


Como conseguiram dar este aspecto documental a uma ficção de terror?

Ao falar sobre as condições de filmagem a dupla Balagueró/Plaza insiste que apesar do ar documental que o filme assume claramente e de câmara na mão em que o camaraman é ele próprio actor do filme, "[REC]" implicou uma sofisticada maquinaria e equipa técnica. Aos actores pediu-se que pensassem como os seus personagens previamente delineados, mas fez-se-lhes a surpresa de nunca saberem se estavam ou não a ser filmados, quando a acção terminava. O resultado é de um realismo impressionante. A solução muito televisiva de planos sequência, alguns com 15 minutos de duração, contribui para esta sensação claustrofóbica de falso directo. Plaza acrescenta mesmo que o guião inicial, muito sintético, acabou por ser sucessivamente corrigido e que a montagem ficou facilitada pela opção deliberada dos planos sequência.


A estrela

À pergunta sobre quem é a personagem central do filme respondem em dueto que é a câmara de filmar tornada instrumento, actriz e memória da acção. Quem usou quem afinal? Como piada confessam que chegaram a pensar em fazer um cartaz em que a câmara seria o pólo do marketing.



No final ambos reconhecem que foi um filme que deu imenso gozo a fazer. Quanto aos prémios que já ganhou salientam sobretudo o do público ganho em Sitges. Quando o público e a crítica estão de acordo o filme tem tudo que um realizador, ou neste caso dois, podem desejar.

De Balagueró e de Paco Plaza tivemos ainda a garantia de quererem estar presentes em Fevereiro no Fantasporto até porque o filme está comprado para Portugal pela Lusomundo.

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