Cronenberg, um dos mais originais cineastas do fantástico, arrisca em "Eastern Promises" uma viagem a um universo não menos fantástico nem menos de terror, que existe nas sociedades contemporâneas. É curioso que quase em simultâneo vão estrear dois filmes de mafiosos – "Gangster Americano" e "Eastern Promises" – o que comprova que o crime compensa, pelo menos em cinema. Cronenberg filma de forma soturna num magnífico preto e branco cheio de nuances a incursão no submundo da “Pequena Rússia” que gravita em Londres. Chelsea é apenas uma pequena referência do filme, mas não admira que a figura de Abramovich possa ocorrer ao espectador. Até porque os imigrantes russos têm no filme uma predilecção pelos blues. Nessa “Pequena Rússia”, de negócios legais, contrabando de armas e mulheres, os mafiosos cujo objectivo é apenas o lucro, os infiltrados do FSR (actual designação do KGB) e os guerrilheiros tchetchenos que dominam o import/export do terrorismo internacional combinam-se numa mistura explosiva que poderia traduzir-se num filme de acção, mas que Cronenberg envolve numa história trágica de fidelidades e sentimentos fortes. O ponto de partida é um cadáver de uma prostituta de catorze anos, a quem antes de morrer salvam o bebé. Apesar de na maior parte dos casos ser aconselhado que os mortos guardem os seus segredos, o diário de Tatiana não foi enterrado junto com a dona. E os segredos revelados são comprometedores. E porque é época de Natal e Cronenberg frisa bem o ódio que tem a esta efeméride do calendário, a pequena Christine vai ser o foco do conflito, num caminho que leva da perdição à redenção. Como é seu costume Cronenberg não resiste a uma ostensiva encenação da morte, transformada numa coreografia encantatória. Os mafiosos têm sentimentos nobres, quase todos os personagens positivos são premiados e alguns vilões são castigados. Mas porque será que o filme nos deixa uma sensação de melancolia e desesperança? Afinal Londres foi conquistada pelos russos e a Scotland Yard anda a reboque da FSR. Naomi Watts está bem como sempre, Viggo Mortensen está bem como quase sempre e Vincent Cassel na sua ambiguidade escapa de cair no ridículo. A música de Howard Shore é sublime.
Poderia ser um filme de terror, ou é mesmo, porque o dia-a-dia destes imigrantes que se deixaram enredar nas “promessas” de um mundo melhor no ocidente é o terror mais absoluto. Uma nota final para relembrar a excelente política de aquisições que a Prisvídeo vem desenvolvendo nos últimos anos, com filmes marcantes e de qualidade superior.
Poderia ser um filme de terror, ou é mesmo, porque o dia-a-dia destes imigrantes que se deixaram enredar nas “promessas” de um mundo melhor no ocidente é o terror mais absoluto. Uma nota final para relembrar a excelente política de aquisições que a Prisvídeo vem desenvolvendo nos últimos anos, com filmes marcantes e de qualidade superior.
Título Original: "Eastern Promises" (Canadá, EUA, Reino Unido, 2007) Realização: David Cronenberg Argumento: Steven Knight Intérpretes: Viggo Mortensen, Naomi Watts, Vincent Cassel Fotografia: Peter Suschitzky Música: Howard Shore Género: Crime/Drama/Thriller Duração: 100 min. Sítio Oficial: http://www.focusfeatures.com/easternpromises/ |
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