Nos anos 60 o mundo estava em convulsão. Enquanto os americanos protestavam contra a Guerra do Vietname e os franceses na monumental greve de Maio de 68, os alemães ainda sem causas próprias protestavam por problemas internacionais. Eram contra as guerras em Israel e no Vietname e contra a pobreza no mundo. Eram também contra o governo da Alemanha Federal onde reviam o nazismo. Esse medo do passado deu um enorme impulso ao movimento socialista e Ulrike Meinhof era a voz do povo. Jornalista de profissão passou das palavras aos actos quando libertou Andreas Baader da prisão. Juntos criaram a Baader-Meinhof, facção que durou quase trinta anos e mudou não apenas a Alemanha, mas o mundo.
Para colocar o espectador no contexto histórico começa logo ao som da irreverente Janis Joplin. É-nos apresentada Meinhof na sua vida pacata como esposa e mãe. Um artigo seu refere a visita dos governantes iranianos a Berlin. Nessa visita confrontos entre simpatizantes do Xá e estudantes manifestando-se contra o regime causam uma vítima, o que leva Gudrun Ensslin a bradar que apenas se pode responder à violência com violência. Meinhof também foi uma das jornalistas a cobrir os discursos reaccionários do líder estudantil Rudi Dutschke. Quando o mesmo foi alvejado e incapacitado a esquerda revolucionária aclamou Andreas Badder como seu novo líder. Baader e Ensslin começaram uma nova forma de protesto à base de atentados bombistas contra jornais e estabelecimentos comerciais. O escalar da violência atingiu o pico em 1977 quando um avião foi sequestrado e levado para Mogadíscio. Nessa altura já os fundadores do grupo estavam todos mortos ou na prisão e esses novos terroristas lutavam por um ideal que não conheciam em primeira mão.
Seria isto um elogio póstumo ao movimento? A imagem que passa é a de um movimento de jovens que se opôs ao regime, que lutou pelos seus ideais e nunca se rendeu. Mostra-os como lutadores preocupados com os outros e com a nação, dispostos a dar a vida por uma causa. A relutância de Meinhof representa a oposição interna no grupo, uma consciência que sabia que algumas linhas não deviam ser ultrapassadas. E é difícil não gostar de ver um assalto a banco por mascaradas em mini-saia. Por outro lado a violência que inicialmente temiam tornou-se a arma de eleição, os raptos e a destruição o seu dia-a-dia.
A polícia, excepto pela morte desnecessária na manifestação inicial, é apresentada como sendo competente e que só está a cumprir o seu dever de proteger os cidadãos e a propriedade. Tudo fazem para localizar o inimigo, quando os avistam tentam prendê-los, só disparam se estiverem em risco de vida. Bruno Ganz com uma performance discreta, contudo impecável, é o rosto dessa força. E por mostrarem o inimigo como pessoas, igualmente preocupadas com o povo, o espectador deixa de apoiar as RAF. Começa a ver que todo o mal que fazem não é contra um monstro sem rosto, é contra pessoas aparentemente inocentes. E começa a pensar se a cura não será pior que a doença.
Apesar de muito romantizado é fortemente baseado em dados históricos. Sempre que havia um mínimo de dúvida histórica a opção foi denegrir o grupo. É compreensível que não louve terroristas. A magnífica frase de Brigitte Mohnhaupt, "parem de os ver como eles não eram", sintetiza o objectivo do filme.
As interpretações de Martina Gedeck (Meinhof), Moritz Bleibtreu (Baader) e Johanna Wokalek (Ensslin) são bem realistas. Se na primeira metade vemos o trio a fazer a revolução na rua, na segunda metade já os vemos na prisão, onde lutam contra o sistema enquanto outros de fora matam indiscriminadamente para os libertar. É o declínio dos ideais, deturpados por uma nova geração que nada tem um comum com quem viveu nos anos 60, e é sobre essa parte que mais dúvidas existem sobre qual será a verdade histórica.
A violência no filme é demasiado crua. Não vemos bombas a mutilar corpos, mas vemos demasiado cedo pessoas a serem agredidas e pontapeadas a torto e a direito. Com o desenrolar do filme habituamo-nos e já os tiros na cara não nos incomodam. Perturba mais aquilo que surge como mero recorte de jornal (o atentado de Munique).
Num filme de duas horas e meia (três na televisão alemã) é sempre fácil cometer erros. A primeira metade é muito apagada, mas a segunda compensa. É mais intimista, reflexiva e a mudança de cenário nunca quebra o ritmo da narrativa. O maior erro do filme é Alexandra Maria Lara, a maior estrela alemã (adoptada), ter um papel demasiado pequeno. Quando surge, a sua beleza hipnotizante logo captura o espectador. A expressão que faz de medo e a transformação instantânea da personagem é surpreendente. O seu minuto no ecrã é tempo a menos, mas quase que vale a pena ver o filme só por esse pequeno pedaço.
Interessante será enquadrar "Der Baader Meinhof Komplex" com duas produções alemãs dos anos 80 dos consagrados Volker Schlöndorff e R.W. Fassbinder, respectivamente "A Honra Perdida de Katharina Blum" e "A Terceira Geração", que apresentam duas visões opostas sobre as RAF. E já agora a referência de Spielberg em "Munique" na cena passada na casa-abrigo de Atenas.
Para colocar o espectador no contexto histórico começa logo ao som da irreverente Janis Joplin. É-nos apresentada Meinhof na sua vida pacata como esposa e mãe. Um artigo seu refere a visita dos governantes iranianos a Berlin. Nessa visita confrontos entre simpatizantes do Xá e estudantes manifestando-se contra o regime causam uma vítima, o que leva Gudrun Ensslin a bradar que apenas se pode responder à violência com violência. Meinhof também foi uma das jornalistas a cobrir os discursos reaccionários do líder estudantil Rudi Dutschke. Quando o mesmo foi alvejado e incapacitado a esquerda revolucionária aclamou Andreas Badder como seu novo líder. Baader e Ensslin começaram uma nova forma de protesto à base de atentados bombistas contra jornais e estabelecimentos comerciais. O escalar da violência atingiu o pico em 1977 quando um avião foi sequestrado e levado para Mogadíscio. Nessa altura já os fundadores do grupo estavam todos mortos ou na prisão e esses novos terroristas lutavam por um ideal que não conheciam em primeira mão.
Seria isto um elogio póstumo ao movimento? A imagem que passa é a de um movimento de jovens que se opôs ao regime, que lutou pelos seus ideais e nunca se rendeu. Mostra-os como lutadores preocupados com os outros e com a nação, dispostos a dar a vida por uma causa. A relutância de Meinhof representa a oposição interna no grupo, uma consciência que sabia que algumas linhas não deviam ser ultrapassadas. E é difícil não gostar de ver um assalto a banco por mascaradas em mini-saia. Por outro lado a violência que inicialmente temiam tornou-se a arma de eleição, os raptos e a destruição o seu dia-a-dia.
A polícia, excepto pela morte desnecessária na manifestação inicial, é apresentada como sendo competente e que só está a cumprir o seu dever de proteger os cidadãos e a propriedade. Tudo fazem para localizar o inimigo, quando os avistam tentam prendê-los, só disparam se estiverem em risco de vida. Bruno Ganz com uma performance discreta, contudo impecável, é o rosto dessa força. E por mostrarem o inimigo como pessoas, igualmente preocupadas com o povo, o espectador deixa de apoiar as RAF. Começa a ver que todo o mal que fazem não é contra um monstro sem rosto, é contra pessoas aparentemente inocentes. E começa a pensar se a cura não será pior que a doença.
Apesar de muito romantizado é fortemente baseado em dados históricos. Sempre que havia um mínimo de dúvida histórica a opção foi denegrir o grupo. É compreensível que não louve terroristas. A magnífica frase de Brigitte Mohnhaupt, "parem de os ver como eles não eram", sintetiza o objectivo do filme.
As interpretações de Martina Gedeck (Meinhof), Moritz Bleibtreu (Baader) e Johanna Wokalek (Ensslin) são bem realistas. Se na primeira metade vemos o trio a fazer a revolução na rua, na segunda metade já os vemos na prisão, onde lutam contra o sistema enquanto outros de fora matam indiscriminadamente para os libertar. É o declínio dos ideais, deturpados por uma nova geração que nada tem um comum com quem viveu nos anos 60, e é sobre essa parte que mais dúvidas existem sobre qual será a verdade histórica.
A violência no filme é demasiado crua. Não vemos bombas a mutilar corpos, mas vemos demasiado cedo pessoas a serem agredidas e pontapeadas a torto e a direito. Com o desenrolar do filme habituamo-nos e já os tiros na cara não nos incomodam. Perturba mais aquilo que surge como mero recorte de jornal (o atentado de Munique).
Num filme de duas horas e meia (três na televisão alemã) é sempre fácil cometer erros. A primeira metade é muito apagada, mas a segunda compensa. É mais intimista, reflexiva e a mudança de cenário nunca quebra o ritmo da narrativa. O maior erro do filme é Alexandra Maria Lara, a maior estrela alemã (adoptada), ter um papel demasiado pequeno. Quando surge, a sua beleza hipnotizante logo captura o espectador. A expressão que faz de medo e a transformação instantânea da personagem é surpreendente. O seu minuto no ecrã é tempo a menos, mas quase que vale a pena ver o filme só por esse pequeno pedaço.
Interessante será enquadrar "Der Baader Meinhof Komplex" com duas produções alemãs dos anos 80 dos consagrados Volker Schlöndorff e R.W. Fassbinder, respectivamente "A Honra Perdida de Katharina Blum" e "A Terceira Geração", que apresentam duas visões opostas sobre as RAF. E já agora a referência de Spielberg em "Munique" na cena passada na casa-abrigo de Atenas.
Título Original: "Der Baader Meinhof Komplex" (Alemanha, França, República Checa, 2008) Realização: Uli Edel Argumento: Bernd Eichinger, Uli Edel (baseado no livro de Stefan Aust) Intérpretes: Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu, Johanna Wokalek, Nadja Uhl, Bruno Ganz Fotografia: Rainer Klausmann Música: Peter Hinderthür, Florian Tessloff Género: Acção, Biografia, Crime, Drama Duração: 150 min. Sítio Oficial: http://www.thebaadermeinhofcomplex.com/ |
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