9 de outubro de 2009

"District 9" por Nuno Reis


O que faria a espécie humana se uma nave especial ficasse a flutuar sobre uma das nossas cidades? Provavelmente tentaria o diálogo passando rapidamente para a acção militar. Ou vice-versa, nunca se consegue prever.
Neste cenário alternativo uma nave chegou à Terra nos anos oitenta. Em vez de se aproximar de uma grande metrópole europeia, americana ou asiática, foi para África onde escolheu a grande cidade de Joanesburgo como poisio. Após um enorme pânico e tentativas de contacto, por fim foi num movimento militar que ocuparam a nave. Não a conseguiram pôr a mexer, nem a nenhum dos aparelhos, mas transferiram um milhão de indivíduos alienígenas para a nossa superfície. Com o passar dos anos os confrontos foram tantos que os estrangeiros são limitados a uma área restricta chamada Distrito 9. E é aqui que a nossa história começa.

Wikus Van De Merwe é um funcionário de secretária da empresa contratada para evacuar os visitantes para a nova reserva, fora de Joanesburgo. A sua primeira missão no terreno vai colocá-lo em contacto com um novo mundo. Não é um herói - mais depressa seria o vilão - mas as circunstâncias vão mudá-lo. Retrato da espécie humana na variedade "homem comum", que se vê numa situação adversa e faz o que é preciso, primeiro pela sua empresa, depois pelo seu amor, finalmente pela sua consciência.
Do lado contrário da vedação temos Christopher Johnson, o único ser realmente bom no meio de tanta crueldade. Ele age pelos seus princípios, para proteger o filho e a espécie. Pode não seguir o caminho correcto, mas é para um bem maior.
Finalmente temos Koobus Venter, mercenário que faz o que for preciso para completar a missão. Se for preciso matar... melhor.

A escolha da África do Sul como cenário para este conflito diplomático intercontinental não foi um acaso. Não só Neill Borgkamp é natural de lá, como todo o filme é uma metáfora do apartheid. A segregação absoluta, os conflitos inúteis, os mercados clandestinos com comida putrefata ou de animal, o desrespeito pela vida, o canibalismo. Estará o Homem do século XXI em risco de ser igual ao do século XX em tudo o que é mau? Como se pode civilizar os milhões que se recusam a seguir os padrões comportamentais da sociedade? É justo para os outros considerá-los igualmente humanos?
Para os humanos é apenas uma curiosidade, para os extraterrestres é uma nova vida. Os humanos, como seria de esperar, não têm respeito por eles. Usam o inglês como única língua, obrigam-nos a assinar documentos qe não compreendem, em suma, tratam-nos como aos humanos.
Neste mundo alternativo a tecnologia é o poder. Enquanto os humanos dominarem a tecnologia serão so senhores do planeta. Quando os visitantes recuperarem a supremacia tecnológica nós seremos seus escravos.

O filme desenrola-se num formato semelhante ao documental com entrevistas e câmaras de reportagem a gerar a maioria das imagens. O tema do documentário é a migração do Distrito 9 para o 10 a que os visitantes são sujeitos. A técnica funciona porque dá uma consistente ligação à realidade.
Para a sequela seria interessante ver o mesmo feito pelo outro lado. De que forma nós vêem os visitantes tratados abaixo de animal?

Este filme a não perder redefine o género fantástico. Evitando os grandes nomes e com um orçamento médio cria um mundo alternativo e transmite uma grande moralidade. Era bom que tivéssemos filmes destes mais frequentemente.

Título Original: "District 9" (EUA, Nova Zelândia, 2009)
Realização: Neill Blomkamp
Argumento: Neill Blomkamp, Terri Tatchell
Intérpretes: Sharlto Copley, David James, Vanessa Haywood
Fotografia: Trent Opaloch
Música: Clinton Shorter
Género: Ficção-Científica, Guerra
Duração: 112 min.
Sítio Oficial: http://www.d-9.com/

6 comentários:

Tiago Ramos disse...

É uma das maiores surpresas de 2009! Um filme que recicla e volta a pôr em voga o género sci-fi! Muito inteligente!

Ognito Inc. disse...

A este não falto!

Diana disse...

Fiquei surpreendida com as opiniões. Gostei especialmente agradada com a ideia de um possível futuro de convivência com os aliens. Contudo, apenas dou 6/10 ao filme. Porquê? Achei que o filme foi feito demasiado à pressa. Poderiam ter uma história fenomenal e apenas conseguiram algo médio. Deu impressão que quiseram um blockbuster fácil e rápido para fazer uns milhões, sem se preocuparem em pensar a fundo na malha da história. Deixaram ainda, claramente, um final aberto à sequela. Espero que o próximo filme seja mais pensado e espero ser surpreendida pela positiva.

Nuno disse...

A promoção do filme durou vários meses. Não foi feito à pressa, foi um filme simples e eficaz, feito com apenas 30 milhões de dólares.

Um pouco mais de perspectiva alien não fará mal nenhum à sequela.

Nuno Pereira disse...

Este é daqueles que sabe mesmo bem ver uma sequela...

Agora a pergunta é como se vai sair o Neill Blomkamp com um maior orçamento e depois de um filme incrível como este ?

Nuno disse...

Ou se sai novamente muito bem e atinge estatuto de topo, ou se sai pior e terá uma nova oportunidade brevemente.