7 de outubro de 2009

Sitges - Fundamental apesar da crise

Se há festival fundamental na área do fantástico, Sitges é esse lugar. Ponto de encontro dos diferentes níveis do fantástico e do terror - desde o mainstream à série mais Z - é em Sitges que se pode descobrir o que a próxima temporada promete. Com uma história de quarenta e dois anos que o torna no mais antigo festival de género no mundo, conseguiu ultrapassar todas as vicissitudes e manter-se no topo.
Que Espanha vive uma crise e a Catalunha não escapa já todos sabemos. E que se nota nos pequenos pormenores e arranjos que se detectam na organização para fintar a crise. Reduzir custos é assim a palavra chave, sobretudo nas festas e no show off, já que nos convidados a qualidade se manteve.
Ponto alto desta crise generalizada foi o espectáculo não programado de, em plena sessão de abertura em que "[Rec]2" era a estrela, um cobrador de fraque, negro, espadaúdo e vestido com roupa vistosa subir ao palco e, de megafone, apregoar que está ali para cobrar os milhões de dívida da Filmax, ante o pasmo geral e o divertido da situação.

Dos filmes em competição de qualidade muito boa para o que a temporada nos trouxe falaremos separadamente. Mas, como curiosidade, foi interessante ouvir Vincenzo Natali referir que a génese do seu "Splice" foi o Fantas. Aí na edição dos 25 anos a apresentação a Del Toro foi determinante para o desenvolvimento do projecto: Del Toro é o produtor do filme.
Um festival que consegue trazer nomes como Walter Hill, Clive Barker, Shinya Tsukamoto, Christopher Plummer, Sam Rockwell, Terry Gilliam, Park Chan-Wook ou Viggo Mortensen a animar o evento, tem de ser um grande festival. Claro que ser uma estância turística deslumbrante a trinta quilómetros de Barcelona constitui um íman irresistível para quase todos.

De filmes até ao momento duas ideas a destacar: o cinema espanhol não vai tão bem como em anos anteriores e o fantástico que se alonga por muitos sub-géneros, sempre há procura de um novo alento.
No cinema de Espanha "[REC]2" acaba por ser uma referência inevitável até porque em bilheteira no primeiro fim-de-semana já pagou três vezes o custo. A Filmax não será salva da falência por Balagueró e Plaza, mas já está a respirar de alívio. A receita da dupla de cineastas é atractiva para um público que gosta de sustos fortes e de algum humor truculento. o ar naife e quase documental da sua realização acaba por funcionar de forma positiva. Mas a grande surpresa acabou por ser "Celda 211" de Daniel Monzón, um filme penitenciário que sem ser de terror está próximo do género fantástico de suspense. É dos filmes mais aclamados até ao momento ainda que fora de competição.
Na vertente do fantástico os mais curiosos exemplos da variedade temática que tradicionalmente caracteriza o género encontramos filmes como "Splice" sobre as potencialidades e os riscos da engenharia genética, "Thirst" uma metáfora sobre o vampirismo de um padre católico, um desconcertante "Mr. Nobody" sobre a existência e as inúmeras possibilidades de vidas alternativas em função das decisões que tomámos, ou "The Hurt Locker", já estreado entre nós, onde o terror reside no próprio quotidiano da guerra. Ou seja, o cinema de imaginário recomenda-se, mesmo quando procura novas vias na recriação do real.

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