24 de abril de 2010

"La Vita è Bella" por Nuno Reis


Raros são os anos em que a Academia Americana reconhece haver filmes de qualidade noutra língua e os nomea em categorias menos marginais que documentário, curta-metragem ou a inevitável de filme em língua não-inglesa. Se houve um ano excepcional para isso foi 1999 em que "Central do Brasil" nomeou Fernanda Montenegro e um filme italiano foi nomeado um total de sete vezes, incluindo melhor filme, realizador, argumento e actor, a que se juntaram edição e música. Claro que ambos competiam ainda na secção de língua não-inglesa.
O arrasador candidato italiano era "La Vita É Bella" e saiu com três troféus dessa cerimónia para juntar aos imensos prémios conseguidos por toda a Europa (Cannes, BAFTA, César, Goya,...) por vários anos.

Guido é alegre e criativo. A caminho do tio para começar a trabalhar como empregado do restaurante, conhece Dora, uma maravilhosa mulher que lhe cai do céu. Após uma longa corte onde utilizará toda a imaginação e a sorte lhe é extremamente favorável, casam, têm um filho e são felizes para sempre. Só que o sempre é relativo. Com a chegada dos fascistas ao poder todos os judeus como Guido, o filho e o tio são levados para um campo de concentração. Cumprindo os deveres de pai como poucos conseguiriam transformará o maior pesadelo da Humanidade numa brincadeira de crianças para manter o filho animado. Reutiliza a imaginação e a sorte e mais uma vez é abençoado, pois entre os funcionários do campo está o doutor Lessing, seu velho conhecido e amante de adivinhas que se esforçará por lhe conseguir um tratamento especial.

É um filme extremamente cruel por nos amolecer o coração para depois o agredir. Mostra o impacto de acontecimentos globais em pessoas reais e mostra o poder do indivíduo nos que o rodeiam. Roberto Benigni marcou aqui o seu lugar no cinema com um argumento mágico, uma interpretação inesquecível e um humor sempre no tempo e magnificamente expressado nos gestos e nas palavras. Consegue fazer rir com gosto nas mais variadas situações. Pode-lhe faltar plausibilidade, mas a magia do cinema é que não tem de ser real desde que não o pretenda ser. É um daqueles casos em que o cinema só é suposto ser magia e fantasia.
Um homem pode fazer a diferença. A vida é bela, desde que olhemos da forma correcta. O final é americanizado, mas nem isso consegue estragar um filme perfeito.

Título Original: "La Vita è Bella" (Itália, 1997)
Realização: Roberto Benigni
Argumento: Roberto Benigni, Vincenzo Cerami
Intérpretes: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giorgio Cantarini
Fotografia: Tonino Delli Colli
Música: Nicola Piovani
Género: Comédia, Drama, Guerra
Duração: 116 min.
Sítio Oficial: http://www.miramax.com/lifeisbeautiful/

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Um dos filmes marcantes dos anos 90, muito poderoso, embora sendo pouco plausível, como mencionas.

Peter Gunn disse...

O filme da vida de Benigni e certamente um dos filmes da nossa vida também!

Emocionante do 1º ao ultimo minuto apesar de como já disse o Tiago Ramos nem sempre ser muito plausível... mas a magia do cinema é mesmo essa!

Cumprimentos