14 de outubro de 2009

"Mr. Nobody" por António Reis

Jaco Van Dormael ficou conhecido no Fantas por "Toto, le Héros", uma comédia inteligente e fantástica sobre o olhar infantil do mundo. Mas depois deste sucesso estrondoso do cineasta belga, a sua carreira ficou no limbo. Foram necessários oito anos para que regressasse, desta vez numa grande produção com a marca da Wild Bunch, com um desconcertante "Mr. Nobody", um puzzle imenso de perspectivas que deixa o espectador aturdido, mas, por isso mesmo, obriga a reflectir sobre o filme mesmo muito depois de o ter visto.

Com um engenhoso processo de escrita em que as ideias eram alinhavadas ao longo do tempo em cartões que depois eram sequenciados pela lógica do seu criador. Foram mais de 600 cartões com episódios, ideias, cenas, episódios que se foram acumulando dando origem ao filme. Contando com o elenco de Jared Leto, Sarah Polley, Diane Kruger, esta é a história de um homem muito velho, um Matusalém de 118 anos, o único homem a poder morrer de velhice numa sociedade que criou a imortalidade. Numa derradeira entrevista a um jornalista em busca de algo novo, apresenta a sua vida como se não tivesse feito escolhas. As diferentes decisões que o passado o obrigou a tomar teriam encaminhado a sua vida em múltiplas direcções. Se no processo de divórcio não tivesse de escolher entre o pai ou a mãe, se tivesse convidado outra rapariga para dançar, se... se... se... Existências alternativas teriam mudado por completo a sua vida.

O que torna então "Mr. Nobody" um filme fantástico se afinal o que ele retrata é o amor, a infância, o emprego, o quotidiano? Por certo que no íntimo cada um de nós já pensou que pequenas decisões que tomámos ou não encaminharam-nos numa sucessão de acasos e imprevistos para o que somos hoje. Neste labirinto de possibilidades que se abrem, não na realidade mas na nossa imaginação, compreendemos o aleatório das nossas escolhas em que os acontecimentos se precipitam sem que sejamos donos da nossa história.

Um humor subtil e inteligente, uma visão quase metafísica do ser humano, tornam "Mr. Nobody" perturbadora. Filme de uma vida, a reacção comercial pode não ser a mais desejada, mas seguramente que é um dos filmes do ano. Cada um de nós é no Universo apenas um Mr. Nobody, um Zé Ninguém. Mas cada um de nós contém um Universo em potência.


Título Original: "Mr. Nobody" (Alemanha, Bélgica, Canadá, França, 2009)
Realização: Jaco van Dormael
Argumento: Jaco van Dormael
Intérpretes: Jared Leto, Diane Kruger, Sarah Polley, Rhys Ifans, Toby Regbo, Juno Temple, Clare Stone, Natasha Little
Fotografia: Christophe Beaucarne
Música: Pierre van Dormael
Género: Drama, Fantasia, Ficção-Científica, Romance
Duração: 138 min.
Sítio Oficial: http://www.mrnobody-lefilm.com/

6 comentários:

Bruno Cunha disse...

Espero poder concordar com a tua crítica! Não consigo encontrar o filme, a reacção comercial não é a mais desejada, com certeza!

Abraço
Cinema as my World

Bona Dea disse...

É um filme simplesmente genial. Estranho, de facto, mas que magicamente nos prende.
O top dos "Filmes da Minha Vida" estava intocável à imenso tempo. E ontem, depois de ver o "Mr Nobody", o 2º lugar é dele.
Muito bom um 10/10, vou voltar a ver hoje pois tenho a sensação que quanto mais vezes o vir mais respostas vou ter.

Carlos Martins disse...

Sim, é um filme que obriga os neurónios a trabalhar em overclock - especialmente a partir do momento em que o filme acaba! (E nem que fosse só por isso, já seria excelente.) :)

@gleicemars₪ disse...

aaa´in eu amei esse filme sem duvida eh o melhor q eu já assisti =D

blablabla disse...

Um dos filmes mais viajados e toscos de todos, que me perdoem os pseudo-intelectuais, mas toda viagem tem limite, e nem mesmo um final digno esse filme tem. Nunca mais perco meu tempo com esse filme.

Nuno disse...

Percebo que é um caso para opiniões são divergentes. Para mim foi a segundo melhor filme de fantasia da década passada. E vi pelo menos uns mil...