Michael Mann é um daqueles nomes incontornáveis do cinema moderno. Depois de nos anos 90 nos ter presenteado com "The Last of the Mohicans", "Heat" e "The Insider", no novo milénio fez títulos como "Ali", "Collateral"- ambos nomearam um actor negro para os Oscares - e um menos feliz remake de "Miami Vice". A sua mais recente incursão no cinema de época recua aos anos 30. Enquanto a América recuperava a sua economia com o trabalho árduo dos outros, figuras míticas de assaltantes a bancos preenchiam o imaginário da população. Nomes como Bonnie e Clyde, "Baby Face" Nelson e John Dillinger - o tema do filme - eram admirados quase como heróis, por serem desafiadores, por serem inimigos dos opressores, por serem livres.
Se o filme se chamasse Dillinger seguramente falaria do homem que assaltou bancos, que enfrentava a polícia a cada dia, que se deixou capturar para fugir com os companheiros da prisão no próprio dia. Falaria do homem que queria o mundo todo a cada instante, mas que amava especialmente uma pessoa. Só que o título não é sobre o inimigo público, é sobre inimigos, homens que mesmo sem se conhecerem levaram o confronto policial um novo patamar. John Dillinger e Melvin Purvis são os rostos do crime e da lei. No fundo esta batalha não é entre os dois, é entre todo um grupo de delinquentes que vai desde Al Capone até qualquer desconhecido e um grupo policial de elite que J. Edgar Hoover quis criar para afirmação pessoal e acabou por dar origem ao que hoje chamamos de FBI. Purvis foi apenas o homem que teve a coragem de exigir os melhores homens visto que ia enfrentar sanguinários assassinos, embora nomes como Baby Face Nelson e Pretty Boy Floyd não pareçam ser de gente perigosa.
É um prazer ver Depp num papel normal. Depois de tanto loucura como Jack Sparrow ou vinda da cabeça de Tim Burton, fiquei surpreendido por o ver numa personagem tão mais humana. No entanto não lhe é dado espaço para provar mais do que o óbvio: é um actor acima da média. Também Bale se desperdiça neste filme de tão pouco destaque tem e então Cotilard... talvez tenha quase dez minutos de cenas. Os actores mereciam mais e melhor. Na realização a minha única dúvida é o porquê de uma cena de interiores para o final do filme (no apartamento de Billie) estar tão mal filmada. É raro ver takes tão maus, mesmo em produções mais pequenas.
Penso que todos esperávamos muito deste filme. Realizado e escrito por Michael Mann, com actores de topo no seu pico de forma, uma actriz que sem dúvida conquistou Hollywood, uma história repleta de acção... No fim das quase duas horas e meia (passam incrivelmente bem) a única coisa que resta é uma quantidade absurda de tiros e a dúvida sobre os métodos da polícia federal. Um filme melhor com aquele final dramático poderia ser lembrado por muitos anos.
Título Original: "Public Enemies" (EUA, 2009) Realização: Michael Mann Argumento: Ronan Bennett , Michael Mann e Ann Biderman baseados no livro de Bryan Burrough Intérpretes: Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotillard, Stephen Dorff Fotografia: Dante Spinotti Música: Elliot Goldenthal Género: Crime,Drama,Thriller Duração: 140 min. Sítio Oficial: http://www.publicenemies.net/ |
3 comentários:
É para mim, um dos filmes do ano. Excelente trabalho de realização.
Mesmo aquela cena apertada nos corredores quando vão prender a Billie?
LOL, tem cenas obviamente escusadas. Mas penso que tudo faz parte de um estilo que, no seu todo, resulta bastante bem.
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