Eis a continuação e conclusão dos filmes franceses em retrospectiva no festival.
"Pierrot Le Fou" de Jean-Luc Godard
No ano em que o festival de Cannes exibe a cópia recuperada de "Pierrot le Fou", esta obra não podia faltar no must do cinema francês. Filme de amor e anarquia de um Godard que a cada filme renovava a Nouvelle Vague, nele sobressai essencialmente o desempenho de Jean-Paul Belmondo como rebelde sem causa e de uma Anna Karina no apogeu da sua beleza. A Nouvelle Vague fazia furor por toda a part e Godard era o seu profeta.
Mas não era cineasta para se deixar cristalizar num género ou numa tendência e "Alphaville" é a prova. Esta estranha aventura de Lemmy Caution/Eddie Constantine como detective num futuro próximo, filmado numa Paris que na altura se reclamava ser uma cidade de futuro, é um dos mais curiosos e pouco vistos exemplos da ficção-científica francesa.
A morte de Eric Rohmer já este ano não foi a causa da escolha de "Le Genou de Claire". Cineasta único pelo seu estilo, respeitado como um dos nomes fundamentais do cinema francófono, traduz nos seus filmes uma visão intimista e sedutoramente voyeurista sobre o sexo feminino. De uma subtileza e bom gosto inexcedíveis, esta obsessão por uma parte da anatomia tão peculiar como é o joelho, é de uma ironia tão inteligente e provocatória que não cessa de nos surpreender.
Luis Buñuel, espanhol por nascimento, mas cidadão do mundo pelo cinema, encontrou em França o lugar para espraiar a sua imaginação fértil e a sua sensualidade desbordante que desafiava todas as tentativas de censura. "Cet obscur objet du désir" com Ángela Molina é um exemplo da sua mordacidade e ironia que só poderia surgir num país onde a liberdade fosse o lema da sua bandeira.
Mas a evolução do cinema não pára e uma novíssima geração começa a dar cartas nos anos 80. J.J. Beineix teve um início fulgurante de carreira (premiado com um Cesar) com este policial sui generis sobre a paixão de um carteiro pela voz de uma cantora de ópera. Melómano e irreverente, conciliando a música erudita com uma gravação pirata e o filme de detectives com uma comédia adolescente, o filme vai ser o protótipo da renovação dos autores.
Adivinhava-se Luc Besson. "Le Dernier Combat" em 84 conquista quatro prémios no Fantas - Melhor Filme, Melhor Realização e Prémio do Público. Num cinema francês tradicionalmente dominado pela palavra, Besson dirige um filme sem palavras que nos deixa sem palavras. Num futuro pós-apocalíptico o último combate não será por água nem por petróleo, mas sim pela última mulher do planeta.
Os filmes aqui listados são os com crítica publicada no blog. Se desejar algum título em falta basta escrever-nos e se tivermos visto o filme publicaremos assim que possível.
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