5 de julho de 2010

De Vila do Conde a Cannes com viagem de ida e volta


O tio Boonmee está às portas da morte. Num último gesto pede á família restante que o leve para casa onde poderá partir em paz. Num jantar de despedida onde vai contando histórias passadas noutras vidas, é visitado pelo fantasma da mulher e pelo filho que é uma espécie de lobisomem por se ter juntado a uma macaca-fantasma. As memórias levam-no a querer fazer uma última viagem, ao lugar onde tudo começou numa das suas vidas anteriores.


Se uma das funções fundamentais de um festival de cinema é o de antecipar os novos talentos e promover espaços de descoberta, o Festival de Curtas-metragens de Vila do Conde tem sido de uma enorme perspicácia e capacidade de apostar em nomes que do quase anonimato prenunciam a fama. A revelação deste ano no último festival de Cannes, o inpronunciável Apichatpong Weerasethakul, vai-nos dar a honra de encerrar o festival com a sua longa-metragem "Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives". Revelado em Portugal por Vila do Conde, a trajectória meteórica de Apichatpong é um dos melhores exemplos dos milagres que o cinema às vezes nos desvela.
Em primeiro lugar ser o espaço da curta-metragem o melhor cartão de visita para um jovem realizador se apresentar no aguerrido mundo do cinema. Quando há genuíno talento, as pequenas pérolas que são os filmes de curta duração são uma forma eficaz e barata de abrir portas.
Em segundo lugar que os festivais de cinema, qualquer que seja a sua dimensão, cumprem um papel fundamental na relação das obras de arte à descoberta do seu público. Claro que o prémio de Cannes marcará a carreira do autor e do filme de forma indelével, mas a sua participação em Vila do Conde é um trunfo inquestionável da programação.
Em terceiro lugar o cinema como arte universal é demasiado rica e variada para se limitar aos cânones estandartizados da produção mainstream. O cinema do Oriente e nos anos mais recentes o cinema da Tailândia, tem vindo a afirmar-se como das mais inovadores cinematografias do mundo.
Por último mas não menos importante, se todo o cinema é fantástico, este filme é a prova de que a fantasia está bem viva e que os mortos que povoam o mundo dos vivos é um tema que continua actual.

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