5 de janeiro de 2012

"2012" por Nuno Reis

Só por ironia que tal começar 2012 com o filme que diz que este ano é o final?


Porque gostamos tanto de dizer mal dos filmes-catástrofe? É uma regra implícita que os filmes sobre catástrofes são sempre dizimados pela crítica. O cataclismo pode ser vir a forma de uma manifestação geológica como erupções, sismos e maremotos, um elemento externo como invasão alienígena ou chuva de meteoros, ou simplesmente o clima. Roland Emmerich é imune a isso e continua a apostar no género com uma variedade que se estende da ficção-científica como “Independence Day” e “Godzilla” até o alerta ambientalista de “The Day After Tomorrow” ou o profético “2012”.
O que temos contra estes filmes? Serão as situações improváveis a que o herói que sobrevive? É o facto de ele ficar com a miúda (por vezes a última)? Não conseguimos ver a destuição no nosso lar? Ou será que simplesmente não queremos admitir aquele lado negro da humanidade que insistem em mostrar, compensado por uma bondade ainda mais inesperada de alguns indivíduos?

Depois de vários receios com o fim do mundo em 2000, agora 2012 é o ano da nossa destruição de acordo com a profecia Maia. Um grupo de geólogos investiga umas perturbações geofísicas que estão a modificar o núcleo da terra. Fazendo alguns cálculos descobrem que o fim do mundo se aproxima e começam um plano de contingência que se estende secretamente a todo o G8. Enquanto isso, um escritor falhado e divorciado vai passar uns dias a acampar com os filhos em Yellowstone. O que era suposto ser um lago de origens vulcânicas é um recinto vedado onde a morte impera. A intervenção militar leva-o a suspeitar de algo e por algum tempo dá ouvidos ao maluquinho local com teorias de conspiração. Até que a ex-mulher lhe liga para voltar imediatamente, a Califórnia está a tremer como nunca.
É entre o mundo do segredo político-militar (geólogo Helmsley) e o do cidadão comum (escritor Curtis) com suspeitas que o filme se divide. Enquanto Helmsley tem meses para lidar com políticos - trabalhando com o próprio presidente - jogos de bastidores e trabalhar sob o estatuto de segredo de estado, Curtis tem dias para perceber o que se passa e fazer aquilo que o ser humano está geneticamente preparado para conseguir: sobreviver.

Está repleto de situações improváveis, personagens cliché, fugas cronometradas ao segundo e tudo o que se esperava. Os americanos são mostrados de acordo com o que é politicamente correcto e os governantes de algumas outras nações seguem o estereótipo que temos deles (tem piada ver que passados três anos tão pouco mudou na política europeia). Não é a tragédia humana o mais chocante, nem sequer a conspiração ou as vidas perdidas por essa conspiração ou pela catástrofe. É o simples facto de 46 países terem chegado a um acordo tão rápido e sem alarido. Será o futuro que os impede de serem humanos no dia-a-dia?

Entre os pontos fortes está a rápida recuperação do filme que após um início decepcionante e tão semelhante a outros do género, depressa recupera o fôlego e trilha o seu próprio rumo por entre duas horas e meia que culminam com os cataclismos. Sendo o mais caro dos filmes de destruição total, tinha a obrigação de apresentar rigor científico e efeitos de primeira. Quanto ao segundo ponto nada a comentar, foi dinheiro bem gasto, mas os erros geológicos, geográficos, físicos e económicos são demasiados para quem não se distrair com as erupções. E fica sempre a questão, de onde veio a água para todo o planeta ficar submergido?

Será o filme ideal para ver no arranque de 2013.

2012Título Original: "2012" (EUA, 2009)
Realização: Roland Emmerich
Argumento: Harald Kloser, Roland Emmerich
Intérpretes: John Cusack, Amanda Peet, Chiwetel Ejiofor, Thandie Newton, Olive Platt, Thomas McCarthy, Woody Harrelson, Danny Glover
Música: Harald Kloser, Thomas Wanker
Fotografia: Dean Semler
Género: Acção, Aventura, Drama, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 158 min.
Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/2012/