2 de setembro de 2012

"Balas&Bolinhos - o Último Capítulo" por Nuno Reis

Ontem foi o dia pelo qual tanta gente aguardou cerca de oito anos. Se o primeiro filme foi uma completa surpresa e o segundo um fenómeno, este terceiro sempre descrevi como o primeiro blockbuster português. No Verão do ano passado acompanhei a rodagem e vi várias cenas que não sabia como encaixariam no produto final. Após um ano finalmente tudo fez sentido.

Na chegada ao Rivoli a multidão correspondia às expectativas. Os mais de 700 lugares estavam esgotados - se mais houvesse, mais venderiam - e como as portas só abririam depois das 21 horas, os espectadores formaram um magote no exterior. Quando as vedetas chegaram tiveram uma recepção eufórica.
Ao entrar para o Rivoli tive aquela habitual sensação de regresso ao Fantas - as primeiras mil vezes que entrei no Rivoli foram para o festival, por isso para mim entrar lá por outro motivo é sempre confuso - mas por alguma razão (o segundo filme ter estreado no Fantas? a sala estar cheia?) isto fazia sentido. O “Balas” estava em casa.
De notar ainda que não me recordo de mais algum filme nacional ter tido tal aparato de lançamento e certamente que não foi no Porto.

Quando começa a projecção há uma sensação de estarmos no filme errado. Não se preocupem, é mesmo assim. O “Balas 3” vai buscar inspiração a diferentes géneros e épocas. Tão depressa estamos num filme de artes marciais com cinquenta anos, como vemos planos usados por um John Woo ou um Alfred Hitchcock. Mesmo com tudo isso, 95% deste trabalho pode apenas ser comparado ao universo Balas, o mais bem sucedido projecto amador do cinema nacional que finalmente se juntou ao cinema profissional. Além da grande variedade temática no argumento, percorreram o país em busca das melhores localizações, usaram câmaras topo de gama, fizeram tudo para que fosse um motivo de orgulho do cinema nacional. Ao longo destas duas horas acontece tudo o que se esperava. Tone volta novamente do estrangeiro para fazer a diferença (nada de persianas), Rato continua a ser um artista, Culatra anda envolvido em novos esquemas e Bino, bem, Bino é das figuras mais únicas da ficção nacional.
Neste último capítulo volta a haver um tesouro perdido, mas agora há muitas mais armas, explosões e inimigos. Se num instante parece que estamos numa média produção de Hollywood, logo aparece um destes quatro indivíduos com um palavrão ou uma atitude completamente estúpida a provar que é, ainda e sempre, um Balas e Bolinhos, autêntico e português.

O público-alvo é claramente quem gostou dos anteriores. A esses garanto que não se sentirão defraudados com o aumento na qualidade de produção. Para os restantes poderá ser um pouco difícil de ver. O ordinário tem uma enorme presença que pode ferir susceptibilidades. Mas quem são os restantes? Se viram os dois primeiros para se prepararem para este e mesmo assim quiseram ir ao terceiro, sabem bem ao que vão. Todo o material promocional previne que a linguagem é extremamente ofensiva e os actores convidados Fernando Rocha e Jaimão não são conhecidos pelas palavras doces. Os outros convidados como Jel/Nuno Duarte, Octávio Matos e Francisco Menezes também facilmente se adaptam a este mundo trazendo novas personagens inesquecíveis. É um novo Balas feito para os fãs e para revitalizar o cinema português.

Se ficarem até ao final dos créditos poderão ver os bloppers habituais, mas a seguir ainda há melhor: o Antestreia está nos agradecimentos pela intensa campanha de apoio. E não é só, tenho outro dos meus empregadores favoritos entre as entidades listadas fazendo com que me identifique muito com este projecto e lhe deseje todo o sucesso.

A ovação final foi tal que superou mesmo as minhas melhores expectativas. Não me lembro de aquela sala ficar assim ao rubro muitas vezes. Isso faz supor que o público gostou, mas de qualquer forma a pressão está enorme. Há dias outra produção nacional - Morangos com Açúcar - arrasou os recordes de bilheteira com o melhor resultado para primeiro dia que um filme de imagem real conseguiu este ano. Com apenas 25 salas. Se esse recorde cair uma semana depois e novamente para uma produção nacional (Balas vai ter mais de 40 salas), só nos podemos dar por contentes. Enquanto competimos em festivais de topo como Veneza e Nova Iorque contra alguns dos melhores filmes do mundo, temos dois blockbusters por cá a agradar às massas. 2012 pode muito bem ser o melhor ano de sempre para o cinema nacional.


Balas&Bolinhos - o Último CapítuloTítulo Original: "Balas&Bolinhos - o Último Capítulo" (Portugal, 2012)
Realização: Luís Ismael
Argumento: Luís Ismael
Intérpretes: Luís Ismael, J.D. Duarte, Jorge Neto, João Pires, Jason Ninh Cao, Octávio Matos, Francisco Menezes, Fernando Rocha
Música: Filipe Damião
Fotografia: Edgar Sousa
Género: Acção,Aventura,Comédia,Crime,Drama
Duração: 125 min.
Sítio Oficial: http://balas3.ofilme.pt

O blogger foi à antestreia a convite da LightBox..

3 comentários:

Sousa disse...

Eu já estava com vontade de ver o filme ... não só pela ideia que tenho dos anteriores, mas do empenho e esforços pessoais/profissionais dos que fizeram este filme.. e também para mostrar que uma ideia portuguesa é boa!
Agora com o teu "post" ainda fiquei com mais vontade de ir ver.

brain-mixer disse...

Eu já vi o filme no visionamento de imprensa de Lisboa. Apesar das enormes qualidades técnicas, infelizmente o argumento é feito não em cima do joelho, mas feito numa folha de papel higiénico... Quando disseste no teu texto que "Após um ano finalmente tudo fez sentido", eu discordo: A história é um buraco enorme.

Mas no fim de contas, há 5 ou 6 piadas que me fizeram genuinamente rir, e isso ainda bem que é o que fica tempos depois de ver o filme.

Cumprimentos ;)

Nuno disse...

O que digo que faz sentido são as cenas que vi isoladas.

Vi a rodagem de três cenas totalmente diferentes (não posso dizer quais pois seria spoiler) e ainda me descreveram outras 3. Eram tão diferentes que não sabia como fariam um filme daquilo tudo.