30 de abril de 2007

"Spider Man 3" por António Reis


A reciclagem do mito ou cinema fantástico em crise?

Comecemos pelo lado mais positivo. Fechemos os olhos para termos os ouvidos bem abertos à música inconfundível, muito no estilo de Danny Elfman: sinfónica, envolvente, emotiva e definidora só por si de personalidades e situações. Em duas palavras, sempre genial.
Abramos os olhos para um genérico muito interessante e só por si merecedor de uma ida ao cinema. A provar que há genéricos com muito crédito.
Deixemo-nos conduzir pela eficácia dos efeitos especiais e visuais que, apesar de sabermos que são falsos, não deixam de ter o seu deslumbre perceptivo.
Por último Sam Raimi, nos anos setenta incensado como um dos mais prometedores cineastas do fantástico, mas que perdeu o fulgor desses tempos de “Exército das Trevas” e de “Crime Wave”. Mantém algum do humor e da atracção pelos ambientes negros do fantástico mais tradicional, mas é daqueles cineastas a quem o dinheiro não trouxe a felicidade.
Nos 142 minutos de filme Spider-Man apenas comprova que reciclar um mito da BD não basta e que os heróis americanos estão em crise. Um super-herói já não basta e o filme propõe-nos dois, um arqui-vilão já não é suficiente e vão ser precisos dois. Até a donzela em apuros foi duplicada. Temos assim dois filmes pelo preço de um único bilhete. O guião é assim o elo mais fraco de “Spider-Man 3”, que não consegue sequer fugir ao ridículo nas cenas narcisistas de Peter Parker a passear pelas avenidas de Nova Iorque sob o olhar embevecido de teenagers ou quando Sandman é transformado num King Kong desmolecularizado. Peter Parker tem dificuldade em chegar à idade adulta, é incapaz de assumir uma relação afectiva estável e está maravilhado com o seu estatuto de super-herói idolatrado. O lado negro da Força tomou conta do seu corpo e mente e o filme prolonga-se nesta teia em que os argumentistas se enredaram. Como fica em aberto o pedido de casamento à Mary Jane prevê-se com naturalidade um “Spider Man 4”. Em termos de público a receita pode funcionar, mas como filme é fast food de digestão rápida. Uma nota final para Bruce Campbell como maître de restaurante francês com humor e gags de situação e texto interessantes. O fantástico está em crise não por dificuldades técnicas dos FX mas por exaustão de ideias criativas.


Título Original: "Spider-Man 3" (EUA, 2007)
Realização: Sam Raimi
Argumento: Sam Raimi, Ivan Raimi, Alvin Sargent
Intérpretes: Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Thomas haden Church, etc
Fotografia: Bil Pope
Música: Christopher Young
Género: Acção/Aventura/Ficção-Científica
Duração: 140 min.
Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/spiderman3/site/

28 de abril de 2007

Manual de sobrevivência para Cannes - parte III

Encerramos agora a publicação deste divertido Manual.


Manual de sobrevivência para o Festival de Cannes

por António Reis


...

7. Chegada e partida
Chegue sempre um dia antes para evitar as intermináveis filas para levantar o cartão. Fuja sempre antes do fim para escapar ao maremoto humano do desmontar da feira. O sábado final parece o Dia do Juízo Final. Com tempo pode apreciar e babar-se de inveja na marina com os iates estacionados, visitar o castelo e as ruas típicas do centro histórico e olhar as ilhas Lerins. Ou seja, fazer turismo.

8. Jornalistas
Ser-se jornalista em Cannes é uma missão trabalhosa. Sessões às 8:30 da manhã, filas intermináveis para acesso, recolha de quilos de informação diariamente distribuída e a necessidade de calcorrear quilómetros diários entre os stands, as salas e os hotéis. Para os jornalistas a cor do cartão é determinante, porque é ela que vai decidir se tem entrada directa nas salas ou se tem de esperar que fiquem lugares vagos. Quem pensa que ser-se jornalista em Cannes é pavonear-se na croisette está completamente enganado. O tempo em que não se está na sala de cinema acaba por se reduzir drasticamente com a necessidade de envio de informação e de tratamento dos materiais. Ir às festas de glamour é objectivo inalcançável. Só os VIPs que não vão para trabalhar têm acesso a convite e a vida nocturna deslumbrante em que Cannes se celebrizou é apenas para a elite dos que se podem dar ao luxo de não trabalhar. Dicas: como nunca conseguirá o mágico cartão branco leve corrector para pintar o seu ou seja simpático e aceite o jornal Metro de Cannes que já vem em inglês e tem textos óptimos para copiar. Já tem o trabalho feito e até as conferências de imprensa. Se for apanhado utilize a desculpa daquela “jornalista” da Visão e diga que era uma versão de trabalho.

9. Revistas
Fuja do stand do festival onde o merchandising é caro até dizer basta. Mais vale comprar as revistas de cinema que trazem t-shirts de graça e só se vendem em Cannes. Atenção que no ano passado a companhia aérea portuguesa fartou-se de ganhar dinheiro com o excesso de peso das bagagens.

10. Fauna
Neste jardim antropológico existem espécies longe do risco de extinção. A começar pelos que pensam que embriaguez é um estado de espírito cannoise. Pior ainda é quando têm já muito treino de álcool e bebem e falam em simultâneo. Esqueça os seus conhecimentos, em Cannes ninguém conhece ninguém apesar de toda a gente se cumprimentar efusivamente. Os porteiros da noite merecem uma mirada pois manifestam semelhanças de peso com paquidermes, a beautiful people passeia-se a partir das dez da noite engarrafando o trânsito e a densidade de starlettes por metro quadrado é impressionante como impressionante é a leveza da roupa que as descobre. Seja discreto e evite chocar com as palmeiras e os candeeiros. Ao longo da croisette encontra-se de tudo para a fotografia: homens-estátua, sósias de personagens célebres, músicos rejeitados pela Operação Triunfo, e angariadores de assinaturas para causas perdidas. Os pedintes são indivíduos com estilo e limitam-se a deixar a caixa ou o boné enquanto vão á praia. Patinadores, joggers, ciclistas e reformados atrapalham-se na croisette. Quando estão grupos de mais de uma dúzia de pessoas já se sabe que são japoneses ou coreanos.

11. Penetras
Desde que se tenha o mágico cartão de comprador (um investimento de 360 euros) é fácil ser-se penetra em Cannes. Sobretudo na Plage des Palmes, o lugar mais perto do paraíso que se possa imaginar. Mesmo sobre o Mediterrâneo, com gelados e bebidas oferecidas pela multinacional suíça que patrocina o certame, com hospedeiras escolhidas com rigorosos critérios estéticos e uma esplanada onde não faltam as célebres cadeiras Emmanuelle, nem é preciso ser-se penetra porque se pode entrar só com o cartão. Pode-se fazer convidado para as inúmeras recepções (no ano passado a do festival de São Petersburgo valeu por dois almoços), pode mesmo sobreviver a gelado, café e sumo. Virá elegante e bronzeado o que fará a inveja de todos os seus inimigos.

12. Manifs
Não há abertura de festival que não tenha uma manif. Invariavelmente o sindicato dos artistas ou similar dependura um pano mesmo em frente da entrada. Invariavelmente a polícia e os bombeiros estão a postos para o retirar, o que dá sempre uma animação extra. A meio do festival, todos os anos, a nossa bem conhecida Troma organiza uma manifestação com todos os freaks que compõem o seu catálogo. É uma parada de monstruosidades que vão do Toxic Avenger ao Kabukiman, que de tão ridículo consegue ter graça.

Para quem é frequentador de Cannes este manual já faz parte da rotina. Para os que não podem ir a Cannes este manual é apenas mais uma forma de provocar esse sentimento mesquinho que é a inveja. Mas para os que pensarem ir a Cannes estas doze dicas podem ser de garantida utilidade.

27 de abril de 2007

Manual de sobrevivência para Cannes - parte II

Publicamos hoje a segunda parte do manual de sobrevivência para o Festival de Cannes. Amanhã será publicada a terceira e última parte.


Manual de sobrevivência para o Festival de Cannes

por António Reis


...

3. Gastronomia
Cannes não tem gastronomia e a bebida nacional é o café. A sublime cuisine provençale não tem sido convidada nos últimos anos. As pizzas são muito boas sobretudo porque o molho é tão picante que elimina qualquer sabor. As alternativas das roulottes ou do Mac são vivamente desaconselhadas. Se comer mais de três dias avisamos que não há projecção nas instalações sanitárias. O café bebido aos litros permite dar a estes zombies cinéfilos algum ar humano.

4. Hotéis
Se lhe tiverem passado cartão abrem-se-lhe as portas dos hotéis. Visitar o Carlton, o Noga Hilton, o Majestic e o Grey d’Albion é uma experiência gratuita, pode mesmo sentar-se nos sumptuosos sofás, mas não se arrisque a pedir bebidas ou o Hotel passará a contar com mão-de-obra gratuita para o resto da semana. Ao passear pelos lobbys pode recolher a variada informação disponível, o que lhe dará um ar de empresário do ramo. Pode mesmo visitar os quartos já que é nas suites desses hotéis que as companhias de jeito estão instaladas. Os pobres contentam-se com quiosques no Mercado do Filme ou com tendas de lona na pomposamente chamada Village International que mais não é que um parque de campismo de países.

5. Salas
No Palais são dúzia e meia de salas, no Riviera outra dúzia, além dos Arcade, dos Star, dos Olympia e, este ano, os novos Lerins. Sem esquecer as salas de cinema dos hoteís. Entre os cubículos de cadeiras desconfortáveis e ecrãs do tamanho dos Home Cinema, até às luxuosas salas Lumiére e Debussy há de tudo. Saltitar de umas para outras transforma ao fim de poucos dias, qualquer pessoa num fundista.

6. Segurança
Em Cannes, sem cartão, você é um potencial terrorista. Com cartão tem a felicidade de ser observado com desconfiança por centenas de funcionários diariamente, ver os seus sacos vasculhados cada vez que entra no solo sagrado do festival e de ter a sensação de que vai ser teletransportado quando lhe passam uns tubos de detecção de metais que se animam sempre que encontram umas chaves. Tenha em atenção os seus cartões de crédito porque à terceira passagem eles ficam desmagnetizados e você arrisca-se a passar da condição de inscrito no festival a proscrito pedinte. Os seguranças têm todos aquela delicadeza francesa que fazem o Van Damme parecer um menino de coro.

(to be continued)

26 de abril de 2007

Manual de sobrevivência para Cannes - parte I

O Antestreia, o único blog português com dois jornalistas em Cannes, apresenta aos seus leitores um guia imprescindível.

A sexagésima edição do Festival de Cannes começa a dezasseis de Maio próximo. No passado dia 19 fez a sua conferência de imprensa de apresentação (a que o blog fez eco) e, por isso, a menos de um mês do arranque é altura de se darem as dicas para sobreviver a tanto filme.
Com mais jornalistas acreditados do que qualquer outro evento cultural ou desportivo, com 9900 filmes em carteira entre produções e pré-produções, competições e mercado, uma oferta de mais de noventa filmes diários nas dezenas de salas onde se desenrola, a tarefa de sobreviver a esta imensa feira do audiovisual, é árdua. Cannes continua a ser o centro do mundo do cinema e não há concorrência que lhe faça frente. Se Cannes é a Meca do cinema, então é lugar de peregrinação pelo menos uma vez na vida, mas para os que iniciam esta viagem há rituais a ter em conta por isso aqui está o manual de um veterano.


Manual de sobrevivência para o Festival de Cannes

por António Reis


Em Cannes há quatro classes de pessoas: os mirones, as estrelas, os jornalistas e os compradores. Os mirones limitam-se a deambular pela croisette na expectativa de tropeçarem em alguém famoso. Como não têm cartão têm a liberdade de ficar à porta. As estrelas vivem como reis e rainhas, longe do comum dos mortais. Na passadeira vermelha acenam à populaça e contribuem a seu jeito para a grande ilusão do Cinema. Os jornalistas são na maior parte os escravos, obrigados a levantar muito cedo, a enviar muitas peças. Se forem também fotógrafos a situação piora pois têm de esperar horas a fio para guardar um lugar aceitável nas alas do tapete vermelho. Reconhecem-se menos pelas máquinas fotográficas e mais por andarem de banco ou escadote para terem uma melhor perspectiva da carpete. Dos compradores há os que compram, os que são mais vendedores que compradores, e os que fingem comprar. Ao menos em Cannes não anda meio mundo a enganar a outra metade. Andam todos a enganar-se uns aos outros.

Concentremo-nos no essencial:
1. Alojamento
Você ou é do tipo organizado ou jogador. Se for organizado marca alojamento com antecedência e paga um balúrdio seis meses antes de poder usufruir da estadia. Se tiver nervos de aço deixa para a última da hora e regateia os preços. Os portugueses enquadram-se nestes dois perfis, mas os segundos acabam sempre a rir-se dos maus negócios dos previdentes. A alternativa é dormir na praia entre as centenas de sacos-cama, com direito a cinema em ecrã gigante à beira-mar e banho de imersão incluído porque pelo menos um dia a maré cobre a praia. Para os mais poéticos poder-se-ia dizer que em vez de dormir sobre as estrelas se dorme sob…

2. Preços
A zona compreendida entre a croisette, Rue d’Antibe e a marina é um autêntico Triângulo das Bermudas para o seu dinheiro. O plafond do seu cartão de crédito vai ter um rombo a cada utilização. Não que o custo de vida seja estupidamente caro, mas é suficientemente caro para apanhar os estúpidos.

(to be continued)

19 de abril de 2007

POSTER DA 60ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE CINEMA DE CANNES: “UM SALTO PARA O FUTURO”

por César Nóbrega


O cartaz que comemora os 60 anos do Festival Internacional de Cinema de Cannes é um manifesto de um festival que está constantemente a olhar para o futuro e expressa o dinamismo e prazer do cinema.

Durante a edição de 2006 do festival, o fotógrafo Alex Majoli, da Agência Magnum, criou uma série de fotografias de personagens da Sétima Arte a “saltarem”.

Dessas fotografias, o designer gráfico Christophe Renard compôs uma verdadeira coreografia em celebração da energia criativa do cinema.

O cartaz é composto por fotos dos realizadores Pedro Almodovar, Jane Campion e Wong Kar Wai, das actrizes Penélope Cruz e Juliette Binoche e dos actores Bruce Willis e Samuel L. Jackson, entre outros.



Passadeira vermelha na Croissete

60ª edição do FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE CANNES
16 a 26 de Maio
por César Nóbrega


A edição 60 do Festival Internacional de Cinema de Cannes realiza-se entre os próximos dias 16 e 27 de Maio. A croisette volta a encher-se para receber a Sétima Arte. O evento que mais jornalistas acolhe, nem os Jogos Olímpicos têm tantos, promete uma edição especial, neste ano em que comemora os 60 anos de existência.
Já são conhecidos os protagonistas do festival, os filmes e os júris. Destaque para a portuguesa Maria de Medeiros que faz parte do Júri da competição oficial.


Filmes em Competição

Filme de abertura: WONG Kar Wai MY BLUEBERRY NIGHTS

Fatih AKIN AUF DER ANDEREN SEITE
Catherine BREILLAT UNE VIEILLE MAÎTRESSE
Joel & Ethan COEN NO COUNTRY FOR OLD MEN
David FINCHER ZODIAC
James GRAY WE OWN THE NIGHT
Christophe HONORÉ LES CHANSONS D’AMOUR
Naomi KAWASE MOGARI NO MORI (The Mourning Forest)
KIM Ki Duk BREATH
Emir KUSTURICA PROMISE ME THIS
LEE Chang-dong SECRET SUNSHINE
Cristian MUNGIU 4 LUNI, 3 SAPTAMINI SI 2 ZILE (4 Months, 3 Weeks And 2 Days)
Raphaël NADJARI TEHILIM
Carlos REYGADAS STELLET LICHT
Marjane SATRAPI, PERSEPOLIS
Vincent PARONNAUD
Julian SCHNABEL LE SCAPHANDRE ET LE PAPILLON
Ulrich SEIDL IMPORT EXPORT
Alexander SOKOUROV ALEXANDRA
Quentin TARANTINO DEATH PROOF
Béla TARR THE MAN FROM LONDON
Gus VAN SANT PARANOID PARK
Andrey ZVYAGINTSEV IZGNANIE (The Banishment)

UN CERTAIN REGARD
Simon BROSS MALOS HABITOS
Valeria BRUNI-TEDESCHI LE RÊVE DE LA NUIT D’AVANT (Bad Habits)
Carmen CASTILLO CALLE SANTA FE (Santa Fe Sreet)
CHUNG Lee Isaac MUNYURANGABO (Liberation Day)
Lola DOILLON ET TOI T’ES SUR QUI ?
Enrique FERNANDEZ EL BAÑO DEL PAPA
César CHARLONE (And Along Come Tourists)
Eran KOLIRIN BIKUR HATIZMORET
Harmony KORINE MISTER LONELY
Kadri KÕUSAAR MAGNUS
LI Yang MANG SHAN (Blind Mountain)
Daniele LUCHETTI MIO FRATELLO È FIGLIO UNICO 1h48
(My Brother Is An Only Child)
Cristian NEMESCU CALIFORNIA DREAMIN' (NESFARSIT) 1st Film 2h35
California Dreamin' (Endless)
Jaime ROSALES LA SOLEDAD 2h13
(Fragments Of Loneliness)
Barbet SCHROEDER L’AVOCAT DE LA TERREUR 2h15
Céline SCIAMMA LES PIEUVRES 1st Film 1h40
Robert THALHEIM AM ENDE KOMMEN TOURISTEN 1h22
Ekachai UEKRONGTHAM KUAILE GONGCHANG 1h25

Filmes Fora de Competição:
Michael MOORE SICKO
Steven SODERBERGH OCEAN’S THIRTEEN
Michael WINTERBOTTOM A MIGHTY HEART


Os Júris

Longas-metragens
Stephen FREARS, presidente (realizador)
Maria DE MEDEIROS (actriz)
Maggie CHEUNG (actriz)
Toni COLLETTE (actriz)
Sarah POLLEY (actriz)
Marco BELLOCCHIO (realizador)
Orhan PAMUK (argumentista)
Michel PICCOLI (actor)
Abderrahmane SISSAKO (realizador)

Cinéfondation e Júri Curtas-metragens
JIA Zhang ke, presidente (realizador)
Niki KARIMI (actriz)
Deborah NADOOLMAN LANDIS (designer de guarda roupa para filmes)
J.M.G. LE CLEZIO (argumentista)
Dominik MOLL (realizador)

"Moscow Zero" por Nuno Reis


Filme abaixo de zero

A expressão “Moscow Zero” é um jogo de palavras. Na intenção de quem fez o filme seria uma contracção inteligente de “Moscow Below Zero”, uma referência a uma aventura desenrolada a temperaturas negativas no subsolo da capital russa. Na perspectiva de quem viu é um filme que não vale nada, deveria ser congelado e enterrado.
Este zero cinematográfico tenta através das nacionalidades atrair diversos públicos. Espanhóis realizam, portugueses, russos e americanos interpretam. A realização de Luna continua a ser uma anedota, apenas disfarçada pelo dinheiro que multiplica estrelas e efeitos a cada filme que passa. O argumento deve ter sido inprovisado em cima do joelho, na viagem de avião para Moscovo. A história segue Owen (Vincent Gallo), um padre que investiga o desaparecimento do seu amigo Sergey. Para isso contrata dois guias (incluindo Joaquim de Almeida) que o levam para os subterrâneos onde ganhará uma nova guia e enfrentará criminosos comandados pelo misterioso Andrey (Val Kilmer) numa corrida contra o tempo.
Segundo a lenda essa estrutura subterrânea foi criada durante o governo de Estaline para maior mobilidade dos governantes e do KGB. Seguia ao longo do metro de Moscovo, indo possivelmente ainda mais além, com ligações a povoações vizinhas e ao aeroporto. Actualmente é um abrigo para os desalojados, um labirinto onde os fora-da-lei se orientam sem risco de perseguição.
Nesse mundo oculto Sergey deriva perdido, protegido apenas pela sua fé, em busca de um segredo enterrado. O segredo está associado a várias crianças que percorrem velozmente os corredores. Iremos descobrir que décadas antes um incêndio forçou duas freiras a refugiarem-se nos subterrâneos com as crianças que guardavam. História sem muito nexo, personagens rebuscadas mas sem consistência, intepretações deploráveis que actores tão famosos deveriam ter vergonha de fazer.
Pelo que diz a sinopse do filme as portas do inferno iam ser abertas. Lamento não poder confirmar isso, mas - pela primeira vez em dez anos - meia hora antes do final tive de sair da sala A minha sanidade mental e bom gosto a isso obrigavam.


Título Original: "Moscow Zero" (Espanha, EUA, Reino Unido, 2006)
Realização: Luna
Argumento: Adela Ibañez
Intérpretes: Vincent Gallo, Val Kilmer, Oksana Akinshina, Joaquim de Almeida
Fotografia: Ricardo Aronovich
Música: Javier Navarrete
Género: Terror/Thriller
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.portalmix.com/moscowzero/

"The Last Kiss" por Nuno Reis

Depois de uma mão cheia de êxitos multi-premiados, Paul Haggis apresenta-nos agora uma comédia um pouco mais simples. Os protagonistas são um grupo de jovens que se aproximam dos trinta anos. A sua vida atravessa uma etapa crucial: os amigos, o emprego, os filhos, os pais, tudo se combina para complicar uma idade em que ainda se acham jovens mas já se sentem velhos. A rápida aproximação dos trinta anos está a deixá-los impacientes. Precisam de mais tempo para saber se estão com a pessoa certa, não podem esperar mais tempo se quiserem ter filhos.

Michael é um desses casos, no casamento de um amigo é assediado por uma jovem quase dez anos mais nova do que ele. A namorada com quem vive simboliza a responsabilidade: está grávida, já pensa em casamento e em comprar casa, Michael sente-se atraído pela atrevida jovem que representa liberdade, alegria e despreocupação. Algumas outras existências menos interessantes mas mais divertidas cruzam-se nesta deambulação pelo final da juventude.

O tema fulcral é o amor. A sua existência ou ilusão de existência e o que é preciso fazer para o conservar. Cada personagem tem uma atitude perante ele, muitas delas estereotipadas e aproximam-se do ridículo. É uma visão muito realista de uma etapa incontornável da vida. Alerta para uma crise constante de valores que, sem criticar, tenta tornar num tema divertido. Tem momentos dramáticos que contrastam com o tom ligeiro em que é filmado, resultando numa obra bastante interessante e agradavelmente moralista. O espectador que melhor compreenderá o filme é aquele que atravessa essa fase, tem as mesmas dúvidas e os mesmos problemas – isso apenas metaforicamente, nem todos terão um problema tão agradável como Rachel Bilson.

Quanto ao elenco o destaque vai para Zach Braff, ainda é o protagonista de uma série mediamente conhecida e tem aparecido em filmes particularemente felizes, incluindo o seu próprio “Garden State”. Aqui como Michael tem um desempenho muito próximo do conseguido no filme referido. Rachel Bilson é uma personagem importante de uma série juvenil e, apesar de ficar ridícula no seu papel de quase Lolita, isso perdoa-se pelo seu sorriso. Jacinda Barrett teve uma carreira discreta, mas nos últimos anos tem recuperado com papeis discretos em alguns blockbusters. Esta Jenna é uma das suas melhores personagens e tem o melhor desempenho do elenco juvenil, apenas não é o melhor de todo o filme porque a interpretar os pais de Jenna estão dois nomes grandes do cinema, Blythe Danner e Tom Wilkinson.

Este filme tenta transmitir uma importante mensagem: nunca se atinge o tão famoso “e viveram felizes para sempre”, quando se trata de amor, só trabalhando todos os dias se consegue a felicidade. O final poderá não agradar a todos e por isso é que o DVD tem finais alternativos. Nâo conheço os restantes finais, mas pelo rumo que seguiu, a versão escolhida para o cinema é bastante boa.


Título Original: "The Last Kiss" (EUA, 2006)
Realização: Tony Goldwyn
Argumento: Paul Haggis (baseado no filme de Gabriele Muccino)
Intérpretes: Zach Braff, Jacinda Barrett, Rachel Bilson, Blythe Danner, Tom Wilkinson
Fotografia: Tom Stern
Música: Michael Penn
Género: Drama / Romance
Duração: 115 min.
Sítio Oficial: http://www.lastkissmovie.com/

16 de abril de 2007

Passatempo antestreia do filme "Não Digas A Ninguém"



O Pediatra Alex está devastado desde que a sua mulher, Margot, foi brutalmente assassinada pouco tempo depois de se terem casado, há oito anos atrás. Quando recebe um e-mail anónimo acede ao link indicado, vê a cara de uma mulher numa multidão filmada em tempo real, e vê a cara de Margot…
Estará ela ainda viva?
E porque lhe pede ela que não diga a ninguém?
São muitas perguntas, que o nosso herói não terá tempo para prestar atenção. Ele mal tem tempo para abrir a tampa desta caixa de Pandora antes que a polícia reabra o caso e que Alex seja responsabilizado pelo assassinato de Margot, que há oito anos está por esclarecer.


…um sucesso sem precedentes.
Bayon, Libération


…um elevado teor de improbabilidade – que se vai organizando dando uma real sensibilidade ao thriller.
Grégory Alexandre, Rolling Stone


NOS CINEMAS A 25 DE ABRIL






O Antestreia e a Lusomundo têm para oferecer convites para a antestreia do filme "Não Digas A Ninguém". Para tal, tem que responder correctamente às duas questões que colocamos aqui em baixo.


Quantos Césars venceu este filme?

Quantas pessoas, no total, elaboram o Antestreia?

Se for um dos vencedores, poderá ver este filme em:


Lisboa: Vasco da Gama
Antestreia: Dia 23 de Abril (Segunda-feira), às 21h30, 10 convites duplos



Atenção: A recepção de respostas para este passatempo termina no dia 21/04, às 23h55. Não se esqueçam de colocar o nome completo na vossa resposta ou a participação não será validada, enviando-a para antestreia_blog@hotmail.com.


Para levantar o seu convite, deverá apresentar-se com o seu BI ou outro documento identificativo (não serão aceites fotocópias) junto das bilheteiras do cinema, a partir das 17h00 do dia do filme.

Os vencedores serão contactados por email.

15 de abril de 2007

14 de abril de 2007

"The Number 23" por Ricardo Clara

Jim Carrey + Joel Scumacher + 23 = 0


Começam a ser cada vez mais recorrentes fitas com temáticas cabalísticas, grupos de números que somados dão resultados iguais: na esteira cristã, 7 (que significa a perfeição – em sete dias Deus criou o Universo), o 3 como resultado da Santíssima Trindade, e um sem número de outras ligações que são constantemente feitas com base na numerologia. “The Number 23” vem novamente oferecer mais uma tese da importância do número 23 na sociedade, enquanto aglutinador da vida de Walter Sparrow (Jim Carrey).
Sparrow, por iniciativa da mulher Agatha (Virginia Madsen), começa a leitura de um livro com o nome homónimo desta película, e cedo se apercebe que a narrativa, ainda que a decorrer num ambiente diferente, se assemelha (em muito) à sua vida. Começa então uma cruzada de obsessão, partilhada entre o misterioso livro que carregava e o número 23, que acreditva encontrar em qualquer situação que lhe surgisse – terminando com descobertas impressionantes.
JFK foi assassinado a 22 de Novembro; 9/11 2001, 9+11+2+1= 23, e muitos mais exemplos se poderiam dar. Coincidência ou não, estas particularidades despertam sempre alguma curiosidade, até porque transmitem uma aura de misticismo a qualquer conversa ou, no caso, a um filme. Mas já se assistiram a imensas obras de ficção que abordam esta temática – não fosse o “Da Vinci Code”, em parte, um óptimo exemplo da profusão de material nesta matéria. Bem filmado na opção da narrativa paralela – onde Walter é Fingerling e Agatha é Fabrizia – surge um ambiente noir (que curiosamente me fez recordar um videojogo intitulado “Max Payne”, que aguarda adaptação cinematográfica), sendo esses momentos que conseguiram acordar-me da letargia que o resto do filme oferece, onde nunca me envolvi e, especialmente, nunca acreditei. Há – e também muito por culpa da interpretação de Carrey – um défice de credibilidade na película, com cenas dramáticas muito forçadas, tentando ser aquilo que não consegue, sendo exemplo máximo desta permissa o falhanço redondo do anticlimax a que assistimos no final. Destaca-se ainda assim, pela positiva, a frescura de Virginia Madsen e a abordagem da referida narrativa paralela por Schumacher.






Título Original: "The Number 23" (EUA, 2007)
Realização: Joel Schumacher
Argumento: Fernley Phillips
Intérpretes: Jim Carrey, Virginia Madsen e Lynn Collins
Fotografia: Matthew Libatique
Música: Harry Gregson-Williams
Género: Drama / Mistério
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.number23movie.com

Heroes estreia hoje

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Imperdível a estreia de hoje de "Heroes" na TVI (e que se espera que cumpra os horários de exibição). Um enorme sucesso nos EUA, esta série retrata a vida de um grupo de pessoas comuns que paulatinamente começam a sentir que possuem poderes especiais. Guiados pelo destino, encontram-se com o objectivo de evitar a destruição de Nova Iorque. Recomendo em absoluto esta série, que se encontra com 18 episódios exibidos nos EUA, e que me deixou completamente viciado (anseio pelo visonamento do 19º). Para mais informações, imdb e sítio oficial.


12 de abril de 2007

"Shooter" por Nuno Reis


Depois das críticas à polícia em "Training Day" e de comentar a situação africana em "Tears of the Sun", chegou a vez de, com um contexto africano, o topo do governo Americano ser atacado. Como vários filmes antes dele, este “Shooter” é sobre a podridão que controla os principais cargos políticos dos EUA. Bob Lee Swagger é um militar excepcional, a sua pontaria é incomparável e o seu patriotismo muito próximo do fanatismo. Quando é abandonado para morrer no decorrer de uma missão, deixa a vida militar desiludido com o exército. Três anos depois um coronel vai convidá-lo para voltar a servir o país e evitar que um atirador furtivo assassine o presidente. Bob não consegue recusar o desafio, mas é tramado e vai ser perseguido pois um assassinato foi consumado, por uma bala dele. Um “all-american hero”, uma mulher atraente, muitos tiros, uma gigantesca conspiração, um bocado de humor e muita acção para que o espectador não pense em mais nada. É a receita completa para fazer um filme destinado ao sucesso nas terras do tio Sam.

O argumento não é particularmente bom, tem a quantidade exacta de acção para entusiasmar os espectadores sejam ou não aficionados das armas, tem uma voluptuosa Kate Mara frequentemente em trajes ousados, mantém-se politicamente correcto por mostrar que no seio do FBI ainda há homens honestos e alerta para os perigos da autocracia em que a América se tornou. Fuqua fez uma boa realização e trabalhou com um bom lote de actores. Apesar de as personagens serem muito tipificadas Whalberg, Peña e Mara estão bem e Danny Glover tem neste filme um dos seus melhores papeis da década, não era difícil.
Na cena final – termina tudo da forma mais óbvia possível – mais tiros, tiros demais. Faz com que o espectador se aperceba do exagero que o resto do filme foi. Não é muito diferente de "Bourne Identity", mas tem a vantagem de, por terem acabado com todas as pontas soltas, não corremos o risco de ver uma sequela.



Título Original: "Shooter" (EUA, 2007)
Realização: Antoine Fuqua
Argumento: Jonathan Lemkin (baseado no livro de Stephen Hunter)
Intérpretes: Mark Wahlberg, Michael Peña, Danny Glover, Kate Mara
Fotografia: Peter Menzies Jr.
Música: Mark Mancina
Género: Acção /Guerra/Thriller
Duração: 124 min.
Sítio Oficial: http://www.shootermovie.com/

11 de abril de 2007

Links desactualizados

À poucos meses atrás, tivemos um problema bastante grave no template deste vosso local de visita, e perdemos alguns posts (que conseguiram entretanto ser recuperados), tendo esse quid pro quo mutilado os links. Como tal, estamos paulatinamente a actualizar (quer colocando os que estão em falta, quer outros que achamos de importante visita) a lista de hiperligações. É só espreitar, já aí à direita.


"Die Wolke" por Nuno Reis


“Casal apaixonado enfrenta nuvem radioactiva” parece um título mais interessante e elucidativo. O argumento deste filme foi baseado num livro escrito em 1987, quando o Muro ainda dividia as Alemanhas e Chernobyl era uma realidade muito próxima no tempo e no espaço.
Hannah é uma jovem como todas as outras, gosta do sol, de rir e de um rapaz. Tem um irmão mais novo um pouco doente. Um dia, a meio de um teste, começa a soar o alarme. Algo de errado se passa na central e não podem esperar para descobrir, vão ter de correr para sobreviver. Como a mãe está fora Hannah separa-se de Elmar (o tal rapaz) para ir buscar o irmão a casa. Juntos correm para o comboio, a última esperança de escapar. Numa corrida que parece não ter fim, no meio de uma multidão em pânico para quem a única coisa que importa é sobreviver, conhecerá vários tipos de dor, chegando a perder o interesse na vida. Dezenas de milhares morrem, Hannah é uma das sortudas que sobrevive mas perdendo tudo e todos. Apenas a recordação de Elmar a manteve viva e quando ele aparece ela volta a ser feliz. Mas nem tudo é perfeito e juntos irão descobrir porque é o sacrifício a mais verdadeira demonstração de amor. Dizer mais do que isso seria estragar o filme.

Como filme alemão, de baixo orçamento e sobre jovens, não se podia esperar que tivesse grandes nomes. Um casting de jovens para este género de filmes tem de jogar com muitos factores e a solução mais fácil é pegar em actores de séries televisivas. “Die Wolke” não foge à regra e reúne um elenco secundário capaz, deixando os protagonismos entregues a uma dupla talentosa. Frank Dinda é um actor com uma extensa carreira, era um pouco velho para o papel - 23 anos a interpretar um aluno de secundário - mas como a personagem era um jovem maduro e responsável disfarçou bem. O papel feminino, bem mais importante e exigente, foi entregue a uma actriz com meia dúzia de papeis televisivos e sem experiência no cinema. Foi a melhor escolha que fizeram. Aliando beleza, talento, e uma personagem cativante, Paula Kalenberg apresenta-se ao público cinéfilo como uma actriz com um futuro brilhante pela frente.

Este “Die Wolke” é uma história para quase todos os públicos. Se não fosse a morte sempre presente seria uma simples história de amor. Exceptuando pelo parágrafo final o filme não é anti-nuclear, o acidente serve apenas para criar um contexto. Claro que essa simples frase consegue converter qualquer um que seja simpatizante do nuclear, mas isso não é importante. Imagino que a ausência de marketing e a ignorância total do público sobre o filme abrevie a estadia da película nas salas, isso sim, é uma tragédia.






Título Original: "Die Wolke" (Alemanha, 2006)
Realização: Gregor Schnitzler
Argumento: Jane Ainscough, Marco Kreuzpaintner (baseados no livro de Gudrun Pausewang)
Intérpretes: Paula Kalenberg e Franz Dinda
Fotografia: Michael Mieke
Música: Max Berghaus, Stefan Hansen, Dirk Reichardt
Género: Drama/Romance
Duração: 105 min.
Sítio Oficial: http://www.die-wolke.com/

9 de abril de 2007

BSA - Damien Rice



Cantor folk irlandês, o melancólico Damien Rice lançou à bem pouco tempo o seu segundo álbum de originais, "9", depois do seu trabalho de estreia, "O", uma entrada de luxo nas lides musicais, que foi sido muito bem recebido pela crítica, tendo inclusive o seu single de lançamento "Blower's Daughter" (do qual deixamos aqui o videoclip) feito parte da banda sonora de "Closer" (Mike Nichols, 2004), a par de "Cold Water". Dois temas intensos e melódicos, em especial o primeiro, que revela uma bela aliança da composição de Rice com a voz da vocalista Lisa Hannigan (que recentemente decidiu seguir o seu caminho a sós), diluídos em poemas de entrega estética e reveladora: "stones taught me to fly / love taught me to lie / life taught me to die / so it's not hard to fall / when you float like a cannonball".
"O" venceu o Shortlist Music Prize em 2003, e além da participação em "Closer", Rice já viu o seu trabalho aliado a outros projectos, agora televisivos, como "Alias" e "Lost". Vale concerteza uma visita aos dois álbums, bem como a vários sítios de interesse, para descobrir este activista pelos direitos humanos (mais propriamente Aung San Suu Kyi, líder Birmanesa), em locais tão variados como a wiki, o sítio oficial ou a Rolling Stone.

8 de abril de 2007

"Gravedancers" por Ricardo Clara

O violador, a criança e o machado


Em 2000, o realizador Mike Mendez já havia dado boas indicações com “O Convento” - um filme de nunexploitation dos tempos modernos – e que mostrava pormenores interessantes dentro do género. Depois de uma incursão no “Masters of Horror” (onde assina o episódio “Boogymen”), Mendez regressa com “Gravedancers”, um filme de baixo orçamento, mas que nem por esse senão cai na banalidade.
Quando Sid, Harris, e Kira se reunem anos depois, para chorar a morte de um amigo, decidem que, e porque o primeiro não apareceu ao funeral, ir ao cemitério prestar uma última homenagem aquele que completava o quarteto de amizade. Ao chegarem lá, e acompanhados de bastante álcool, encontram um bilhete na campa com versos, apelando ao carpe diem, e a dançar em celebração da vida. É a partir desse momento que Harris e a mulher Allison, Sid e Keira são perseguidos pelos fantasmas dos mortos sobre os quais eles haviam dançado – uma criança piromaníaca, um juíz violador e sado-masoquista; e uma pianista assassina. Socorrendo-se de dois especialistas em fenómenos paranormais, Vincent e Culpepper, encetam uma fuga daquela que poderá ser uma morte horrorosa.
Com Dominic Purcell (“Prision Break”) e Tchéky Karyo (“Un long dimanche de fiançailles” - Jean Pierre Jeunet, 2004) nos principais papéis, “Gravedancers” consegue reunir uma dezena de clichés, e mesmo assim não se tornar aborrecido nem previsível. Com sangue a rodos, interessantes criaturas (menos o miúdo piromaníaco, que é evidentemente interpretado por um anão) e perseguições bem conseguidas, encontramos um filme (que falhou, até ver, a distribuição comercial) competente e que eleva um pouco a fasquia do que tem saído da produção norte-americana de terror. Destaque ainda para os efeitos especiais, a cargo da Spectral Motion Inc., os quais tiveram a seu cargo filmes como “Hellboy” (Guillermo del Toro, 2004), e que conseguiram criar um ambiente sobrenatural muito interessante, e com poucos meios orçamentais. Destaque, por fim e igualmente, para o ambiente negro e tenso, idealizado por Mendez e pelo director de fotografia, David A. Armstrong (“Saw” - 2004, “Saw II” - 2005, “Saw III” - 2006).



Título Original: "Gravedancers" (EUA, 2006)
Realização: Mike Mendez
Argumento: Brad Keene e Chris Skinner
Intérpretes: Dominic Purcell, Josie Maran e Tchéky Karyo
Fotografia: David A. Armstrong
Música: Joseph Bishara
Género: Terror
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.gravedancers.com

Porque é que...

... o serviço público(?) da RTP repete o "Dança Comigo" no dia seguinte, sendo que até é um programa emitido a horas decentes, e sendo que a repetição acontece a um Domingo, de tarde, e que ocupa 3 horas de programção?

P.S. Já agora... O que é feito de "Ben Hur", "A Última Tentação de Cristo" ou "Os Dez Mandamentos".? Vão para o ar no Natal?

"Cocaine Cowboys" por Ricardo Clara

A realidade e a ficção lado a lado


São inúmeras as histórias reais que inspiraram (e ainda o fazem) filmes ou séries televisivas, e que marcaram a história. Nos anos 70 e 80, o estado norte-americano da Flórida era (em especial Miami) o centro mundial do tráfico de droga, sendo que a marijuana era, no início, o “prato principal” desta actividade. Produtores colombianos cultivavam em centenas de hectares, milhares de quilos deste estupefaciente, o qual era depois distribuído pelo sul dos EUA.
Mas, efectivamente, e chegados a meados de 1974, os produtores de droga colombianos decidem (visto a aceitação ser enorme) passar a cultivar, tratar, embalar e vender cocaína, a qual invade Miami de forma inacreditável. “Estava por todo o lado”, como nos contam vários intervenientes deste processo no documentário “Cocaine Cowboys”, uma película muito interessante, realizada por Billy Corben: “nos restaurantes, nos bares, nas discotecas, nas empresas”. “Qualquer nota de dólar que fosse analisada teria vestígios de droga”, fruto de um sismo que levou a cocaína a inundar toda a Miami.
E é neste documentário, uma bela peça do género, que assistimos a um flashback desde o início do tráfico, até ao declínio daquela era que ficou conhecida como a das “Cocaine Cowboys Wars”. Ao longo de cerca de 2 horas, assistimos aos relatos de vários intervenientes no processo, dos transportadores de Medellin a Miami, até aos traficantes e assassinos que aterrorizaram aquela área durante uma dezena de anos. No seu apogeu, Miami chegou a ter 600 assassinatos por ano, altura onde Griselda Blanco – a Madrinha, como era conhecida – dominava, tendo sido inclusive apontada como responsável por 200 homicídios, que iam dos 8 aos 80. Guerras com a família Castro, tiroteios, mortes a sangue frio, droga e prostituição, tudo fazia parte do cardápio de uma poderosa mulher colombiana a viver nos EUA. Luxo desmedido, milhões de dólares ganhos e gastos, Corben mostra-nos, num ritmo intenso e muito interessante esta época que inspirou fimes e séries como “Scarface” (Brian de Palma, 1983) ou “Miami Vice” (vários, 1984-1989; Michael Mann, 2006), desmistificando ideias e opções aí tomadas, bem como confirmando muitas das barbaridades que estas peças ficcionais mostraram.
É um documentário muito bem editado, montado e sonorizado, com entrevistas belissimamente conduzidas, e apoiadas em algumas dezenas largas de imagens de arquivo que ilustram bastante bem a época em causa.

Título Original: "Cocaine Cowboys" (EUA, 2006)
Realização: Billy Corben
Argumento: n/d
Intérpretes: n/d
Fotografia: Armando Salas
Música: Jan Hammer
Género: Documentário
Duração: 116 min.
Sítio Oficial: http://www.cocainecowboys.com

4 de abril de 2007

"Silent Hill" por Nuno Reis


Vários anos depois do jogo, “Silent Hill” chega aos cinemas. Portugal teve de esperar quase um ano mais, a estreia mundial foi a 21 de Abril do ano passado. Qualquer filme de terror ganha outro sabor visto sozinho em casa, numa sala escura, havendo a possibilidade de encomendar o dvd no país vizinho terá o filme capacidade de levar os espectadores às salas? A equipa de luxo que o criou é um bom motivo - realização de Christophe Gans (“Le Pacte Des Loups”), argumento de Roger Avary (“Pulp Fiction”, “Reservoir Dogs”) e produção de Samuel Hadida ( “Perfume” e “The Black Dahlia” para citar apenas os mais recentes) – a outra razão é ser um filme inspirado num videojogo e como tal ter uma panóplia de efeitos visuais imperdíveis.

O filme tenta ser fiel ao primeiro jogo. O argumento centra-se em Rose, uma mãe preocupada que tenta resolver os pesadelos da filha levando-a à vila tantas vezes referida nos sonhos: Silent Hill. Uma condução deseperada faz com que tenha um acidente e, ao acordar, a filha desapareceu. Terá de a encontrar e sair viva daquela terra amaldiçoada onde monstros surgem a cada esquina e onde o tempo é decisivo. Enquanto isso o marido abandonado lança-se à estrada para tentar recuperá-las e terá de enfrentar vários outros problemas. Silent Hill é uma vila “abandonada” com enorme actividade, e esconde também um mistério demasiado grande para poder permanecer secreto. Perseguições, tiros, monstros e um grande poder oculto, podemos encontrar de tudo.

O elenco reunido - Radha Mitchell, Sean Bean, Deborah Kara Unger - é bastante melhor do que aqueles a que temos sido habituados pelos adaptações de videojogos. Viu-se que foi feito um esforço para tornar o jogo num filme a sério, não pode de forma alguma ser comparado com os trabalhos de Uwe Boll. Sendo avaliado apenas como filme não traz nada de novo, mas quem estiver a contar com uma nova visão sobre o jogo, ou quiser apanhar alguns sustos, tem de ir ver.



Título Original: "Silent Hill" (EUA, 2006)
Realização: Christophe Gans
Argumento: Roger Avary (baseado no jogo)
Intérpretes: Radha Mitchell, Sean Bean, Deborah Kara Unger, Laurie Holden
Fotografia: Dan Laustsen
Música: Jeff Danna, Akira Yamaoka
Género: Drama/Terror/Thriller
Duração: 127 min.
Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/silenthill/

"300" por António Reis

300 – a história como videojogo

A expectativa da adaptação da obra de Frank Miller ("Sin City") colocou a fasquia de "300" demasiado elevada. O que permite explicar o estrondoso sucesso de bilheteira que "300" está a fazer nos EUA e em Espanha pelo menos.
Não deixa de ser surpreeendente que um filme histórico, entendendo-se por isso um filme baseado em factos reais que a lenda se encarregou de eternizar, tenha este sucesso, apesar dos exemplos de "Gladiador", "Alexandre" e "Troia". A explicação tem de derivar de Frank Miller ele próprio, o reconhecimento que o público dá à sua marca visual e ao tratamento gráfico nos comics.

300 narra de forma muito liberal a epopeia de Leónidas Rei de Esparta, desde a sua infãncia, os rituais de passagem para a idade adulta, a sua investidura como rei e o feito que o tornou lendário – a defesa das portas do desfiladeiro face ao invasor persa. Apesar de o filme não valorizar, neste facto histórico reside o início da maratona olímpica: o único sobrevivente dos 300 correrá até Esparta para anunciar o feito heróico.

Deste contexto histórico Zack Snyder realiza um videojogo em forma de filme: estética gráfica de videojogo, exagero dos efeitos digitais, tratamento muito artificial da cor, desmultiplicação da imagem apenas pensável num mundo virtual e uma violência demasiado próxima dos jogos com classificação para adultos. Desde que se aceitem estes elementos como parte do estilo que Frank Miller imprime às suas narrativas, "300" funcionará bem. O problema é que esta indefinição entre o que é um filme (por exemplo "Tróia") e o que é a transposição da BD ("300") pode causar alguma perplexidade inicial ao espectador, que necessita de algum período de adaptação.

"300" é assim um filme onde o culto ao corpo é exacerbado mesmo para o gosto helénico, tem uma dimensão desproporcionada da violência bélica, partilha de uma visão dualista muito vincada (os espartanos defensores da liberdade e os persas invasores) e a personagem de Xerxes representada por Rodrigo Santoro é tão caricatural que se torna ridícula. Em grande ecrã enche o olho, mas o que fica enquanto filme é pouco. Ressalve-se o tratamento da cor que se aproxima das manchas cromáticas da BD, a dicotomia cromática entre os tons frios e azul cinza nos cenários de Esparta e as cores quentes dos exteriores, a plasticidade emotiva dos grandes planos das personagens numa estética muito televisiva. A história resume-se a noventa por cento de batalha e dez por cento de conversa de treta incluindo algum sexo implícito para atenuar a acção. Os apreciadores de Frank Miller provavelmente sairão um pouco desiludidos porque o filme nada acrescenta e está a milhas de "Sin City". Os cinéfilos sairão com uma sensação indefinida mas nunca entusiasmante. Os amantes de videojogos provavelmente preferirão a versão para computador que ao menos é interactiva.


Título Original: "300" (EUA, 2006)
Realização: Zack Snyder
Argumento: Zack Snyder, Kurt Johnstad, Michael Gordon (baseados no livro de Frank Miller e Lynn Varley)
Intérpretes: Gerard Butler, Lena Headey, Dominic West, David Wenham
Fotografia: Larry Fong
Música: Tyler Bates
Género: Acção/Drama/Guerra
Duração: 117 min.
Sítio Oficial: http://300themovie.warnerbros.com/

3 de abril de 2007

Breves


Mais de 20 anos depois da morte de Orson Welles, o seu último filme poderá finalmente ser acabado. "The Other Side of the Wind", com Dennis Hopper e John Huston entre muitos outros, começou a ser filmado em 1972 mas Welles morreu antes de completar a edição. Na semana passada o realizador Peter Bogdanovich, um dos actores do filme, anunciou que conseguiu um acordo para terminar o filme. Aquele que até agora era classificado como “o melhor filme que nunca veremos” será merecedor desse título, ou será apenas uma desilusão com um longo passado?


A Dreamworks terminou o contrato que mantinha com a Aardman. Depois dos mega-sucessos "Chicken Run" e "Wallace and Gromit: The Curse of the Were-Rabbit", a mudança de estilo e de técnica vista em "Flushed Away" desiludiu o estúdio. O estúdio inglês não se deixou abater e anunciou no site que assinou ontem um contrato de 3 anos com a Sony, mantendo-se por isso com um grande parceiro para o mercado norte-americano. A Sony aceitou a parceira pois o seu novo departamento de animação vai ainda no segundo filme enquanto que a Aardman apresentou cinco projectos e uma forte convicção de que conseguem lançar um a cada 18 meses. Entre esses projectos incluem-se uma versão de “A lebre a tartaruga” que foi recusada pela Dreamworks, e um novo filme de Wallace and Gromit.


Ainda falta um mês para o lançamento mundial de "Shrek 3", mas já foi revelado que uma quarta longa-metragem sobre o ogre mais adorado da História está a ser preparada. Entretanto foi anunciada uma nova curta-metragem para este Natal.
Apesar da insitência o estilo de Shrek ainda tem sucesso e a prova é que outra animação deturpadora de contos infantis irá ter sequelas: "Woodwinked!" (em Portugal estreou no Verão passado com o título "Capuchinho Vermelho – a Verdadeira História") tem um segundo filme anunciado para 2008.

2 de abril de 2007

Festa de apresentação de "Inland Empire"

Projecto Marginal apresenta IMPÉRIO DAVID LYNCH

Festa lynchiana decorre esta quinta no Santiago em Lisboa





O universo e os mistérios do realizador DAVID LYNCH vão ser invocados numa festa de apresentação do seu mais recente filme, INLAND EMPIRE, que terá lugar na próxima quinta-feira, 5 de Abril, no Santiago Alquimista, em Lisboa. Quem matou Laura Palmer? Balla, Bulllet, Miguel Guedes ou Hipnótica? Para descobrir… numa festa em que este universo será explorado através de uma interpretação portuguesa com recurso à musica, vídeo e teatro.

O Projecto Marginal, a convite da Atalanta Filmes, apresenta logo após a estreia do tão esperado filme, que acontece também esta quinta, uma noite dedicada totalmente ao artista de Blue Velvet.

Nesta festa, intitulada IMPÉRIO DAVID LYNCH, tal como o nome sugere, a obra de Lynch enquanto autor, realizador, pintor e visionário será revisitada através de uma série de artistas nacionais. Desta forma, Miguel Guedes dos Blind Zero, Armando Teixeira, Balla e Bulllet, João Branco Kyron, Hipnótica, entre outros, vão musicar ao vivo excertos de alguns filmes deste imperador do cinema bizarro.

E para completar as peças do puzzle, ou não… O Projecto Marginal desafiou um grupo de actores para reproduzir ao vivo cenas inquietantes dos principais filmes de Lynch.

E para que a noite não rume a uma Estrada perdida, a música será conduzida pelo DJ Mike Stellar. Já as imagens nascerão do Coração Selvagem de Miguel Osório dos Video House Stars.

E para os Fãs, durante toda a noite, o Projecto Marginal apresentará, numa sala altamente lynchiana, curtas-metragens de Lynch.

A Festa de lançamento do novo filme INLAND EMPIRE tem início previsto para as 23:00 horas. O preço é de cinco euros.

Mais informações:
Projecto Marginal
www.projectomarginal.com
info@projectomarginal.com