31 de dezembro de 2008

"The Kite Runner" por Nuno Reis


Vivemos em tempos conturbados, com guerras sucessivas e, mais trágico ainda, novas formas de guerra e inimigos desconhecidos. Se o terrorismo não tem local nem hora para atacar, localizar no mapa um inimigo chamado Al-Qaeda ou talibãs também não parece possível. Para simplificar o Afeganistão tem ficado com as culpas. O livro "The Kite Runner" tentou mudar as mentalidades e mostrar que os afegãos são pessoas como nós. Alguns bons, alguns maus, muitos deles simples vítimas. Primeiro dos russos, depois dos talibãs, por último dos americanos.
Apesar de parecer um projecto do Médio Oriente é um pouco de todos os outros sítios. A produção é americana. A passagem a filme foi confiada ao alemão Mark Foster, realizador de "Monster’s Ball", "Finding Neverland", "Stranger Than Fiction" ou o mais recente "Quantum of Solace". As filmagens foram feitas na China e foram contra tantas leis muçulmanas que os actores menores tiveram de emigrar à custa dos estúdios.

Amir é um rapaz de posses que vive com o pai e um criado. Hassan, filho desse criado, é o seu único amigo e uma pessoa verdadeiramente especial. A dedicação a Amir é enorme. É o seu guarda-costas e o seu kite runner/corredor de papagaios: quando nas lutas de papagaios se corta o fio do adversário, o corredor que lá chegar primeiro fica com os destroços. Amir retribui a amizade lendo para Hassan que nunca foi à escola. O amor de Amir pela leitura estende-se também à escrita, incentivado por Rahim Khan, um amigo do pai.
Quando por medo Amir falha como amigo a vergonha é tal que expulsa Hassan de casa para não ter de o encarar. Anos depois os soviéticos invadem Cabul e Amir e o seu pai anti-comunista vêem-se obrigados a fugir na clandestinidade. Passam os anos e um Amir adulto, respondendo a um apelo de Rahim Khan, voltará a um país agora dominado pelos talibãs para saldar a sua divida. A principal diferença que encontra é que a vida não tem valor e a honra não tem significado.

Há muita gente de parabéns por este filme. A constante troca nos diálogos entre árabe e inglês dá um ar real às personagens. A realização está muito boa e os planos aéreos sabem a pouco. A caracterização das personagens mais velhas, o pai e Rahim Khan, está excelente. Talvez por isso o melhor do filme seja a interpretação de Homayoun Ershadi (o pai). Como quarenta ou setenta anos tem uma presença e uma expressão inacreditáveis.
Lançado numa época crítica das relações do mundo com os árabes, o livro foi um enorme sucesso pelo retrato de um povo ostracizado. A passagem a filme não ia ser fácil. A propaganda anti-talibã foi retirada, a mensagem de medo é tão bem passada que isso seria redundante. O número de personagens foi reduzido, uma foi alterada para melhor, mas as fundamentais estão lá. No fim cortam o pedaço menos emocionante – lidar com burocracias - transmitindo só a acção. Não se sente o tempo a passar, mas todos esses detalhes juntos fariam com que o filme chegasse perto das três horas.


Título Original: "The Kite Runner" (EUA, 2007)
Realização: Marc Foster
Argumento: David Benioff baseado no livo de Khaled Hosseini
Intérpretes: Khalid Abdalla, Atossa Leoni, Shaun Toub, Homayoun Ershadi
Fotografia: Roberto Schaefer
Música: Alberto Iglesias
Género: Drama
Duração: 128 min.
Sítio Oficial: http://www.kiterunnermovie.com/

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