O cinema como reunião familiar não tem necessariamente de ser na ida à sala e comunhão frente ao ecrã. Claude Chabrol ("Les Noces rouges" - 1973, "L'Ivresse du pouvoir" - 2006) une-se aos filhos Thomas (este como actor secundário) e Matthieu (este na banda sonora) no set, e ainda com a enteada Cécile Maistre nas funções de assistente de produção e co-argumentista, para a produção e realização deste "La Fille coupée en deux" / "A Rapariga Cortada em Dois".
Gabrielle Deneige (Ludivine Sagnier, "Swimming Pool" - 2003) é uma jovem apresentadora de metereologia numa televisão local de Lyon, com aspirações a ir mais longe na sua carreira. mas não a todo o custo. E é desse modo que se compreende o constante afastar das investidas amorosas do director do canal onde trabalha. Filha da dona de uma pequena livraria (Marie Bunel), é lá, numa sessão de autógrafos, onde conhece Charles Saint-Denis (François Berléand, "Les Choristes" - 2004), aclamado escritor, que havia dado recentemente à luz o seu segundo romance. Uma simples troca de olhares confirma o que viria a suceder: Gabrielle enceta uma tórrida relação com Denis, apesar da enorme diferença de idade que os separa.
Mas, e sem contar com tal, Deneige vê-se dividida entre dois homens, pois a sua paixão pelo escritor é alvo de provações quando se vê literalmente perseguida por Paul Gaudens (Benoît Magimel, "La Pianiste", 2001), um puto mimado, herdeiro da abastada famacêutica Gaudens, "habituado a ter o que quer", como lascivamente confessa.
Charles brinca com aquela paixão e com a sua enamorada, dispondo da relação a seu bel-prazer: apesar de casado com belíssima Dona (Valeria Cavalli), não se coibe de a apresentar à alta roda e aos salões de luxúria e de boémia da cidade. No entanto, Deneige, ignorada de forma definitiva e excessiva pelo autor, cai nos braços de Gaudens, casando-se com ele. Mas, a sua relação com este dandy psicopata nunca é a melhor, traduzindo-se a viagem feita a Lisboa pelo casal antes e depois da boda no mesmo ambiente de tensão e desconfiança.
Tal só poderia terminar de forma irreversível, com o desaparecimento de um dos vértices deste triângulo amoroso.
A opção de Ludivine por um homem mais velho ou pela sua antítese nunca seria pacífica. Magimel tece um personagem de fino recorte, irritante, boémio e convencido, elegantemente vestido e dono de tiques de nobreza avassaladores. Trabalha com Chabrol toda a mise en scène de uma realeza assustada e frágil, incapaz de traduzir por palavras os temores, concentrando a sua idiossincracia numa gama de gestos, o que o eleva como motor da peça cinematográfica.
Aliás, todo o ambiente tecido, enriquecido pela bela fotografia do português Eduardo Serra ("Girl with a Pearl Earring", 2003) contrasta com vários compartimentos estanques que se vão criando ao longo da fita, perdendo-se consistência e, por fim, algum interesse na trama. Não por culpa da direcção de actores, que está muito conseguida, nem pela interpretação da angélica Ludivine, ou dos registos impressos pela editora literária Capucine (Mathilda May), e muito menos assacar-se-à responsabilidade aos extremos que são Geneviève Gaudens (Caroline Sihol) e Marie Deneige (Marie Bunel). Tal heterogeneidade resulta essencialmente da tentação cedida por Chabrol de resvalar para uma ergonomia circense, que culmina com o serrar ao meio da protagonista.
Apesar de tudo, é um filme na linha dos do realizador francês, que amiude se contenta em apresentar um trabalho como este.
Gabrielle Deneige (Ludivine Sagnier, "Swimming Pool" - 2003) é uma jovem apresentadora de metereologia numa televisão local de Lyon, com aspirações a ir mais longe na sua carreira. mas não a todo o custo. E é desse modo que se compreende o constante afastar das investidas amorosas do director do canal onde trabalha. Filha da dona de uma pequena livraria (Marie Bunel), é lá, numa sessão de autógrafos, onde conhece Charles Saint-Denis (François Berléand, "Les Choristes" - 2004), aclamado escritor, que havia dado recentemente à luz o seu segundo romance. Uma simples troca de olhares confirma o que viria a suceder: Gabrielle enceta uma tórrida relação com Denis, apesar da enorme diferença de idade que os separa.
Mas, e sem contar com tal, Deneige vê-se dividida entre dois homens, pois a sua paixão pelo escritor é alvo de provações quando se vê literalmente perseguida por Paul Gaudens (Benoît Magimel, "La Pianiste", 2001), um puto mimado, herdeiro da abastada famacêutica Gaudens, "habituado a ter o que quer", como lascivamente confessa.
Charles brinca com aquela paixão e com a sua enamorada, dispondo da relação a seu bel-prazer: apesar de casado com belíssima Dona (Valeria Cavalli), não se coibe de a apresentar à alta roda e aos salões de luxúria e de boémia da cidade. No entanto, Deneige, ignorada de forma definitiva e excessiva pelo autor, cai nos braços de Gaudens, casando-se com ele. Mas, a sua relação com este dandy psicopata nunca é a melhor, traduzindo-se a viagem feita a Lisboa pelo casal antes e depois da boda no mesmo ambiente de tensão e desconfiança.
Tal só poderia terminar de forma irreversível, com o desaparecimento de um dos vértices deste triângulo amoroso.
A opção de Ludivine por um homem mais velho ou pela sua antítese nunca seria pacífica. Magimel tece um personagem de fino recorte, irritante, boémio e convencido, elegantemente vestido e dono de tiques de nobreza avassaladores. Trabalha com Chabrol toda a mise en scène de uma realeza assustada e frágil, incapaz de traduzir por palavras os temores, concentrando a sua idiossincracia numa gama de gestos, o que o eleva como motor da peça cinematográfica.
Aliás, todo o ambiente tecido, enriquecido pela bela fotografia do português Eduardo Serra ("Girl with a Pearl Earring", 2003) contrasta com vários compartimentos estanques que se vão criando ao longo da fita, perdendo-se consistência e, por fim, algum interesse na trama. Não por culpa da direcção de actores, que está muito conseguida, nem pela interpretação da angélica Ludivine, ou dos registos impressos pela editora literária Capucine (Mathilda May), e muito menos assacar-se-à responsabilidade aos extremos que são Geneviève Gaudens (Caroline Sihol) e Marie Deneige (Marie Bunel). Tal heterogeneidade resulta essencialmente da tentação cedida por Chabrol de resvalar para uma ergonomia circense, que culmina com o serrar ao meio da protagonista.
Apesar de tudo, é um filme na linha dos do realizador francês, que amiude se contenta em apresentar um trabalho como este.
Título Original: "La Fille coupée en deux" (França/Alemanha, 2008) Realização: Claude Chabrol Argumento: Claude Chabrol e Cécile Maistre Intérpretes: Ludivine Sagnier, Benoît Magimel e François Berléand Fotografia: Eduardo Serra Música: Matthieu Chabrol Género: Drama / Thriller Duração: 115 min. Sítio Oficial: http://www.lafillecoupeeendeux.com |
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