Comemorar cem anos é já por si um acontecimento biológico. Mas quando esse centenário é comemorado na plenitude das suas faculdades intelectuais, cognitivas e artísticas, o feito é ainda de maior relevância. E passar o dia de anos a fazer o que mais se gosta, neste caso a filmar, é motivo para se dizer que não é trabalho, é prazer.
Cantar os parabéns neste blog a Manoel de Oliveira é das maiores satisfações que pode animar a comunidade de cinéfilos, unidos em todo o mundo por esta paixão comum pelo cinema.
No fundo todos temos alguma razão para celebrar Oliveira. Os portuenses mais aguerridos valorizarão a sua imagem de marca granítica e portuense que resistiu a todos os encantos de sereia. Os amantes das trivialidades lembrarão o seu nome no Guiness como recorde de longevidade e trabalho. Os estrangeirados sentem-se representados pelo prestígio internacional que Cannes e Veneza sempre lhe concederam. Os amantes do preto e branco elegem "Aniki-Bobó" ou "Douro, Faina Fluvial" como expoentes do cinema tout court, enquanto os literatos apreciam a sua ligação a conhecidos ou menos famosos suportes literários da sua obra (a culminar actualmente com "Singularidades de uma Rapariga Loira" de Eça de Queiroz). Mesmo os seus detractores e os que nunca viram nem querem ver os seus filmes não resistem a uma jovialidade, sentido de humor e amor pela vida que Manoel de Oliveira encarna na perfeição. Até mesmo Rui Rio poderá ficar satisfeito porque pode guardar a chave de ouro da cidade que Manoel se recusa a receber para não colaborar com aproveitamentos eleitorais de última hora.
Parabéns pois a este homem do cinema que é um exemplo para todos nós. Ficamos à espera dos próximos capítulos, sob a forma de filme, que queira ir acrescentando a esta invejável condição de Artista.
António Reis
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