No meio de tantas más notícias ao menos o cinema deu-nos um motivo para comemorar na despedida de 2010. Dezasseis milhões e meio de espectadores para o mercado português num ano de crise, não deixa de ser um número interessante, sobretudo porque é o melhor desde 2004. Os pessimistas tenderão a valorar o rácio de 1,55 filmes por habitante, indicador confrangedor do nosso panorama cultural e cinematográfico. Mas os optimistas não deixarão de apreciar o facto de o cinema em sala ter resistido muito bem a todos os desafios que se lhe colocaram. Resistir à crise económica, à pressão do home cinema e à pirataria dos downloads, é um facto notável.
Sem querer enveredar pelo discurso nostálgico das vantagens do cinema visionado numa sala escura e num ecrã maior que a vida, cinema mesmo, não é compatível com formatos pequenos ou com visionamentos solitários. O cinema é um facto sociológico e esta dimensão longe de se esgotar. Com pipocas ou refrigerantes, ou numa versão ritualista e cinéfila, um filme requer companhia e envolvência social. Não por acaso Lumiére triunfou e as propostas de Edison de um espectador sozinho diante do seu aparelho não vingaram.
Esqueçamos pois que nos quarenta filmes mais vistos apenas estão produções faladas em inglês e finjamo-nos distraídos por nenhum filme português ter passado dos cem mil espectadores num ano em que a produção nacional foi reconhecida pelos quatro cantos do mundo.
Dezasseis milhões e meio é um bom presságio para 2011. Afinal em anos de crise o cinema sempre se tem saído bem.
Pena é que os dados divulgados pelo ICA não permitam um melhor estudo do panorama.
António Reis
0 comentários:
Enviar um comentário