24 de julho de 2006

Privatização do Rivoli



A Câmara do Porto pretende livrar-se do Rivoli. A razão apresentada foi uma reforma estrutural, mas facilmente as razões políticas são descobertas. A cedência do Pavilhão Rosa Mota também levanta muitas questões, mas neste blog a cultura é prioritária, por isso, falemos do Rivoli.

Com a cedência desse espaço a Filipe La Féria o que sucederá à cultura nortenha? Como pode um lisboeta agradar ao Porto quando as culturas são tão diferentes? O que sucederá às nossas raízes culturais? Darão lugar ao fado?

O mais grave é que sem este edifício municipal diversos eventos lá realizados seriam deslocados para outras cidades ou terminados. Se para alguns eventos não faz diferença, o que dizer daqueles que foram colocados no Rivoli por falta de alternativas? Se 70% do investimento cultural se faz em Lisboa é porque no resto do país não temos espaços destinados a esse fim.
O Museu de Serralves e a Casa da Música, com eventos todo o ano e com edifícios próprios, são famosos em todo o país, mas além fronteiras um único evento torna o Porto uma Capital da Cultura ano após ano. Em todos os continentes existem pessoas interessadas em vir ao Porto para assistir ao festival de cinema. Depois de 26 anos de crescimento contínuo ao lado do Porto, muitas vezes com dificuldades, será desta que o Fantas deixará cair o sufixo? Não, foi o Porto que primeiro deixou cair o Fantas.

Está a ser assinada uma petição e foi marcada para hoje uma manifestação, Juntos No Rivoli.

20 de julho de 2006

Portugal vence no estrangeiro




O Festival Internacional de Cinema Documental de Marselha, terminado no passado dia 11, galardoou filmes lusófonos.

O filme "Encontros", produzido em Portugal e realizado por Pierre-Marie Goulet (argumentista de "O Herói" de Zezé Gamboa), ganhou o prémio de Melhor Som, o brasileiro Eduardo Coutinho com "O Fim e o Princípio" arrecadou o Grande Prémio Internacional. Ambos os títulos foram partilhados com outros filmes.
Eis o palmarés da competição:





Grande Prémio da Competição Internacional


Ex- aequo
"Là-Bas" de Chantal Akerman, 2006 – França
"O Fim e o Princípio" de Eduardo Coutinho, 2005 – Brasil

Grande Prémio da Competição Francesa


"Les Hommes" de Ariane Michel, 2006 – França

Prémio Primeiro Filme


"Tian Li" de Song Tian, 2006 - China
Menção Honrosa: "Paraiso" de Felipe Guerrero, 2006 – Colômbia

Prémio de Melhor Som


Ex-aequo
"Encontros" de Pierre-Marie Goulet / Som: Francis Bonfanti, 2006 - Portugal
"Alsateh" de Kamal Aljafari / Som: Antoine Brochu e Gilles Laurent, 2006 - Palestina

Prémio Georges de Beauregard


"El Comité" de Mateo Herrera, 2005 - Equador
Menção Honrosa: "The Wash" de Lee Lynch e Lee Ann Schmitt, EUA – 2005

Competição Francesa


"La Prisonnière du Pont Aux Dions" de Gaël Lépingle, 2005 – França
Menção Honrosa: "Au Diable Vauvert" de Thierry Lanfranchi, 2005 – França

Prémio das Mediatecas


"VHS - Kahloucha" de Nejib Belkadhi, 2006 - Tunísia

Prémio do Grupo Nacional de Cinema de Pesquisa


"Le Brahmane du Kimintern" de Vladimir Léon, 2006 - França

Prémio Esperança Marselhesa


"Resonating Surfaces" de Manon de Boer, 2005 – Países Baixos

12 de julho de 2006

Cinema no Verão



CINEMA NO VERÃO, uma organização conjunta do FIKE 2006 - Festival Internacional de Curtas Metragens de Évora e da Câmara Municipal de Évora, terá sessões às terças-feiras de Julho e Agosto na Praça do Sertório (Frente à Câmara Municipal de Évora) sempre às 22 horas. Aqui fica o programa

Programa:

18 de Julho - Filme concerto AURORA (F.W.Murnau) acompanhado ao piano por Filipe Raposo

25 de Julho - Charlie e a Fábrica de Chocolate (Tim Burton)

1 de Agosto - Match Point (Woody Allen)

8 de Agosto - Coisa Ruim (Tiago Guedes e Frederico Serra)

15 de Agosto - Elizabethtown - Cameron Crowe

22 de Agosto - Terapia do Amor - Ben Younger

27 de Agosto - Opinião Pública - Charlie Chaplin - Filme Concerto


3 de junho de 2006

PALMARÉS DA 59º FESTIVAL DE CANNES



LONGAS METRAGENS

PALMA DE OURO
THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY realizado por Ken LOACH

GRANDE PRÉMIO
FLANDRES realizado por Bruno DUMONT

MELHOR ARGUMENTO
Pedro ALMODÓVAR por VOLVER

MELHOR REALIZADOR
Alejandro González IÑÁRRITU por BABEL

MELHOR ACTOR
EX-ÆQUO
Jamel DEBBOUZE, Samy NACÉRI, Roschdy ZEM, Sami BOUAJILA, Bernard BLANCAN em INDIGÈNES realizado por Rachid BOUCHAREB

MELHOR ACTRIZ
EX-ÆQUO
Penélope CRUZ, Carmen MAURA, Lola DUEÑAS, Blanca PORTILLO, Yohana COBO, Chus LAMPREAVE EM VOLVER realizado por Pedro ALMODÓVAR

PRÉMIO DO JÚRI
RED ROAD realizado por Andrea ARNOLD

CURTAS METRAGENS

PALMA DE OURO
SNIFFER realizador por Bobbie PEERS

PRÉMIO DO JÚRI
PRIMERA NIEVE (Première neige) realizado por Pablo AGUERO

MENÇÃO ESPECIAL
CONTE DE QUARTIER realizado por Florence MIAILHE

PRÉMIO UN CERTAIN REGARD
LUXURY CAR (Voiture de luxe) realizado por WANG Chao

PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI – UN CERTAIN REGARD
TEN CANOES realizado por Rolf De HEER

MELHOR ACTRIZ – UN CERTAIN REGARD
Dorotheea PETRE em CUM MI-AM PETRECUT SFÂRSITUL LUMII realizado por Catalin MITULESCU

MELHOR ACTOR – UN CERTAIN REGARD
Don Angel TAVIRA em EL VIOLÍN realizado por Francisco VARGAS

PRÉMIO DO PRESIDENTE DO JÚRI – UN CERTAIN REGARD
MEURTRIÈRES realizado par Patrick GRANDPERRET

CAMÉRA D’OR
A FOST SAU N-A FOST? resalizado por Corneliu PORUMBOIU apresnetado na Quinzena dos Realizadores

CINÉFONDATION

PRIMEIRO PRÉMIO
GE & ZETA realizado por Gustavo RIET

SEGUNDO PRÉMIO
MR. SCHWARTZ, MR. HAZEN & MR. HORLOCKER realizado por Stefan MUELLER

TERCEIRO PRÉMIO
EX-ÆQUO
MOTHER realizado por Siân HEDER, A VÍRUS realizado por Ágnes KOCSIS

A POLÍTICA QUE EMBALA O BERÇO DE CANNES



A bullet pierced my true love's side in life's young spring so early
And on my breast in blood she died while soft winds shook the barley
But blood for blood without remorse I've taken at Oulart Hollow
And laid my true love's clay cold corpse where I full soon may follow
As round her grave I wander drear, noon, night and morning early
With breaking heart when e'er I hear the wind that shakes the barley


in The Wind that Shakes the Barley, canção tradicional irlandesa




Por cá, a versão mais conhecida desta bela canção tradicional irlandesa é cantada por Lisa Gerrard e Brendan Perry, os Dead Can Dance, no disco "Into the Labyrinth". A partir de agora, vamos conhecer o filme que se apropriou do nome e, diria mesmo, da canção. "The Wind that Shakes the Barley" de Ken Loach ganhou a 59ª edição do Festival de Cinema de Cannes. A política está, definitivamente, em Cannes, depois de "Fahrenheit 9/11" de Michael Moore em 2004.

Uma história de ingleses na Irlanda, de dois irmãos colocados em lugares opostos nos idos anos 20, do século passado, da revolução anti britânica, encontrou demasiadas analogias com a actualidade e conquistou o coração do júri de Cannes, liderado pelo realizador Wong Kar Way. O realizador inglês, Ken Loach, confessou na conferência de imprensa, logo depois do visionamento em Cannes que, qualquer semelhança com a guerra do Iraque, não era coincidência. Cillian Murphy encabeça um corpo de actores experientes e fabulosos. O filme é um poderoso drama humano que se perde na política. Mas, será que é o melhor filme da edição 59 do festival de Cannes? … talvez!

No palmarés desra edição do festival há outros filmes a não perder. Antes de Pedro Almodóvar ("Volver"), sempre Pedro Almodovar e de Alejandro González Iñarritu ("Babel"), destaque para "Red Road" de Andrea Arnold – Prémio do Júri. Este sim, um poderosíssimo drama humano. Uma mulher que trabalha numa sala de vigilância, de uma Escócia decadente, vê numa das câmaras o homem que matou a sua filha e o marido. Apostada em colocar aquele homem de novo atrás das grades, ela não olha a meios… nem o sexo escapa. Red Road é o nome que dão aos prédios para onde vão viver os menos abonados e os ex presidários.

De Almodovar esperava-se exactamente o que "Volver" nos dá. Drama, comédia, fantasia, só como o criador de "Fala com Ela" sabe. As actrizes estão maravilhosas (Penélope Cruz e Carmen Maura á cabeça). Mas, a história conquista qualquer coração atento.

Alejandro González Iñarritu confirmou o talento que todos sabemos que tem. "Amor Cão" e "21 Gramas" são grandes filmes do mexicano, "Babel" também, ponto final. Os dramas familiares, pessoais e colectivos são abordados em novas três histórias com Bradd Pitt e Cate Blanchett no elenco.

Filmes mal recebidos da 59ª edição do Festival de Cannes terão de ser os de Richard Kelly e Sofia Coppola.
"Southland Tales" do criador de "Donnie Darko" é um quadro lindo de se ver, visualmente arrebatador, com toques de David Linch, e com uma wave of mutilation dos Pixies e não só. No entanto, o argumento é demasiado confuso e rebuscado para agradar a todos. É preciso ter paciência para ver as 3 horas de histórias futuristas, de um mundo em caos, sem petróleo, com um novo combustível feito a partir das ondas do mar!! Contudo, nota muito positiva para uma Sarah Michelle Gellar a descolar da Caçadora de Vampiros e a afirmar-se como uma actriz!
"Marie-Antoinette" da filha de Francis Ford Coppola, Sofia Coppola, apresenta um retrato algo estilizado da rapariga que, em 1774, aos 19 anos foi rainha de França. Os franceses não gostaram. Se calhar embirraram com a criadora de "O Amor é um Lugar Estranho". A ver vamos o mundo!

Para o ano há mais…

César Nóbrega

1 de junho de 2006

Escritor e realizador norte-americano Paul Auster a filmar em Portugal

PRÉMIO PRÍNCIPE DE ASTURIAS DAS LETRAS 2006




O romancista e realizador norte-americano, Paul Auster, foi distinguido com o Prémio Príncipe de Asturias das Letras 2006.

Autor de vários best sellers como Timbuctu, O Livro das Ilusões ou Música ao Acaso, Paul Auster nasceu em Nova Jérsia em 1947. Nos seus livros a influência cinematográfica é evidente. As suas histórias desenrolam-se como se se tratasse de um thriller

Em 1995 teve a sua primeira experiência como realizador, ao trabalhar com Wayne Wang em Smoke. Segui-se Blue in the Face com o mesmo Wang e em 98 fez o seu primeiro filme a solo: Lulu on the Bridge.

Paul Auster está nesta altura em Portugal a rodar o seu novo filme, The Inner Life of Martin Frost, produzido pela Clap Filmes, de Paulo Branco, em co-produção com as produtoras francesa Alma Films e a espanhola Tornasol Films.

Nos principais papéis estão os actores David Thewlis (famoso pelo seu papel em Naked de Mike Leigh e que entretanto participou em outros filmes, nomeadamente Sete Anos no Tibete e, mais recentemente, em Harry Potter e Instinto Fatal 2), a francesa Irène Jacob (conhecida pelos filmes de Krzystof Kieslowsky e em particular Vermelho), Michael Imperioli (da série Os Sopranos ou de Summer of Sam de Spike Lee) e Sophie Auster.

Na equipa técnica estão o director de fotografia francês Christophe Beaucarne, a directora artística Zé Branco e a música do filme será da autoria de Alexandre Desplat (que ultimamente fez a música de filmes como Syriana, Firewall e De Tanto Bater o Meu Coração Parou).

César Nóbrega

19 de maio de 2006

Qual é o tema de conversa esta semana?






Ocasionalmente há semanas assim. Com o lançamento mundial de um blockbuster todos os grandes filmes por estrear permanecem escondidos, à espera que ele se afaste.

Mas será que as expectativas serão cumpridas? A imprensa em Cannes ficou indiferente e a pressão de muitos grupos religiosos pode fazer com que o público não corra a ver o filme. Dentro de uma semana já saberemos se a nível de bilheteiras foi um sucesso ou um fracasso e código algum poderá esconder.

14 de maio de 2006

Últimas da 59ª edição do Festival de Cinema de Cannes


Já falta pouco para começar a 59ª edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes. Na próxima quarta-feira, 17 de Maio, a Croisette enche-se de amantes, profissionais do cinema, e não só, para uma semana e pouco de festa.

Só agora se sabem as composições de dois importantes júris deste festival:

Composição do Júri Un Certain Regard

Presidente
Monte Hellman (realizador e produtor, Estados Unidos da América)

Restantes membros
Marjane Satrapi (escritor e ilustrador, Irão)
Laura Winters (jornalista, Estados Unidos da América)
Maurizio Cabona (jornalista, Itália)
Jean-Pierre Lavoignat (jornalista, França)
Lars-Olav Beier (jornalista, Alemanha)

O Júri Un Certain Regard vai entregar na Cerimónia de Encerramento da 59ª edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes, o Prémio Un Certain Regard - Gan Foundation Prize, atribuiído ao Melhor Filme. Além deste, são entregues outros dois galardões, de entre os filmes em competição na secção..
No ano passado, o Prémio Un Certain Regard foi atribuído ao filme de Cristu Puiu, The Death of Mr. Lazarescu.

Composição do Júri Camera d'Or

Presidentes
Jean-Pierre and Luc Dardenne (realizadores, Bélgica)

Restantes Membros
Jean-Paul Salomé (realizador, França)
Luiz Carlos Merten (crítico de cinema, Brasil)
Frédéric Maire (representante do Festival de Locarno na Suiça)
Jean-Louis Vialard (fotógrafo da AFC, França)
Alain Riou (crítico de cinema, França)
Natacha Laurent (Cinemateca de Toulouse, França)
Jean-Pierre Neyrac (técnico, França)

O Prémio Camera d'Or foi criado em 1978 por Gilles Jacob e é atribuído ao Melhor Primeiro Filme apresentado na Secção Oficial do Festival Internacional de Cinema de Cannes, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica.
Em 2006, o número de primeiros filmes, entre a Secção Oficial e as secções paralelas, é, significativamente maior que em anos anteriores, atestando a presença de jovens realizadores.
No ano passado, o prémio Camera d'Or foi atribuído a Sulanga Enu Pinisa (The Forsaken Land) de Vimukthi Jayasundara (Un Certain Regard) e Me and You and Everyone We Know (Toi, Moi et tous les Autres) de Miranda July (Semana da Crítica).

Como nota de rodapé, a informação que a edição 59 do Festival Internacional de Cinema de Cannes vai apresentar, fora da competição, o mais recente filme de Kevin Smith, Clerks 2. (Sexta-feira, 26 de Maio).

César Nóbrega

2 de maio de 2006

Tim Burton juri no Festival de Cannes


O produtor, realizador e argumentista norte-americano Tim Burton integra o Júri da Cinéfondation na 59ª edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes.
O realizador de filmes como A Noiva Cadáver e Charlie e a Fábrica de Chocolate (2005), Batman (1989) e Beetle Juice (1988), entre outros, faz parte do Júri presidido pelo realizador e argumentista russo Andrei Konchalovski. Em 1979, Konchalovski ganhou o Grande Prémio do Júri do festival com o filme Sibiriada, tendo sido nomeado para a palma de Ouro quatro vezes.
Além de Tim Burton e Andrei Konchalovski fazem parte do Júri Cinéfondation, a actriz francesa Sandrine Bonnaire (Femme Fatale, 2002), o realizador malaio Souleymane Cissé (Waati, 1995), o actor espanhol com ascendências alemãs Daniel Bruhl (Good Bye Lenin!, 2003) e o músico polaco Zbigniew Preisner (Azul de Krzysztof Kieslowski, 1993).
O juri anuncia a 26 de Maio os três prémios que atribui na edição deste ano no festival e a 28 de Maio, na Cerimónia de Encerramento entrega a Palma de Ouro para Melhor Curta-metragem.

César Nóbrega

27 de abril de 2006

”L’Enfant” por António Reis



O grande vencedor do festival de Cannes de 2005 dos irmãos Dardenne vai finalmente estrear em Portugal, quase com um ano de atraso. Não surpreende que o júri tenha sido sensível a esta história de adolescência marginal e conturbada, mas onde não falta a esperança de uma redenção.
Apesar de um estilo próximo da docuficção “L’Enfant” afasta-se do documental típico e até do estilo tradicional dos Dardenne. Quem viu “Pleasant Days” no último Fantasporto acaba por encontrar entre os dois filmes imensas semelhanças nas temáticas, nos personagens e até nas soluções.
Um casal de adolescentes acaba de ter uma criança. Entre o instinto maternal que se desenvolve em Sonia e a oportunidade de um negócio de venda da criança que se coloca a Bruno (o seu namorado) o filme vai narrando com grande economia emotiva mas com sinceridade e realismo o drama de casais adolescentes. Os Dardenne não resistiram a transformar um caso de polícia numa parábola moral onde o amor e a esperança prometem triunfar sobre a delinquência.
Para que subsistam dúvidas é um filme interessante, narrativamente sem falhas, estilisticamente muito cuidado. Cannes dificilmente poderia resistir a premiar um filme francófono e sobretudo de aproveitar a oportunidade para premiar os Dardenne. No equilíbrio de forças e de lobbys em que os prémios sempre se envolvem “L’Enfant” merece a boa palma.



Título Original: "L’Enfant" (Bélgica,França 2005)
Realização: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Intérpretes: Jérémie Renier, Déborah François, Jérémie Segard
Argumento: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Fotografia: Alain Marcoen
Género: Drama
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.zeusfilm.com/thechild

24 de abril de 2006

”Inside Man” por António Reis


Um golpe mais que perfeito
Inside Man” é um magnífico exercício de estilo sobre o policial, mesmo que seja sobre a mais inverosímil história de um assalto.
Tudo na história é improvável: o negociador parece um dandy de fato branco e panamá, o dono do banco (Christopher Plummer) é um inimaginável banqueiro de consciência pouco limpa, Jodie Foster é uma negociadora inconsistente, o mestre do crime tem a imaginação mais prodigiosa e delirante desde Danny Ocean. Transformar um assalto a um banco no coração de Manhattan com tomada de reféns, onde não se rouba dinheiro, não se pretende negociar, não se distinguem os assaltantes dos clientes, não é o modelo convencional de um assalto. Nesta anatomia de um crime falta o essencial, ou seja, o crime. Com estes ingredientes Spike Lee faz um dos seus mais brilhantes filmes, demonstrando a sua mestria na comédia policial, ainda que se afaste das suas temáticas tradicionais e do seu humor um pouco “negro”. Uma banda sonora étnica deslumbrante, uma fotografia em tom sépia e cinza de uma qualidade extrema, fazem de “Inside Man” uma das melhores comédias do ano. Para acalmar os puristas do género o desenlace do filme, completamente impossível mas de uma imprevisibilidade absoluta, faz entrar nos eixos o policial. O roubo serve-se frio, como queria Hitchcock, os maus se não são castigados são pelo menos amedrontados, os polícias quando não são corruptos deixam-se tentar por um pequeno anel de diamantes, os mastermind do golpe são recompensados pelo seu engenho. Quem viu o filme seguramente que recordará com ironia a irresistível cena do discurso de Enver Hodja, uma das tiradas mais geniais de todo o filme, um gag digno de emparceirar com os melhores de Woody Allen. Por isto tudo merece seis estrelas em cinco possíveis, sendo a estrela excedentária pelo humor que bem falta anda a fazer no cinema americano.



Título Original: "Inside Man" (EUA, 2006)
Realização: Spike Lee
Intérpretes: Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, Christopher Plummer, Willem Dafoe
Argumento: Russell Gewirtz
Fotografia: Matthew Libatique
Música: Terence Blanchard e A.R. Rahman
Género: Acção/Comédia/Policial
Duração: 129 min.
Sítio Oficial: http://theinsideman.net/

20 de abril de 2006

Pedro Costa na Selecção oficial da 59ª edição do Festival de Cinema de Cannes


Juventude em Marcha escrito e realizado por Pedro Costa foi seleccionado para integrar a selecção oficial da 59ª edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes que decorre entre os próximos dias 17 e 28 de Maio.
Juventude em Marcha é o mais recente filme do realizador lisboeta de 47 anos. Em 2000 Pedro Costa ganhou o France Culture Award neste festival com o filme No Quarto da Vanda. Contudo, o seu mais conhecido filme data de 1997: Ossos, distinguido no Festival de Cinema de Veneza com o Prémio Golden Osella.
Da selecção oficial da 59ª edição fazem parte filmes como Volver de Pedro Almodóvar, Maria-Antoinette de Sofia Coppola, El Laberinto del Fauno de Guillermo Del Toro, Babel de Alejandro Gonzaléz Iñárritu, Southland Tales de Richard Kelly, The Winds that Shakes the Barley de Ken Loach e Il Caimano de Nani Moretti, entre outros.
A abrir o Festival de Cinema de Cannes vai estar o mais recente filme de Ron Howard The Da Vinci Code.

César Nóbrega


10 de abril de 2006

FEST 2006


Começou ontem no Centro Multimeios, em Espinho, a 3ª Edição do FEST - Festival de Cinema e Vídeo Jovem de Espinho, com a exibição em antestreia de "Half Light", com Demi Moore no principal papel. Com 19 sessões competitivas e 124 filmes a concurso, o certame conta ainda com a exibição de vários filmes em antestreia, bem como encontros com realizadores, produtores e actores, alguns dos quais irão leccional master classess sobre variados assuntos. Vale, indubitavelmente uma(s) visita(s) a Espinho, quer pelas sessões cinematográficas, quer pelo fantástico ambiente que rodeia todo o festival. Para mais informações, www.fest.pt.


6 de abril de 2006

"Basic Instinct 2" por Nuno Reis

Sharon Stone pode ter sido nomeada para um Óscar por “Casino” mas a resumir a carreira a um filme ele seria “Basic Instinct”. É incrível como um simples descruzar de pernas pode marcar toda uma carreira. Mais de dez anos depois foi feito um esforço para criar um remake digno do original, Michael Caton-Jones realizou, Charlotte Rampling é uma das secundárias e o argumento é dos autores de “Venus Rising”. Sharon Stone voltou por quase 20 vezes mais do que recebeu no original (subiu de 750000 para treze milhões e meio). O resultado? Uma desilusão pior do que o esperado.

A história volta a seguir Catherine Tramell, uma sedutora psicopata que mata impunemente apenas pela emoção. A vítima da intriga volta a ser um polícia mas desta vez o protagonismo é assumido por um psicanalista (David Morrisey). O filme começa com Catherine a ter relações num carro que se afunda, nesse acidente morre um famoso futebolista o que a lança num rodopio de mediatismo coincidente com as suas ambições. Michael Glass é o homem indicado pelo Ministério para traçar o perfil dela e determinar se pode sair em liberdade. Como todos antes dele também o doutor acabará por se apaixonar e cair numa trama de sentidos que o levará a ser acusado dos crimes que ela comete.

Stone tem um bom papel e mais uma vez encaixa na personagem como ninguém. Apesar dos cinquenta anos continua a ser deslumbrante e não tem nada de que se envergonhar nas variadas cenas de nudismo. O resto do filme tenta afastar-se dela e mostrar o drama de Michael mas cai em vários lugares comuns e repete tudo aquilo que foi visto em demasiados filmes. É um título para esquecer.




Título Original: "Basic Instinct 2" (EUA, 2005)
Realização: Michael Caton-Jones
Intérpretes: Sharon Stone, David Morrissey, Charlotte Rampling
Argumento: Leora Barish e Henry Bean
Fotografia: Gyula Pados
Música: John Murphy, Jerry Goldsmith
Género: Crime/Drama/Thriller
Duração: 114 min.
Sítio Oficial: Basic Instinct 2

3 de abril de 2006

"V for Vendetta" por Nuno Reis


Com a chegada das férias começam a estrear por cá alguns dos blockbusters que já causaram sensação um pouco por todo o mundo. Hoje o destaque vai para “V for Vendetta”, um filme futurista que alerta para os perigos escondidos na actualidade. A sociedade desta nova Inglaterra foi inspirada na Alemanha dos anos 30. Também aqui os não cristãos, os homossexuais e os revolucionários da oposição são exterminados, a normalidade é a necessidade absoluta e o Chanceler tudo fará para a conseguir.

O super-herói desta banda desenhada escapa ao normal. O (anti-)herói da história é V, um homem misterioso que usa sempre máscara, é imune às balas e move-se com uma velocidade estonteante. Em tudo o resto não se parece com um herói pois não tem identidade secreta e é capaz de fazer tudo, sem sentir remorsos… Como nenhum homem poderia combater o sistema, essa tarefa é assumida por um ideal, V não é um humano, é a encarnação desse ideal.

Cinco de Novembro é a data fulcral. V anuncia com um ano de antecedência que pretende fazer explodir o Parlamento exactamente no mesmo dia em que Guy Fawkes o tentou e usando sempre uma máscara desse revolucionário vai matando alvos seleccionados. Enquanto isso Fich, o inspector encarregado de o capturar, em busca da identidade de V vai juntando as peças do passado e percebe que algo de errado foi escondido em relação aos atentados perpetrados por terroristas vinte anos antes que levaram às rápidas transformação político-sociais. Teria o governo sido capaz de realizar um ataque contra o seu próprio povo para levar as pessoas a odiar e a combater? Não foi isso insinuado em relação à tragédia do 9/11? Uma sociedade tão facilmente comparável à de “1984” e porém tão igual ao mundo em que vivemos. O medo do terrorismo e a paranóia da segurança levou os governos a limitarem ao máximo a liberdade do indivíduo. A obra de Orwell era mais ficcionada e esta é menos extremista, contudo leva-nos a pensar aquilo para que nos dirigimos.
Este filme como blockbuster assumido de raiz, prima pelo elenco reunido. Argumento dos irmãos Wachowski baseados numa BD da DC Comics, o protagonismo foi entregue à oscarizada Natalie Portman e a Hugo Weaving (que nunca mostra a cara), como vilão de serviço o incomparável John Hurt e ainda participações de Stephen Rea e Tim Pigott-Smith.
Como drama e filme de acção está bom, como ficção está assustadoramente credível. Tem alguns momentos irreais mas tem também muitos daqueles tão bem feitos que dão vontade de rever o filme ainda antes de ter acabado. Sobra a moral do filme: as massas são facilmente controláveis, tanto pelo bem como pelo mal, quem controlar o povo controla o país.





Título Original: "V for Vendetta" (EUA, 2005)
Realização: James McTeigue
Intérpretes: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, John Hurt
Argumento: Irmãos Wachowski
Fotografia: Adrian Biddle
Música: Dario Marianelli
Género: Acção/Drama/Thriller
Duração: 132 min.
Sítio Oficial: http://vforvendetta.warnerbros.com/

2 de abril de 2006

”Underworld: Evolution” por Nuno Reis



Há três anos Kate Beckinsale entrou em grande nos blockbusters do cinema fantástico com “Underworld”, “Van Helsing veio meses depois. Enquanto no primeiro a luta era entre vampiros e lobisomens, o segundo recuperava o mais clássico caçador de vampiros colocava-o a enfrentar essas duas criaturas e ainda Frankenstein, a elíte do terror.
Por enquanto não se lembraram de fazer uma sequela de “Val Helsing”, ou pelo menos não a filmaram ainda, mas este ano chegou às salas a sequela de “Underworld” com o sugestivo título “Evolution”. Na primeira parte Selene tinha sido traída pelos seus mas tinha-se vingado e criado um híbrido. Meio vampiro meio lobisomem, Michael seria a criatura mais poderosa à face da terra. Em “Underworld: Evolution” seria suposto que houvesse evolução, se não nas personagens pelo menos na história. O filme começa com Michael a adaptar-se a ser híbrido e controlar o seu desejo de alimento, depois é apenas violência gratuita num argumento demasiado pobre para merecer a película que foi gasta. Os confrontos entre monstros foram transformados em algo ridículo, o primeiro filme tinha alguma emoção e causaria alguns sustos, este não tem emoção e causa sono. As criaturas e a sua monstruosidade foram reduzidas ao mínimo, o filme anterior tinha vampiros e lobisomens com muitas transformações e elaboradas técnicas de caracterização e computação, neste é exactamente o contrário. Aqui Beckinsale é um híbrido mas a caracterização resume-se a lentes de contacto, os combates corpo-a-corpo são entre actores, os CGI apenas são alvejados de longe.
A nível de conhecimento do passado tentam corrigir a versão apresentada em “Underworld”, acrescentam nomes, mostram as origens e tentam encaixar tudo. O resultado é uma amálgama que vem destruir a impressão causado pelo primeiro filme. É triste dizer mas este filme se fosse uma luta entre pessoas normais seria considerado dos piores de sempre, só por ter uns monstrinhos já milhões o irão ver. Isto não é cinema fantástico, é mau cinema de acção.



Título Original: "Underworld: Evolution" (EUA, 2006)
Realização: Len Wiseman
Intérpretes: Kate Beckinsale, Scott Speedman, Tonu Curran
Argumento: Danny McBride, Len Wiseman, Danny McBride
Fotografia: Simon Duggan
Música: Marco Beltrami
Género: Acção/Fantasia
Duração: 106 min.
Sítio Oficial: Underworld: Evolution/

1 de abril de 2006

”Bandidas” por Nuno Reis



Bandidas” é uma versão feminina e cómica de algo entre Zorro e Zapata e com um pouco de “Once Upon a Time in the West”. Esta comparação pode ser estranha mas o que se passa no filme não poderia ser mais parecido. A história desenrola-se no México, há mais de um século atrás. Uma jovem da terra revoltada contra os bancos estrangeiros que lhe destroem o lar decide vingar-se fazendo assaltos. E uma jovem acabada de chegar da Europa, onde viveu toda a sua juventude, impõe-se contra o que vê acontecer na sua pátria e para se vingar dos culpados decide atacá-los onde pode, os bancos. Esta dupla tenta assaltar o mesmo banco ao mesmo tempo e isso leva-as a desmascararem-se e a formarem equipa, uma muito improvável equipa onde os soluços e as zaragatas são diárias. Treinadas por um homem misterioso irão tornar-se a maior ameaça para o projecto de caminho-de-ferro dos invasores e a única esperança de um povo que perdeu tudo.

Salma Hayek e Penélope Cruz são amigas de longa data, é curioso que este seja o primeiro filme que fazem juntas e que interpretem rivais. É também curioso que a mexicana interprete uma jovem que educação europeia e a espanhola interprete uma mexicana, mas atendendo ao perfil de cada uma isso tem toda a lógica. Cruz é mais selvagem do que Hayek, não seria fácil considerar a personagem europeia como educada em comparação com a rapariga da terra. Steve Zahn foi o escolhido para interpretar o agente da autoridade destacado para deslindar os assaltos da dupla. Ele trabalhou com Cruz ainda o ano passado (em “Sahara”) e com Hayek em 2000 ("Chain of Fools"). É notória a diferença de importância entre as personagens, é um outsider num filme de amigas e sabe-o bem.

O filme poderia ter sido melhor e sabe a pouco. Em paródias do western está próximo de “Wild Wild West”, filme que o intrincado método científico policial tenta recordar. Como comédia não é genial mas vai mantendo o interesse até ao final, personagens típicas, piadas velhas, tudo o que seria de esperar num filme destes está presente.



Título Original: "Bandidas" (EUA, França, México, 2006)
Realização: Joachim Roenning e Espen Sandberg
Intérpretes: Penélope Cruz, Salma Hayek, Steve Zahn
Argumento: Luc Besson e Robert Mark Kamen
Fotografia: Thierry Arbogast
Música: Frédéric Thoraval
Género: Comédia/Western
Duração: 93 min.
Sítio Oficial: http://www.bandidas-lefilm.com/

31 de março de 2006

"La Tigre e la Neve" por Nuno Reis


La Vita è Bella” foi o filme que lançou Benigni para o estrelato. O drama de um pai que consegue manter o filho vivo e feliz num campo de concentração foi um daqueles filmes que marcou a sua época (final dos anos 90), relançou a confiança mundial no cinema europeu e é na minha opinião um dos melhores filmes de sempre.
Frase como “Mille punti!” ou “Buon giorno, Principessa!” são inesquecíveis e Benigni será para sempre recordado por isso. Nos anos que se seguiram com “Pinocchio” e participações no filme “Astérix et Obélix Contre César” caiu na vulgaridade, esta era a última oportunidade de relançar a carreira. E aqui Benigni, com o seu tradicional ar cómico e as diversas desaventuras que atravessa, torna-se um Chaplin dos nossos tempos.
Em “La Tigre e La Neve” repete a receita vencedora da obra-prima: um homem invulgar, divertido, indiferente ao perigo e muito apaixonado, totalmente fascinado por uma mulher, vê-se separado dela pela guerra. Quando a sabe ferida nos confins do mundo, a sua dedicação irá levá-lo até lá e o Amor irá realizar todos os milagres necessários para a salvar.
Desde a primeira cena, em que um estranho casamento é interrompido, o espectador é confrontado com a possibilidade de o filme não seguir os padrões habituais. Quem não viu “La Vita è Bella” adorará este filme, quem viu irá pensar que é o mesmo. Benigni não pode ser criticado por ter repetido o seu único êxito, se o primeiro foi um filme do agrado de todos, este também o poderia ser. Numa época em que os efeitos especiais são o actor principal, o regresso às simples estórias de amor deve ser aplaudido.




Título Original: "La Tigre e la Neve" (Itália, 2005)
Realização: Roberto Benigni
Intérpretes: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Jean Reno, Tom Waits
Argumento: Roberto Benigni e Vincenzo Cerami
Fotografia: Fabio Cianchetti
Música: Nicola Piovani e Tom Waits e Kathleen Brennan com a canção "You Can Never Hold Back Spring"
Género: Comédia/Drama/Guerra/Romance
Duração: 114 min.
Sítio Oficial: http://www.letigreetlaneige-lefilm.com/

"Capote" por Nuno Reis


Capote possivelmente foi um dos autores mais marcantes do século passado. Em 1961 muitos pensaram que tinha atingido o pico da fama pois em simultâneo com a adaptação do seu livro “Breakfast at Tiffany’s” para cinema, foi um dos responsáveis pela adaptação de uma das obras primas de Henry James para cinema: depois de diversos filmes homónimos “Turn of the Screw” finalmente tornou-se um clássico com o título “The Innocents”. O jornalista tinha atingido a consagração, agora para ser melhor teria de ser excelente, e é a isso que se propõe.
A tragédia a que Capote se associou para atingir esse objectivo foi um massacre inexplicável ocorrido numa pequena vila do Kansas. Apoiado pela sua vizinha Harper Lee (que seria a autora de “To Kill a Mockingbird”) parte para lá. Não procura desvendar o mistério, apenas pretende captar as emoções e torná-las num livro inesquecível.
Este filme narra a vida de Capote no tempo que decorreu entre a primeira publicação do crime num jornal até à publicação do livro, o seu último. Conta os problemas do homem e do escritor, os seus desejos, a sua forma de trabalhar e as suas relações dando especial destaque à amizade criada com Perry Smith, um dos criminosos. Capote é uma constante surpresa a todos os níveis e isso deve-se ao talento do actor que o encarnou. Hoffman já participou em diversos grandes filmes e era um talento comprovado, teve diversos troféus mas também a ele faltava a joía da coroa. Logo à primeira nomeação e sem discussão, venceu nos Globes, nos Bafta e ainda nos Oscares.
O filme tenta utilizar a reviravolta de “In Cold Blood” para fechar mas para quem tenha lido o livro ou visto o filme decerto que essa surpresa não foi esquecida por isso o filme termina de forma um pouco inglória. É uma reconstituição brilhante e a interpretação de Philip Seymour Hoffman foi a melhor do ano para a Academia. O resto do filme é apenas o suporte.


Título Original: "Capote" (EUA, 2005)
Realização: Bennett Miller
Intérpretes: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper e Bruce Greenwood
Argumento: Dan Futterman adaptou o livro de Gerald Clarke
Fotografia: Adam Kimmel
Música: Mychael Danna
Género: Biografia/Drama
Duração: 114 min.
Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/capote/

25 de março de 2006

”Yours, Mine and Ours” por Nuno Reis



Agora que se aproximam as férias os filmes para a família são os mais procurados. De entre a meia dúzia de filmes que podem ser considerados como aconselháveis este é dos melhores.
Seguindo o exemplo da Disney, a Warner também está a refilmar os clássicos dos anos 60. O ”Yours, Mine and Ours” original contou com Henry Fonda e Lucille Ball como os pais e foi inspirado numa família real, foi um enorme sucesso pois era uma sátira a grandes famílias como os Von Trapp. Nesta versão quarenta anos mais jovem também os pais são o principal atractivo pois são interpretados por duas estrelas consagradas. Depois de alguns filmes mais sérios Dennis Quaid está de regresso ás comédias ligeiras, Rene Russo tirando a participação na saga “Lethal Weapon” teve poucas personagens divertidas, por isso esta sua Helen North é uma surpresa.
O filme é muito fácil de ver que pretende entreter e facturar, não foi feito para ganhar prémios nem é isso que se pretende.
O argumento é clássico, um pai viúvo com oito filhos regressa à terra com uma promoção, reencontra o seu velho amor, uma viúva com dez filhos. Casam sem consultar os seus amores e o desentendimento entre os filhos do almirante e os filhos da artista, irão colidir. O constante desequilíbrio entre a rigidez militar e a liberdade de expressão irá causar confusão sem paralelo, quando estes dois lados se unem pelo objectivo comum, acabar com o casamento, superam todos os limites da paciência.
Curiosamente esta dúzia e meia de filhos estreia entre a dúzia de filhos de “Cheaper By the Dozen” e “Cheaper by the Dozen 2” onde essa família se encontra com outra de oito filhos. Doze, dezoito e vinte, numa época em que as famílias são cada vez mais pequenas, cada vez há mais filhos no cinema. Será que esta campanha pela natalidade dará frutos?



Título Original: "Yours, Mine and Ours" (Espanha 2005)
Realização: Raja Gosnell
Intérpretes: Dennis Quaid, Rene Russo, Jerry O’Connell
Argumento: remake escrito por Ron Burch e David Kidd
Fotografia: Theo van de Sande
Música: Christophe Beck
Género: Comédia/Família/Romance
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.yoursmineandoursmovie.com/

”Fragile” por Nuno Reis


Balagueró revelou-se no Fantasporto como um dos grandes realizadores europeus do fantástico. Depois de um estrondoso sucesso na competição com “Los Sin Nombre” não voltaria a ser considerado como um concorrente mas como uma estrela. Este ano a terceira vinda do realizador espanhol ao Porto – cidade que diz adorar – foi marcado por uma das honras máximas: filme de encerramento do Fantasporto. O filme apresentado nessa ocasião foi o agora estreado “Fragile”.

Fragile” mostra-nos os receios de uma mulher destacada para um hospital pediátrico quase encerrado. Quando a enfermeira Amy chega ao hospital pediátrico em substituição de uma enfermeira doente, depara-se com um grupo de crianças aparentemente normais e com um terrível segredo escondido. No turno da noite é normal os pequenos medos tornarem-se grandes problemas mas nada explica que uma perna se parta como um palito e que os blocos se mexam sozinhos. Amy terá de desvendar o segredo por trás de várias mortes e perceber quem é a rapariga mecânica que apenas uma das meninas vê e que se diz habitar o segundo andar.

Como grande parte dos êxitos recentes do país vizinho é um filme falado em inglês e, tal como o último trabalho de Balagueró, é interpretado por estrelas hollywoodescas. O realizador numa entrevista informal descreveu o filme como sendo “Um terror sem vísceras nem sangue, um terror psicológico […] uma história de amor como aquelas que uma avó conta aos seus netos.” Existe um pouco de terror visceral e existe bastante sangue, além disso uma avó não contaria uma história destas aos netos. Contudo, tem razão quando diz que é uma história de amor, é uma história bonita que se vê com gosto e não é tão assustador como pareceria. O terror faz lembrar os asiáticos “Ju-On” e “Ringu” (ou “The Grudge” e “The Ring” respectivamente), o toque europeu é ligeiramente diferente, é mais suave e eficaz.
Balagueró conseguiu pela segunda vez nesta época da “aldeia global” arranjar um local isolado suficientemente credível para criar inquietação. “Fragile” pode não ser um dos seus melhores trabalhos e não marcou o Fantasporto, mas a vantagem de se ser um realizador de culto é que mesmo um filme menos brilhante pode ser visto sem que o espectador sinta remorsos.



Título Original: "Fragile" (Espanha 2005)
Realização: Jaume Balagueró
Intérpretes: Calista Flockhart, Richard Roxburgh, Elena Anaya
Argumento: Jaume Balagueró e Jordi Galcerán
Fotografia: Xavi Giménez
Música: Roque Baños
Género: Terror
Duração: 93 min.
Sítio Oficial: http://movies.filmax.com/fragiles/

16 de março de 2006

”Colour Me Kubrick” por Nuno Reis



Provavelmente quem estiver a pensar ver este filme é fã do realizador Stanley Kubrick, quase toda a gente é. Provavelmente viu todos os seus filmes de “Flying Padre” a “Eyes Wide Shut” e sabe dizer quem são os actores que neles participam. E o leitor reconheceria Kubrick se ele, enquanto vivo, lhe aparecesse à frente, mesmo havendo tão poucas fotografias e tendo sido uma pessoa tão recatada? Aqui a resposta já não é tão óbvia.

Esta é a história de Alan Conway, um dos maiores charlatães de que há memória. Conway é um homem que durante muitos anos se fez passar por Kubrick. Afirmou-se como o realizador de “Judgment at Nuremberg” e censurou o temperamento de Miss Kirk Douglas, mas com base no improviso e na sorte escapou às suspeitas (quem não percebeu o que está errado nesta frase pode parar de ler e ir a correr comprar a filmografia de Kubrick). Com a promessa de ajudar estilistas, bandas, e várias outras crédulas pessoas que supunham estar a agradar ao realizador, Conway viveu sem contrair despesas e sem necessidade de trabalhar. Como é dito no poster, conseguiu algo a troco de nada, de quem queria algo a troco de nada.

A vida de Conway é demasiado irreal para ser credível. Um homossexual escandalosamente exigente e autoritário e com dezenas de pessoas atrás convencidas que ele é o maior do mundo é um tema fácil de utilizar para fazer comédia,e quando o papel principal está entregue a alguém com o talento de Malkovich não é preciso mais nada. O actor tem um dos melhores papéis da sua carreira e apesar de ser um trabalho que os fãs de Kubrick não apreciarão, os fãs do protagonista irão adorar.
O filme ameaça cair no ridículo e torna-se maçador rapidamente, felizmente não é longo e termina antes que a desgraça seja total. Esta história não tem mais nenhum motivo de interesse, exceptuando talvez ser baseado numa história verídica. Impossível? Por acaso sabe como é o rosto de Paul Haggis, o realizador mais falado do mês?



Título Original: "Colour Me Kubrick" (EUA, França 2005)
Realização: Brian Cook
Intérpretes: John Malkovich, Jim Davidson, Tom Allen
Argumento: Anthony Frewin
Fotografia: Howard Atherton
Música: Bryan Adams
Género: Comédia/Drama
Duração: 86 min.
Sítio Oficial: http://www.colourmekubrick.com/

14 de março de 2006

Óscar na Casa da Animação


Wallace & Gromite e "A Maldição do Coelho Homem", realizado por Nick Park e Steve Box, acabou de receber pela Academia de Óscares de Hollywood o oscar para a melhor longa-metragem de animação.
A Casa da Animação exibe já no próximo fim de semana este filme, 18 e 19 de Março, pelas 16 horas e 21h 45m, respectivamente, no seu Auditório. A (re)ver esta obra-prima da animação mundial.
Mais informações: www.casa-da-animacao.pt, mail@casa-da-animacao.pt, 22-543 2770.


6 de março de 2006

Oscares 2006 - vencedores




Depois de duas semanas no Fantasporto os Oscares parecem algo distante e insignificante. Fiquei agradavelmente surpreendido com algumas das vitórias, na grande maioria eram previsiveis mas o prémio de melhor filme alegrou-me mais do que qualquer outro nos últimos cinco anos pelo menos.

And the winners are...



Melhor Filme
Crash

Nomeados:
Brokeback Mountain
Capote
Good Night, and Good Luck
Munich



Melhor Actor Principal
Philip Seymour Hoffman por “Capote

Nomeados:
Terrence Howard por “Hustle & Flow
Heath Ledger por “Brokeback Mountain
Joaquin Phoenix por “Walk the Line
David Strathairn por “Good Night, and Good Luck.


Melhor Actriz Principal
Reese Witherspoon por “Walk the Line

Nomeados:
Judi Dench por “Mrs. Henderson Presents
Felicity Huffman por “Transamerica
Keira Knightley por “Pride & Prejudice
Charlize Theron por “North Country



Melhor Actor Secundário
George Clooney por “Syriana

Nomeados:
Matt Dillon por “Crash
Paul Giamatti por “Cinderella Man
Jake Gyllenhaal por “Brokeback Mountain
William Hurt por “A History of Violence

Melhor Actriz Secundária
Rachel Weisz por “The Constant Gardener

Nomeados:
Amy Adams por “Junebug
Catherine Keener por “Capote
Frances McDormand por “North Country
Michelle Williams por “Brokeback Mountain


Melhor Realização
Ang Lee por “Brokeback Mountain

Nomeados:
George Clooney por “Good Night, and Good Luck.
Paul Haggis por “Crash
Bennett Miller por “Capote
Steven Spielberg por “Munich


Melhor Argumento Original
Crash

Nomeados:
Good Night, and Good Luck
Match Point
The Squid and the Whale
Syriana

Melhor Argumento Original
Brokeback Mountain

Nomeados:
Capote
The Constant Gardener
A History of Violence
Munich

Melhor Fotografia
Memoirs of a Geisha

Nomeados:
Batman Begins
Brokeback Mountain
Good Night, and Good Luck
The New World


Melhor Montagem
Crash

Nomeados:
Cinderella Man
The Constant Gardener
Munich
Walk the Line

Melhor Direcção Artística
Memoirs of a Geisha

Nomeados:
Good Night, and Good Luck.
Harry Potter and the Goblet of Fire
King Kong
Pride & Prejudice


Melhor Guarda-Roupa
Memoirs of a Geisha

Nomeados:
Charlie and the Chocolate Factory
Mrs. Henderson Presents
Pride & Prejudice
Walk the Line


Melhor Banda Sonora
Brokeback Mountain

Nomeados:
The Constant Gardener
Memoirs of a Geisha
Munich
Pride & Prejudice


Melhor Canção Original
Hustle & Flow” "It's Hard Out Here For a Pimp"

Nomeados:
Crash” "In the Deep"
Transamerica” "Travelin' Thru"


Melhor Caracterização
The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe

Nomeados:
Cinderella Man
Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith

Melhor Som
King Kong

Nomeados:
The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe
Memoirs of a Geisha
Walk the Line
War of the Worlds

Melhor Edição Sonora
King Kong

Nomeados:
Memoirs of a Geisha
War of the Worlds


Melhores Efeitos Visuais
King Kong

Nomeados:
The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe
War of the Worlds

Melhor Filme de Animação
Wallace & Gromit in The Curse of the Were-Rabbit

Nomeados:
Corpse Bride
Hauru no ugoku shiro


Melhor Filme de Língua Não Inglesa
Tsotsi” (África do Sul)

Nomeados:
La Bestia nel cuore” (Itália)
Joyeux Noël” (França)
Paradise Now” (Palestina)
Sophie Scholl - Die letzten Tage” (alemanha)


Melhor Longa Documental
La Marche de l'empereur

Nomeados:
Darwin's Nightmare
Enron: The Smartest Guys in the Room
Murderball
Street Fight


Melhor Curta Documental
A Note of Triumph: The Golden Age of Norman Corwin

Nomeados:
God Sleeps in Rwanda
The Life of Kevin Carter
The Mushroom Club

Melhor Curta de Animação
The Moon and the Son

Nomeados:
Badgered
The Mysterious Geographic Explorations of Jasper Morello
9
One Man Band


Melhor Curta de Imagem Real
Six Shooter

Nomeados:
Ausreißer
Cashback
Síðasti bærinn í dalnum
Our Time Is Up








3 Oscares para
"Crash"
"King Kong"
"Brokeback Mountain"
"Memoirs of a Geisha"
Melhor momento: "Crash" ganhar melhor filme
Pior momento: "Corpse Bride", Tim Burton ser novamente ignorado na animação

4 de março de 2006

Os premiados do Fantas 2006





Os Vikings tomaram de assalto a 26ª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto. O filme sueco "Frostbiten" de Anders Banke ganhou o Grande Prémio do Fantasporto 2006 – Secção Oficial de Cinema Fantástico, enquanto "Adam’s Apples" de Anders Thomas Jensen é o vencedor do Prémio Melhor Filme da 16ª Semana dos Realizadores. Este filme ganhou, também, os Prémios de Melhor Argumento e Actor na sua secção.

Eis o palmarés:

SECÇÃO OFICIAL CINEMA FANTÁSTICO


GRANDE PRÉMIO

"Frostbiten" de Anders Banke (Sue)

PRÉMIO ESPECIAL DO JURI

"Johanna" de Kornél Mundruczó (Hung)

MELHOR REALIZAÇÃO

Robin Aubert por "Saints Martyrs des Damnés" (Can)

MELHOR ACTOR

Jaume Garcia Arija em "Zulo" (Esp)

MELHOR ACTRIZ

Orsi Tóth em "Johanna" (Hun)

MELHOR ARGUMENTO

Roselyne Bosch por "Animal" (Por, Fra, GB)

MELHOR FOTOGRAFIA

Manuel Mack em "A Quiet Love" (Ale)

MELHOR CURTA-METRAGEM

"Home Delivery" de Elio Quiroga (Esp)

MENÇÃO HONROSA

"Shadow Man" de David Benullo (EUA)



SEMANA DOS REALIZADORES


PRÉMIO SEMANA DOS REALIZADORES FANTASPORTO 2006

"Adam’s Apples" de Anders Thomas Jensen (Din)

PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI

"Be With Me" de Eric Khoo (Sing)

MELHOR REALIZADOR

Pieter Kuijpers por "Offscreen" (Hol)

MELHOR ACTOR

Ulrich Thomensen em "Adam’s Apples" (Din)

MELHOR ACTRIZ

Victoria Abril em "Incautos" (Esp/Spa)

MELHOR ARGUMENTO

Anders Thomas Jensen por "Adam’s Apples" (Din)



SECÇÃO OFICIAL ORIENT EXPRESS


GRANDE PRÉMIO ORIENT EXPRESS

"Simpathy for Lady Vengeance" de Chan Wook Park (Cor Sul)

PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI

"The Bow" de Kim Ki Duk (Cor Sul, Jap)


MÉLIÈS D’ARGENT


MÉLIÈS DE PRATA

"Animal" de Roselyne Bosch (Por, Fra, GB)

MÉLIÈS DE PRATA CURTA-METRAGEM

"A Lenda do Espantalho" de Marc Besas (Esp)



Prémio da Crítica do Fantasporto´2006


"A Quiet Love" de Till Franzen (Ale)

Premio Jornal Público do Fantasporto´2006


"The Other Half" de Marlowe Fawcett e Richard Nockels


PRÉMIO NORTESHOPPING A Tua Curta no Fantasporto


"Estranhos Casos Ocorrem" de Luis Pato, Fernando Braga, João Marques e Daniel Marques

Prémios Carreira


Manoel de Oliveira

Christiane Torloni
Bill Plympton

27 de fevereiro de 2006

Fantasporto 2006: até agora tudo bem


Depois de três dias de intensa competição o público ainda não tem nenhum filme de eleição, mas já tem vários favoritos.

O português "Coisa Ruim", a primeira longa portuguesa a concurso na secção de cinema fantástico, foi tema de conversa durante bastante tempo (num festival bastante tempo é meia dúzia de horas, depois surge logo um novo filme para se falar).
"Sigaw" passou mais despercebido do que seria de esperar, "The Nun" por ter começado quase às duas da manhã foi visto por uma multidão já sonolenta que não conseguiu despertar.


Sábado a tarde começou com "The Other Half". Uma curiosa perspectiva não-portuguesa do Euro 2004 e a forma ligeira com que é comentado torna-o claramente comercial. Arrisca por ser um filme tipicamente para homens e tipicamente para mulheres, um filme que poderá desagradar a ambos os sexos. Na sessão das 17h Anders Thomas Jensen (vencedor recente do Fantas com "The Green Butchers") apresentou-nos "Adam's Apples", uma nova comédia igualmente negra que se tornou um forte candidato aos prémios. O filme espanhol "Zulo", como o compatriota de véspera, foi rapidamente esquecido.
Com a chegada da noite veio um filme tipicamente de produção americana. "Edison", ao contrário do que o nome sugere, não brilhou.
Na sessão seguinte "Frostbiten" como filme de terror era fraco, mas o público Fantas está vacinado contra esses casos e protege-se com o riso. O que era um mau filme de terror tornou-se uma divertida comédia de terror. Isso acontece todos os anos a algum filme.
"Three... Extremes", também prejudicado pela hora tardia, não marcou tanto como seria de esperar de mestres do terror asiático.


O Domingo no Fantas começou cedo e mesmo de manhã já vários realizadores circulavam no Rivoli. O primeiro filme assinalou o regresso de Ivan Cardoso e do autêntico "terrir" ao Fantasporto, "Um Lobisomem na Amazónia" mesmo pela apresentação em palco mostrou que ia ser diferente do habitual. Por ser um género já tradicional não impressionou o público.
"Incautos" foi um filme agradável de ver, um trabalho bem feito como nos acostumamos a ver na Semana dos Realizadores. "Dumplings" não trouxe nada de novo em relação à curta homónima exibida na véspera. "Samaritan Girl" é um trabalho tradicional de Kim Ki-Duk: um argumento polémico, uma bela fotografia, um filme que se deve ver.
Nas sessões mais tardias "Johanna" provou ser um filme realmente bom. Houve risos constantes na plateia por ser um filme cantado mas o tema (a luta entre o certo e o errado, as regras e a realidade, o amor e o sexo) e a forma deslumbrante como foi apresentado, comprovaram a fama de obra-prima que trouxe do Marché du Film. Na última sessão o último candidato ao Oscar de Melhor Filme, "Good Night, and Good Luck", trouxe-nos um grande elenco. Ficou abaixo das minhas expectativas pois acaba por mostrar apenas a luta de uma estação pela integridade noticiosa, e o bravo confronto de um jornalista em particular contra a demanda louca de um único homem. A televisão como último bastião do sonho americano que estava ser destruído em milhares de lares. Uma crítica ao governo que nos obriga a pensar se Bush não estará a fazer a sua própria caça às bruxas, não contra indivíduos mas sim contra nações. É portanto um filme que os americanos adorarão.



Hoje há muito mais para ver e o Fantas ainda nem vai a meio.

24 de fevereiro de 2006

Fantasporto 2006





Começa hoje a competição no Fantasporto 2006. Depois de 4 dias de preparação - recordamos alguns vencedores de edições anteriores e conhecemos alguns dos novos concorrentes - chegam agora os dias pesados, aqueles em que a maior dificuldade é escolher em que sala se irá ver um bom filme.

A nível de retrospectivas tenho de admitir que o Fantas está melhor do que nunca e tem filmes imperdíveis. Plympton é um génio, Lang e Murnau são ainda melhores, Masters of Horror reúne Tobe Hopper, Joe Dante, Don Coscarelli, Dario Argento e Stuart Gordon, os filmes de artes marciais exibidos (irmãos Shaw) são os melhores do género.
Depois de Peter Jackson a Nova Zelândia deixou de ser um país distante por descobrir e foi desaparecendo lentamente do Fantasporto, este ano os filmes húngaros e tailândeses é que são as amostras das novas potências do cinema.


A Espanha/Filmax está em força no género fantástico e são os favoritos de entre os europeus (Méliès d'Argent). Nas outras secções tem vários candidatos mas as hipóteses de ganhar não são tão favoráveis.

Para a Semana dos Realizadores "The Bow" é um forte concorrente, se Kim Ki-Duk não estivesse a concorrer com Javier Bardem e Tony Scott já poderia ter levantado a estatueta.

No Cinema Fantástico os meus favoritos são "Saints-Martyrs-Des-Damnés" e "Johanna", poderá ainda surgir uma surpresa entre os títulos espanhóis.

Para o Orient Express o prémio não deverá a escapar a "Simpathy for Lady Vengeance", final da trilogia a que pertence "OldBoy" e que consegue ser ainda mais poderoso.

Como em todos os Fantas não se sabe se a vitória será de uma cinematografia consagrada ou se será descoberta uma nova potência.

23 de fevereiro de 2006

Programação Fantasporto 2006


23 de Fevereiro




Rivoli Grande Auditório


15.00h –“Szerelmesfilm”/“Love Film” (Hungria) de István Szabó
versão original, legendado em inglês
Szabó é o único realizador húngaro alguma vez galardoado com um Oscar

17.00h – “Professional Specialist” (Japão) de Tatsumi Kumashiro
versão original, legendado em inglês

21.15h – “Hwal”/”The Bow” (Coreia do Sul, Japão 2005) de Kim Ki Duk
versão original, legendado em inglês


23.15h – “Vsadnik Po Imeni Smert”/“The Rider Named Death” (Rússia 2004) de Karen Shakhnazaroz
versão original, legendado em inglês




Rivoli Pequeno Auditório


15.15h –“ Sunrise: A Song of Two Humans ”/“Aurora” (EUA 1927) de F. W. Murnau
Versão original legendado em espanhol
Academia de Hollywood 1928: Melhor Filme, Actriz e Fotografia.

17.15h – “Metropolis” de Fritz Lang (Alemanha 1927)
Versão original legendado em espanhol
Provavelmente o melhor filme de ficção científica de todos os tempos.

21.15h – “Jiang Shan Mei Ren“/”Kingdom and the Beauty” (Hong Kong 1959) de Li Han Hsiang
Versão original legendado em inglês
Festival Internacional de Cinema da Ásia: Melhor Filme

23.15h – “Dubei Dao”/”One Armed Swordsman” (Hong Kong 1967) de Chang Chen
Versão original legendado em inglês
Os filmes de artes marciais sem “Dubei Dao” seriam o mesmo que os de terror sem “Frankenstein”




Biblioteca Almeida Garrett



15.00h – “Waqt: The Race Against Time” (Índia 2005) de Vipul Amrutlal Shah
versão original legendado inglês

19.00h – “Kal Ho Naa Ho” (Índia 2003) de Nikhil Advani
versão original legendado em inglês
Dezenas de troféus incluíndo sete vitórias e três nomeações nos Filmfare Awards 2004



AMC Arrábida 20


15.20h, 17.40h, 22.20h, 00.40h – “ Wonderful Days”/“Mundos Paralelos” (Coreia do Sul) de Kim Moon-Saeng e Park Sunmin
Versão original legendado em português
Gérardmer Film Festival 2004: Grande Prémio

20.00h – “Cazuza - O Tempo Não Pára” (Brasil 2004) de Walter Carvalho e Sandra Werneck
Versão original
Associação de Críticos de São Paulo 2005: Melhor Actor
Cinema Brasil 2005: Melhor Filme, Som, Banda Sonora, Montagem, Fotografia, Actor, Argumento Adaptado

22 de fevereiro de 2006

Programação Fantasporto 2006


22 de Fevereiro




Rivoli Grande Auditório


15.00h –“ Akai kami no onna”/“ The Woman With the Red Hair” (Japão 1979) de Tatsumi Kumashiro
versão original, legendado em inglês

17.00h – “ Eldorádó ”/“The Midas Touch” (Hungria) de Géza Bereményi
versão original, legendado em inglês
European Film Academy 1989: Melhor Realização

21.15h – ”Hair High” (EUA 2004) de Bill Plympton
versão original, legendado em português

23.15h - “Incautos” (Espanha 2004) de Miguel Bardem
versão original, legendado em inglês
nomeado para três Goya


Rivoli Pequeno Auditório


15.15h – “The Tune” (EUA 1992) de Bill Plympton
versão original

17.15h – “ Frau im Mond ”/“A Mulher na Lua” (Alemanha 1929) de Fritz Lang
Versão original, legendado em espanhol


21.15h – “ Liang Shan Ba yu Zhu Ying Tai”/“The Love Eterne” (Hong Kong 1963) de Han Hsiang Li
Versão original legendado em inglês
Golden Horse Film Festival: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz, Prémio Especial do Júri

23.15h – “Mutant Aliens” (EUA 2001) de Bill Plympton
versão original
Annecy 2001: Grande Prémio



Biblioteca Almeida Garrett



15.00h – “Chori Chori Shupke Shupke” (Índia 2001) de Abbas Mustan – versão original legendado inglês

19.00h – “Mughal-e-Azam" (Índia 1960) de K. Asif
versão original legendado em inglês
Filmfare Awards 1960: Melhor Filme, Diálogos, Fotografia

21 de fevereiro de 2006

Programação Fantasporto 2006


21 de Fevereiro




Rivoli Grande Auditório


15.00h –“Jitsuroku Abe Sada”/“A Woman Called Abe Sada” (Japão 1975) de Noboru Tanaka
versão original, legendado em inglês

17.00h – “Angels Guts – The Darkest Memories” (Japão) de Chusei Sone
versão original, legendado em inglês

21.15h – ” The Other Half” (Reino Unido 2005) de Marlowe Fawcett
versão original, legendado em português

23.15h - “ Spirit Trap” (Reino Unido 2005) de David Smith
versão original



Rivoli Pequeno Auditório


15.15h – “M” (Alemanha 1931) de Fritz Lang
versão original, legendado em espanhol

17.15h – “ Qi shi er jia fang ke ”/“The House of 72 Tenants” (Hong Kong 1973) de Chor Yuen
Versão original, legendado em inglês

21.15h – “I Married a Strange Person!” (EUA 1997)
versões originais, inglês
Festival de Annecy 1998: Grande Prémio

23.15h – “Die Nibelungen: Kriemhilds Rache”/“Os Nibelungos 2: A Vingança de Cremilde” (Alemanha 1924) de Fritz Lang
versão original, legendado em espanhol

20 de fevereiro de 2006

Programação Fantasporto 2006


20 de Fevereiro


Enquanto o Fantasporto não arranca a todo o gás é normal que a atenção dos média seja nula. Para evitar que estes filmes notáveis passem despercebidos ao grande público publicarei a programação dos primeiros dias.
Os filmes do Grande Auditório foram já todos premiados, deixo indicação de alguns dos prémios já recebidos por eles. As retrospectivas em princípio terão um público mais específico mas são todas altamente recomendáveis. Hoje focam-se no cinema de Hong Kong e do Expressionismo Alemão.


Rivoli Grande Auditório


15.00h –“ Szép Napok”/“Pleasant Days” (Hungria 2002) de Kornél Mundruczó
versão original, legendado em francês
Locarno 2002: Leopardo de Prata para melhor primeira ou segunda obra
Festival de Sofia 2003: Grande Prémio
Festival de Bruxelas 2003: Melhor Filme (Golden Iris), Melhor Filme (RTBF TV)
Prémios vários na Hungria: filme, actriz, revelação

17.00h – “Rain” (Nova Zelândia, 2001) de Christine Jeffs
versão original, legendado em português
Fantasporto 2002: Melhor Actriz (Semana dos Realizadores)
New Zealand Film Awards 2001: actor secundário, intérprete juvenil, actriz

21.15h – ” Mémoires affectives”/“Looking for Alexander” (Canadá 2004) de Francis Leclerc
versão original (francês)
Academy of Canadian Cinema & Television 2005: Realização, Argumento Original, Actor
Jutra Awards (Cinema do Quebéc) 2005: Filme, Realizador, Actor, Montagem

23.15h - “ Chinjeolhan geumjassi”/“Sympathy for Lady Vengeance” (Coreia do Sul) de Chan-wook Park
versão original, legendado em inglês
Festival de Veneza 2005: Troféu CinemAvvenire para Melhor Filme, Pequeno Leão Dourado para Chan-wook Park
Sequela de “Old Boy


Rivoli Pequeno Auditório


15.15h – “ Wu Lang Ba Gua Gun”/“The Eight Diagram Pole Fighter” (Hong Kong 1983) de Liu Chia-liang
versão original, legendado em inglês

17.15h – “Der Golem” (Alemanha 1915) de Henrik Galeen, Paul Wegener
mudo

21.15h – Série Master Of Horror 1/2 (2005)
versões originais, inglês
1. “Dance of the Dead” (EUA) de Tobe Hooper.
2. “Homecoming” (EUA) de Joe Dante
Episódios de 60 minutos realizados por génios do terror

23.15h – “Die Nibelungen: Siegfried”/“Os Nibelungos 1: A Morte de Siegfried” (Alemanha 1924) de Fritz Lang
versão original, legendado em espanhol


Ontem foi feita a cerimónia de entrega dos BAFTA. Não houve nenhuma surpresa em relação aos vencedores. Este ano Globes e BAFTAs foram quase unânimes e também os Oscares deverão seguir os mesmos critérios.
Destaque para “Crash” que conseguiu vencer 2 das 9 nomeações e para Clooney que não venceu mas sozinho conseguiu 4 nomeações (uma para melhor realizador, duas para melhor actor secundário e uma pelo argumento)
Deixo-vos o vencedor de cada categoria e os seus honrosos concorrentes.


Melhor Filme
Brokeback Mountain

“Capote”
“The Constant Gardener”
“Crash”
“Good Night, and Good Luck.”


Melhor Actor
Philip Seymour Hoffman em “Capote”

Heath Ledger, “Brokeback Mountain”
Ralph Fiennes, “The Constant Gardener”
David Strathairn , “Good Night, and Good Luck.”
Joaquin Phoenix , “Walk the Line”


Melhor Actriz
Reese Witherspoon em “Walk the Line”

Rachel Weisz, “The Constant Gardener”
Ziyi Zhang, “Memoirs of a Geisha”
Judi Dench, “Mrs. Henderson Presents”
Charlize Theron, “North Country”


Melhor Actor Secundário
Jake Gyllenhaal, “Brokeback Mountain”

Don Cheadle, “Crash”
Matt Dillon, “Crash“
George Clooney, “Good Night, and Good Luck.”
George Clooney, “Syriana”


Melhor Actriz Secundária
Thandie Newton em “Crash”

Michelle Williams, “Brokeback Mountain”
Catherine Keener, “Capote”
Frances McDormand, “North Country”
Brenda Blethyn, “Pride & Prejudice”


Melhor Argumento Original
Paul Haggis e Robert Moresco, por “Crash”

Cliff Hollingsworth e Akiva Goldsmanm “Cinderella Man”
George Clooney e Grant Heslov, “Good Night, and Good Luck.”
Keir Pearson e Terry George , “Hotel Rwanda”
Martin Sherman, “Mrs. Henderson Presents”


Melhor Argumento Adaptado
Larry McMurtry e Diana Ossana, “Brokeback Mountain”

Dan Futterman, “Capote”
Jeffrey Caine, “The Constant Gardener”
Josh Olson, “A History of Violence”
Deborah Moggach , “Pride & Prejudice”


Melhor Fotografia
Dion Beebe, “Memoirs of a Geisha”

Rodrigo Prieto, “Brokeback Mountain”
César Charlone, “The Constant Gardener”
James Muro , “Crash”
Laurent Chalet e Jérôme Maison , ”La Marche de l'empereur”


Melhor Guarda-Roupa
Colleen Atwood, “Memoirs of a Geisha”

Gabriella Pescucci , “Charlie and the Chocolate Factory”
Isis Mussenden, “The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe”
Sandy Powell , “Mrs. Henderson Presents”
Jacqueline Durran, “Pride & Prejudice”


Melhor Som
Paul Massey, Doug Hemphill, Peter F. Kurland, Donald Sylvester, “Walk the Line”

David Evans, Stefan Henrix, Peter Lindsay, “Batman Begins”
Joakim Sundströmm Stuart Wilson, “The Constant Gardener”
Richard Van Dyke, Sandy Gendler , “Crash”
Hammond Peek, Christopher Boyes, Mike Hopkins, Ethan Van der Ryn, “King Kong”


Melhor Edição
Claire Simpson, “The Constant Gardener”

Geraldine Peroni, Dylan Tichenor, “Brokeback Mountain”
Hughes Winborne , “Crash”
Stephen Mirrione , “Good Night, and Good Luck.”
Sabine Emiliani, “La Marche de l'empereur”


Melhores Efeitos Visuais
Joe Letteri, Christian Rivers, Brian Van't Hul, Richard Taylor, “King Kong”

Janek Sirrs, Dan Glass, Chris Corbould, “Batman Begins”
Nick Davis, Jon Thum, Chas Jarrett, Joss Williams, “Charlie and the Chocolate Factory"
Dean Wright, Bill Westenhofer, Jim Berney, Scott Farrar, “The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe”
Jim Mitchell, John Richardson, “Harry Potter and the Goblet of Fire”

Melhor Curta-Metragem
Antonio's Breakfast

“Call Register”
“Heavy Metal Drummer”
“MacDonald”
“Heydar: An Afghan in Tehran”
“Lucky


Melhor Curta-Metragem de Animação
Sztuka spadania

“Film Noir”
“Kamiya's Correspondence”
“The Mysterious Geographic Explorations of Jasper Morello”
“Rabbit”


Melhor Caracterização
Howard Berger, Gregory Nicotero, Nikki Gooley, “Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe”

Peter Owen, Ivana Primorac, “Charlie and the Chocolate Factory”
Nick Dudman, Amanda Knight, Eithne Fennel, “Harry Potter and the Goblet of Fire”
Noriko Watanabe, Kate Biscoe, Lyndell Quiyou, Kelvin R. Trahan, “Memoirs of a Geisha”
Fae Hammond, “Pride & Prejudice”


Melhor Produção
Stuart Craig, “Harry Potter and the Goblet of Fire”

Nathan Crowley, “Batman Begins”
Alex McDowell, “Charlie and the Chocolate Factory”
Grant Major , “King Kong”
John Myhre , “Memoirs of a Geisha”


Melhor Filme em Língua Não Inglesa
De battre mon coeur s'est arrêté

“Le Grand voyage”
“Joyeux Noël”
“Kung fu”
“Tsotsi”


Melhor Filme Inglês: Troféu Alexander Korda
Wallace & Gromit in The Curse of the Were-Rabbit

“A Cock and Bull Story”
“The Constant Gardener”
“Festival”
“Pride & Prejudice”


Melhor Realizador: Troféu David Lean
Ang Lee, “Brokeback Mountain”

Bennett Miller, “Capote”
Fernando Meirelles, “The Constant Gardener”
Crash, ”Paul Haggis“
George Clooney, “Good Night, and Good Luck.”


Melhor Banda Sonora: Troféu Anthony Asquith
John Williams, “Memoirs of a Geisha”

Gustavo Santaolalla , “Brokeback Mountain”
Alberto Iglesias , “The Constant Gardener”
George Fenton , “Mrs. Henderson Presents”
T-Bone Burnett , “Walk the Line”


Prémio Revelação: Trofeú Carl Foreman
Joe Wright, realizador de “Pride & Prejudice”

Richard Hawkins, realizador de “Everything”
Annie Griffin, realziadorea/argumentista de “Festival”
David Belton, produtor de “Shooting Dogs”
Peter Fudakowski, produtor de “Tsotsi”


Actor Revelação
James McAvoy

Chiwetel Ejiofor
Gael García Bernal
Rachel McAdams
Michelle Williams


Academy Fellowship
David Puttnam

19 de fevereiro de 2006

"Brockeback Mountain" por Ricardo Clara


Um dos filmes que maior expectativa criou no último ano cinematográfico, "Brockeback Mountain" / "O Segredo de Brockeback Mountain" conta a paixão desenvolvida por dois homens, Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal), os quais se conheceram quando levavam um rebanho de ovelhas a pastar nos montes de Brockeback, nos idos anos 60. Levando cada um a sua vida independente, casados e com filhos, a relação homossexual por eles encetada prolonga-se no tempo, numa luta entre um casamento já realizado e um amor proibido.
Nomeado para 8 óscares, o que releva na altura em que escrevo, este filme dirigido por Ang Lee sofre de uma sobrevalorização pelo tema escolhido, em detrimento da obra cinematográfica que é em si mesmo. Não é possível, de nenhum modo, esquecer a realização de Lee: bela e poética, muito por culpa de uma fantástica fotografia que eleva a qualidade do filme, mas que peca (como em quase todos os filmes do realizador) pela excessiva lentidão, tornando-se por vezes um pouco aborrecido o seu visionamento. Com uma belíssima interpretação de Heath Ledger, num registo completamente diferente daquele a que nos habituou, a Montanha de Brockeback não comporta nenhum segredo - uma história que, tendo como base um amor entre um homem e uma mulher não passaria de uma história banal. Louve-se a coragem de Ang Lee de passar para película o conto original de Annie Proulx mas, de facto, parece-me que se sobrevalorizou este filme, muito por culpa do conteúdo homosexual deste. Não pondo de parte a (pequena) novidade deste factor, o segredo da dita montanha estava nas nomeações da Academia (será que vão premiar em quantidade?). E aqui, outra surpresa é a nomeação de Michelle Williams (o que faz ela para merecer a distinção?). Um punhado de frases, dois choros compulsivos, e nada mais. Já vi figurantes mais marcantes do que ela. Destaco, isso sim, a realização no seu todo - na montagem, nos planos e na fotografia.
Salvou-se, a par da realização, o visionamento onde estive presente. Numa sala lotada (não fosse uma antestreia...), foi quase estar presente numa experiência sociológica académica. Todo o comportamento dos espectadores foi interessante, pois de início sentia-se uma tensão e alguns impropérios, principalmente na primeira cena de amor, e que foi terminar num estado de tranquilidade e aceitação do que estavam a assistir (digo isto, não como comportamento próprio, mas pela natural - será - intolerância das pessoas). Uma normal história de amor, com o aperitivo de boy meets boy, em vez de meets girl...


Título Original: "Brockeback Mountain" (EUA, 2005)
Realização: Ang Lee
Intérpretes: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal e Michelle Williams
Argumento: Annie Proulx e Diana Ossana
Fotografia: Rodrigo Prieto
Música: Gustavo Santaolalla
Género: Drama / Romance
Duração: 134 min.
Sítio Oficial: http://www.brokebackmountain.com


Grbavica vence Urso de Ouro em Berlim



O Festival de Berlim terminou ontem sob o signo da surpresa, com a vitória da estreante Jasmila Zbanic e do seu filme "Grbavica", numa cerimónia que pela primeira vez teve honras de transmissão televisiva directa, no canal ZDF. Michael Winterbottom foi o grande derrotado da noite, com o seu "Road to Guantanamo", apontado à partida como o grande favorito para a vitória - saiu de Berlim com o Urso de Prata para Melhor Realizador. "Offside" e "En Soap" venceram, ex-aequo, o Grande Prémio do Júri - Urso de Prata, tendo Sandra Hueller e Moritz Bleibtreu vencido os galardões para Melhor Actriz e Melhor Actor. A lista de premiados não se esgota por aqui, pois mais 22 prémios complementam os vencedores, numa lista que pode ser consultada aqui. Terminada a Berlinale, resta esperar (e não muito) pelo Fantasporto, que começa já amanhã.



17 de fevereiro de 2006

Workshop na Casa da Animação


A Casa da Animação vai levar a efeito um workshop, dedicado à poesia visual, destinado a um público adulto. Será orientado pelo formador e realizador Fernando Saraiva. Conta o Apoio da ESAP e do Museu Nacional Soares dos Reis.


Workshop Cinema de Animação


A poesia visual foi um ponto de partida para o início da arte conceptual em Portugal, onde artistas e poetas iniciaram uma discussão sobre a natureza do objecto de arte. No contexto da exposição O Caminho do Leve de Ernesto Melo e Castro, patente no Museu de Serralves, a Casa da Animação realiza um workshop de cinema de animação centrado no contexto da poesia visual, abrindo aos participantes a possibilidade de experimentar vários processos criativos de construção de imagens numa permanente relação entre as técnicas de animação e imagem real.



Datas: 03 Março a 01 Abril

Horário: sextas 20h-23h e sábados 15-19h

Orientador: Fernando Saraiva

Destinatários: público em geral, especialmente da área das artes e multimédia, maiores de 18 anos

Local: Casa da Animação

Inscrição: 120€ (geral), 110€ (Amigos da CdA)

Nº máximo participantes: 12 (mínimo de 10)

Data limite inscrição: 01 de Março

A inscrição pode ser efectuada via e-mail, telefone ou fax. A inscrição só se torna efectiva com o pagamento de 50% do valor de inscrição.

Mais informações: mail@casa--da-animacao.pt; 22-5432770.


16 de fevereiro de 2006

”Walk the Line” por Nuno Reis




Um ano depois de Ray Charles e Bobby Darin serem homenageados, chega-nos aos ecrãs a história de Johnny Cash , um dos mais revolucionários cantores do seu tempo. As músicas podem não ser tão mundialmente conhecidas como as de outros artistas dos anos 60, mas o que é certo é que Cash é um dos cantores mais marcantes de sempre e este filme já era mais do que merecido.
Tal como Ray também Johnny nasceu num ambiente rural e teve uma infância marcada pela tragédia, Johnny depressa saiu de casa e na sua carreira militar começou a compor músicas diferentes. De regresso a casa e já casado com a mulher dos seus sonhos, Johnny tenta ganhar a vida como vendedor. No dia em que ouve um jovem num estádio a cantar uma música sobre uma vaca o seu desejo de carreira de música torna-se demasiado forte e é atirado pela força da necessidade para uma tentativa desesperada de fazer contrato discográfico.
Com o aumento da fama a vida de Johnny vai-se modificando, começa a viajar em digressões com alguns outros artistas e a dar espectáculos dignos desse nome. Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Roy Orbison, cada um é uma estrela sem igual! Entre esses grandes nomes da música encontra-se um dos ídolos da sua infância: June Carter, filha de músicos que desde os seis anos actuava na rádio. Ao longo dos anos estes músicos vão-se degradando e cometendo erros, na sua maioria metem-se nas drogas, um erro terrível que levará Cash a interromper a carreira.

Como muitas biografias “Walk the Line” mostra quanto é preciso caminhar até nos apercebermos que estávamos no caminho errado. Este filme é um redescobrir do artista e da obra, mas é acima de tudo um tributo à força de vontade, à perseverança, à amizade e à dedicação aos amigos. É sobre as mudanças que o amor provoca numa pessoa: como a pode salvar; como a pode tornar melhor; como a pode levar a transpor os obstáculos. Apesar do título ser de uma música do cantor o filme não é dedicado a Johnny mas a June. June foi a voz que o acompanhou, a musa que o inspirou, a mão que o salvou. Sem a sua amiga June, Johnny nunca teria andado na linha, sem ela não viveu.

O início do filme tem um som forte que provoca imediatamente interesse. A música e a tragédia alternam-se continuamente, colando o espectador de olhos e ouvidos ao que se passa e atirando-lhe de seguida algo fundamental sobre Johnny. Mesmo semanas depois de ver o filme ainda se tem frases na ponta da língua, cenas na mente e músicas no ouvido. Fiquei com a sensação de que faltaria algo ao filme mas não conseguia descobrir o quê. Era a vontade de ficar a ver algo tão bem conseguido por mais tempo. As interpretações de Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon estão fenomenais, é de longe o melhor trabalho de ambos e foram dignos vencedores dos Globes. Lamento a ausência do filme nos nomeados para a categoria máxima dos Óscares mas espero que o tempo e as demais estreias provem que este era realmente apenas o sexto melhor do ano.




Título Original: "Walk the Line" (EUA, 2005)
Realização: James Mangold
Intérpretes: Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin
Argumento: Gill Dennis e James Mangold baseados nas autobiografias
Fotografia: Phedon Papamichael
Música: T-Bone Burnett
Género: Biografia , Drama, Musical
Duração: 136 min.
Sítio Oficial: http://www.walkthelinethemovie.com

11 de fevereiro de 2006

Site Fantasporto


Foi ontem apresentado e colocado online o novo site do Fantasporto - Festival Internacional de Cinema Fantástico do Porto, o qual se encontra por agora com poucos conteúdos, mas que irá, a médio prazo, possuir espaços distintos, que passam pelo site do Festival, um espaço para fotos, o site da Cinema Novo (cooperativa organizadora do evento), uma revista de cinema digital e tecnologias inovadoras na venda de produtos e bilhetes. O site pode ser visitado em www.fantasporto.online.pt, e o Antestreia irá muito brevemente apresentar novidades quanto a este espaço virtual.


9 de fevereiro de 2006

"Rumor has It" por Nuno Reis

Esta semana a grande maioria dos espectadores estará a pensar em ir ver o rei das nomeações “Brokeback Mountain”, mas gostaria de referir uma alternativa. Também hoje estreia “Rumor Has It”, uma comédia inspirada no clássico “The Graduate”.

Sarah é uma trintona que volta com o noivo de New York até Passadela (Los Angeles) para assistir ao casamento da irmã mais nova. O regresso às origens traz de novo a estranheza que sente em casa, um problema de inadaptação à família e sensação de ser diferente. Quando a avó lhe revela um velho segredo, a mãe ter passado uma semana desaparecida antes do casamento, e um comentário do noivo a faz perceber que foi concebida antes do casamento dos pais decide investigar. Através de uma conversa com uma tia descobre que a vida da mãe se assemelha muito à de Elaine Robinson. Será a sua avó a Mrs. Robinson da canção? Será ela na realidade filha de “Benjamin Braddock”? Partindo do boato que diz ser o filme baseado numa família verdadeira, foi construído um novo argumento que homenageia o original mantendo um toque humano. Este filme narra a vida de uma mulher que usa o presente para conhecer o seu passado e acaba por destruir o futuro.

O elenco reunido é de luxo: Jennifer Aniston é a protagonista e o noivo é Mark Ruffalo. A irmã é interpretada por Mena Suvari e avó por Shirley MacLaine. O candidato a pai é interpretado por Kevin Costner. Richard Jenkins é o pai legal, tem alguns grandes momentos e merecia mais tempo no ecrã. Mark Ruffalo esteve bem em “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” mas depois não ficou bem em nenhum personagem. Aniston aguenta sozinha com o filme nos ombros mas a maior estrela é a veterana. MacLaine em “Bewitched” pegou numa personagem inesquecível (Endora) numa homenagem a Elizabeth Montegomery e à sua obra máxima, a feiticeira Samantha. Aqui a homenagem é à recém-falecida Anne Bancroft e à sua irresistível Mrs. Robinson. E tenho de dizer que tanto a actriz como o filme estão bem acima do que vimos em “Bewitched”.

Rob Reiner fez vários filmes que se tornaram clássicos. Depois de “When Harry Met Sally” e “Stand By Me” fez este filme que se escuda na magia de muitos clássicos (especialmente “The Graduate” e “Casablanca”) para tentar ser irrepreensível. O filme é agradável de ver, reactiva o suspense em vários momentos para manter o interesse e como comédia romântica cumpre os seus objectivos. Foi muito bem escolhida a semana de estreia pois inclui o Dia dos Namorados. Como pseudo-sequela está óptimo, muito melhor do que se fizessem uma sequela normal. Falha apenas na cena final ao cair em situações-tipo e piadas previsíveis. Mas isso não acontece com todos os filmes deste género?
Um conselho que devem seguir é ver/rever “The Graduate” antes de verem este filme. Torna muito mais fácil encaixar as histórias. Se não o fizerem antes irão fazê-lo na primeira oportunidade.



Título Original: "Rumor Has It" (EUA, 2005)
Realização: Rob Reiner
Intérpretes: Jennifer Anniston, Kevin Costner, Shirley MacLaine, Mark Ruffalo
Argumento: Ted Griffin
Fotografia: Peter Deming
Música: Marc Shaiman
Género: Comédia/Drama/Romance
Duração: 96 min.
Sítio Oficial: http://rumorhasitmovie.warnerbros.com/

4 de fevereiro de 2006

”Munich” por António Reis




Munich” é um filme brilhante mas que decepcionará a maior parte dos seus espectadores. Primeiramente porque é menos um filme sobre o terrorismo no coração dos Jogos Olímpicos e mais um filme sobre a vingança como método de persuasão. Depois porque é um filme marcadamente “judeu” uma vez que Spielberg não é capaz de fugir às suas raízes de um judeu no exílio dourado americano. Mas também não agradará aos israelitas, porque apesar da eficácia como marca da Mossad acaba por levantar interrogações, equívocos e perplexidades. Aos palestinianos não agradará seguramente dado que o terrorismo é hoje, como em 72, um método politicamente incorrecto.

Brilhantemente reconstituído nos cenários e nos adereços, tecnicamente impecável enquanto fotografia, com uma música étnica primorosamente escolhida, Spielberg constrói uma história quase policial com excelentes momentos de suspense, um filme de acção e de espionagem, onde a narrativa se estrutura em flashbacks e elipses temporais. Mas para além dos aspectos técnicos mergulhados na história começamos a detectar as dúvidas e as hesitações de um homem inquieto. O contexto histórico, que Spielberg pressupõe que os espectadores reconhecem minimamente, é todavia demasiado complexo para um espectador médio. Poucos se aperceberão da imagem que Golda Meir tem no filme, imagem aliás pouco abonatória, e que provavelmente é demasiado crítico e negativo desta primeira-ministra de Israel, num período crítico da sua história.

Também os diversos serviços secretos que se degladiam no palco de batalha que é a Europa saem beliscados deste drama humano e político. No fundo todos eles estão na mesma rede, partilham dos mesmo vícios, usam os mesmos iscos e as mesmas tácticas, num mundo onde as ideologias não têm sentido. Mas a imagem do grupo vingador que vai proceder à decapitação metódica de todos os responsáveis pelo massacre de “Munich”, acaba numa desagregação progressiva a nível físico mas também a nível das relações humanas e da lealdade para com o seu Estado. “Munich” é assim um filme em que todos são vítimas – os atletas são vítimas de uma guerra que não é sua, os carrascos são vítimas do seu ódio, o esquadrão da vingança é vítima das suas consciências. Trinta e quatro anos depois de Munique as feridas apenas se agravaram. A Academia reconhece o talento de Spielberg mas ou me engano muito ou este será um filme maldito e os Óscares esquecerão Munique.


Título Original: "Munich" (EUA, 2005)
Realização: Steven Spielberg
Intérpretes: Eric Bana, Mathieu Kassovitz, Daniel Craig, Geoffrey Rush
Argumento: Tony Kushner e Eric Roth
Fotografia: Janusz Kaminski
Música: John Williams
Género: Crime/Drama Histórico/Thriller
Duração: 164 min.
Sítio Oficial: http://www.munichmovie.com/