29 de março de 2009

Notas de produção


Reencontro de Boyle e Beaufoy


Argumentista e realizador do oscarizado "Slumdog Millionaire" podem voltar a trabalhar juntos. Boyle ia realizar uma trilogia de animação para a Dreamworks, baseada na saga Bromeliad sobre gente pequenina que habitava entre humanos.
O argumento esteve entregue a Frank Cottrell Boyce ("Millions), mas o projecto não avançou. Agora que está com o outro argumentista de Boyle será que o realizador reconsidera e a dupla maravilha volta a fazer das suas?


Ridley Scott também se converteu ao 3D


Seguindo o exemplo de James Cameron, Scott vai filmar o seu próximo projecto em 3D. O filme será baseado no livro "Forever War", obra de 1974 contra a guerra (efeito Vietnam) que venceu os maiores prémios literários. A primeira frase da novela é " Tonight we’re going to show you eight silent ways to kill a man." pelo que não faltará emoção.


Marvel cria viveiro de talentos


Numa tentativa de ter equipa criativa para os próximos quatro anos de filmes, a Marvel está a seleccionar internamente os artistas para esse grupo. Até quatro artistas por ano vão ser incluídos na equipa. De momento cinco artistas estão a trabalhar nos cinco filmes de sucesso garantido. Este novos talentos vão ter a difícil tarefa de criar o argumento para Black Panther, Cable, Doctor Strange, Iron Fist, Nighthawk e Vision, heróis praticamente desconhecidos do público cinematográfico e que se focariam mais no nicho de fás das BDs.
Esta mesma técnica é usada na Disney desde 1990 com os resultados incríveis que se conhece.


Falta tempo para viajar no tempo


O filme "The Time Traveler’s Wife" baseia-seno livro homónimo que narra as peripécias de uma mulher cujo marido desaparece imprevisivelmente para outra época por ter uma anomalia genética.
A produção não também não conseguiu controlar o tempo e o filme esteve parado por questões biológicas e climatéricas. De acordo com Rachel McAdams, a protagonista, as filmagens demoraram mais do que o estimado por dois motivos. Primeiro quiseram esperar que mudassse a estação para filmar o lago com uma vegetação diferente, entretanto Eric Bana perdeu a cabelo em "Star Trek" e esperaram que crescesse.
Ambos os casos podiam ser remediados com adereços. É bom saber que se preocupam mais com fazer um bom trabalho do que com lucros rápidos.


Mickey aprendiz de feiticeiro em carne e osso


Não foi uma transposição completa do rato para o ecrã, mas uma adaptação livre da história para Nova Iorque. Feiticeiro deixa aprendiz sozinho, vassoura ganha vida e vontade própria, muitos problemas para todos, etc.
O que o filme tem de original é Jon Turteltaub , realizador da dupla "National Treasure", ser o responsável. Portanto Nicolas Cage está desde a semana passada vestido de feiticeiro no metro nova-iorquino. Como ajudante temos Jay Baruchel ("Tropical Thunder", "Million Dolar Baby"), como o amor dele Teresa Palmer ("The Grudge 2","Bedtime Stories") e como feiticeiro mau Alfred Molina.
Infelizmente o filme não foi escrito como comédia, mas como drama/fantasia. Com humor ainda valeria a pena ver Cage, para ser sério era desnecessário.


Brevíssimos


Ben Affleck e Matt Damon voltarão a trabalhar juntos assim que Damon termine o próximo Bourne (o quarto da ainda trilogia). Deverá sair em 2010 e vão filmar baseados num argumento que não é dos próprios e Affleck ainda não sabe se será ele a realizar. Por enquanto não há mais detalhes, mas convém recordar que as únicas ocasiões em que os amigos trabalharam juntos (figurantes não conta) foram os incontornáveis "Good Will Hunting" e "Dogma".

Parece que "The Thing" vai ter uma prequela. O argumento sairá da mente transformadora de Eric Heisserer, argumentista do remake de "Nightmare in Elm Street" e a realização será entregue ao produtor holandês Matthijs van Heijningen. Sem comentários...

Vozes de "Ice Age 3"


O terceiro capítulo da saga Ice Age conta as aventuras dos nossos amigos mamíferos num mundo perdido em que ainda existem dinossauros.
Uma grave falha foi só terem dito esta semana que Simon Pegg vai dar a voz a uma doninha zarolha.

Após uma breve investigação descobri que as outras vozes novas no filme são dos pequenos Atticus Shaffer e Joey King. Quem esteve no Fantas de certeza que se lembra deles: Shaffer foi Matty em "The Unborn" e King fez de Briana em "Quarantine" (o equivalente à Jennifer de "REC").





"Eden Lake" por Nuno Reis

É frequente pessoas normais acharem que os amantes do cinema de terror sofrem algum tipo de perturbação. Quem me conhece e ainda não tinha pensado isso... com "Eden Lake" pensou isso e muito mais. Em menos de um ano assisti quatro vezes ao filme em tela. Em duas décadas que levo a ver filmes penso que foi a minha melhor marca. Talvez o meu primeiro motivo para ir ao filme fosse Kelly Reilly. A incursão da actriz no horror era razão mais do que suficiente para ignorar a restante dezena de filmes que Cannes oferecia à mesma hora. Cheguei, vi e fiquei convencido. Desde então sempre que calhou estar num festival que tinha Eden Lake lá estava eu na sala.
Claro que o efeito surpresa passou depressa. Que o diga quem esteve ao meu lado e teve - a pedido – alertas com cinco segundos de antecedência para todas as cenas fortes.
Deu para reparar em todos os detalhes, desde os comentários da rádio no início do filme, até às relações entre as personagens. A degradação psicológica da Jenny é especialmente notória quando a voltámos a ver a brincar com crianças. Que mudança! Desde professora querida até sobrevivente cobarde e finalmente lutadora, temos um desenrolar de emoções perfeitamente encadeadas. Não fossem os acordes musicais a prenunciar sustos mais fortes que aguardavam vez, o filme seria uma grande surpresa para os incautos.

Esta é a história de um jovem que se quer propor à namorada junto a um lago maravilhoso. O fim-de-semana na Inglaterra rural começa por ser pouco agradável, mas estão felizes e ainda se conseguem divertir com a situação. No lago tudo piora e aquilo que seria um curto par de dias de sonho torna-se num infindável pesadelo. O retiro e sossego por que ansiavam vai-se chamar isolamento. Sem comunicação com o exterior nem transporte, vão ter de correr e lutar pela sobrevivência. O inimigo que os atormenta não é um extraterrestre, animal ou vampiro saído da imaginação de um qualquer argumentista imaginativo. A ameaça é a sociedade, a falta de valores morais que assolam a juventude actual.
O medo sentido pelo espectador não é daqueles que estão limitados ao filme e terminam passados os 90 minutos, este passa para além da tela porque revela os monstros que habitam na nossa rua. É um problema que, não parecendo tão grande como as criaturas do fantástico, é muito mais preocupante porque ataca qualquer um, em qualquer lugar e a qualquer altura. É mais que plausível, é um problema real.

Mais do que ser um filme de que se gosta ou não, é um filme que provoca sempre desconforto. O principal motivo é não haver heróis para apoiar. No lago não se distingue os bons dos maus, são todos selvagens. O comportamento do casal é realista, não reagem de forma muito inteligente, mas é porque estão numa situação indesejável e imprevista, agem apenas por instinto. Se pensarmos nos miúdos dentro do seu contexto familiar, não desculpamos, mas compreendemos o seu comportamento.
Tudo corre como se previa, não como se queria. A sensação de impotência do espectador estende-se até ao último minuto.

Um país é caracterizado pelas pessoas que o ocupam. Este é o retrato de um país sem rumo, sem respeito pelo indivíduo, sem futuro. Basta olhar em volta e percebemos que é para esse cenário que todos os países civilizados se dirigem. Urge uma mudança cultural que vai muito além da escola. Para quando requisitos mínimos para ser pai?



Na ficha optei pelo poster francês que é o mais apelativo entre os poucos existentes. Brilhante como mostra a ameaça animal com um simples sinal de trânsito.

Título Original: "Eden Lake" (Reino Unido, 2008)
Realização: James Watkins
Argumento: James Watkins
Intérpretes: Kelly Reilly, Michael Fassbender, Jack O'Connell
Fotografia: Christopher Ross
Música: David Julyan
Género: Terror
Duração: 91 min.
Sítio Oficial: http://www.edenlakemovie.co.uk/

28 de março de 2009

Posters de "In the Loop"



"In the Loop" é uma comédia política sobre a guerra no Médio Oriente envolvendo os governos americano e inglês.



Os posters das personagens...
Tom HollanderSteve CooganJames Gandolini

... fazem lembrar uma campanha recente...


.. mas não deve ter igual sucesso. A estreia britânica está marcada para o próximo mês e ainda não há distribuidor para os restantes mercados.

Alguns trailers mais


Hoje há muitos excertos para ver.

Comecemos pelo behind the scenes the "Centurion". Este épico baseia-se no misterioso desaparecimento da invencível Nona Legião do Império Romano. Neil Marshall decidiu criar um final para estes 3000 homens e colocou-os a enfrentar um inimigo temível.




Ainda no outro dia falei deste filme, mas eis mais um teaser para "Angels and Demons"...




Para quem gostar de Bong Joon-Ho ("The Host") este é o teaser do seu próximo drama. Em "Mother" uma mãe procura o responsável pelo assassínio de que o seu filho é acusado.




Finalmente, num tom mais leve, três clássicos como seriam feitos por realizadores modernos.


27 de março de 2009

26 de março de 2009

Videos


O site Coming Soon disponibilizou os primeiros 2 minutos da comédia dramática "Sunshine Cleaning" sobre uma família com problemas que encontra na limpeza de cenários de crime o seu sustento. Emily Blunt e Amy Adams protagonizam como irmãs.




Esta segunda curta é o trailer de um filme imaginário em que uma colónia de nudistas é invadida pelos russos. Os sobreviventes vão lutar despidos pela liberdade. Seria algo entre "The Russians Are Coming, the Russians Are Coming" e "Troma's War"...


Breves


Os três estarolas


Podem não ser os irmãos Marx, mas também não eram maus. Os três estarolas vão voltar ao cinema no invulgar formato de uma sessão com várias curtas-metragens. É o mais adequado porque não havia foram de espremer a história durante mais de uma hora, arriscava-se a ser um novo "Mr. Magoo".
A realização estã nas mãos dos irmãos Farrelly e os actores são um trio de respeito. Ao já anunciado Sean Penn (Larry) juntam-se ninguém menos que Jim Carrey (Curly) e Benicio Del Toro (Moe). O filme sai no próximo ano.


Spin-off de "Forgetting Sarah Marshall"


Este segundo filme vai seguir o músico Aidous Snow (Russell Russell) numa atribulada viagem até ao Pavilhão Greek de Los Angeles. Jonah Hill (de "Superbad") vai ser o produtor que tem de o controlar e levar ao destino. A actriz principal do filme será Emily Blunt – de quem volto a falar no artigo seguinte - como uma cantora interessada em fazer dueto com ele.
O filme contará ainda com participação de cantoras populares como Christina Aguilera, Pink, Katy Perry e o veterano Dee Snider, vocalista dos Twisted Sister e dos Widowmaker.


Sequelas sem fim


Como se não bastasse quererem fazer remakes de uma história tão comprida como "Neverending Story", agora decidiram criar uma nova saga heróica com um herói quase imortal. Usa o nome bíblico de Matusalém e, tal como o nome sugere, vai ter mil anos para viver... e aprender a ser alguém que não quereriam encontrar numa rua escura. À semelhança de Liam Nesson em "Taken", Matusalém poderia dizer algo como "[…]skills I have acquired over a very long career. Skills that make me a nightmare for people like you.[…]".
O realizador é James Watkins que tem prestes a estrear em Portugal "Eden Lake". Aceitam-se apostas quanto ao número de sequelas.

Próximos projectos de Woody Allen


Os filmes de Woody Allen são lançados com uma frequência invejável. Acabou de ganhar um Oscar com "Vicky Cristina Barcelona", em Junho estreará "Whatever Works" (com Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson e Kristen Johnson) e já prepara o seguinte. Para esse projecto contratou Nicole Kidman, Anthony Hopkins, Antonio Banderas, Naomi Watts, Josh Brolin e Freida Pinto. Invejável...

Tom Hanks a caminho do céu



Este é o poster final de "Angels and Demons", regresso de Robert Langdon ao mundo secreto da Igreja.



Os próximos tempos serão espaciais para Hanks. Não só reencontrou nesta saga o realizador de "Apollo 13", como vai produzir (e talvez interpretar) a adaptação para cinema de Major Matt Mason. Esta personagem foi um brinquedo Mattel muito popular nos EUA após a chegada à lua. Mason era o comandante de uma equipa que dividia os dias entre uma estação espacial e o nosso planeta-satélite.

Por coincidência a Disney vai relançar nos cinemas "Toy Story" onde não só temos Tom Hanks a dar voz a um brinquedo, como temos um astronauta.


Mais um pouco de Star Trek


Este é o mais recente spot do filme "Star Trek". Repete muito do que já foi visto nos anterores.





Como ainda há quem pense que este filme precisa de mais material, alguns fãs andam a tentar fazer passar estes posters por autênticos. Na maioria nem sequer os fizeram na língua do país onde supostamente seriam usados...






Itália
Espanha
Austrália
Alemanha
Reino Unido

24 de março de 2009

22 de março de 2009

Clássicos num minuto


Há cerca de uma semana começaram a circular umas curtas-metragens que num take de apenas um minuto recriavam filmes de culto. O destino final de todas elas será o concurso da Universidade de York "films in a minute". Aqui estão as duas primeiras. Esperemos que as restantes não demorem.

Forrest Gump


Kill Bill



"Gran Torino" por Nuno Reis

Seja o argumentista que o imagina, o realizador que o dirige, ou o actor que lhe dará vida, quem faz um filme tem de se entregar totalmente à arte. É na película que ganhará a imortalidade e tem de pensar em cada filme como sendo o seu último. Com a idade muitos ganham consciência desse facto. Veja-se os exemplos de Richard Jenkins e Frank Langella que foram nomeados para Oscar pela primeira vez, ou de Alan Alda e Peter O’Toole que nesta década retomaram a glória do passado. Outros há que, tendo mantido a carreira sempre ao mais alto nível, decidem fazer recordar o passado. É isso que Clint Eastwood e o seu Gran Torino pretendem. Em apenas duas horas sintetizam o que é ser americano e como foi ser Eastwood, como aqueles auto-retratos que alguns dos grandes pintores deixaram. É a obra definitiva do actor em todos os sentidos.

Walt Kowalski é um reformado que acabou de enviuvar. Os filhos e netos deixam-no envergonhado pelo que quer como única companhia a sua fiel cadela Daisy. A América que Walt tem perante si não é aquela que ajudou a construir. Este herói de guerra recebeu uma medalha por matar coreanos. De regresso ao seu país trabalhou durante 50 anos construindo carros para a Ford, expoente máximo da indústria automóvel americana. Ironicamente o que o rodeia é o oposto disso. Lentamente as restantes casas na vizinhança tornaram-se o lar de numerosas famílias asiáticas e um dos filhos vende carros japoneses.
As mortes podem ser um peso na consciência que lhe assombram as noites, mas na garagem tem ainda um dos Gran Torinos que construiu. Esse é o seu maior orgulho. Walt é um velho descontente e rabugento, mas é também um patriota como poucos que ama o seu país e o seu trabalho.
Crítica social e geracional, "Gran Torino" mostra pelos olhos de Walt uma América frágil, sem princípios ou identidade de tão contaminada por estrangeiros. Uma América moribunda. Walt não teme a morte, receia viver num país que não corresponde ao que ele se esforçou por deixar às gerações mais novas. Um país desrespeitado pelas pessoas por quem ele lutou numa guerra que lhe marcou a vida.

O grito de alerta é dado quando um miúdo lhe tenta roubar o carro. A partir daí vamos ver que Walt ainda tem muito para dar e vai passar o tempo que lhe resta de vida a lutar pelos princípios morais em que foi educado. Convém dizer que o lema da First Cavalry Division a que pertenceu é “vive a lenda” e que se chamam orgulhosamente "a equipa número um da América". Foi exactamente nesses princípios que a personagem foi criada.
Aos poucos vai-se envolvendo com os vizinhos numa autêntica metáfora do que é o seu país. Começa por proteger o seu carro e impedir a entrada de estrangeiros no seu relvado. Quando começa a ter mais contacto explora-os para bem dos outros, ensina-os, protege-os e tenta educá-los à boa velha maneira americana. No melting pot mudam-se os tempos, mudam-se os ingredientes.Se polacos, italianos e irlandeses deram origem ao que é hoje o bom americano, talvez países não europeus mereçam igual oportunidade. Se até agora mexicanos, judeus e pessoas de cor eram só protagonistas de anedotas, é chegada a hora de mostrarem aquilo de que são feitos e provarem que dão americanos tão bons ou melhores que os actuais.

É pena que neste filme quase só se aproveite o actor principal. Bee Vang que devia ser a outra fundação onde assentaria a história tem dos piores desempenhos que alguma vez vi (só digo dos piores por simpatia para com o realizador). Não parece que tenham escolhido só maus actores para contrastar com Eastwood. Christopher Carley como o padre que tenta que Walt se confesse e Ahney Her como a simpática vizinha estão bem, assim como John Carroll Lynch que tem duas cenas para dar humor.

Por enquanto é um bom filme. Para as gerações vindouras será a obra definitiva para compreender um dos maiores actores do século XX. "Million Dolar Baby" era para ser a última interpretação, com o Oscar seria ainda melhor altura para parar. Este trabalho extra, este canto do cisne, é um alerta para os novos tempos e um final de carreira mais adequado a quem foi Eastwood todo este tempo. O papel de Walt Kowalski é a despedida que qualquer cowboy desejaria depois de décadas a lutar pelo bem. No fim resta o orgulho de ter dever cumprido e as botas calçadas.
Até ao ano passado as saudades de Clint Eastwood eram resolvidas vendo um western, Dirty Harry ou "Unforgiven". Lentamente "Gran Torino" vai ganhar fãs até ser a primeira escolha.



Título Original: "Gran Torino" (Austrália, EUA, 2008)
Realização: CLint Eastwood
Argumento: Nick Schenk e Dave Johannson
Intérpretes: Clint Eastwood, Bee Vang, Christopher Carley, Ahney Her
Fotografia: Tom Stern
Música: Kyle Eastwood, Michael Stevens
Género: Crime, Drama
Duração: 116 min.
Sítio Oficial: http://www.thegrantorino.com/

14 de março de 2009

"The Wrestler" por Nuno Reis

Foi com grande expectativa que este filme chegou a Portugal. A exibição estratégica horas antes da cerimónia dos Oscares foi um dos momentos-chave do Fantas deste ano. Falhou a conquista do Oscar, mas o público portuense reconheceu a qualidade do filme. É difícil escapar ao cliché de ver "The Wrestler" como o regresso de Rourke, mas para mim esse filme foi há quatro anos.

Esta é a história de um homem que não soube crescer. Robin Raminski começou por inverter os nomes e trabalhou sob o nome de Randy Robinson. Tornou-se um dos maiores wrestlers de sempre e os seus combates entraram para a história do desporto, mas como pessoa o destino não lhe sorriu. Algo está mal quando se chega sozinho aos 50 anos e se passa a semana a carregar caixotes e os fins-de-semana ou a dar autógrafos ou nos ringues a bater com cadeiras nas pessoas. Randy não consegue admitir, mas o seu tempo já passou. Em tempos foi o ídolo das multidões, agora é apenas a nostalgia que lhe traz (pouco) público.
Randy "The Ram" passou a vida em lutas de brincar, esquivando-se às responsabilidades e sem conseguir manter a família. Tem uma existência precária, triste e solitária. Além dos amigos que mantém dos velhos tempos - cada um em pior estado que o anterior - a única pessoa que lhe dá alguma atenção é Cassidy, uma stripper que ele visita sempre que o dinheiro permite.

Algumas cenas podem impressionar. Aqui toda a falsidade do wrestling é desmascarada, mas também vemos que o sangue que escorre é verdadeiro - como Shylock dizia "se me picarem não sangro como vós?" - tudo aquilo que se crava na pele tem de sair e isso deixa marcas. Ram teve vários ossos partidos e deslocados, guarda cicatrizes dos outros tempos e continua a criar novas. Um dia o seu coração falha e isso obriga-o a dar o passo que adiou toda a vida. Reforma-se da luta, do sonho... Vinte anos a ser agredido e aquilo que mais o magoa é parar para enfrentar a realidade.
"The Wrestler" é um retrato da degradação humana. Sem entrar em complicadas produções traz-nos uma história bem simples de um homem com um passado glorioso, um presente miserável e um futuro incerto. Ram é uma boa pessoa que comete muitos erros e que não podemos deixar de o admirar. irrita-nos vê-lo falhar, mas perdoamos depressa porque debaixo de todo aquele músculo está um coração frágil e bondoso (tal como o mesmo Rourke fez em "Sin City" mostrando um Marv de pedra que se derretia ao ver gatinhos). Robin não pode ser novamente Robinson. Procura conforto em Cassidy, tenta reatar os laços há muito perdidos com a filha, mas nada o consola. Servir saladas e cortar carnes no supermercado não é nada excitante comparado à adrenalina de saltar de um escadote para as costas de alguém, de ser atirado às cordas, de se sentir vivo. Mas é atrás do balcão que vamos admirar mais a sua coragem e perseverança. É aí que enfrenta os seus medos e revela o homem em que se devia ter tornado mais cedo.

Há momentos memoráveis no filme. A introdução onde apresentam a ascensão e queda de Randy com simples recortes de jornal, as eróticas danças de Cassidy, a entrada de Robin para as suas novas funções acompanhado pelos gritos da multidão, cada momento de humanidade nas lutas. Mas o que faz o filme grandioso é o humano que Rourke tão bem encarna. Ram vai ter de se decidir entre um dos amores. A sua decisão pode parecer a mais fácil e a mais cobarde, mas na verdade é a mais nobre que poderia tomar. Tem de ficar com quem esteve sempre com ele. Os merecidos aplausos no final do filme são dirigidos ao todo da obra com especial destaque para o actor, se fossem para a personagem não estariam pior entregues. Bravo Randy!

Título Original: "The Wrestler" (EUA, França, 2008)
Realização: Darren Aronofsky
Argumento: Robert Siegel
Intérpretes: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood
Fotografia: Maryse Alberti
Música: Clint Mansell
Género: Drama
Duração: 111 min.
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/thewrestler/

Sequelas e remakes


Esta última semana tem sido pródiga no anúncio de reinvenções.

Uma sequela para "Taken" foi anunciada pelo argumentista Robert Mark Kramen. Ainda não foram dados detalhes sobre o filme, mas desde que se mantenha fiel ao primeiro será refrescante. O mesmo argumentista vai também tratar da adaptação para o cinema americano de "Banlieue 13".

Fresnadillo vai recuar um pouco mais no tempo e realizará o remake de um clássico dos anos 60 "The Man With the X-Ray Eyes" de Roger Corman.
O realizador já por duas vezes competiu no Fantasporto, com "28 Weeks Later" e com "Intacto" que acabou por vencer o grande prémio.

Também de Espanha e também da lista de vencedores do Fantas vem o realizador do terceiro episódio da saga "Twilight". O escolhido foi J. A. Bayona que em 2008 nos trouxe "El Orfanato". O segundo episódio (de Chris Weitz) sairá em Novembro e o de Bayona no Verão de 2010.

10 de março de 2009

A dança dos Wachowski

O último trabalho dos Anthony & The Johnsons, The Crying Light, é um pequeno monumento musical que o Antestreia tem escutado com enorme devoção. De entre as fantásticas composições do britânico Anthony Hegarty, ouça-se com agrado a segunda faixa, Epilepsy is Dancing, cujo videoclip que aqui deixamos foi realizado pelos irmãos Wachowski, mentores da trilogia "Matrix". Para quem gosta do estilo, aconselho vivamente a procurar o resto do album. Um luxo!

5 de março de 2009

Cinema sem orçamento


Quando o cinema português parecia perdido eis que surge uma réstia de esperança. Acabaram-se os filmes com orçamentos desmedidos e actores conhecidos. Voltou-se ao básico que tão bons resultados dava no início da década.

Chega a algumas salas no dia 19 o mais económico projecto de que tenho memória. "100volta" assume-se como filme low-cost - apenas 70 mil euros - cheia de acção, adrenalina e humor. Aqui são narradas as peripécias do agente federal Zé Galinha que, ao investigar o perigoso Aduzer, acaba por roubar o carro ao chefe da máfia russa com um perigoso software.
O filme só ficará pronto na semana de estreia, mas até lá sempre se pode ir vendo o site.



Será possível que seja um filme bom? Será tão mau que é bom? Será simplesmente mau? Daqui a duas semanas saberemos.

4 de março de 2009

Momento Fantas 2009


A vantagem dos festivais de cinema é que não há grandes ou pequenos nomes do cinema, todos se misturam e falam como iguais. Que o diga Nicky Lianos, realizadora da curta "Monsters and Rabbits". A organização ao saber da admiração que a realizadora tinha por Pil-Sung Yim fez com que a curta fosse apresentada na sessão de "Hansel & Gretel" para que estivessem juntos em palco.

Melhor do que isso só se conseguisse ajuda dos seus ídolos para promover a sua curta-metragem. E não é que o fez? Aquele que para mim foi o momento do festival ficou guardado para a posteridade e já começou a ser divulgado via Facebook.

Pil-Sung Yim e Wim Wenders de manhã imitaram coelhos, horas depois seriam agraciados com dois troféus cada.

Entrevista "Samurai Avenger"

O Antestreia fez uma pequena entrevista exclusiva a Kurando Mitsutake à sua passagem pelo festival portuense no passado dia 21. Farwest intemporal povoado de zombies, sangue e vísceras, "Samurai Avenger: Blind Wolf" foi uma excelente forma de começar o festival.



Antestreia: No catálogo há uma referência a outros filmes onde o herói era cego como Rutger Hauer em Blind Fury ou Zatoichi. Serviram-lhe de influência ou é apenas coincidência?
Kurando Mitsutake : Absolutamente. Para o meu filme "Samurai Avenger" foram uma grande influência. Shintarô Katsu é uma das grandes figuras do cinema japonês e definitivamente a minha grande inspiração para o Samurai Avenger.

A: Como foi a experiência de dirigir e interpretar um cego num filme de terror?
KM: Ser o protagonista e o realizador de um filme é um desafio difícil. Para um filme de baixo orçamento como o nosso foi uma vantagem. Sempre que havia algum atraso eu estava disponível. Quando alguém precisava de uma caracterização específica mais trabalhosa, se estivesse a demorar muito tempo, eu saltava a frente das câmaras e roubava a cena. Adiantava trabalho para poupar tempo. Eu ser o actor principal ajudou a produção.

A: Em que passo está a distribuição para o Japão?
KM: Ainda estamos a procurar distribuidora.

A: E o circuito dos festivais?
KM: Hoje estou aqui, foi a antestreia mundial do filme, para a semana estarei a promovê-lo em Yubari no Japão e penso que o filme também estará no Cinequest em San Jose no final do mês.

A: O que achou da reacção portuguesa ao seu filme?
KM: Foi avassaladora, muito mais do que estava à espera. A projecção era às 23:15, quando vinha a voar para cá pensava "e se só lá estiverem 3 pessoas", mas não, a sala estava quase cheia. Pareceu-me que toda a gente adorou, por isso estou muito satisfeito.

A: Os momentos de reacção do público corresponderam às expectativas? O público português reagiu quando e como devia aos diálogos e à acção ou tiveram uma visão diferente da imaginada por um oriental?
KM: Acho que correspondeu, reagiram quando esperava. Não tive nenhuma surpresa da parte do público. A reacção mais forte que teve foi na cena do bebé, quando a mulher zombie é morta e o bebé sai disparado… acho que foi a mais forte.

A: Pensa que os filmes do género de horror japonês sejam muito diferentes do criados pelo cinema ocidental?
KM: No Japão actualmente temos uma maior censura nos filmes mainstream os de grande orçamento e para televisão. Para os de baixo orçamento são uma resposta a essa censura, a cada ano se tornam mais violentos como algum do trabalho ultraviolento de Takeshi Miike. Miike está a tornar-se um realizador mainstream, a violência está a desaparecer dos seus filmes. Não sei a situação da indústria cinematográfica coreana, mas parece haver problemas entre os criadores, desejosos de criar algo, e a censura.

A: O seu filme será lançado sem censura?
KM: Espero que sim, ainda não sei, mas é o mais provável.

A: Qual é a diferença? São as salas onde os pode projectar?
KM: Quando eu era pequeno o Japão não utilizava a regulação etária. Agora dizem proibida a entrada a menores de 15 ou 18, ou algo assim, estão a definir regras concretas. O meu filme deve ser classificado como "maiores de 15".

A: E era o pretendido?
KM: Estou bem com essa classificação. Algumas cenas do meu filme não deveriam ser vistas por crianças abaixo dos 15. Eu compreendo.

A: Já tem projectos para o seu próximo filme?
KM: Acabamos este filme em Novembro e ainda estou a recuperar do processo de criação cinematográfica. Já comecei a recolher ideias para a sequela de "Samurai Avenger", mas preciso de uns meses de descanso antes de pensar nisso a sério.