17 de agosto de 2010

"The Ghost Writer" por Nuno Reis

Uma das grandes polémicas cinematográficas do ano foi a detenção de Polanski num festival. Numa viagem de lazer para ser homenageado num país supostamente neutro, acabou preso e quase deportado para os EUA que, apesar de adorarem os filmes, não gostam muito do realizador. A única consequência visível foi que parte do filme "The Ghost Writer" foi dirigido do interior duma cela.

A trama desta obra é deveras curiosa. Pegando em várias teorias da conspiração sobre os políticos que apoiaram a caça às bruxas das armas de destruição maciça, foi construido um enredo em torno de um hipotético primeiro-ministro britânico. A personagem principal é um escritor convidado para escrever as memórias do tal político. A missão do Fantasma (o autor nunca é nomeado) parecia ser dar uns retoques numa obra já escrita, mas acaba a transformar todo o livro. No decorrer da investigação encontra material não utilizado pelo escritor anterior. Levado a aprofundar o porquê descobre muitos segredos políticos e acaba por se colocar em risco de morte perante forças poderosas.

Foi a publicidade em torno do realizador que tornou o filme falado. Pode ser que estar sob custódia tenha afectado a edição ou mesmo a realização, mas isso não justifica a pequenez do argumento. A nível de polémica não é chocante nem inovador. Tanto em cinema como noutros meios já se apresentaram teorias mais ousadas. O filme vai mantendo um bom ritmo especialmente devido ao desempenho de Ewan McGregor e Olivia Williams. Ele como elemento activo, ela como fonte inesperada de informação fazem uma boa dupla. Entre os demais actores destaque óbvio para Tom Wilkinson. Pierce Brosnan é um mero figurante em torno de quem gira a narrativa, tem a altivez necessária e não compromete, mas Kim Katrall é uma actriz demasiado conhecida para a personagem miserável que tinha para fazer.

O filme desenrola-se de forma atractiva na primeira metade. Sem nenhum tipo de aviso passa do drama para o thriller. Um GPS pré-programado (erro do argumento) leva o filme para novos rumos. Subitamente além da intriga e espionagem há perseguições e são dadas demasiadas informações para quem não estiver a assistir com atenção máxima. Mesmo assim este conto do investigador preso numa ilha nunca chega a parecer mais do que um parente pobre de "Shutter Island".
A realização é um dos pontos fortes, por isso é que mesmo considerando o argumento mediano é um bom filme e que se vê bem por duas horas. Só não convence e nunca parece tão credível como era exigido.


Spoiler


Sem arruinar a experiência a quem vê posso dizer que o primeiro escritor esconde provas no quarto e no livro. As do quarto ainda se aceitaria que não fossem encontradas num cenário em que o autor não fosse suspeito. O código usado por ele na escrita é ridiculamente simples, mas isso é propositado. O objectivo era apenas passar despercebido na editora e ser depois encontrado rapidamente nos exemplares em circulação. No entanto esse facilitismo contrasta demasiado com o elevado secretismo do meio e a vigilância a que era sujeito o ex-ministro e a publicação. Foi uma forma simplista de encerrar uma história que merecia melhor.


Título Original: "The Ghost Writer" (Alemanha, França, Reino Unido, 2010)
Realização: Roman Polanski
Argumento: Roman Polanski e Robert Harris (que também é o autor do livro)
Intérpretes: Ewan McGregor, Olivia Williams, Pierce Brosnan, Tom Wilkinson, Kim Katrall
Fotografia: Pawel Edelman
Música: Alexandre Desplat
Género: Drama, Mistério, Thriller
Duração: 128 min.
Sítio Oficial: http://www.theghostwriter-movie.com/

2 comentários:

Bruno Cunha disse...

É bom mas merecia mais intriga. Concordo mais ou menos contigo. O erro do gps,hmm

Abraço
Cinema as my World

Nuno disse...

É um erro demasiado grosseiro. Se o outro foi e voltou, porque achava o GPS que ainda não tinha saído da ilha?