... ou como o Porto fica vazio nos cinemas.
Já aqui nos temos pronunciado sobre o esvaziamento cultural a que a cidade do Porto está votado. Do teatro à música, do cinema às artes plásticas, só os projectos de iniciativa privada é que conseguem sobreviver na razia que aquela vai sofrendo.
Está, ao que parece, confirmado o encerramento das salas da Medeia Filmes no Shopping Cidade do Porto. É mais um passo no paulatino desvario anti-cultural que assola a cidade, agora pela administração do centro comercial não chegar a acordo quanto aos valores de renda.
Assim, a 31 de Maio será dado o canto do cisne das últimas salas que possuiam programação extra-comercial, com projecções de cinema europeu, independente e asiático. Aparentemente, os valores de bilheteira eram demasiado baixos para suportar os altos encargos com a renda que a administração do centro comercial exige - e nem uma proposta de esta ser paga numa medida percentual da receita da venda de bilhetes comoveu os administradores.
O adeus marca mais um marco de profundo desagrado a que a política cultural nacional, em especial a portuense, esta votada. Os interesses da construção do dito shopping falaram sempre mais alto. Recorde-se, a título de curiosidade, que o Supremo Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto veio confirmar, no final do ano passado, a demolição do mamarracho, por ilegalidade no licenciamento e violação dos planos urbanísticos da cidade. O que não invalida que a investida cega dos euros impeça um acordo razoável para a continuidade do funcionamento das ditas salas.
Já não basta a administração central produzir diarreias legislativas como a Lei do Cinema, e patrocinar cortes e costuras orçamentais na hora de atribuir subsídios, de uma falta de planeamento e bom senso gravíssimos, temos agora as administrações privadas a desenvolver pensamentos de programação cultural dignos de crianças de seis anos de idade.
A oferta do Teatro Rivoli a privados chegou, por entre outras razões, da iluminada ideia da edilidade de que a extinta Culturporto dava prejuízo e, portanto, varria-se para os privados irem sugando uns trocos. Os privados, que possuem centros comerciais ilegalmente erigidos, cogitam que ter umas salas de cinema com programação de qualidade dá prejuízo - conclusão, varrem-nos para a rua.
No final, o único cinema a que as pessoas assistem como um verdadeiro projecto de terror é o da turma do 9.º C, que estava «em grande», porque um energúmeno de telemóvel em punho filma uma catraia desaustinada a clamar pelo dela e a tratar a professora por tu, lançando o alerta em todo o sistema educativo nacional, com pseudo-comentadores da treta a descobrirem causas e darem soluções, a gastarem de tanto pronunciar, palavras como «avaliação», «projecto» ou «ministra», esquecendo-se que, em primeira análise, a culpa é deles e daqueles que lhes ministraram cursos com currículos disciplinares básicos e ridículos, que não se preocupam em incentivar a busca por novos desafios culturais, mas que ao invés os deixa cair em completos marasmos intelectuais, cuspindo uma maioria de iletrados para leccionar e sem um pingo de honestidade intelectual para procurarem circuitos que os enriqueça e os torne melhores, para tentar elevar a média daqueles que aprendem.
Tudo resulta, em grande parte, em estruturas disfuncionais; políticas, educacionais e culturais. Tem-se a cultura por supérflua, e o resultado está à vista. Quem ensina, não o sabe fazer, quem aprende, não o sabe receber. Quem deve dar cultura, não a sabe dar. Quem deve programar, não a sabe fazer - porque começam a chegar os tios dos primos dos cunhados, que tiveram aulas com aqueles que não sabem ensinar, aos cargos de programação. E porque um livro, actualmente, é um objecto para equilibrar o desnível da mesa.
O repto, simples: ou entramos rapidamente num circuito de elevação cultural, patrocinado pelo ensino, ou corremos sérios riscos de, no futuro, termos saudades dos tempos de excelência dos dias de hoje.
Já aqui nos temos pronunciado sobre o esvaziamento cultural a que a cidade do Porto está votado. Do teatro à música, do cinema às artes plásticas, só os projectos de iniciativa privada é que conseguem sobreviver na razia que aquela vai sofrendo.
Está, ao que parece, confirmado o encerramento das salas da Medeia Filmes no Shopping Cidade do Porto. É mais um passo no paulatino desvario anti-cultural que assola a cidade, agora pela administração do centro comercial não chegar a acordo quanto aos valores de renda.
Assim, a 31 de Maio será dado o canto do cisne das últimas salas que possuiam programação extra-comercial, com projecções de cinema europeu, independente e asiático. Aparentemente, os valores de bilheteira eram demasiado baixos para suportar os altos encargos com a renda que a administração do centro comercial exige - e nem uma proposta de esta ser paga numa medida percentual da receita da venda de bilhetes comoveu os administradores.
O adeus marca mais um marco de profundo desagrado a que a política cultural nacional, em especial a portuense, esta votada. Os interesses da construção do dito shopping falaram sempre mais alto. Recorde-se, a título de curiosidade, que o Supremo Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto veio confirmar, no final do ano passado, a demolição do mamarracho, por ilegalidade no licenciamento e violação dos planos urbanísticos da cidade. O que não invalida que a investida cega dos euros impeça um acordo razoável para a continuidade do funcionamento das ditas salas.
Já não basta a administração central produzir diarreias legislativas como a Lei do Cinema, e patrocinar cortes e costuras orçamentais na hora de atribuir subsídios, de uma falta de planeamento e bom senso gravíssimos, temos agora as administrações privadas a desenvolver pensamentos de programação cultural dignos de crianças de seis anos de idade.
A oferta do Teatro Rivoli a privados chegou, por entre outras razões, da iluminada ideia da edilidade de que a extinta Culturporto dava prejuízo e, portanto, varria-se para os privados irem sugando uns trocos. Os privados, que possuem centros comerciais ilegalmente erigidos, cogitam que ter umas salas de cinema com programação de qualidade dá prejuízo - conclusão, varrem-nos para a rua.
No final, o único cinema a que as pessoas assistem como um verdadeiro projecto de terror é o da turma do 9.º C, que estava «em grande», porque um energúmeno de telemóvel em punho filma uma catraia desaustinada a clamar pelo dela e a tratar a professora por tu, lançando o alerta em todo o sistema educativo nacional, com pseudo-comentadores da treta a descobrirem causas e darem soluções, a gastarem de tanto pronunciar, palavras como «avaliação», «projecto» ou «ministra», esquecendo-se que, em primeira análise, a culpa é deles e daqueles que lhes ministraram cursos com currículos disciplinares básicos e ridículos, que não se preocupam em incentivar a busca por novos desafios culturais, mas que ao invés os deixa cair em completos marasmos intelectuais, cuspindo uma maioria de iletrados para leccionar e sem um pingo de honestidade intelectual para procurarem circuitos que os enriqueça e os torne melhores, para tentar elevar a média daqueles que aprendem.
Tudo resulta, em grande parte, em estruturas disfuncionais; políticas, educacionais e culturais. Tem-se a cultura por supérflua, e o resultado está à vista. Quem ensina, não o sabe fazer, quem aprende, não o sabe receber. Quem deve dar cultura, não a sabe dar. Quem deve programar, não a sabe fazer - porque começam a chegar os tios dos primos dos cunhados, que tiveram aulas com aqueles que não sabem ensinar, aos cargos de programação. E porque um livro, actualmente, é um objecto para equilibrar o desnível da mesa.
O repto, simples: ou entramos rapidamente num circuito de elevação cultural, patrocinado pelo ensino, ou corremos sérios riscos de, no futuro, termos saudades dos tempos de excelência dos dias de hoje.
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