16 de abril de 2008

"Penelope" por Nuno Reis

Conto de fadas intemporal


Como converter o antiquado "Princesa enfeitiçada procura príncipe encantado que quebre a maldição" numa história dos nossos dias.
Há muitos anos a nobre família Wilhern foi amaldiçoada. Na mesma linha de "príncipe com orelhas de burro" as suas filhas iriam nascer com focinho de porco até que fossem amadas por um semelhante. Com o passar dos anos, e a ausência de crianças de sexo feminino, a maldição foi considerada uma brincadeira de mau gosto. Mas um dia nasceu Penelope. A primeira menina da família em várias gerações era também a primeira pessoa com focinho de porco. Desejosos de esconder esse monstro, os pais simularam a sua morte e, protegidos por uma agência matrimonial com uma forte cláusula de silêncio, começaram a procurar-lhe noivo. Agora Penelope é uma jovem com cerca de vinte e cinco anos que perdeu as esperanças de encontrar um amor. Todos os homens que lhe apresentam saltam pela janela quando vêem o seu indelicado nariz.
Ao medo dos pais alia-se a sede de escândalos da sociedade. Especialmente de Lemon, o jornalista anão cegado pela senhora Wilhern quando fotografava a pequena Penelope. Presa num mundo em que tudo é uma mentira, Penelope foge de casa para o desconhecido. A educação caseira de Penelope preparou-a para o mundo, mas nada compensa a falta de experiência em situações reais. Se as muitas incongruências escandalosas forem ignoradas o filme até consegue ter alguma piada. Pensando minimamente sobre algo que esteja a acontecer tudo deixa de fazer sentido. Por ser comédia isso perdoa-se.

É uma crítica à sede de informação sobre a vida alheia e sobre o descaramento dos paparazzi para darem essa informação. A sociedade é vista como um pêndulo que tanto pode dar um empurrão como esmagar. Uma princesa cativante, um príncipe misterioso, muitos aliados simpáticos e inimigos cómicos. Perdido entre a tragédia de amor e a comédia sentimental, peca por ter demasiadas cenas previsíveis e por nunca chegar a prender o público. O desempenho do casal interpretado por Ricci e McAvoy cumpre as expectativas, mas é já quase no final, com a entrada em cena de Witherspoon, que o filme ganha um mínimo de fulgor. Talvez como produtora tenha percebido que o rumo teria de ser diferente. Mas essa ligeira mudança não basta para salvar o filme.
Termina de forma ridiculamente óbvia, em que tudo aquilo previsto se confirma. Com mais alguns minutos nas ocasiões certas poderia ter ficado um trabalho invulgar e interessaste.




Título Original: "Penelope" (EUA, Reino Unido, 2006)
Realização: Mark Palansky
Argumento: Leslie Caveny
Intérpretes: Christina Ricci, James McAvoy, Catherine O'Hara, Reese Witherspoon
Fotografia: Michel Amathieu
Música: Joby Talbot
Género: Comédia, Fantasia, Romance
Duração: 104 min.
Sítio Oficial: http://www.penelopethemovie.com/

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