13 de abril de 2008

"Sleuth" por Nuno Reis

Quanto melhor é o filme, mas difícil é fazer uma remake. E quando o primeiro é de Mankiewicz, qualquer realizador que siga essas pisadas tem tudo a perder. O primeiro "Sleuth", última obra realizada por Mankiewicz, colocava o grande Lawrence Olivier a enfrentar Michael Caine, já um actor de reconhecido talento. Trinta e cinco anos depois Caine é o veterano e enfrenta o jovem Jude Law. Curiosamente Law já uma vez tinha recuperado uma personagem de Caine – Alfie, na obra homónima – mas nunca tinham trabalhado juntos.

Dando nome às personagens, Andrew Wyke é um conceituado escritor que recebe em casa o jovem Milo Tinkle. O motivo dessa reunião é a disputa pela esposa de Wyke. Ela já mora com Tinkle mas ainda não conseguiu o divórcio. Desde o momento em que se conhecem há uma enorme tensão entre ambos. Por sugestão de Wyke simulam um roubo na propriedade. O desejo de controlo do escritor que planeou tudo leva-os a entrar em confronto. Os dois homens enfrentam-se num jogo perigoso onde, como no ténis, o serviço alterna e a pontuação final decide quem é vencedor. Não lutam por uma mulher, mas pelo ego individual, e esse desejo de afirmação leva-os a entrar no reino da loucura.

Ainda de forma mais marcante que o recém-estreado "Interview" aqui há apenas duas personagens em palco de cada vez. Digo palco porque todo o filme é uma grande encenação teatral, apoiada em diálogos teatrais. Tem vários momentos agradáveis e um tom cómico dado pelos diálogos de loucos que são as conversas entre os dois homens. A realização está muito limitada - pelo espaço fechado, pela falta de personagens, por ser um remake – mas cumpre a sua missão. Para compensar isso temos duas actuações simplesmente brilhantes e hipnotizadoras.
Quem ainda não sabe o que esperar do filme terá uma boa surpresa, para quem viu o original poderá ser um complemento interessante. O Tinkle de Caine era mais agressivo que o de Law e a história mais negra. A modernidade colocada à força (telemóveis, luzes, sistema de vigilância) é utilizada pontualmente ao longo do filme apenas para recordar que estamos no século XXI. Com todas essas pistas é possível abstrair do primeiro e ver este "Sleuth" de Branagh como um trabalho independente. Um thriller acima da média, com grandes interpretações e que não ofende a primeira versão.



Título Original: "Sleuth" (EUA, 2007)
Realização: Kenneth Branagh
Argumento: Harold Pinter inspirado na peça de Anthony Shaffer
Intérpretes: Michael Caine, Jude Law
Fotografia: Haris Zambarloukos
Música: Patrick Doyle
Género: Drama, Mistério
Duração: 86 min.
Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/sleuth

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