24 de agosto de 2010

"Clash of the Titans" por Nuno Reis

Há muitos séculos, quando os deuses governavam o destino dos mortais, nasceu uma criança de nome Perseu. Na mitologia grega e no filme original, assim como no livro de Alan Dean Foster, a sucessão de acontecimentos faz sentido. Ele nasce, cresce numa ilha educado entre os pescadores, é levado pelos deuses para Joppa onde com a ajuda de um velho dramaturgo tem de encontrar o seu destino como guerreiro, príncipe e semi-deus. Pelo caminho enfrenta homens, monstros, deuses e titãs, revelando o seu verdadeiro valor.

Neste novo filme os únicos elementos aproveitados são os nomes. Alguns acontecimentos são semelhantes ao original, mas na sua maioria este filme é um mero insulto às obras dos grandes autores da Antiguidade. Tal como o nosso Camões, também o grupo de argumentistas cessou do sábio grego e do troiano, a fama das vitórias que tiveram, e reescreveu este capítulo. Envolvendo constantemente deuses com mortais num encontro que no original apenas acontece uma vez (quando Tétis ameaça Joppa), transformando o heróico e prudente Perseu num arrogante e despreocupado mortal, tornando a fundamental coruja mecânica de Atena num brinquedo, centralizando todo o mal num Hades que nem aparece no livro... Este filme é um insulto ao original. Pior ainda terá sido convencerem Alexa Davalos a fazer a promissora personagem de Andrómeda quando no original era valente e nesta versão apenas tem direito a fazer caridade e dizer meia dúzia de frases sonsas. Sinceramente o estudo que o trio de escritores possa ter feito para escrever isto foi ver o filme na época, esquecê-lo, e reescrever à pressa com uma vaga memória de nomes e eventos segredados por alguém. Ao ver que faltava uma personagem feminina (Andrómeda no original) e alguém sábio (a coruja Bubo) acrescentou uma inexistente Io para fazer ambos os papéis.

Na versão Disney de "Hércules" adulteraram a verdade para proteger as crianças de violência desnecessária e conseguirem cativá-las com uma versão menos complicada de intriga. Aqui que o público é maior de doze a violência é mantida no seu estado original, são acrescentadas personagens a despropósito - os Muhajedins com séculos de erro – e trocam a vilania de Tétis para o recorrente Hades, culpado de tudo o que de mau acontece. Ignorando esses erros e todo o mal que fazem a quem possa querer estudar a mitologia, é uma história sem grande sentido, que vale por algumas raras cenas de acção e pela desempenho de Gemma Arterton, uma surpresa visto que nem era suposto estar nesta história. Os restantes actores não fazem nada bem.

Pior do que terem feito este filme assim, foi terem-no chamado um remake do filme de Harryhausen. Não está ao nível do predecessor em nada. Os efeitos digitais desta adaptação (não consigo chamar remake) no paradigma actual não são nada de extraordinário como eram os do velho mestre para a sua época. Mais do que mitologia grega parece uma versão inferior de "The Mummy". Dizem que Louis Leterrier tem futuro, mas vai piorando a cada filme que faz.

NOTA: não li o livro nem vi o filme original por anos. Só agora para escrever o texto fundamentado me dei ao trabalho de ler o livro.

Título Original: "Clash of the Titans" (EUA, Reino Unido, 2010)
Realização: Louis Leterrier
Argumento: Matt Manfredi, Phil Hay, Travis Beacham
Intérpretes: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Jason Flemyng, Gemma Arterton, Alexa Davalos, Mads Mikkelsen
Fotografia: Peter Menzies Jr.
Música: Ramin Djawadi
Género: Acção, Aventura, Drama, Fantasia
Duração: 106 min.
Sítio Oficial: http://clash-of-the-titans.warnerbros.com/

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