Original publicada a 12 de Outubro na Sci-Fi World
Nesta edição de 2010 do festival estamos vendo uma aposta séria nos novos trabalhos de realizadores do estaleiro nacional, especialmente nos que a priori parecem mais ambiciosos e com possibilidades comerciais. Como parte dessa tendência vimos hoje na Secção Oficial a estreia em longas-metragens do premiado curta-metragista Luis Berdejo, que se estreia com nada mais nada menos do que com uma produção americana protagonizada por Kevin Costner, que conta ainda com algumas presenças nacionais de destaque como a interpretação de Ivana Baquero ("El Labirinto del Fauno") ou a música de Javier Navarrete.
Partindo de um argumento de John Travis que por sua vez adaptou uma história curta do escritor de novelas negras John Conolly, "La Otra Hija" é uma aposta decepcionante para acrescentar à já longa lista de filmes falhados que o festival nos está a oferecer numa colheita que este ano não saiu muito boa. Mais uma vez voltamos a estar diante de um ponto de partida e uma opção de estilo muito interessantes, mas que não conduzem a lado nenhum e acabam por não descolar.
É de saudar que Berdejo tenho optado por contar a história com calma e evitado os recursos fáceis, com a intenção de fazer crescer a intriga pouco a pouco, da forma mais clássica e elegante do género, mas pelo caminho depara-se com vários obstáculos que o impede de levar a missão a bom porto. Em primeiro lugar, o argumento desaproveita muitas das possibilidades mais abstractas e simbólicas de ameaças e elementos de fantasia, em prol de uma concretização demasiado fácil e que é telegrafada desde o primiero momento através de metáforas óbvias como as que utiliza constantemente com as formigas ou a passagem da menina protagonista pela puberdade e as alterações que isso causa.
As interpretações de todo o elenco, muito contidas pelo realizador, sem serem demasiado más (nem demasiado boas) não são grande ajuda para que o espectador simpatize bastante com o que acontece às personagens. Salva-se um pouco o protagonismo de Costner pelas debilidades de carácter que imprime à sua personagem, conseguindo assim torná-la mais interessante do que poderia parecer em papel.
Nesta história de isolamento de uma família desestruturada, com um pai apático e incapaz de responder energicamente aos conflitos que os seus dois filhos, o divórcio e a mudança para um novo domicílio representam, podemos ver claros paralelismos com o filme "Sinais" de Shyamalan, misturados com uma relação física das personagens com o seu ambiente, muito semelhante à que se dá em "A Vila" do mesmo realizador.
Infelizmente a gestão destes elementos por Berdejo está muito longe do que foi conseguido pelo realizador de "O Sexto Sentido". E se o argumento passa por temas e relevos de trama que permitem ao espectador conhecer todo o desenrolar do filme desde pouco após o arranque, a realização também acaba por nunca igualar a difícil aposta que o filme faz. Isso faz com que nos encontremos com um trabalho de desenvolvimento lento e poroso, que quando se quer precipipar no terço final, na verdade cai nos lugares-comuns do cinema de ameaças monstruosas, com criaturas entre Gollum e os seres de "The Descent" e com detlhes de choques de civilizações e rituais arcaicos incluídos, que terminam por deixar o todo com um claro sabor a desilusão.
Título Original: "The New Daughter" (EUA, 2009) Realização: Luis Berdejo Argumento: John Travis e John Connolly Intérpretes: Kevin Costner, Ivana Baquero, Samantha Mathism, Gattlin Griffith Música: Javier Navarrete Fotografia: Checco Varese Género: Horror, Suspense Duração: 108 min. Sítio Oficial: http://www.goldcirclefilms.com/movies/movie_the_new_daughter.html |
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