30 de novembro de 2010

"Robin Hood" por Nuno Reis

Apesar de muitos classificarem "Blade Runner" como o melhor filme de sempre e muitos mais considerarem "Alien" o filme mais assustador de sempre, para toda uma geração Ridley Scott é o homem que fez "Gladiator" e nada mais importa (por mim é um filme que pode ser ignorado). Dez anos depois de ter conquistado à moda romana uma legião de fãs, repete a receita usando uma táctica inglesa.
Russell Crowe, quase oscarizado no seu retrato do general caído e obrigado a viver entre os lutadores, está de volta no papel inverso. Agora é um Zé-Ninguém nas cruzadas do Rei Ricardo que toma o lugar de um nobre caído. Usa o título de Robin de Locksley para conseguir transporte para Inglaterra. Como qualquer mentira, quanto mais tempo a mantém mais difícil se torna confessar e mais difícil se torna escapar. Chegado a Nottingham e às terras do seu alter-ego, vai descobrir que precisa de manter o disfarce para bem da sua nova família e da população. E já agora para sobreviver, porque a punição pela mentira envolve ficar sem pescoço.

Ainda recentemente uma série televisiva resgatou o mito que a Disney imortalizou numa animação com raposas. Robin Hood, ou dos Bosques, foi um herói romanceado como arqueiro imbatível que roubava aos ricos para dar aos pobres. A lenda nunca precisou de mais detalhes, mas a História exige-os. Scott traz-nos um épico corajoso, que conta uma versão plausível de como surgiu o herói, como podia um nobre ser tão hábil com o arco e porque tinha tanta alegria em roubar. Não é elogioso para Robin como não o é para o Coração de Leão. Apresenta um retrato frio do Príncipe João e de como conseguiu formar um exército capaz de fazer tanto mal aos seus súbditos. Propõe um bando de homens da floresta em tudo diferentes dos que conhecíamos. E revela uma nova Marion, uma mulher com demasiada coragem para a época e o verdadeiro bastião da justiça e farol da liberdade para o povo.

Quem procurou este filme pelos combates de espada, pelas lutas a cavalo, pelos arqueiros certeiros, em suma, pela adrenalina, vai tê-la. Quem quer uma lição de história semi-verdadeira também. O filme é enorme em duração porque tem muito a dizer. A construção das personagens é elaborada, a trama conspiratória precisava de todo o tempo de fermentação que tem, o espectador tinha de sofrer ao máximo antes de poder desfrutar do espectáculo final. É daquelas histórias que se fazem recorrentemente e uma lufada de criatividade faz a diferença entre ser mais uma versão ou ser a versão. Podia ser um dos melhores filmes do ano se não houvesse uma teoria rebuscada que envolve organizações secretas e um lema de desenvolvimento pessoal. Assim acaba por ser um grande espectáculo visual com uma história quase boa e um formidável lote de actores às ordens de um dos melhores realizadores vivos.

Estreá-la com honras de inaugurar Cannes dizendo tão mal dos franceses foi uma prova de coragem. Voltar ao tema das Cruzadas ainda que ao de leve depois da fraca recepção de "Kingdom of Heaven" também.


Robin HoodTítulo Original: "Robin Hood" (EUA, Reino Unido, 2010)
Realização: Ridley Scott
Argumento: Brian Helgeland, Ethan Reiff, Cyrus Voris
Intérpretes: Russell Crowe, Cate Blanchett, Max von Sydow, William Hurt, Mark Strong, Oscar Isaac, Mark Addy, Matthew MacFadyen
Música: Marc Streitenfeld
Fotografia: John Mathieson
Género: Acção, Aventura, Drama
Duração: 140 min.
Sítio Oficial: http://www.robinhoodthemovie.com/

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