14 de novembro de 2010

"The Social Network" por Nuno Reis

O fenómeno dos últimos cinco anos e dos próximos três chama-se Facebook. E por isso mesmo o fenómeno nas salas chama-se Social Network. Com 500 milhões de utilizadores registados, considerando que metade deles são pessoas reais e minimamente activas no site temos algo com tanta gente como os Estados Unidos. O seu presidente não é eleito após um demorado e complicado processo eleitoral acompanhado por todo o mundo, ele é Mark Zuckerberg apenas porque foi ele quem teve a ideia.

Nos anos 80 a Internet era uma curiosidade científica. Nos 90 era uma curiosidade académica com fins educacionais e surgiu o Boom das .com. Em 2003 as .com originais tinham tido um de três destinos: vendidas, falidas, tomado uma posição dominante que as colocava ao nível das maiores indústrias mundiais sem necessidade de fazer nada novo (excepção para a Google que devido à sua política laboral está sempre a gerar novas ideias).A Internet já não era uma novidade apenas para os tecnologicamente preparados, estava a abrir-se ao mundo e diversos hackers (no sentido original da palavra) sobressaiam nesse admirável mundo novo. Em 2003 surgiu uma onda de blogs por onde as pessoas comunicavam, como o Antestreia, mas para Zuckerberg isso não bastava. Ele criava sites alojados nos servidores de Harvard e tinha sempre relativo sucesso. Até que descobre "the next big thing" e após dois meses tinha a correr um site chamado TheFacebook. Esta é a história de como à custa disso fez fãs, sócios e dólares, e perdeu o único amigo.

Antes de opiniar sobre o filme, quem sou eu? Entre muitas coisas sou um informático. Mas não sou da geração "The Social Network", sou da anterior, da que se regia pelos valores do filme "AntiTrust". Quando o bom da fita derrubava as corporações malignas apenas em nome da Humanidade e desenvolvendo open source sem pensar no lucro. Zuckerberg é diferente. Ele tudo o que fez foi a pensar na fama, e foi manipulado por outros para ganhar dinheiro com isso. É uma geração de Tony Montanas que pensa em dinheiro, para com isso conseguir poder e consequentemente mulheres. Não há mal nenhum nisso, mas onde está o amor pelo trabalho?

Este filme não é sobre a ciência dos computadores, mas sobre a arte do marketing. E é o que a nova geração de empreendedores precisa. Tal como Sean Parker (o autor do Napster) aconselha Zuckerberg para criar algo gigantesco e intocável, também o autor do Facebook através deste filme lança uns alertas/conselhos.
  • Não comecem algo que não podem levar até ao fim. O que parece uma brincadeira com 4000 pessoas pode-se tornar um negócio de milhares de milhões e uma peça fundamental da economia global.
  • Não basta serem bons tecnólogos porque o importante é o que vem depois, mas basta terem uma grande ideia e formar uma equipa que faça o trabalho por vocês.
  • A velha máxima diz que "trabalho é trabalho, cognac é cognac". Devemos, temos!, de saber distinguir sócios de amigos, porque se correr mal a sociedade resolve-se em tribunal, mas a amizade é algo que nenuma lei pode salvar.
    Para os menos empreendedores deixa um recado mais útil do que qualquer dica financeira. Com o Facebook podem estar em contacto com centenas ou milhares de conhecidos. Isso é óptimo, mas porque não pegar no telefone e fazer algo menos virtual?

    Como cinema fica muito aquém do que seria de esperar. O factor chocante residia no comportamento humano e nesta era em que os valores financeiros se sobrepõem aos valores morais isso não surpreende.
    Vindo de Fincher esperava algo fenomenal, mas faltou-lhe a substância. Excepto os primeiros vinte minutos em que combina magistralmente os diversos mundos que coabitam no universo académico, tudo o resto é exactamente o que se poderia esperar de um biopic sobre uma pessoa que aos 25 já tinha atingido o topo da carreira. Ficará para a história como uma curiosidade sobre uma etapa fundamental do nosso progresso.


  • The Social NetworkTítulo Original: "The Social Network" (EUA, 2010)
    Realização: David Fincher
    Argumento: Aaron Sorkin (baseado no livro de Ben Mezrich)
    Intérpretes: Jesse Eisenberg, Rooney Mara, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer
    Música: Trent Reznor, Atticus Ross
    Fotografia: Jeff Cronenweth
    Género: Biografia, Drama,
    Duração: 121 min.
    Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/thesocialnetwork/

    2 comentários:

    Cris =) disse...

    Bom post! Adorei a introdução e fiquei com vontade de ir ver o filme.

    Beijinhos

    DiogoF. disse...

    Não gostei assim tanto do filme, aliás, fiquei ligeiramente desiludido. No entanto, gostei muito desta vossa análise, sobre os temas que o mesmo explora, e não contesto. De resto, concordo perfeitamente com o facto de o filme não ser sobre técnica de computadores mas sim sobre marketing e gestão.