2 de novembro de 2010

Uma reflexão cultural II (continuação)

II. E é aqui que reside o cerne da questão. Na formação do indivíduo. Em Portugal, ninguém é incentivado para ler, para ir ao teatro, para ir a uma exposição de pintura ou para visitar uma instalação. Quem o faz (quem lê, quem vai ao teatro ou ao cinema), ou que promove tais acções, acha-se superior aos outros, pelo que nunca procura incentivar a percepção da importância de tais actividades. Portugal está afogado em pseudo-intelectuais e existencialistas de boteco, que procuram inflar o próprio ego, citando Proust ou discorrendo sobre Jodorowsky, mas nunca procurando programar e actuar para aquilo a que se propõem: dar a conhecer alguma coisa ao público.

Portugal está assoberbado de pessoas que viram dois filmes franceses e um turco e que aproveitam-se disso para se apregoarem como programadores, críticos e sumidades nas matérias, quando no fundo só surgem para criarem pessoas colectivas capazes de receber fundos nacionais e comunitários, ajoelhando-se em reverência ao capital e mamando na teta monetária que lhes é posta à disposição.

Do mesmo modo que qualquer um pode pegar num máquina de filmar e fazer um filme, qualquer um acha que agora pode juntar 3 cadeiras e uma tela e fazer um festival de cinema, pedindo apoios, bradando por ajuda, clamando por justiça. É tempo de dizer basta. É tempo de surgir o garimpeiro dentro de cada um de nós e de saber coar o que presta e o que não presta, sabendo educar os nossos filhos, procurando aprender com os outros, tentando fazer algo de positivo nesta imbecil desta vida que nos leva a viver oitenta e tal anos: integrarmo-nos na sociedade, que é o nosso dever enquanto indivíduos. O resto, é ilusão.

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