30 de novembro de 2007

Entrevista com um blogger

Na sequência de um simpático convite de Ricardo Alves d' O Quarto Escuro (cujo link já foi adicionado na barra lateral), respondi a uma série de questões numa entrevista que pode ser ouvida na totalidade aqui. Em jeito de post scriptum, parabenizo o Ricardo pela escolha musical no final da peça, pois sem o saber adorna as minhas palavras com o genial Closing Time, do álbum homónimo de 1973 do não menos genial Tom Waits, e que é peça fulcral na minha engrenagem diária.

29 de novembro de 2007

"Hitman" por Nuno Reis

A produção europeia de cinema de acção é demasiado parecida a ela própria. Ao assistir a este filme recordava-me de outro filme semelhante, "Transporter". Ambos são de produção francesa e um exemplo fiel do modelo europeu de filme com pretensões a blockbuster. Se também este fosse com Jason Statham teria saído imediatamente da sala.
Inspirado num videojogo, o filme conta-nos as aventuras do agente 47, maioritariamente em solo russo. Dispensando apresentações demoradas, o filme diz que 47 é um agente de elite, treinado para matar de qualquer maneira. A sua organização tem os melhores assassinos, e ele é o melhor de todos. Depois de completar uma missão difícil em que mata publicamente o presidente russo, 47 vê-se de repente como alvo a abater por todos, inclusive a sua organização e o cliente que o contratou. Terá de perceber o que se passou, eliminar quem o quer eliminar, e completar o trabalho pois parece que o presidente ainda está vivo. Já vimos variantes desta história algumas dezenas de vezes.

Para quem for estranho ao jogo possivelmente o filme passará um pouco ao lado pois tudo nos aparece como um dado adquirido. Quem não o souber pelo jogo sabe pelo estereótipo de herói de filme de acção, mas convém sempre que o filme personalize o herói e defina em alguns minutos quem vamos acompanhar por mais de uma hora. Este filme fica um pouco perdido entre os dramas pessoais do protagonista, a sua missão e aqueles que o perseguem. Os grandes tiroteios apesar de não serem maus não trazem nada de novo. Em algumas lutas em espaços diminutos onde poderia ser inovador, os movimentos de câmara com que as pretendem dinamizar - e disfarçar alguns erros - apenas servem para quebrar o ritmo e demonstram falta de capacidade. Não tem reviravoltas surpreendentes pois já se sabe que 47 é invencível e prevê todos os cenários. Para quem procura um filme apenas pelo entretenimento não será má escolha.

Não havendo interpretações deslumbrantes destaco a mudança de Timothy Olyphant, irreconhecível apesar da recente participação em "Die Hard 4.0" e pelo lado contrário Robert Knepper que ainda não consigo ver sem associar ao T-Bag de "Prison Break".





Título Original: "Hitman" (EUA, França, 2007)
Realização: Xavier Gens
Argumento: Skip Woods
Intérpretes: Timothy Olyphant, Dougray Scott, Olga Kurylenko
Fotografia: Laurent Barès
Música: Geoff Zanelli
Género: Acção, Crime, Thriller
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.hitmanmovie.com/

28 de novembro de 2007

"Eastern Promises" por António Reis

Cronenberg, o Chelsea e a Máfia Russa

Cronenberg, um dos mais originais cineastas do fantástico, arrisca em "Eastern Promises" uma viagem a um universo não menos fantástico nem menos de terror, que existe nas sociedades contemporâneas. É curioso que quase em simultâneo vão estrear dois filmes de mafiosos – "Gangster Americano" e "Eastern Promises" – o que comprova que o crime compensa, pelo menos em cinema. Cronenberg filma de forma soturna num magnífico preto e branco cheio de nuances a incursão no submundo da “Pequena Rússia” que gravita em Londres. Chelsea é apenas uma pequena referência do filme, mas não admira que a figura de Abramovich possa ocorrer ao espectador. Até porque os imigrantes russos têm no filme uma predilecção pelos blues. Nessa “Pequena Rússia”, de negócios legais, contrabando de armas e mulheres, os mafiosos cujo objectivo é apenas o lucro, os infiltrados do FSR (actual designação do KGB) e os guerrilheiros tchetchenos que dominam o import/export do terrorismo internacional combinam-se numa mistura explosiva que poderia traduzir-se num filme de acção, mas que Cronenberg envolve numa história trágica de fidelidades e sentimentos fortes. O ponto de partida é um cadáver de uma prostituta de catorze anos, a quem antes de morrer salvam o bebé. Apesar de na maior parte dos casos ser aconselhado que os mortos guardem os seus segredos, o diário de Tatiana não foi enterrado junto com a dona. E os segredos revelados são comprometedores. E porque é época de Natal e Cronenberg frisa bem o ódio que tem a esta efeméride do calendário, a pequena Christine vai ser o foco do conflito, num caminho que leva da perdição à redenção. Como é seu costume Cronenberg não resiste a uma ostensiva encenação da morte, transformada numa coreografia encantatória. Os mafiosos têm sentimentos nobres, quase todos os personagens positivos são premiados e alguns vilões são castigados. Mas porque será que o filme nos deixa uma sensação de melancolia e desesperança? Afinal Londres foi conquistada pelos russos e a Scotland Yard anda a reboque da FSR. Naomi Watts está bem como sempre, Viggo Mortensen está bem como quase sempre e Vincent Cassel na sua ambiguidade escapa de cair no ridículo. A música de Howard Shore é sublime.

Poderia ser um filme de terror, ou é mesmo, porque o dia-a-dia destes imigrantes que se deixaram enredar nas “promessas” de um mundo melhor no ocidente é o terror mais absoluto. Uma nota final para relembrar a excelente política de aquisições que a Prisvídeo vem desenvolvendo nos últimos anos, com filmes marcantes e de qualidade superior.




Título Original: "Eastern Promises" (Canadá, EUA, Reino Unido, 2007)
Realização: David Cronenberg
Argumento: Steven Knight
Intérpretes: Viggo Mortensen, Naomi Watts, Vincent Cassel
Fotografia: Peter Suschitzky
Música: Howard Shore
Género: Crime/Drama/Thriller
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.focusfeatures.com/easternpromises/

27 de novembro de 2007

"Death at a Funeral" por Ricardo Clara

Frank Oz é conhecido por emprestar a voz ao carismático Yoda da trilogia "Star Wars", bem como a algumas personagens do "The Muppet Show". Mais recentemente, e na pele de realizador, Oz dirigiu os insossos "Bowfinger" (1999) e "The Stepford Wives" (2004), apesar de em "What About Bob" (1991) nos oferecer uma comédia medianamente interessantes. Surge agora com um refrescante "Death at a Funeral" / "Morte num Funeral", e que é certamente uma marco certeiro na sua filmografia.

A morte do patriarca da família é o mote obrigatório para uma cerimónia fúnebre na casa de Daniel (Matthew Macfadyen), um dos filhos do falecido. Este, acompanhado da sua esposa Jane (Keeley Hawes), recebe um grupo de convidados para a prestarem uma última homenagem. O que não estariam à espera é que o funeral se tornasse numa enorme confusão, com droga, homosexualidade, rivalidade e anões...

Em "Death at a Funeral" assistimos a uma comédia muito interessante, sem falsos pretensiosimos, apoiada em interpretações de enorme qualidade: e vale a pena (re)afirmar - Matthew Macfadyen ("Pride & Prejudice" - 2005), Andy Nyman ("Severance" - 2006) e especialmente Alan Tudyk ("Knocked Up" - 2007) são grandes actores de comédia. Daquela pura, de ocasião, com gags físicos e que resulta de um ritmo intenso, crescente e que absorve.
Com hilariantes trechos de puro gozo, onde as situações absurdas se desenrolam num ritmo muito bem conseguido, somos transportados por vezes para uma ambiente Poirot, de mistério e intriga clássica, fruto de uma iluminação conseguida e de uma banda sonora certeira e diminuta, e que em muito contribui para o adensar da narrativa, e que em diversas ocasiões me transporta para as paródias ZAZ (Zucker, Abrahams, Zucker) dos anos 80. Um bom argumento, uma realização a dar a certeza de que Oz está naquele ambiente que lhe potencia as qualidades (humor tipicamente britânico), num filme que enterra por momentos os contentores de comédias adolescentes imbecis e que é uma lufada de ar fresco no panorama cinematográfico deste ano.


Título Original: "Death at a Funeral" (Reino Unido / Alemanha / EUA, 2007)
Realização: Frank Oz
Argumento: Dean Craig
Intérpretes: Matthew Macfadyen, Keeley Hawes, Andy Nyman e Alan Tudyk
Fotografia: Oliver Curtis
Música: Murray Gold
Género: Terror / Thriller
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.deathatafuneral-themovie.com

"Hot Fuzz" por Nuno Reis

"Esquadrão de Província" está a ser um sucesso por toda a parte com base na bizara combinação de um típico sentido de humor britânico, algum gore e paródia ao tradicional buddy movie de polícia. Talvez para os espectadores portugueses esta mistura pareça indigesta e é bem provável que muitos dos gags de situação ou de texto lhes escapem. Como todos sabemos o humor britânico tem características muito próprias e raramente é percebido como divertido no Continente.

O que fizeram desta vez Edgar Wright e Simon Pegg, criadores do genial "Shaun of the Dead"? As personagens principais são o típico “Agente Donut” e um militar de élite. Danny é um polícia de província que nunca na vida teve casos para resolver. Só sabe beber cerveja e ficar sentado. Nicholas é um agente modelo que era demasiado bom para Londres e foi por isso desterrado para uma localidade onde não há crimes. Juntos vão descobrir que a vila de sonho esconde temíveis crimes que ninguém admite.

A apresentação de Nicholas, no arranque do filme, é das melhores sequências de humor que o cinema britânico já nos ofereceu. Este começo energético promete um filme dinâmico e divertido, e essa promessa é cumprida durante a maior parte do tempo. Nos momentos de acção é como qualquer blockbuster americano, as mortes são ao melhor estilo do gore de série B e as piadas são cem por cento british, saltando entre o ordinário e o genial. O único problema são alguns momentos totalmente parados da narrativa em que o filme ameaça perder a dinâmica. Felizmente logo depois surge algum evento ou ganso para recuperar a energia.


Título Original: "Hot Fuzz" (Reino Unido,França, 2007)
Realização: Edgar Wright
Argumento: Edgar Wright e Simon Pegg
Intérpretes: Simon Pegg, Nick Frost e Timothy Dalton
Fotografia: Jess Hall
Música: David Arnold
Género: Terror / Thriller
Duração: 121 min.
Sítio Oficial: http://hotfuzz.com

26 de novembro de 2007

25 de novembro de 2007

Premiados de Ourense 2007


Secção de Longas-metragens de ficção


Os dois prémios mais importantes, filme e realizador, ficaram para o britânico Steve Hudson por "True North", uma película bem ao gosto galego. Neste filme fala-se dos problemas das pequenas embarcações do sector pesqueiro e da emigração ilegal. Um ambiente claustrofóbico, um argumento brilhantemente escrito e interpretações memoráveis, tornaram este filme o título mais incontornável do festival.

O prémio especial do júri foi para o húngaro "Iszka Utazása", um filme que narra a infância destruída de uma criança, demonstrando os trágicos efeitos da globalização para os países de leste.

O troféu de melhor actor também ficou na Europa. O seu vencedor foi o alemão Eberhard Kirchberg por uma brilhante interpretação de um atrasado mental no ambiente derrotista da Alemanha de leste.

O troféu de melhor actriz saiu um pouco fora da Europa. O filme brasileiro foi também produzido por França, Alemanha e Portugal, mas o troféu ficou para a brasileiríssima Hermila Guedes por ter feito o filme magnífico praticamente sozinha, e ainda conseguir com o seu sorriso arrebatar os espectadores.

"Hot Fuzz" por Ricardo Clara

Da dupla Edgar Wright (realizador) e Simon Pegg (actor), ambos assumindo a qualidade de argumentistas, haviamos assistido (ainda que não estreando comercialmente) o delicioso "Shaun of Dead", uma divertidíssima película zombie e que carrega consigo uma horda de seguidores.

A receita repete-se agora em "Hot Fuzz" / "Hot Fuzz - Esquadrão de Província", onde conhecemos Nicholas Angel, super-sargento da polícia britânica, e que por ser demasiado competente, é desterrado para uma pequena vila, uma verdadeira parvónia com a taxa mais baixa de criminalidade de Inglaterra. Lá chegado, entretem-se a controlar crianças e cisnes, faltando-lhe a óbvia acção que possuia em Londres.
Mas uma série de mortes levam-no a desconfiar que não são meros acidentes que acontecem, mas sim homicídios, o que o leva a ter que enfrentar toda a população praticamente sozinho.

"Hot Fuzz" é britcom pura, apoiada em interpretações deliciosas. Uma paródia aos blockbusters de acção de Jerry Bruckheimer e Joel Silver, com um argumento sólido, donde se destacam muitas das piadas certeiras tão ao estilo do humor britânico. O filme peca por ser um pouco longo de mais - e se não o fosse, seria praticamente imaculado. Da engraçadíssima sequência de assalto à vila obtemos uma das grandes paródias aos filmes do estilo já alguma vez feitas - e esses largos minutos são geniais. Da interpretação de Simon Pegg, uma certeza de bom humor em anos vindouros, nunca olvidando Timothy Dalton e Jim Broadbent, o primeiro uma surpresa nestas lides da comédia. Montagem impecável, sonorização decalcada daqueles filmes, e incontáveis citações cinematográficas são uma certeza da boa comédia que este país nos habituou, e que é agora reforçada pelo trabalho cada vez mais internacional de Pegg e Wright. Se comedido na extensão e em algumas piadas menos conseguidas, seria certamente uma das comédias do ano.

Título Original: "Hot Fuzz" (Reino Unido / França, 2007)
Realização: Edgar Wright
Argumento: Edgar Wright e Simon Pegg
Intérpretes: Simon Pegg, Nick Frost e Timothy Dalton
Fotografia: Jess Hall
Música: David Arnold
Género: Terror / Thriller
Duração: 121 min.
Sítio Oficial: http://hotfuzz.com

24 de novembro de 2007

BSA - Eternal Music


No Banda Sonora Antestreia de hoje deixamos Theme, tema de Jon Brion para a banda sonora de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind", genial filme de Michael Gondry e que é daqueles que me preenchem. Bastam os primeiros acordes para ser transportado para a tela.

Para mais info, imdb, wiki e página oficial de Brion.


23 de novembro de 2007

"Don't Come Knocking" por Nuno Reis

Sam Shepard é um actor multifacetado com quase 40 anos de carreira. Depois de meia centena de filmes em que participou como actor, realizador, produtor e argumentista (já adaptado na televisão portuguesa) voltou a aliar-se a Wim Wenders para repetir a magia de "Paris, Texas".
Shepard interpreta Howard Spence, uma estrela dos western que cometeu todos os erros que as estrelas cometem. Viciado em sexo, álcool e drogas durante muitos anos, de repente desaparece de um local de filmagens no meio do deserto. Está farto daquela vida e quer voltar para casa e para os tempos em que tudo era fácil. Ao longo do filme vamos conhecendo melhor o homem por detrás da estrela, vamos percebendo os problemas e as dúvidas que o atormentam como poucos filmes o conseguiram mostrar até agora.

No interior dos Estados Unidos, onde a areia e o sol mantêm os chapéu de cowboy na moda, Howard vai reencontrar a mãe que abandonou e partir em busca de um filho que desconhecia. Tudo o que este cowboy quer é um sítio para chamar lar, e alguém que o ame. A vida pode dar muitas voltas, ironicamente é na mesma cidade onde a sua vida começou a descarrilar que trinta anos depois vai reencontrar a mulher que em tempos amou, o filho perdido e a sua própria identidade.
Esta obra melancólica tem magníficas interpretações de vários actores, um fabuloso tabalho de câmara e uma banda sonora feita à medida. Como bónus satiriza e ataca a indústria que “protege” e corrompe a arte cinematográfica. É pena ter uma falha de sequência escandalosa, mas até dá um aspecto mais artesanal ao filme. Tem muitas semelhanças com "A Prairie Home Companion" e por ter chegado até nós depois é inevitável a comparação.

Já se passaram dois anos desde que Wim Wenders fez este filme. No mesmo ano que competiu em Cannes estreou por todo o mundo. Mas aqui no nosso cantinho à beira-mar plantado alguém se esqueceu dele... Dois anos de expectativa podem aumentar o interesse no filme, ou podem torná-lo fora de moda. Este conselho serve para todos os distribuidores.


Título Original: "Don't Come Knocking" (Alemanha, EUA, França, 2005)
Realização: Wim Wenders
Argumento: Sam Shepard, Wim Wenders
Intérpretes: Sam Shepard, Jessica Lange, Gabriel Mann, Sarah Polley, Tim Roth
Fotografia: Franz Lustig
Música: T-Bone Burnett
Género: Drama
Duração: 122 min.
Sítio Oficial: http://www.dontcomeknocking.com/

20 de novembro de 2007

Mostra a Língua


Sexta e Sábado o Museu da Água de Coimbra vai ser palco de um festival com um nome deveras divertido. Mostra a Língua pretende divulgar o cinema feito na nossa língua. De mostra tem apenas o nome pois a competição existe e promete ser cerrada. Nesta primeira edição há secções para filmes de ficção, documental, experimental e animação num total de 30 filmes e nove sessões. Para ser ainda melhor só me falta dizer que a entrada é gratuita. Assim não há desculpa para não assistir aos projectos nacionais.





Deixo aqui a página onde podem consultar o programa http://eufaria.com.

19 de novembro de 2007

O Antestreia em Ourense 2007



Mais uma vez o Antestreia está a acompanhar um festival internacional de cinema. Desta vez o local é a nossa vizinha Galiza.

Desde que no ano passado foi firmado um protocolo de cooperação entre o Fantasporto e Ourense, os festivais tem partilhado sugestões de filmes a exibir. Em 2007 foi uma indicação de Ourense que ganhou a Semana dos Realizadores ("1 Franco, 14 Pesetas"), este ano estão aqui exibidos dois dos filmes em competição no último Fantas ("Time" de Kim Ki Duk e "12:08, East of Bucarest").
No âmbito desse protocolo o Antestreia veio acompanhar o desenrolar deste festival que criou ainda mais um elo entre dois povos irmãos.



Desde dia 17 que esta cidade e os seus cem mil habitantes vibram com filmes inéditos no circuito galego, espanhol e mundial. Este ano fora de competição decorrem vários ciclos:


-Inédito em Ourense
Traz os filmes que apesar de terem estreado em Espanha não chegaram à cidade. Entre esta dúzia estão premiados de festivais internacionais como Cannes e Veneza. O cinema latino-americano tem também uma forte presença, especialmente pela proximidade linguística.


-Cinema e Emigração
Os galegos à semelhança dos portugueses são emigrantes por natureza. Faz por isso todo o sentido que dediquem uma secção própria de quatro sessões (2 longas e 2 de curtas) para os filmes que lhes são mais próximos por razões culturais.


-Panorama Galiza 2007
E porque a prata da casa brilha sempre mais, especialmente nas regiões autónomas espanholas, fora de competição serão exibidas 16 películas galegas que ocuparão a maior parte do tempo do Auditório Municipal.


-Cinema no feminino
Esta polémica secção é dedicada aos filmes que foram escritos, realizados ou produzidos por mulheres. Duas sessões de curtas e três longas vão destacar os talentos femininos no cinema.


-Animadíssima e Retrospectiva Filmax
O festival pretende levar a animação a todos os públicos. Na Animadíssima são maioritariamente para adultos. Para as crianças foram trazidas algumas das maiores produções europeias de animação numa retrospectiva dos estúdios de animação da Filmax. Para delírio da miudagem será projectado em antestreia absoluta o mais recente projecto deles, "Donkey Xote", a quixotesca história de um burro que quer ser um cavalo.


-Pérolas do Festival
A última secção não competitiva do festival são as pérolas. Cinco filmes que, apesar de já estreados, mereciam pela sua qualidade fazer parte do catálogo do festival.


Para o ano quem sabe se não teremos uma retrospectiva do cinema português?

16 de novembro de 2007

Links e Vida Mecânica

Paulatinamente temos vindo a actualizar alguns links na barra destinada para o efeito, pois alguns blogs deixaram de o ser e outros surgem com importância, e que merecem visitas assiduas.

Um deles, novidade neste panorama, é o Vida Mecânica, do meu bom amigo Filipe Lopes, autor de textos neste vosso Antestreia, e que agora decidiu dar vida a um espaço só seu. Indispensável, portanto, uma(s) visita(s) à sua vida mecânica e aos seus escritos.


15 de novembro de 2007

Joy Division

Na rubrica de hoje da Banda Sonora Antestreia, Joy Division.

Com a estreia de hoje de "Control", um biopic de Ian Curtis, deixamos aqui Atrocity Exhibition, do segundo album da banda britânica (Closer - 1980), e que por problemas com a gravação só chegou a ser editado após a morte de Curtis.

Para saber mais sobre este filhos do pós-punk, wiki, IanCurtis.org e Joy Division Center.

14 de novembro de 2007

"Control" por António Reis

O desCONTROLo de Ian Curtis diante da fama

"Morrem cedo quem os deuses amam", proclama a máxima tantas vezes aplicada aos mitos do cinema e da música. Mas lucram bastante os que ficam para contar as suas histórias. Neste caso a sua quase ex-mulher Debbie que escreveu a história.
Que se saiba que não sou nem nunca fui fã dos Joy Division. O que dá alguma margem maior de crítica e de distanciamento face ao mito.
“Control” não se assume abertamente como um biopic e menos ainda como filme sobre a banda, Pretende ser mais uma visão de uma época e de uma juventude inglesa, deprimida e sem saídas que encontra na música o seu escape. Ian Curtis é um dos símbolos dessa geração rebelde que ainda não tinha tido lugar no panteão da fama cinematográfico. A sua ascensão demasiado rápida ao estrelato é afinal apenas uma metáfora para toda a sua vida. Viver depressa, experimentar tudo depressa, casar cedo ( de forma bem mais conservadora que o seu estilo) escrever intensamente e matar-se aos 23 anos, num acto irreflectido por incapacidade de decidir a sua vida amorosa. Para desgosto maior do seu empresário em vias de conquistar o Mercado Americano.
Como em "Last Days" nestes filmes já se sabe o fim da história – o herói morre sempre.
Pelo meio fica a contextualização do ambiente familiar e social, narrado com uma frieza particularmente eficaz, a progressiva afirmação da epilepsia, a sua vida conjugal de uma monotonia de meter medo e sobretudo as suas canções onde a qualidade poética é soberba.
A personagem de Ian Curtis estará particularmente bem conseguida, mas os seus dois amores – a mulher e a amante – não têm estrutura dramática nem perfil psicológico. O que não deixa de ser estranho dado que é a história visto pelo lado da mulher, onde é manifesta a tendência para se ver em Ian um jovem imaturo, indeciso, perturbado e mau chefe de família. Uma sacana em resumo. Bem melhor sai a amante – uma belga insossa apesar de ter a cara e o corpinho de Alexandra Maria Lara.
Anton Corbijn ganhou prémios em tudo que é sítio e "Control" tem tudo para atrair um público de fans em ritual de romagem ao mito. É bom cinema que não se resume a um reportório de canções tipo dvd musical.



Título Original: "Control" (Austrália, EUA, Japão, 2007)
Realização: Anton Corbijn
Argumento: Deborah Curtis e Matt Greenhalgh
Intérpretes: Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria Lara
Fotografia: Martin Ruhe
Música: Joy Division, New Order
Género: Biografia,Drama/Musical
Duração: 121 min.
Sítio Oficial: http://www.controlthemovie.com/

13 de novembro de 2007

Crítica de um portista a um trash movie que não vi


Que fique claro: não contribui financeiramente com o preço do bilhete para essa vigarice a que querem chamar de filme e que intitularam "Corrupção".
O problema surgiu quando os meus amigos benfiquistas começaram a desancar no “filme”. Se nem mesmo eles defendem este monumento ao lixo audiovisual o caso é sério.
Antes de mais "Corrupção” parece ser filho de pai e mãe incógnitos, o que é uma originalidade. A mãe, guionista – adapta mal um mau livro onde se pretende transformar coscuvilhice em literatura. O pai – o realizador – rejeita o rebento no final da gestação e declara solenemente que o filho não é seu. Coitada da criança!
Mas afinal quem escrevinhou os diálogos, quem escolheu os actores, quem dirigiu a rodagem, quem seleccionou os decors? Só no final da gestação é que descobriram que o resultado era um aborto e todos quiseram abandonar o dito cujo? A propósito, também recusaram os honorários?
Como em tudo na vida a culpa foi do montador. Montou mal mas como macho latino não tem vergonha na cara e lá vai promovendo o filme.
Pretenderem comparar "Corrupção" a "O Crime do Padre Amaro" é um insulto ao cinema português: "Crime.." é cinema "Corrupção" é crime.
Sugiro pois para concluir que , terminada a tournée pelas salas, "Corrupção" seja integrado no kit dos novos sócios do Benfica. Que João Botelho se penitencie e assuma a criança, porque passar de cineasta intelectual sem público a moço de recados é triste fim de carreira para quem sempre viveu à custa dos subsídios dos contribuintes.
À pseudo-guionista relembro que quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré. Ao produtor aconselho vivamente que prossiga a sua carreira e adapte novos sucessos como Binya Van Damme no campo do grande cinema de acção ou "O Padrinho dos Pneus" remake de Coppola ao gosto latino.
Aos 6 milhões de fans do Benfica aconselho esta sessão. Em Psicologia estuda-se que a frustração necessita de mecanismos de defesa do Ego. Freud explica.

António Reis

12 de novembro de 2007

Fantástico San Sebastián


O Antestreia foi convidado a estar presente na Semana de Cine Fantástico y de Terror de San Sebastián que este ano cumpriu dezoito edições o que o torna um dos mais antigos festivais de fantástico da Europa. Se a selecção de filmes revelou alguma falta de espaço para novas descobertas tendo repetido a maior parte dos filmes que já tinham sido vistos em Sitges, isto não impediu que os filmes em competição tivessem uma qualidade muito apreciável sobretudo a selecção espanhola que esteve em grande destaque. O fantástico espanhol está a tornar-se um caso sério de popularidade tanto junto do público como da crítica. O prémios acabam por surgir naturalmente. Nesta edição dois dos filmes mais mais bem recebidos – "Cronocrímenes" e "[REC]" – estão já confirmados para o Fantas 2008.

Os espaços em que o festival decorre traduzem três concepções de público: O Teatro Principal para os amantes do terror mais tradicional, o renovado Victoria Eugenia em estilo clássico para espectadores um pouco mais selectos e finalmente o Kursall, uma mega-sala de mais de 1500 lugares onde decorrem as sessões de abertura e encerramento. Nesta todos os públicos se misturam para definir a festa que é a Semana.

Bem ao gosto espanhol o Teatro Principal tem uma decoração que só a fotografia é capaz de descrever.



Teatro Victoria Eugenia

Teatro Kursall

Teatro Principal



O ponto alto do festival foi a sessão de encerramento onde "[REC]" e as curtas premiadas reuniram todas as atenções, a cerimónia de entrega de prémios propriamente dita foi um espectáculo de uma simplicidade e eficácia de fazer inveja a todos os festivais. O actor Santiago Segura, um dos cómicos mais aplaudidos de Espanha, sozinho e sem nenhum elemento decorativo em palco, propiciou um show de humor incomparável. Dispensou os discursos dos políticos e do director do festival. Entrou com uma máscara de Power Ranger e ameaçou a assistência que tinha recebido ordens do Espaço para exterminar todos os presentes pois eram a elite intelectual da Terra. Para logo em seguida esclarecer que depois de olhar para alguns dos espectadores tinha de reconhecer que afinal estava enganado. A partir daí foi uma sucessão de gags e piadas de situação, traduções simultâneas de e para inglês e francês em que parodiava os discursos dos premiados, para terminar em beleza com Jaume Balagueró a cantar em dueto com o público uma popular canção espanhola. Para gáudio da assistência a equipa de "[REC]" atirou para a plateia uma dúzia de caveiras. O resultado foi o público ficar ao rubro e acolher o filme "[REC]" com aplausos ao longo da projecção e tiradas improvisadas com óptimo sentido de oportunidade e humor. O grande premiado – dado que a Semana só dá um premio ao melhor e os outros são curtas metragens - acabou por ser o dinamarquês "How To Get Rid of Others", uma sátira política onde todos os indesejáveis eram avaliados e pelo que davam e custavam à sociedade. Caso o racio fosse negativo a eliminação imediata era a solução.
A noite prolongou-se pela madrugada com um divertido Festival Internacional de Karaoke em que os dotes vocais não abundavam nem interessavam.


Mas porque um festival não é apenas um multiplex onde se exibem doses maciças de filmes, a Semana de San Sebastián é pródiga em manifestações paralelas que tornam toda a cidade um espaço de arte e de cultura. Sobretudo porque coincidente com a Semana, e inserido nela, ocorrem as Jornadas del Comic de renome mundial. Este ano as exposições de Hino, Victoria Frances, Raquel Alzate e José Angel Lopetegi foram o destaque, bem como o desfile de monstros do cinema a coincidir com o Halloween. Mesmo a FNAC se deixou contagiar por este espírito cinéfilo e apresentou fotos do Arquivo Kubrick e três filmes de Jodorovski.


Para a posteridade ficam o excelente catálogo da Semana, a edição de “American Gothic”, um estudo de grande qualidade sobre o cinema de terror americano dos anos 70, e a sempre aguardada edição do número especial de “2000 Maniacos”, um fanzine de qualidade superior a muitas revistas, com textos e desenhos absolutamente imperdíveis para fãs do terror e dos comics, só possível pela dedicação sem limites de Mandolin. Numa San Sebastián que é uma festa, cidade de uma beleza deslumbrante, é fundamental visitar o Restaurante Oquendo. A sua colecção de fotos de gente de cinema e cartazes transformam as paredes numa memória memória ilustrada do cinema.



Waits

Para iniciar esta nova rubrica do Banda Sonora Antestreia, colocamos um tema de Tom Waits, o genial compositor e cantor norte-americano que me... completa.
E aproveitando as suas deixas, o primeiro tema que aqui fica é Closing Time, do álbum homónimo de 1973, e que é também o seu primeiro dos cerca de 30 que já editou. Até porque reservar para uma primeira obra um nome que serviria para o encerrar é... Waits.
Tom Waits em wiki e no sítio oficial, uma discografia a todos os títulos notável e a (re)descobrir o mais rapidamente possível.


Banda Sonora Antestreia - mais uma inovação

Já há bastantes anos que estamos no cinema mudo e, agora, decidimos passar para uma actualização. A partir de hoje, no Antestreia, temos banda sonora quase diária, na barra da direita. Para tal, colocaremos um pequeno post sobre o tema e o autor em causa, com uma forte componente de bandas sonoras originais, aliado a outras propostas que aqui deixamos.
Assim, à chamada de atenção do post, basta dar um salto aqui à barra da direita, dentro do especial Banda Sonora Antestreia.
O Antestreia tem assim uma banda sonora própria, sendo que os direitos de todos os temas que aqui são colocados são unicamente dos seus autores e distribuidores, pelo que a sua aquisição numa qualquer loja de audiofilia será indispensável para conhecer a obra daqueles que aqui recomendamos.


Bob Dylan vezes seis

É um dos filmes mais esperados, premiado em Veneza 2007 e (segundo as melhores indicações), um verdadeiro luxo cinematográfico. "I'm Not There", do norte-americano Todd Haynes ("Velvet Goldmine", 1998), é uma viagem metafórica à vida de Bob Dylan, e que conta com um elenco, no mínimo, de luxo: Christian Bale, Cate Blanchett, Marcus Carl Franklin, Richard Gere, Heath Ledger, Charlotte Gainsbourg e Julianne Moore, onde os cinco primeiros actores são perspectivas do autor e cantor do Minnesota. É já dia 21 deste mês que o filme estreia nos EUA, e deixamos aqui o sítio oficial e quatro novos posters.




10 de novembro de 2007

"[REC]" - Entrevista em San Sebastián


O Antestreia teve 2 jornalistas acreditados na Semana de Cine Fantástico y de Terror de San Sebastián onde fez uma entrevista a Jaume Balagueró, Paco Plaza, Manuela Velasco e Ferran Terraza, respectivamente co-realizadores e actores de "[REC]", um dos mais aguardados filmes do Fantasporto 2008.





Porquê Manuela Velasco? Qual a sua relação com a TV?

Quando perguntamos a Manuela Velasco se tinha experiência prévia em reportagens televisivas a sua resposta foi afirmativa. Tinha algumas experiências anteriores como entrevistadora de televisão e como repórter. No entanto o seu papel em "[REC]" como repórter de programas de horário pobre representou de facto um desafio dado que nunca lhe tinha sido colocado anteriormente ser pivot numa reportagem ao vivo. Balagueró acrescentou que procuravam uma actriz com experiência de reportagem. Quando pensaram em Manuela para o papel escolheram-na não apenas pela sua experiência televisiva, mas também por ser uma excelente actriz.


Os portugueses causam tanta confusão...

Questionado sobre a importância do caso Medeiros e da rapariga portuguesa que está na base do detonador fantástico do argumento, Jaume e Paco Plaza esclareceram que não se basearam em nenhum caso real e que a princípio escolheram apenas o nome da personagem. Medeiros dito em castelhano tem um efeito fantástico, por entre risos Paco pronunciou de forma enfática a palavra Medeiros e relembrou que poderiam ter estado a pensar em Maria de Medeiros. Mas era apenas uma piada e a conexão portuguesa de "[REC]" não passa disso.


Uma só câmara, mas dois realizadores.

Ter dois realizadores não é aparentemente para Jaume Balagueró um problema, ele e Paco Plaza constituem uma equipa que já trabalhou em conjunto na versão espanhola da "Operação Triunfo". Não pensam pois em se separar, funcionam num permanente diálogo em que escrevem o argumento, idealizam a montagem e filmam a quatro mãos.
Filmado quase sem guião e ao sabor de algum improviso e das reacções dos actores, "[REC]" constituiu um enorme desafio. Fazer com que os actores interiorizassem personagens, mas depois não permitir que esses mesmos actores soubessem o que fazer no plateau, mantê-los em permanente tensão, explorar as suas emoções. Começando numa festa, o aniversario de um bombeiro num quartel, filmado em estilo documentário de reality-show para o programa "Enquanto Você Dorme", cedo o filme envereda para um cenário de terror realista onde o medo é a única realidade.
O desafio proposto aos actores era o de passar da normalidade a um estado de medo e de loucura e que no final estivessem mesmo enlouquecidos. E em simultâneo sugerir que um jornalista obcecado com o seu trabalho coloca por vezes o seu dever de informar acima do instinto de sobrevivência.


O que esperam do filme nas salas de cinema?

À pergunta do que espera da reacção do publico os realizadores referem com humor que os festivais não são apenas para críticos e que as reacções têm sido entusiásticas. Paco Plaza ironiza que os cosméticos são testados em chimpanzés, mas que os críticos não são exactamente os chimpanzés do cinema. Apesar de não parecerem eles também são humanos (risos).
"[REC]" multipremiado em Sitges é um exemplo de um filme que escolhe a linguagem do audiovisual televisivo e a transporta para o cinema. Esta transferência do digital para película é um dos aspectos mais interessantes e inovadores deste filme que já suscitou o interesse dos estúdios americanos, que, ao que consta, pagaram 1,5 milhões de dólares pela possibilidade de fazer uma remake americanizada do filme. No entanto Balagueró foge à pergunta e remete para os produtores o valor da transacção. De acordo com o site Aullidos a remake já tem título ("Quarantine") e elenco.


Como conseguiram dar este aspecto documental a uma ficção de terror?

Ao falar sobre as condições de filmagem a dupla Balagueró/Plaza insiste que apesar do ar documental que o filme assume claramente e de câmara na mão em que o camaraman é ele próprio actor do filme, "[REC]" implicou uma sofisticada maquinaria e equipa técnica. Aos actores pediu-se que pensassem como os seus personagens previamente delineados, mas fez-se-lhes a surpresa de nunca saberem se estavam ou não a ser filmados, quando a acção terminava. O resultado é de um realismo impressionante. A solução muito televisiva de planos sequência, alguns com 15 minutos de duração, contribui para esta sensação claustrofóbica de falso directo. Plaza acrescenta mesmo que o guião inicial, muito sintético, acabou por ser sucessivamente corrigido e que a montagem ficou facilitada pela opção deliberada dos planos sequência.


A estrela

À pergunta sobre quem é a personagem central do filme respondem em dueto que é a câmara de filmar tornada instrumento, actriz e memória da acção. Quem usou quem afinal? Como piada confessam que chegaram a pensar em fazer um cartaz em que a câmara seria o pólo do marketing.



No final ambos reconhecem que foi um filme que deu imenso gozo a fazer. Quanto aos prémios que já ganhou salientam sobretudo o do público ganho em Sitges. Quando o público e a crítica estão de acordo o filme tem tudo que um realizador, ou neste caso dois, podem desejar.

De Balagueró e de Paco Plaza tivemos ainda a garantia de quererem estar presentes em Fevereiro no Fantasporto até porque o filme está comprado para Portugal pela Lusomundo.

9 de novembro de 2007

"the 'burbs" por Ricardo Clara

E no início foram os subúrbios. "Desperate Housewifes", bem como uma dezena de filmes recentes, fazem furor ao descrever os típicos subúrbios norte-americanos, pequenas comunidades de famílias perfeitas, moradoras de vivendas luxosas, com relvados verdes e impecavelmente tratados, mini ecossistemas que povoam a cultura americana.

Mas se esta existe, muito se deve a "the 'burbs", de um dos pais do cinema fantástico dos últimos 20 anos do século XX - Joe Dante. Aqui, conhecemos Ray Petterson (um Tom Hanks em início de carreira), um típico americano, a gozar uma semana de férias, e que tem como vizinhos o obstinado Art Weingartner (Rick Ducommun), o freak militar Mark Rumsfield (Bruce Dern) e Ricky Butler (Corey Feldman). um adolescente a fazer remodelações em casa.
E é nesta semana de sossego que o grupo de amigos começa a desconfiar dos novos vizinhos, os Klopek: barulhos estranhos saem da cave durante a noite, e a imaginação leva-os a pensar no absurdo - estes homens de ascendência eslava são assassinos e tem um grupo de cadáveres em casa. Decidem investigar por eles próprios, com consequências que podem ser desastrosas...

"the 'burbs" / "SOS Vizinhos Ao Ataque" é uma das comédias mais subvalorizadas de que tenho memória. Com diálogos brilhantemente escritos, somos levados num delírio hilariante de um grupo de típicos americanos, muito ao estilo de Dante, e que marca com fulgor os códigos do género, assinando um ADN que se revelaria fulcral para o futuro de um certo cinema de comédia.
Com uma banda sonora a cargo do genial Jerry Goldsmith, todo o filme é um delírio de humor que combina banda sonora certeira, interpretações deliciosas e diálogos que encaixam na perfeição, que resultam numa comédia deliciosa e que une sátira a sociedade americana a um terror menos convencional que tanta falta faz no cinema do género actual.

Título Original: "the 'burbs" (EUA, 1989)
Realização: Joe Dante
Intérpretes: Tom Hanks, Carrie Fisher e Bruce Dern
Fotografia: Robert M. Stevens
Música: Jerry Goldsmith
Género: Terror / Comédia
Duração: 101 min.
Sítio Oficial: n/d

"30 Days of Night" por Ricardo Clara

Talvez foram estacas, talvez o sol, aquela visão conservadora dos vampiros já à alguns anos que morreu. Nos dias que correm, um bom vampiro já não se contenta com um pouco de sangue para a hora de jantar - agora, congemina planos para atacar sem ninguém dar por ela.

Uma pequena vila no Alasca prepara-se para um mês sem sol, um período completo de 30 dias de noite. E como todos os anos acontece, uns habitantes partem, outros ficam, e ainda outros tentam sair e não conseguem. Esta último caso acontece a Stella (Mellisa George), que tentava fugir de um mês gelado e de Eben Olseson, sheriff da cidade e com quem mantêm uma atribulada relação amorosa.
Mas mal cai esta quase interminável noite, o inesperado acontece: um largo grupo de vampiros, protegido pelo escuro e pelo frio, ataca sem dó nem piedade, matando todos os que com eles se cruzam, e perseguindo os outros. Assim, um pequeno grupo de soberviventes (onde se encontra a dupla da lei e mais alguns moradores) refugia-se num sótão, com o intuito de, com o tempo, tentarem não ser mortos, e chegarem a um barracão, onde pensam estar a salvação.

Uma boa ideia, um argumento mal escrito numa boa adaptação para o cinema. Numa frase, resume-se "30 Days of Night" / "30 Dias de Escuridão", um filme que, se não fossem os constante buracos no argumento, tinha boas hipóteses de ser um dos grandes de terror desta década. Mas vamos por partes.
Gosto destes vampiros. Não se escondem sempre na bruma, falam entre si, atacam com clareza e desfazem as suas vítimas. Ainda mais (e correndo o risco de me vir bater à porta um qualquer psicologo, dois enfermeiros e uma camisa de forças): há bastante tempo que não via uma criança a ter que ser baptizada com um machado por ter os dentes activos. Gosto. Faltam crianças assassinas ao cinema de terror actual! E a jovem faminta é uma lufada de ar fresco.
Por outro lado, quando a revolta chega, voam sangue, tripas e cabeças, e esse também é um dos ingredientes fundamentais para um filme do género. A interpretação de Josh Hartnett é competente, os vampiros são assustadores e com aquele toque eslavo da língua que falam, e Melissa George tem um desempenho muito interessante.
Honra seja feita a David Slade ("Hard Candy" - 2005), que nos oferece uma fita muito bem filmada, e aliado à (por vezes) excelente fotografia de Jo Willems - destaque para a primeira grande matança, numa cena enquadrada de cima, onde as mortes sucediam-se sob um intenso manto de neve, numa beleza horrível memorável (e a fazer lembrar "The Thing" de Carpenter em muitos pormenores). Aliás, a presença de neve é sempre um factor de qualidade, se bem aproveitado, pois cultiva o binómio branco / vermelho e é uma conquista cromática de bom relevo.

Onde o filme falha é, efectivamente, no argumento. A ideia é originária de uma novela gráfica da Dark Horse, a qual é muito mais extensa nos pormenores. E, em muitas ocasiões, sucedem-se os furos no argumento, a história fica desconexa e previsível - dou um exemplo, o de que, e na BD, nos mostram que os vampiros, com o passar dos dias, têm maior dificuldade em encontrar os humanos por outros sentidos que não o olfacto (fruto do intenso frio), algo não explicado na película e que confere inverosimilidade à história. E como este, muitos são os exemplos que poderia dar. Pela fraca qualidade da narrativa, o filme torna-se, a espaços, lento, o que prejudica (e em filmes deste género, em muito) o ritmo e, consequentemente, uma das finalidades primeiras: assustar o espectador.

Título Original: "30 Days of Night" (Nova Zelândia / EUA, 2007)
Realização: David Slade
Intérpretes: Josh Hartnett, Melissa George e Danny Huston
Fotografia: Jo Willems
Música: Brian Reitzell
Género: Terror / Thriller
Duração: 113 min.
Sítio Oficial: http://www.30daysofnight.com

7 de novembro de 2007

Vencedores do passatempo "Uma História de Encantar"


Estes são os contemplados com um bilhete duplo para a antestreia do filme "Uma História de Encantar". À questão: "O actor Patrick Dempsey, papel principal neste filme, participa numa conhecida série televisiva norte-americana. Qual?", os vencedores responderam, e correctamente, "Anatomia de Grey". Bom filme a todos!

Porto (NorteShopping):

Lisete Silva
António Lobo
Vânia Souto
André Pinto
Alexandra Esteves
Liliana Martins
Cristina Andrade
Susana Lima
Carla Pinto
Ana Rita Silva


Lisboa (Colombo):

Ricardo Martins
Glória Costa
Maria Helena Lopes
João Almeida
Sílvia Barbosa
Jorge Gregório
Duarte Manso
Margarida Raposo
Nelson Valente
Alfredo Braga


6 de novembro de 2007

5 de novembro de 2007

"Selvagens, a última fronteira" vence FEST 2007

O documentário «Selvagens, a última fronteira», do realizador e jornalista Filipe Araújo, venceu o Grande Prémio do Festival internacional de cinema de Santa Maria da Feira, FEST, que terminou no domingo.

Produzido pela Blablabla Media, o filme, seleccionado de um conjunto de 1161 trabalhos, foi um dos 79 a concurso no certame, que mostrou trabalhos nas categorias de ficção, animação, videocliop, experimental e documentário.

«Selvagens, a última fronteira» integrou anteriormente as selecções oficiais de festivais internacionais como o Documenta Madrid e o Oxdox, de Oxford, Reino Unido, tendo sido o único filme português a competir no Festróia.

Nesta sua quarta edição, o FEST incluiu um festival paralelo de música e «master classes», integradas no International Film Student Encounter.

Lusa / Antestreia


"Elizabeth: The Golden Age" por António Reis

Uma elegia indiana a Isabel I

Quem pudesse pensar que pouco mais se poderia acrescentar à filmografia sobre Isabel I estava enganado. Afinal os biopics sobre a rainha virgem não se esgotam ainda que já não haja facetas da sua carreira privada ou política que sejam inovadoras. Estranho é a paixão desmesurada do realizador Shekhar Kapur por Isabel I. Nesta segunda parte da biografia acrescenta ao título “The Golden Age” e abarca o período de maior fulgor da Coroa a par com as opções sentimentais da rainha. A única explicação para esta admiração pelo carisma de Isabel vista pelo prisma do colonizado só poderá ter algum sentido lógico se a pensarmos como admiração por Cate Blanchet filmada de forma panegírica pela câmara que faz longos planos da actriz, planos de 360 graus, planos de pormenor, que tornam o filme cansativo na sua obsessão pelo personagem.

O filme estrutura-se numa visão redutora e maiqueísta onde a grandeza da rainha se contrapõe ao carácter odioso e intelectualmente medíocre do rei Filipe de Espanha e de Portugal, onde a Inglaterra aparece como baluarte dos valores ocidentais e Espanha como símbolo da opressão e do obscurantismo. Neste sentido é um filme demasiado simplista na sua estrutura, demasiado académico e convencional na sua linguagem cinematográfica, incapaz de decidir entre o intimismo das situações e a grande História do confronto da Armada (In)vencível. Cate Blanchet é novamente uma escolha certa para rainha, mas os outros personagens que gravitam à sua volta não têm nem dimensão humana nem tempo de antena que suporte o filme. Os traidores são demasiado abjectos, os fieis da rainha demasiado servis, e a questão religiosa é tratada com duas pinceladas rápidas. Algum humor atribuído à rainha o filme acaba por se tornar cansativo. Compare-se com “A Paixão de Shakespeare” e facilmente se percebe que a “Elizabeth:The Golden Age” falta aquele twist de génio e de originalidade que transforma um filme bem executado num filme de génio.

Título Original: "Elizabeth: The Golden Age" (Reino Unido / França, 2007)
Realização: Shekhar Kapur
Argumento: William Nicholson e Michael Hirst
Intérpretes: Jordi Mollà, Cate Blanchett e Geoffrey Rush
Fotografia: Remi Adefarasin
Música: Craig Armstrong e A.R. Rahman
Género: Biografia / Drama / História
Duração: 114 min.
Sítio Oficial: http://www.elizabeththegoldenage.net